segunda-feira, 14 de fevereiro de 2022

COMO EVANGELIZAR CATÓLICOS

Seja por tradição familiar ou por opção própria, o catolicismo ainda domina o censo religioso brasileiro. Por mais que seja expressivo o número de católicos nominais, devemos levar em conta que a tradição é forte elemento na religiosidade e mentalidade dos católicos em geral. É importante não desconsiderar os laços emocionais que ligam o brasileiro às suas origens católicas em termos de tradições, usos e costumes.

Conta-se uma experiência não muito feliz de alguém que, ao chegar à casa de uma senhora muito católica para trabalhar e ao se deparar com imagens de santos, disse que elas deveriam ser destruídas, pois se tratava de idolatria exacerbada. Obviamente, essa pessoa não permaneceu muito tempo trabalhando ali, uma vez que se valeu de outros métodos inadequados de evangelismo.

Tal situação demonstra o despreparo de alguns irmãos que, embora bem intencionados, tentam evangelizar católicos por meio de métodos que suscitam preconceito. Portanto, devemos preparar devidamente os membros menos instruídos. 

Vejamos o que diz Ellen G. White: "Não devemos, ao entrar em um lugar, criar barreiras desnecessárias entre nós e outras denominações, especialmente os católicos, de maneira que eles pensem que somos declarados inimigos seus. Não devemos suscitar preconceito desnecessariamente em seu espírito, fazendo ataques contra eles. ... Ninguém precisa pensar que os católicos se acham fora de seu alcance. ... Pelo que Deus me tem mostrado, grande número será salvo dentre os católicos" (Manuscrito 14, 1887).

"Esta mensagem tem de ser dada, mas conquanto tenha de ser dada, devemos ter cuidado em não acusar, constranger e condenar os que não possuem a luz que nós possuímos. Não devemos sair de nosso caminho para fazer duras acusações aos católicos. Entre eles existem muitos que são cristãos conscienciosos, que vivem segundo a luz que lhes é proporcionada, e Deus operará em seu favor" (Obreiros Evangélicos, p. 329).

Levando em conta esse contexto, pensei em algum método mais didático e diplomático de abordar pessoas católicas, visando a evitar melindres e rejeições precoces em relação às verdades bíblicas.

Métodos de abordagem
Acredito ser importante lembrar que precisamos partir de pontos doutrinários convergentes, os quais, em alguns casos, diferem em sua forma litúrgica de celebração.

1. Bíblia católica – Permita que o católico utilize sua própria Bíblia, normalmente nas traduções Paulinas, Ave Maria, Loyola, etc. Isso quebra o preconceito, pois evita a ideia de que se pretende ensinar com base numa versão bíblica protestante.

2. Dez Mandamentos
– Leve a pessoa a descobrir os Dez Mandamentos por meio da leitura da Bíblia (Êxodo 20), fazendo-a perceber a diferença entre o decálogo bíblico e o do Catecismo da Doutrina Cristã, publicado pela Igreja Católica. O católico tem, por princípio de catequese, profundo respeito pelos Dez Mandamentos, mesmo desconhecendo sua forma bíblica original. Ao se deparar com as diferenças, ele sofre grande choque, pois considera impecável sua formação doutrinária. Disso resulta uma reflexão que o deixa preocupado, abrindo novos espaços para outras incursões de estudos doutrinários. Veja ao lado, um quadro comparativo entre as duas listas de Dez Mandamentos – o original bíblico e o alterado pelos homens.

3. Credo Niceno – Outro ponto convergente é o que a Igreja Católica chama de Credo Niceno, rezado nas missas em geral. Quando você o analisa em detalhes, vê que ele resume a crença cristã em suas principais bases. Uma vez que o católico considera o credo como uma profissão de fé, você pode partir dele para fazer uma abordagem mais profunda das doutrinas bíblicas.

Inicialmente, o credo trata da crença em Deus Pai todo-poderoso como o Criador dos céus e da Terra. Nota-se aí, portanto, um ponto básico de nossa crença adventista: o criacionismo.

Trata-se de uma oportunidade ímpar para se falar da semana da criação e, em decorrência, do quarto mandamento, da santidade do sábado, ponto abordado quando se fez a comparação entre as duas listas de dez mandamentos.

Em seguida, o credo aborda Jesus Cristo como o unigênito Filho de Deus, crença comum para católicos e adventistas, o que também facilita a continuidade dos estudos bíblicos. “Nascido da virgem Maria, concebido pelo Espírito Santo”, doutrina perfeitamente coerente com nossas crenças.

Culto a Maria
A esta altura, é necessário lembrar que o culto a Maria é um pilar fundamental da crença católica, devendo-se ter muito cuidado na abordagem desse tema. Você pode afirmar que Maria foi, sem dúvida, uma filha de Deus abençoada e bem-aventurada ao ser escolhida para ser a mãe de Jesus. Como já foi mencionada a questão do quarto mandamento e Maria tem peso considerável para o católico fiel, é importante citar o texto de Lucas 23:56, que fala de Maria como guardadora do sábado, e isso depois da morte de Jesus, mostrando a perpetuidade do mandamento.

Nesse ponto, você deve levar em conta o apego católico à veneração de Maria, deixando para se aprofundar nesse tema em ocasião posterior, quando o interessado estiver mais amadurecido doutrinariamente.

