quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

TEMPOS INCERTOS

Em 1927, o físico alemão Werner Heisenberg criou um conceito que ficou conhecido como “princípio da incerteza”. Segundo esse pilar da mecânica quântica, é impossível calcular com precisão, ao mesmo tempo, a posição e a velocidade de um objeto. A partir daí, os físicos sempre tiveram muita certeza sobre a incerteza e incerteza sobre a certeza!

Em 1977, exatos 50 anos depois, o economista canadense John Kenetth Galbraith escreveu um livro intitulado A Era da Incerteza, nome também de uma série de TV. Nessa obra, em que analisa o pensamento econômico, ele contrastou as grandes certezas do século 19 com as incertezas do século 20. Os economistas também já não tinham tanta convicção sobre os caminhos a seguir.

Na teoria da probabilidade, o conceito de incerteza é sempre levado em conta. Por isso, palavras como “possível”, “provável” e “plausível” são muito utilizadas e, no fundo, querem dizer apenas que não há certeza absoluta. Entre as fontes de incerteza estão falta ou excesso de informação, modelo usado para a medição, evidências conflitantes, mudanças rápidas, ambiguidade e a crença do observador.

O fato é que o mundo está cada vez mais envolto em incertezas, com um novo capítulo acrescentado recentemente. Além das incertezas pessoais, temos hoje as psicológicas, sexuais, sanitárias, sociais, econômicas e políticas. Tudo ficou imprevisível. Mesmo com ferramentas mais potentes para tentar ler a realidade e decifrar o futuro, o caminho parece enevoado. A própria teologia tem sido abalada pelas incertezas. Por isso, a vida se torna mais arriscada.

No entanto, a maioria das pessoas busca certezas. Muitas delas mudam sua filiação religiosa e seus hábitos para ter mais segurança emocional. Afinal, precisamos de identidade, uma visão, um rumo. A certeza dá a sensação de controle. E, se alguns indivíduos têm certeza demais, outros têm de menos. É por isso que, no fogo cruzado da polarização, os radicais são vírus da incerteza que tentam criar certezas à força.

Hoje, mais do que no passado, as pessoas têm que viver e expressar sua fé num ambiente que mistura certeza e incerteza. Mas podemos avançar com fé, que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hb 11:1). Com “a plena certeza da esperança” (Hb 6:11), “em plena certeza de fé” (Hb 10:22), nos aproximamos do trono de Deus, que controla o Universo.

Podemos ter certeza porque, mesmo em tempos de incerteza, Jesus estará conosco todos os dias até o fim (Mt 28:20). O Espírito Santo é a presença pessoal Dele em nosso coração. Em seu livro De Servo Arbitrio (A Escravidão da Vontade), escrito em 1525 em resposta a Erasmo de Rotterdam, Martinho Lutero argumentou que a religião não é uma simples questão de conjectura: “O Espírito Santo não é cético, e as coisas que escreveu em nossos corações não são dúvidas nem opiniões, mas asserções mais seguras e certas do que toda a experiência e a própria vida” (The Bondage of the Will [Baker Academic, 2012], p. 70).

E em se tratando de incertezas, deixe Deus construir convicções em você. Nossa fé não elimina a incerteza nem os riscos, mas cada um de seus ensinos e símbolos aponta para a certeza. Crer em Deus é um risco calculado para tempos de certeza, mas principalmente de incerteza.

Minha percepção é de que a chave para lidar com a incerteza está em aprender a confiar em Deus, independentemente de quanto possa parecer ruim a situação. Mais fácil falar do que fazer, não é? Lembre-se de que Deus não permite nada que não possamos suportar (1Co 10:13) e que Ele está cuidando de nós o tempo todo, seja nos guiando em abundância e tranquilidade ou nos ajudando a atravessar os vales mais escuros (Sl 23).

Deus sabe por que as coisas estão acontecendo como estão. E no futuro iremos compreender.

Dicas para lidar com a incerteza
A psicóloga Collett Smart recomenda a abordagem conhecida como CARE, acrônimo em inglês para Choices, Agenda, Resilience e Emmotional Support:

1. Escolhas. Troque sua ansiedade por uma rotina diária sobre a qual você tenha controle. Tenha uma recreação saudável. Por exemplo, você pode trocar metade do tempo que gasta com o consumo de notícias por algo de que gosta, como ler ou ouvir música.

2. Agenda. Inclua hábitos saudáveis na sua rotina, como descanso, momentos de descontração, exercício físico e relacionamento significativo com as pessoas.

3. Resiliência. Estudos apontam que nos sentimos melhor quando concentramos nossa atenção para apoiar pessoas em dificuldade. Há algum vizinho ou amigo que você possa ajudar com pequenas atitudes? Mantenha o foco no presente e pratique a gratidão a Deus e ao próximo.

4. Suporte emocional. Além de Deus, busque apoio de uma ou duas pessoas-chave para você. Comece um diário (de curto prazo) em que você escreva sobre seus medos e receios. Em seguida, certifique-se de equilibrar este último item com todos os anteriores.

"As aflições do tempo presente assumem diversas formas, mas Cristo passou por esse trajeto, e não precisamos ficar na incerteza. Ele nos convidou: 'Vinde a Mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo é leve' (Mateus 11:28-30). Seja qual for nossa condição na vida, nossa ocupação, temos um Guia seguro. Seja qual for nossa condição é Ele nosso conselheiro. Seja qual for nossa solidão Ele é nosso Amigo, em quem sempre podemos confiar" (Ellen G. White - Carta 13, 1892 e Carta 80, 1906).

[Com informações de Revista Adventista]

Nenhum comentário:

Postar um comentário