quinta-feira, 17 de fevereiro de 2022

TESTEMUNHOS APÓCRIFOS

Embora Ellen White tenha ensinado que a Bíblia é a norma a ser seguida pela igreja, muitos têm dado prioridade aos escritos da autora, e, o que é pior, usam-nos para dizer o que não afirmam. Eles interpretam o Espírito de Profecia de forma equivocada, distorcida ou mesmo maldosa, o que acaba auxiliando o trabalho do inimigo em enganar as pessoas, pois “o derradeiro engano de Satanás será anular o testemunho do Espírito de Deus” (Eventos Finais, p. 177).

Muitos aplicam os textos bíblicos segundo seu desejo, desvirtuando a Palavra de Deus, e os escritos do Espírito de Profecia também têm sido assim desvirtuados, usando-se uma sentença aqui, outra ali, tirando o foco do contexto e confundindo a si mesmos e aos demais. O problema se torna ainda maior quando a interpretação errônea ocorre entre os líderes. 

Aos que anseiam pela verdade é aconselhado a não dar crédito a tudo quanto se diz proveniente do Espírito de Profecia, como se fosse escrito ou dito por Ellen White. “Se desejam saber o que o Senhor revelou por meio dela, leiam suas publicações”, e “não veiculem rumores sobre o que ela disse” (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 696). Assim agindo, o Espírito de Profecia será compreendido e interpretado adequadamente, aproveitando-se seus conselhos e advertências conforme a boa vontade de Deus. 

Declarações falsas – Há muitas afirmações atribuídas a Ellen White que ela nunca fez ou que foram deturpadas. A propagação de supostas declarações dela em sermões, estudos e conversas no meio adventista requer que sejam avaliadas as fontes exatas de onde poderiam ter surgido tais suposições para podermos refutá-las. Algumas das mais populares são as seguintes:

1. Refeição sabática em outro planeta 
Essa afirmação baseia-se em um boato de que Ellen White teria dito, em uma conversa, que os habitantes de outros mundos estão ajuntando frutas para o sábado em que os santos trasladados, em viagem rumo ao Céu, passarão por ali. Em Primeiros Escritos, p. 16, 19, menciona-se a viagem com Cristo na nuvem por sete dias e a mesa com frutas na Cidade Santa: “Todos nós entramos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro. [...] E vi uma mesa de pura prata; tinha muitos quilômetros de comprimento, contudo nossos olhares podiam alcançá-la toda. Vi o fruto da árvore da vida, o maná, amêndoas, figos, romãs, uvas e muitas outras espécies de frutas.” Isso é tudo.

2. Vinda de Cristo à meia-noite 
Muitos afirmam que Ellen White declarou que Cristo voltará à meia-noite, baseando-se na leitura de Primeiros Escritos, p. 285, mas o que ela afirma é: “Foi à meia-noite que Deus preferiu livrar o Seu povo.” No contexto da leitura, percebe-se que ela se refere à sentença de morte contra o povo de Deus por ocasião dos eventos finais. O livro O Grande Conflito, p. 640, mostra que somente após diversos eventos é que “surge logo no Oriente uma pequena nuvem negra, aproximadamente da metade do tamanho da mão de um homem. É a nuvem que rodeia o Salvador e que, a distância, parece estar envolta em trevas. O povo de Deus sabe ser esse o sinal do Filho do homem”

3. Alunos das escolas adventistas serão como obreiros de Deus 
A afirmação de que, se Jesus voltar enquanto jovens adventistas estiverem na escola, eles serão considerados como obreiros da seara do Senhor não tem respaldo em seus escritos. Ao que parece, essa associação de ideias provém de um conceito de O Desejado de Todas as Nações, p. 74: “Todo jovem que segue o exemplo de Cristo na fidelidade e obediência em Seu humilde lar pode reclamar aquelas palavras proferidas a respeito dEle, pelo Pai, por intermédio do Espírito Santo: ‘Eis aqui o Meu Servo a quem sustenho, o Meu eleito, em quem se compraz a Minha alma’ (Is 42:1).” 

4. O relato da autoria divina do livro Daniel e Apocalipse, de Uriah Smith 
Um antigo pastor afirmou que Ellen White teria visto um anjo ajudando Smith a escrever o livro. Essa afirmação é rebatida pelos fatos históricos. No entanto, a Sra. White tinha grande consideração por esse livro e o recomendava. 

5. Identificação de Melquisedeque como o Espírito Santo
Essa afirmação é baseada na memória de um homem e não encontra apoio em nenhum escrito da Sra. White, além de ser anulada pelas negações de outros que estiveram presentes na mesma ocasião em que se diz ter ela feito essa declaração. Ao contrário, uma declaração de Ellen G. White registrada no Comentário Bíblico Adventista, v. 1, p. 1203, indica que Melquisedeque não era Cristo. Na verdade, White não identificou Melquisedeque. 

6. Ovos não devem ser servidos à mesa 
Muitas das declarações de Ellen White eram dirigidas a pessoas específicas. Essas palavras foram escritas em um testemunho pessoal a um casal, o irmão e a irmã E. O conselho devia-se ao fato de que os filhos do casal tinham tendências imorais, e o uso de ovos as estimularia. O contexto deve ser observado para evitar contradições, já que, em outra obra, A Ciência do Bom Viver, p. 320, a autora se posiciona a favor do uso de ovos de aves sadias e bem alimentadas e cuidadas.

