O mês de setembro é marcado pela campanha de prevenção ao suicídio, denominada “Setembro Amarelo”. O projeto foi lançado em 2014 em uma parceria da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2019 foram registrados mais de 700 mil casos de suicídio em todo o mundo e, ao levar em consideração a subnotificação, pode se estimar que mais de um milhão de pessoas tenham tirado a própria vida. No Brasil, acontecem cerca de 14 mil casos de suicídio por ano, ou seja, aproximadamente 38 pessoas tiram a própria vida por dia no país, diz o site oficial da campanha de prevenção.
Entre os seis principais sinais que chamam a atenção antes de um caso ou uma tentativa de suicídio, destacamos:
1. Isolamento;
2. Mudanças na alimentação e no sono;
3. Automutilação, como cortes;
4. Autodepreciação;
5. Interrupção de planos;
6. Abandono de estudo e emprego.
Para a prevenção do suicídio, estas mudanças devem ser observadas pela família, amigos, colegas de trabalho e, quando são menores de idade, pelos professores e funcionários da escola.
Além das mudanças comportamentais, um fator pode ser considerado chave na questão do suicídio: a depressão. Publicado na revista científica Crisis, um estudo observou que "a maioria (98%) dos tentantes de suicídio tinha diagnóstico de pelo menos um transtorno mental". Entre estes problemas, estava a depressão.
Suicídio e a Bíblia
A Bíblia afirma que a vida é um presente de Deus (Gn 1:30; 2:7; Sl 36:9; At 17:25, 28), que criou o ser humano à Sua imagem e semelhança, a fim de que experimentasse a plenitude da existência (Gn 1:27; 1Pe 1:18, 19; 1Jo 2:2; 3:2). Embora o pecado tenha entrado no mundo, e com ele, a morte, (Gn 3; Rm 5:12), o Senhor espera que Seus filhos preservem e promovam a vida, considerando o corpo como santuário do Espírito Santo (1Co 6:19, 20) e sacrifício vivo (Rm 12:1-3), em honra ao Seu nome. Por isso, Ele defende a preservação da vida e condena sua destruição (Gn 9:5, 6; Êx 20:13; Dt 24:16; Pv 6:16, 17; Mq 6:7; Ap 21:8; 22:13-15).
Vamos relacionar os casos ou tentativas de suicídio registrados na Bíblia, extrair algumas conclusões e então fazer comentários gerais.
- Abimeleque, ferido mortalmente por uma pedra de moinho lançada contra ele por uma mulher, pediu ao seu escudeiro que o matasse para evitar a vergonha (Juízes 9:54).
- Saul, depois de haver sido gravemente ferido em batalha, tirou a própria vida (1 Samuel 31:4). Ellen White comenta: “Assim pereceu o primeiro rei de Israel, com o crime do suicídio em sua alma. Sua vida fora-lhe um fracasso, e sucumbira com desonra e em desespero, porque pusera sua vontade própria e perversa contra a vontade de Deus” (Patriarcas e Profetas, p. 682). Vendo o que o rei fizera, seu escudeiro “jogou-se também sobre sua espada e morreu com ele” (verso 5, NVI). Essas mortes foram motivadas pelo temor daquilo que o inimigo lhes poderia fazer.
- Aitofel, um dos conselheiros de Absalão, enforcou-se depois de saber que o rei rejeitara seu conselho (2 Samuel 17:23).
- Zinri tornou-se rei depois de um golpe de Estado, mas ao perceber que o povo não o apoiava, foi “à cidadela do palácio real e incendiou o palácio em torno de si e morreu” (1 Reis 16:18, NVI).
- Judas ficou tão desorientado emocionalmente depois de haver traído Jesus, que acabou se enforcando (Mateus 27:5). Ellen White diz que Judas “sentiu que não podia viver para ver Jesus crucificado, e em desespero, foi enforcar-se” (O Desejado de Todas as Nações, p. 692). Jesus sabia o que Judas estava planejando; contudo, não “proferiu nenhuma palavra de condenação. Olhou piedosamente para Judas, dizendo: Para esta hora vim ao mundo” (Idem). Se Jesus, conhecendo o coração humano, pode continuar a trabalhar com pessoas sem condená-las, podemos ser diferentes?
- Sansão tirou a própria vida e a de muitos proeminentes inimigos ao fazer com que um edifício todo ruísse (Juízes 16:29-30).
- Depois do terremoto, o carcereiro de Filipos pensou que os prisioneiros haviam fugido e tentou se matar por temor, mas Paulo convenceu-o a não fazê-lo (Atos 16:26-28).
- Ellen White menciona que Pilatos também cometeu suicídio. “A arriscar sua posição, preferiu entregar Jesus para ser crucificado. A despeito de suas precauções, porém, exatamente o que temia lhe sobreveio mais tarde. Tiraram-lhe as honras, apearam-no de seu alto posto e, aguilhoado pelo remorso e orgulho ferido, pôs termo à própria vida” (O Desejado de Todas as Nações, p. 709, 710).
O que fazer?
As igrejas e famílias, em especial, podem fazer muito para ajudar a identificar sinais de alerta e prevenir suicídios. A atitude mais importante é ouvir com acolhimento quem tem sido assediado por pensamentos suicidas.
Ao refletir sobre a complexidade do tema, Ángel Manuel Rodríguez destacou dois pontos fundamentais: (1) “a psicologia e a psiquiatria têm revelado que muito frequentemente o suicídio é o resultado de profunda revolta emocional ou bioquímica desestabilizada associada a um estado de depressão profunda e medo. Não devemos julgar uma pessoa que, sob estas circunstâncias, optam pelo suicídio”; e (2) “a justiça de Deus leva em consideração a intensidade de nossas mentes perturbadas; Ele nos compreende melhor do que qualquer outra pessoa”.
E para quem está sofrendo uma perda dessa natureza, uma palavra de esperança. Embora o suicídio não seja moralmente neutro, também não é um pecado imperdoável. A Bíblia registra casos de suicídio em contextos negativos, mas não pronuncia juízo de valor sobre o ato, um silêncio que é interpretado de maneiras opostas. Ninguém deve julgar uma vida por um ato radical em um momento de desespero ou desequilíbrio químico. O julgamento é feito por um justo Juiz, o Deus da esperança e da misericórdia.
Vejamos este conselho de Ellen White: "Se tomarmos conselho com as nossas dúvidas e temores, ou procurarmos solver tudo que não podemos compreender claramente, antes de ter fé, as dificuldades tão-somente aumentarão e se complicarão. Mas se chegarmos a Deus convencidos de nosso desamparo e dependência, tais quais somos, e com humilde e confiante fé fizermos conhecidas nossas necessidades Àquele cujo conhecimento é infinito, e o qual tudo vê na criação, governando todas as coisas por Sua vontade e Palavra, Ele pode atender e atenderá ao nosso clamor, e fará a luz brilhar em nosso coração" (Caminho a Cristo, pp. 96-97).
Orientamos também, que pessoas com depressão ou que demostrem sinais de risco para o suicídio procurem os Centros de Atenção Psicossocial [Caps], os Cras [Centro de Referência da Assistência Social] ou um hospital. Se houver qualquer sinal de que a pessoa tentou o suicídio, a pessoa deve discar 192 e chamar um Samu. Agora, para chamar o Corpo de Bombeiros, o telefone é 193. Há, ainda, o Centro de Valorização da Vida (CVV), que promove apoio emocional e prevenção ao suicídio. O telefone do CVV é 188.
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