sexta-feira, 17 de junho de 2022

ANTÍDOTO PARA O DESESPERO

Alguma vez você já se sentiu a ponto de desistir de tudo? Pareceu-lhe estar no limite da sua sanidade? Pensava estar no paredão?

Estar no limite é um assunto a respeito do qual nós, cristãos, não nos sentimos bem ao falar. Entretanto, muitos de nós têm chegado ali. Às vezes, sentimos que as circunstâncias da vida nos sufocam. Sentimos que mergulhamos no desespero. Podemos até perguntar: “Por que Deus não nos impede que nos afastemos do abismo? Por que não nos permite apenas prosseguir?”

Desespero
Nos anos de 1970, Seligman desenvolveu uma das primeiras teorias filosóficas explicando por que as pessoas se tornam depressivas. Sua teoria era fundamentada em certo número de experimentos com ratos. Seligman verificou que os ratos que ficavam trancados numa gaiola dividida em dois compartimentos, quando recebiam choque elétrico em um dos lados da gaiola, aprenderam a passar para o outro lado e evitar o choque. Se naquele lado fossem igualmente submetidos ao choque, voltavam para o primeiro compartimento. Mas, se os ratos tomassem choques elétricos continuamente, não se importavam com o lado da gaiola em que estivessem. Apenas ficavam ali, indefesos, pois eram incapazes de prever ou evitar o evento desagradável. A este fenômeno, Seligman denominou “aprendizado por meio do abandono”. Sua teoria sugere que, quando enfrentamos a depressão, o desespero, semelhante à experiência dos ratos, estamos experimentando o “aprendizado por meio do abandono”. Incapazes de prever ou evitar as circunstâncias adversas, as intempéries da vida, ficamos paralizados, presos na armadilha.

"Distúrbios mentais são tão comuns que cerca de uma pessoa em cada seis em idade útil tem problemas de saúde mental” (National Service Framework for Mental Health). As estatísticas a respeito da saúde mental são bem significativas: De cada mil pessoas que consultam anualmente o médico, 334 o fazem com relação a problemas mentais. Mulheres entre 25 e 44 anos são três vezes mais propensas a queixar-se de depressão que os homens. Alguns assim denominam a depressão: o “frio comum” dos problemas mentais. Treze a vinte por cento da população são declarados em estado de depressão (Gelder, Gath, Mayou e Cowen). Um cartaz de campanha de advertência dos Samaritanos declara: “Você sabia que, no Reino Unido, existem mais pessoas dependentes de antidepressivos do que de ídolos populares?

Distúrbios mentais são assunto sério em toda sociedade e atinge a cada um, incluindo os cristãos. O Departamento Britânico de Estatísticas da Saúde estima que cem pessoas cometem suicídio, semanalmente, na Inglaterra, o que significa aproximadamente 5 mil por ano, em média de uma pessoa em cada treze horas. O grupo mais afetado é o de rapazes. Suicídio é a causa mais comum de óbitos entre homens abaixo de 35 anos.

O desespero nos cega impedindo-nos de ver qualquer raio de esperança. Deixa-nos paralizados, inativos e nos afasta para longe dos sonhos. Leva-nos para a beira do abismo, nos deprime, pesa sobre nós e grita: “Volte! Desista!” Martin Luther King Júnior disse: “Se um homem ainda não descobriu algo pelo que possa dar a própria vida, esse não serve para viver.” Vamos arrumar essa declaração em nossa mente: “Se alguém não descobriu a razão de viver, este não está pronto para morrer.” Para que vivemos? Já descobrimos o propósito para o qual fomos criados? Já o conhecemos antes de sermos engolidos pelo curso da vida fazendo com que percamos nosso alvo?

Esperança
Esperança é o oposto de desespero. A esperança é o que Satanás procura tirar de nós, porque ela é a base e fundamento da fé. Em Hebreus 11:1 está registrado o seguinte: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.” A fé é, ao mesmo tempo, verbo e substantivo – uma palavra de ação. É esperança em ação.

A esperança é representada mais claramente na vida de Abraão: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia. ... Porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (versos 8 e 10). Por que Abraão deixou o conforto, a segurança e os lugares conhecidos para trilhar caminhos que lhe eram desconhecidos? É que ele tinha uma esperança de algo mais do que seus olhos humanos podiam ver, mais do que suas mãos podiam tocar.