7. Ellen G. White entre os 144 mil 
Não há declaração nos escritos de Ellen White de que ela estaria com certeza entre os 144 mil. Em Primeiros Escritos, p. 40, ao fazer o registro de uma visão, ela indica que a promessa era condicional à sua fidelidade a Deus, como ocorre com qualquer um de nós: “Se fores fiel, juntamente com os 144 mil, terás o privilégio de visitar todos os mundos e ver a obra das mãos de Deus.” 

8. Filhos desviados voltando para a igreja no fim dos tempos 
Não há essa afirmação em nenhum dos escritos de Ellen White. O que ela afirma é: “Quando a tempestade da perseguição realmente irromper sobre nós, [...] muitos que se desviaram do aprisco retornarão para seguir o grande Pastor” (Testemunhos Para a Igreja, v. 6, p. 401). 

9. Sinal de fechamento da porta da graça 
A profecia atribuída a Ellen White por um pastor adventista, em um suplemento da Review and Herald, de 21 de junho de 1898, não corresponde aos fatos. Segundo ele, a Sra. White teria dito que uma escuridão literal cobrirá a Terra como sinal para o povo de Deus de que a porta da graça se fechou. Tal declaração é contrária a esta afirmação de Ellen White em O Grande Conflito, p. 615: “Assim, quando a decisão irrevogável do santuário houver sido pronunciada, e para sempre tiver sido fixado o destino do mundo, os habitantes da Terra não o saberão.” 

10. Os salvos serão vistos nos cultos de quarta-feira 
Essa declaração jamais foi feita por Ellen White. A afirmação escrita por ela em Caminho a Cristo, p. 98, diz: “Os que estão realmente buscando a comunhão com Deus serão vistos nas reuniões de oração, fiéis ao seu dever, e atentos e ansiosos por receber todos os benefícios que possam obter. Aproveitarão todas as oportunidades de colocar-se onde possam receber raios de luz do Céu.” Porém, reunião de oração não é uma referência ao culto de quarta-feira. No tempo da irmã White, nem mesmo existiam cultos nesse dia. Ela refere-se a qualquer reunião em que o povo de Deus se ajunte para orar e estudar a Palavra. 

11. Igrejas inteiras e seus pastores se perderão 
Essa afirmação fatídica se não encontra nos escritos de Ellen White, sendo completamente objetável. No livro Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 380, 422, Ellen White refere-se a pessoas ou grupos que haveriam de se desligar da igreja mediante a sacudidura, processo espiritual de purificação individual e coletiva da igreja. Nesse processo, comparado a um peneiramento de grãos de cereal, a sujeira é separada dos grãos, tal como o joio do trigo (Am 9:9; Mt 13:24-30). Ellen White refere-se a pessoas de grande talento, famílias, grupos e grande quantidade de pessoas que deixarão a igreja. Em contrapartida, em Este Dia com Deus, p. 161, é assegurado que as fileiras não ficarão menores porque “será acolhido grande número de pessoas que nestes últimos dias ouvem a verdade pela primeira vez”. 

12. “Quando olho para mim mesmo, não vejo como me salvar, mas, quando olho para Cristo, não vejo como me perder”
Essa frase, atribuída a Ellen White, foi na verdade proferida por Martinho Lutero, reformador protestante. Ellen White recomenda repetidamente olhar para Jesus. Essa expressão, ou equivalente, ocorre aproximadamente 700 vezes em seus escritos, mas em nenhuma delas aparece a sequência de palavras acima. 

13. Devemos viver como se Cristo viesse daqui a 100 anos e preparados como se Ele viesse hoje 
Esse também é um pensamento que não tem origem em Ellen White, mas nos escritos de Ann Lee, membro de um grupo religioso conhecido como shakers. A Sra. White declarou, em Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 200: “Devemos vigiar e trabalhar e orar como se este fosse o último dia a nós concedido.” 

Contexto – Essas e outras afirmações incorretas, ao invés de contribuir para a causa de Deus, a prejudicam. A própria Ellen White sentia esse prejuízo (A Igreja Remanescente, p. 48). Devemos estudar e aplicar os Testemunhos em seu devido contexto (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 57). Muitos dos escritos de Ellen White aplicam-se a pessoas, lugares e tempo específicos. Acima de tudo, o Espírito de Profecia não deve ser usado como meio de oprimir ou condenar o povo de Deus. 

A Bíblia não deve ser deixada de lado em favor do estudo do Espírito de Profecia, em busca de novas doutrinas. Essa atitude é contrária aos ensinamentos de Deus e jamais foi pretensão da Sra. White: “Nossa atitude e crença têm por base a Bíblia. E nunca queremos que alma nenhuma faça prevalecer os Testemunhos sobre a Bíblia” (Evangelismo, p. 256). Sobre a pretensão de ser infalível, Ellen White afirma em Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 37: “Com relação à infalibilidade, nunca a pretendi; unicamente Deus é infalível.” 

Felizmente, assim como existem dezenas de afirmações e interpretações amparadas no “achismo” ou na falta de conhecimento da verdade, há também os que examinam com cuidado a revelação e que buscam conscientemente a Deus. 

Érico Tadeu Xavier (via Revista Adventista)

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