Vejamos essa outra advertência de Ellen G. White: "Não se pode esperar que o povo veja imediatamente a vantagem da verdade sobre o erro que têm acariciado. O melhor meio de expor a falácia do erro é apresentar as provas da verdade. Isto é a maior repreensão que se possa dar ao erro. Dissipai a nuvem de obscuridade que paira sobre o espírito, refletindo a brilhante luz do Sol da Justiça” (Manuscrito 6, 1902).

Dando continuidade ao Credo Niceno, a parte seguinte fala do padecimento de Jesus sob Pôncio Pilatos, de Seu sepultamento, descendo à mansão dos mortos, momento oportuno para se abordar o estado do homem na morte (mortalidade da alma), segundo a crença adventista fundamentada na Bíblia Sagrada.

Outra crença comum a católicos e adventistas é: ascensão de Jesus ao Céu, onde está sentado à direita de Deus Pai, de onde virá julgar os vivos e os mortos; segunda vinda de Jesus.

Outros pontos comuns: crença no Espírito Santo, crença no termo que identifica a universalidade da igreja de Cristo, a igreja remanescente, que guarda os mandamentos de Deus e tem a fé em Jesus (Ap 14:12); crença na remissão dos pecados, sacrifício expiatório de Cristo, ressurreição da carne, vida eterna.

A partir desses pontos comuns, creio que você garantirá a continuação dos estudos doutrinários. Desse modo, seguirá o ensino de Jesus quanto à necessidade de se usar simplicidade e prudência (Mt 10:16). Ellen White diz: Ao trabalharem em campo novo, não pensem ser dever de vocês declarar imediatamente ao povo: 'Somos adventistas do sétimo dia; cremos que o dia de repouso é o sábado; acreditamos que a alma não é imortal'. Isso levantaria enorme barreira entre vocês e aqueles a quem desejam alcançar. Quando houver oportunidade, falem sobre pontos de doutrina sobre as quais vocês estão em harmonia com eles. Enfatizem a necessidade da espiritualidade prática. Deixem claro que vocês são cristãos, que desejam a paz e que amam essas pessoas. Que elas vejam que vocês são conscientes. Assim vocês ganharão a confiança; e depois haverá tempo suficiente para as doutrinas" (Obreiros Evangélicos, p. 119-120).

Declaração oficial da IASD sobre o Catolicismo Romano
Os adventistas do sétimo dia consideram todos os homens e mulheres como iguais aos olhos do Senhor. Rejeitamos a intolerância contra qualquer pessoa, independente de raça, nacionalidade ou credo. Além disso, admitimos com alegria que cristãos sinceros podem ser encontrados em outras denominações, incluindo o catolicismo romano, e trabalhamos em conjunto com todas as agências e organismos que procuram abrandar o sofrimento humano e enaltecer a Cristo diante do mundo.

Os adventistas do sétimo dia procuram levar um relacionamento positivo com outras religiões. Nossa tarefa primordial é pregar o Evangelho de Jesus Cristo no contexto de Sua breve volta, não apontando as falhas de outras denominações.

As crenças dos adventistas do sétimo dia estão baseadas nos ensinamentos bíblicos apostólicos e, portanto têm em comum muitos princípios essenciais do cristianismo com os seguidores de outras igrejas cristãs. No entanto, temos uma identidade específica como movimento. Nossa mensagem para os cristãos e não-cristãos é comunicar esperança focalizando a qualidade de vida que é completa em Cristo.

À medida que os adventistas se relacionam com os católicos romanos em particular, passado e futuro vêm a nossa mente. Não podemos apagar ou ignorar o registro histórico da séria intolerância e até perseguição da parte da Igreja Católica Romana. O sistema de governo da Igreja Católica, baseado em ensinos extrabíblicos, tais como a supremacia papal, resultou em abusos severos de liberdade religiosa enquanto a igreja estava aliada ao estado.

Os adventistas do sétimo dia estão convencidos da validade de nossas visões proféticas, de acordo com as quais a humanidade vive agora perto do fim. Os adventistas creem que, baseados em predições bíblicas, próximo à segunda vinda de Cristo, esta Terra passará por um período de tribulação sem precedentes, tendo o sábado como ponto central. Neste contexto, esperamos que o mundo religioso – incluindo os principais organismos cristãos como peças-chave – se aliará com as forças em oposição a Deus e ao sábado. Mais uma vez a união da igreja com o estado resultará em grande opressão religiosa.

Culpar uma denominação específica por violações passadas de princípios cristãos não é uma representação acurada nem da História nem dos assuntos da profecia bíblica. Reconhecemos que às vezes protestantes, incluindo adventistas, têm manifestado preconceito e até fanatismo. Se, ao expor o que a Bíblia diz, os adventistas do sétimo dia falham em expressar amor às pessoas, não exibimos o cristianismo autêntico.

Os adventistas procuram ser corteses ao lidar com os outros. Assim, enquanto permanecemos cientes do registro histórico e continuamos a olhar para os acontecimentos futuros, reconhecemos algumas mudanças positivas no catolicismo recente, e enfatizamos a convicção de que muitos católicos romanos são irmãos e irmãs em Cristo.

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