Quando Satanás fomenta a dúvida, a desesperança e o desespero em nossa vida, podemos achar que nossa fé pereceu. Em tais ocasiões é difícil andar pelos caminhos desconhecidos e confiar em Deus. Mas a esperança abre nossos olhos para a razão pela qual fomos chamados; para o propósito pelo qual Deus nos criou – mesmo diante da adversidade.

Jesus foi claro a respeito de Seu propósito de vida. Mesmo quando precisou enfrentar as predições de Sua morte na cruz, Ele disse: “Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo” (João 18:37). Jesus estava dizendo: “Eu nasci por uma razão, vivo por esta causa e estou preparado para morrer por essa causa.” O propósito de Jesus era testificar da verdade; a verdade do Rei e do reino!

Enquanto peregrinamos pela vida, e a fim de banir o desespero, mesmo quando formos confrontados com a adversidade, calamidade, tristeza, perda e temor, devemos conhecer a razão pela qual vivemos. Se fixarmos os olhos nesse alvo, Deus poderá insuflar vida à nossa visão, mais do que sempre sonhamos ser possível.

Preparados para a Causa
De que modo podemos eliminar de nossa vida o desespero? Apresentamos aqui cinco estratégias:

1. Guardar nossa mente. João Batista conhecia a causa pela qual vivia e passava muito tempo preparando a mente para enfrentar o ataque de Satanás. Ele deve ter-se apresentado de maneira diferente das pessoas de seu tempo. Isolava-se nas montanhas e ia às aldeias apenas para proclamar a mensagem do juízo. Não deve ter sido fácil para ele. Ellen G. White escreveu: “Pesava sobre ele a responsabilidade de sua missão. Meditando e orando, na solidão, buscava cingir a alma para a obra de sua vida. Cerrava, quanto possível, toda entrada a Satanás; não obstante, assaltava-o ainda o tentador. Sua percepção espiritual, porém, era clara; desenvolvera resistência de caráter e decisão e, mediante o auxílio do Espírito Santo, era habilitado a pressentir a aproximação de Satanás, e resistir-lhe ao poder” (O Desejado de Todas as Nações, p. 102).

Jamais sabemos, por antecipação, quando ou como Satanás virá para desencorajar nossa fé e roubar nossa esperança. Porém, uma coisa sabemos com certeza: Ele virá e nos tentará a descrer de Deus e questionar Seu amor.

2. Confiar em Deus. Podemos passar horas, semanas e anos perturbados ou preocupados, tentando descobrir por que esta ou aquela condição se instala, ou como podemos escapar, ou mudar uma situação ruim. Podemos procurar respostas em toda parte, exceto no único lugar em que está a esperança. Consideremos o comentário de Ellen White a respeito da mulher do poço (João 4): “[Ela] olhava atrás, aos pais, e ao futuro, à vinda do Messias, ao passo que a Esperança desses antepassados, o próprio Messias, estava ao seu lado, e ela O não conhecia. Quantas almas sedentas se acham hoje junto à fonte viva, e olham todavia a distância, em busca das fontes da vida!” (O Desejado de Todas as Nações, p. 184).

Talvez o leitor diga: “É fácil para você dizer apenas confiar nEle. Mas, creia-me, isto não é fácil. Só recentemente eu passei a me ancorar e depor em Deus a minha confiança. Meu reconhecimento da estabilidade, segurança e força que há em Deus ocorreu no verão passado enquanto eu passava um feriado nas Bermudas. Certo dia, sentada diante da praia, enquanto o Sol se punha, eu observava uma grande rocha magnificente sobressaindo das profundezas do mar. As ondas se abatiam contra a rocha parecendo querer engolfá-la, mas a rocha permanecia inamovível. Subitamente, ocorreu-me o pensamento: “Preciso firmar em Deus a minha confiança, esperança e fé. Ele é seguro, constante, e dEle depende a vida. “Eu é que sei que pensamentos tenho a vosso respeito, diz o Senhor; pensamentos de paz e não de mal, para vos dar o fim que desejais” (Jr 29:11). Repousei naquele momento de segurança.

3. Encher de coisas puras a mente e a vida. Deus quer renovar nossa mente. O apóstolo Paulo escreveu: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Conforme o desejo de Deus, o que deve preencher nossa mente? Outra vez, o apóstolo escreveu: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento” (Fp 4:8).

Não muito tempo atrás, percebi que eu acordava com a mente em disparada, repleta de tantas coisas que eu precisava fazer, preocupada, planejando o que eu faria, tentando elaborar da melhor maneira o caminho para prosseguir adiante. Isto começou a me fazer implodir, e eu acordava sentindo-me cansada como se não tivesse dormido.

Fui a uma reunião de oração em que estudamos o sermão da montanha, proferido por Jesus (Mt 5-7), uma bem-aventurança por semana. Naquela semana, a bem-aventurança considerada foi: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus (Mt 5:8). O ancião que dirigia o culto de oração declarou que são necessários 21 dias para mudar de hábito. Decidi permitir que Deus renovasse a minha mente e mudasse minha maneira de concentrar-me nos pensamentos negativos para os pensamentos puros de louvor. Quando me veio a preocupação, mencionei uma promessa, por exemplo: “Acima de tudo, Deus deseja que eu prospere e desfrute de boa saúde.” Então orei: “Senhor, Tu disseste que desejas boas coisas para mim. Não posso ver o que Tu fazes, mas vou confiar em Ti. Por favor, revela-me de alguma forma o que estás fazendo.”

Passados 14 dias, eu havia parado de acordar com a mente agitada, preocupada. Diz Ellen White: “Na vida futura, os mistérios que aqui nos inquietaram e desapontaram serão esclarecidos. Veremos que as orações na aparência desatendidas e as esperanças frustradas têm lugar entre as nossas maiores bênçãos” (A Ciência do Bom Viver, p. 474).

Algumas vezes, nossas preocupações, estresse e desespero são causados por expectações ilusórias. Eu percebi a importância de aceitarmos nossas limitações. Por vezes, nossa mente fica repleta de preocupações, estressada porque não estamos contentes com as bênçãos que temos. O pastor da minha igreja apresentou uma estratégia prática de reduzir o estresse e o descontentamento. Ele disse: “Às vezes, precisamos cortar nossa ambição para adequar-se à nossa condição.”

Contentamento é o segredo da mente pura – a mente esperançosa. Levo comigo, para meu trabalho diário, uma porção de contentamento e isto me ajuda a retomar a concentração da mente quando começo a me sentir cansada e a ter pensamentos descontentes: “Felicidade não é ter o que se quer, mas querer o que se tem.” A esperança vive onde Deus está, não nos braços de alguém, nem em ter montanhas de dinheiro, emprego novo, um carro, uma casa.

Nossa conduta social também auxilia nosso coração e mente a manter atitude positiva. Devemos cercar-nos de pessoas positivas, que nos encorajem, que orem em nosso favor. Em minha família da igreja, tenho alguns bons amigos que fortalecem minha esperança. Estou participando de um grupo de oração e afirmo: É difícil desistir quando se sabe que alguém está orando em nosso favor.

4. Esperar no Senhor. Martin Luther King Júnior disse: “A verdadeira medida de alguém não é mantida em momentos de conforto e conveniência, mas onde essa pessoa permanece em tempos de desafios e controvérsias.” Problemas e crises virão. Coisas terríveis, imprevisíveis ocorrerão na Terra. Mas algo é certo, duradouro, não muda: Deus. A certeza que Ele nos concede é de que, se nEle descansarmos em meio à adversidade, Ele será nossa esperança e não precisaremos nos desesperar. Sua promessa é: “Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (Is 43:2).

Portanto, não necessitamos ficar abalados com todo sentimento, situação ou emoção. Podemos ancorar nossa esperança em Deus, que é constante.

5. Orar a Deus continuamente. A expressão de louvor de Davi serve de modelo que bem faríamos em seguir: “Bendirei o Senhor em todo o tempo, o Seu louvor estará sempre nos meus lábios” (Sl 34:1).

Nem tudo o que nos suceder será bom, mas em todas as coisas podemos encontrar algo pelo que podemos louvar a Deus.

A fé é a audácia da esperança. Se alguém ainda não descobriu uma razão pela qual viver, não está pronto para morrer. Para que estamos vivendo? Onde está depositada nossa esperança?

Se você está em tal estado de desespero, sentindo que a esperança não mais existe, então eu o desafio a apegar-se diariamente a Deus. Escolha viver pela causa de Deus, andar com Ele, apoiar-se nEle, fundamentar suas esperanças, seus sonhos, na Rocha.

Conforme as palavras registradas em Efésios 1:18, que possamos dizer com o apóstolo Paulo: “[Oro para que sejam] iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes qual é a esperança do seu chamamento.”

Hermine L. Graham (via Revista Adventista)

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