Uma das definições de distopia no dicionário é "lugar ou estado imaginário em que se vive em condições de extrema opressão, desespero ou privação". Outra definição, mais sucinta, é "lugar ruim".
A sensação de habitar uma distopia, tal como nos livros de George Orwell ou Octavia Butler, tem estado presente em nós no contemporâneo de forma mais intensa do que possa ter estado antes. As notícias diárias, por vezes, são tão da ordem do absurdo que nos perguntamos atônitos: isso é real? Isso está acontecendo mesmo? Não seria um pesadelo de uma noite mal dormida? E nos beliscamos para ver se estamos sonhando.
Por falar em sonhos, estes estão muito vívidos e repletos de elementos que compõem o momento em que vivemos. A pergunta "isso aconteceu ou eu sonhei?" aparece em nós como efeito das imagens tão reais dos sonhos e tão, por vezes, inacreditáveis da realidade.
Mergulhados na virtualidade, por onde agora vemos o mundo, as pessoas e até nós mesmos (virtualidade, nesse fluxo contínuo de imagens em frames variados) sentimos uma leve tontura e perdemos pouco a pouco a distinção entre o real e o virtual. O uso constante das redes sociais, inclusive, pode produzir ou intensificar sensações do tipo: a vida do outro é mais interessante do que a minha, ou me sinto em falta quando me comparo com as pessoas que sigo nas redes. Sensações que geram, na maioria dos casos, uma desvalorização de si mesmo, além da perda dos parâmetros pessoais para tomadas de decisão por ficar, de algum modo, submetido às enxurradas de opiniões e perspectivas que inundam as telas de nossos celulares.
Outro efeito deste momento é a mudança na relação com o tempo. Diante da suspensão do futuro ou do seu adiamento, nos sentimos presos a um presente interminável que borra os dias e as horas. Que dia é hoje? Que horas são? Aos poucos essas perguntas passam a não mais fazer sentido. Outra relação com o tempo é instaurada. Os dias parecem não mais terem 24 horas.
Enquanto sentimos o abalo e o desmoronamento de certo modo de funcionamento do mundo e da vida provocados pela pandemia, nos mantermos conectados com aquilo que nos dá chão e direção, com o que enche nosso peito de sentido, é uma pista importante de preservação da saúde mental num cenário distópico. O que o sustenta? O que o alimenta? O que você tem como direção, como desejo de futuro? O que reforça em você o sentido e a beleza de estar vivo? Responda a si mesmo essas perguntas. Não as esqueça. E se concentre nas respostas, porque elas podem guiá-lo na criação de saídas possíveis para o mal-estar constante que nos assola nestes tempos.
Lucas Veiga (via VivaBem)
Ellen G. White nos deixou algumas respostas para nos auxiliar na preservação da saúde mental nestes tempos. Vejamos alguns deles extraídos do livro
Como Lidar com as Emoções, pp. 41-54:
Mente satisfeita, espírito animoso, é saúde para o corpo e força para a alma. Coisa alguma é tão frutuosa causa de doença como a depressão, a melancolia e a tristeza. Muitas das doenças sofridas pelos homens são resultado de depressão mental. O nosso corpo é composto do alimento que assimila. Ora, dá-se o mesmo com nossa mente. Se fizermos a mente demorar-se nas coisas desagradáveis da vida, não teremos esperança alguma. Precisamos demorar-nos nas cenas prazenteiras do Céu. Diz Paulo: “Nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória” (2 Coríntios 4:17).
Vendo a iniquidade ao nosso redor, nos alegramos pelo fato de Cristo ser o nosso Salvador, e nós os Seus filhos. Deveríamos então contemplar a iniquidade, demorando-nos no lado escuro? Se não podemos acabar com ela, pelo menos falemos de algo que seja mais elevado, melhor e mais nobre.
Não ceda à depressão, mas deixe que a confortadora influência do Espírito Santo seja bem-vinda em seu coração, para lhe dar conforto e paz. Se quiser obter preciosas vitórias, encare a luz que procede do Sol da justiça. Fale em esperança e fé, e ações de graças a Deus. Seja animada, esperançosa em Cristo. Aprenda a louvá-Lo. Esse é o grande remédio para as doenças da mente e do corpo.
Nossa fé tem de atravessar as sombras, os olhos devem ser simples e todo o corpo estará pleno de luz. As riquezas das graças de Cristo têm de ser conservadas na mente. Entesouremos as lições que Seu amor oferece. Seja nossa fé semelhante à de Jó, para que possamos declarar: “Ainda que Ele me mate, nEle esperarei” (Jó 13:15). Apeguemos às promessas de nosso Pai celestial, e lembremo-nos de Seu antigo trato conosco e com os Seus servos; pois “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8:28).
Os que agem movidos por princípios contemplarão a glória de Deus para além das sombras, e descansarão na segura palavra da promessa. Não se deixarão deter de honrar a Deus, por mais escura que a estrada possa parecer. A adversidade e as tribulações tão-somente lhes oferecerão oportunidade para mostrar a sinceridade de sua fé e amor. Há luz e glória para além das nuvens. Pela fé, atravessemos as trevas, rumo à glória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário