Quando eu era menino, a cidade em que eu morava contratou uma grande empresa para um trabalho de pavimentação de rua. A empresa empregava centenas de homens e eles trabalharam por muito tempo, gastando milhares de dólares para completar o projeto. Quando finalmente terminaram o trabalho e o entregaram à cidade, as autoridades rejeitaram tudo o que havia sido feito e se recusaram a pagar sequer um centavo. Deram apenas um motivo: “Não está de acordo com as especificações.” A empresa contratante não havia realizado o trabalho conforme o plano especificado.
Caros irmãos, estamos realizando nossa tarefa de acordo com as especificações? Somos construtores. Estamos ajudando a construir a rodovia pela qual passará o Rei. Que Deus nos ajude como fiéis operários a fazer nosso trabalho de acordo com as instruções! Estou absolutamente confiante em relação ao triunfo dessa mensagem. Sou corajoso e otimista quanto ao seu avanço para a vitória. Ao mesmo tempo, acredito que, para ser um vigilante fiel, não devo permitir que meu otimismo me cegue. Quando o perigo aparece ou o mal se intromete, acredito que deve ser mencionado de forma estratégica.
DOIS PERIGOS
Creio que enfrentamos dois perigos hoje: os de fora e os de dentro. Acredito que o último deve ser o mais temido. Ellen White escreveu: “Temos que temer muito mais o que vem de dentro do que de fora. Os obstáculos à força e ao sucesso são muito maiores dentro da própria igreja do que do mundo” (Review and Herald, 22 de março de 1887). Como era nos tempos de Neemias, assim é hoje. Os Sambalates, Tobias e Gésens modernos se levantam, observam o trabalho de Deus e o criticam. Eles criticam a forma pela qual o trabalho é feito. Encontram defeito na obra e naqueles que a executam. Mas, graças a Deus, no tempo de Neemias, eles não conseguiram parar o trabalho. Portanto, se estivermos sob a direção do Senhor, se formos consagrados a Deus, eles nunca poderão parar o trabalho em si. Esta é a obra de Deus. Não são os perigos de fora que devemos temer, mas os de dentro.
Ao meditar sobre isso, cheguei a crer que nosso maior perigo hoje é a atitude amplamente prevalecente de muitos membros que aceitam, com aparente satisfação, sua baixa condição espiritual e não se preocupam muito com isso.
Além dessa realidade, está a falha de alguns líderes que não apelam para uma nova e mais elevada vida espiritual na igreja. Meus irmãos, creio que esse apelo deve ser feito hoje. Graças a Deus, há aqueles que o fazem. Mas acredito que deveria ser feito por todos os líderes dessa causa.
REFORMA COMPLETA
Não podemos fechar os olhos para algumas coisas que Deus nos revelou por meio da Sua mensageira. “A menos que se arrependa e converta, a igreja que agora está a levedar-se com sua apostasia comerá do fruto de seus próprios atos, até que se aborreça por si mesma. Quando resistir ao mal e escolher o bem, quando buscar a Deus com toda a humildade e alcançar sua alta vocação em Cristo, permanecendo na plataforma da verdade eterna, e pela fé lançar mão dos dons que para ela se acham preparados, então será curada. Aparecerá então na simplicidade e pureza que Deus lhe deu, separada de embaraços terrenos, mostrando que a verdade com efeito a libertou. Então seus membros serão na verdade os escolhidos de Deus, seus representantes. É chegado o tempo de realizar uma reforma completa” (Testemunhos Para a Igreja, v. 8, p. 250).
Continuando a leitura: “Quando essa reforma começar, o espírito de oração atuará em cada crente e banirá da igreja o espírito de discórdia e luta” (p. 251). Oremos a Deus para que essa reforma seja apressada a fim de banir da igreja “o espírito da discórdia e luta”. Esse espírito não é alimentado pela atitude ou atmosfera de oração.
LÍDERES RESPONSÁVEIS
Creio que nós, como obreiros hoje, somos em grande parte responsáveis por esse espírito de dúvida, permissividade e descrença. Recentemente recebi uma carta de um jovem de uma de nossas escolas. “Durante nosso crescimento, nossa vida é moldada pelo ambiente”, escreveu ele. “Há pouco tempo, ouvi um pregador condenando o consumo de carne, e, menos de uma hora depois, ele e outros três que estavam na plataforma dizendo ‘amém’ estavam comendo carne num restaurante. Não sei o que o Senhor vai fazer a esse respeito, mas Ele deveria fazer algo.”
Esse foi o comentário do estudante. Podemos dizer que talvez esse jovem seja um extremista. Mas isso não é realmente o que importa nessa carta. O mais importante não é o que o jovem é, mas o que os pregadores são. Eles dizem uma coisa na plataforma, defendem um princípio, depois na vida cotidiana contradizem com outra prática.
Queridos irmãos, não precisamos ir longe para encontrar as causas da incredulidade e da dúvida, quando nós, como líderes, damos esse tipo de exemplo diante do povo. O que é realmente alarmante não é apenas o que aquele jovem disse, mas o fato de muitos de nossos membros terem perdido a fé em seus líderes devido à falta de coerência da liderança.
Líderes, deveríamos estar dando um exemplo consistente, colocando em prática as reformas exigidas pelo dom profético. Como podemos esperar ter a confiança e o respeito do povo se somos inconsistentes? Como podemos falar de renascimento espiritual e reforma, quando oferecemos esse tipo de testemunho? Precisamos ter coerência.
TOQUE A TROMBETA
Também precisamos de uma reforma na pregação sobre a vinda do Senhor. Creio que nossa identidade como adventistas do sétimo dia é a proclamação sobre a volta de Jesus. Estando rodeados pelas crescentes evidências de Seu retorno, como podemos permanecer ignorantes sobre um assunto tão vital como esse?
Como servos de Deus, devemos “tocar a trombeta”, pois “breve Jesus voltará”. Nosso movimento foi fundado sobre essa bendita esperança, e todo pregador deve falar sobre ela e repeti-la em todos os lugares.
Creio que o Senhor ainda está com Seu povo. A igreja de Laodiceia é também a igreja da trasladação. A mesma igreja repreendida por seus delitos é a igreja que deve ser levada para o reino de Deus. O conhecimento desse fato me dá coragem. Podemos continuar trabalhando com a certeza de que essa causa triunfará!
Este texto é parte do discurso de abertura do pastor James Lamar McElhany, então presidente da sede mundial da igreja, no Concílio Outonal, em Fort Worth, no Texas (EUA). O discurso completo foi publicado na The Advent Review and Sabbath Herald, em 3 de dezembro de 1936. (via Adventist World)
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