quinta-feira, 17 de novembro de 2022

IGREJA EM CAMPO

A Copa do Mundo 2022 começa a partir deste domingo (20) e termina dia 18 de dezembro. A maior competição de seleções do planeta contará com vários dos grandes craques do futebol nos gramados do Catar. Mas que lições dentro e fora de campo o nobre jogo e a Copa podem ensinar aos cristãos? Veja um time de onze jogadas de craque que deveriam ser imitadas pelos religiosos:

1. O sucesso vem com planejamento
Não basta ter talento; é preciso organização. Seria bom que a organização característica dos times de elite fosse vista na igreja. Os cristãos tendem a confiar demais no improviso. É como se planejar para o sucesso fosse falta de fé. No entanto, se o planejamento não substitui o poder divino, o poder divino não substitui a falta de planejamento. O Espírito Santo não dispensa o preparo humano. Ele o maximiza. 

No livro Cristo Triunfante (CPB), Ellen White observa que “planos bem amadurecidos” são “essenciais ao bom êxito de empreendimentos sagrados”. Leia em Lucas 14:28-32 sobre a importância do planejamento.

2. A superação prepara o caminho para a excelência
Muitos jogadores têm histórias emocionantes. Cristiano Ronaldo e Messi, dois astros e rivais do futebol atual, nasceram em bairros modestos.  Cristiano ficou órfão cedo, teve taquicardia e fez cirurgia do coração. Messi enfrentou problema de crescimento e precisou se tratar. Ambos estrearam aos 17 anos e, como supercraques na mesma época, disputando o mesmo espaço, Messi no futebol coletivo e Cristiano no individual, são obstinados na busca da excelência. Como resultado, quebram um recorde após o outro. Thiago Silva, capitão da seleção brasileira, enfrentou também muitas pedras no caminho do sucesso. Teve que enfrentar uma grave tuberculose, e com a ajuda de um técnico amigo, retornou ao Brasil e deu a volta por cima. Hoje é considerado um dos melhores zagueiros do mundo.

Deus convoca “jogadores” de todos os lugares, com todas as fragilidades e desvantagens. Aqueles que lutam para superar seus pontos fracos podem se tornar campeões. A vitória, muitas vezes, não é dos melhores, dos mais bonitos e dos mais talentosos, mas dos mais esforçados. A superação pode fazer a diferença na arena da religião, embora a salvação seja pela fé.

De acordo com Ellen White, no livro Patriarcas e Profetas (CPB), “o segredo do êxito está na união do poder divino com o esforço humano”. A graça divina, diz ela em Profetas e Reis (CPB), “é dada para operar em nós o querer e o efetuar, mas jamais como substituto de nosso esforço”. Leia em 1 Coríntios 9:24-27 e em Hebreus 12:1-12 sobre o valor do esforço, da disciplina e da superação.

3. O cuidado com o corpo e a mente possibilita o preparo ideal
Os dois são fundamentais. “O corpo é meu instrumento de trabalho. A mente é o que me mantém em ação. Preciso de ambos”, disse Clarence Seedorf, o craque holandês quatro vezes vencedor da Champions League e que atuou com destaque na seleção de seu país.

De acordo com uma especialista em nutrição esportiva, os atletas chegam ao auge voltando ao básico. “Trabalho sério, treinamento inteligente, recuperação adequada e boa nutrição ajudam os atletas a desenvolver seu potencial”, diz a Dra. Enette Larson-Meyer, autora de Vegetarian Sports Nutrition (Human Kinetics). “Uma dieta com base em plantas leva os atletas de volta aos princípios saudáveis da nutrição que realmente promovem a saúde e possibilitam um desempenho ótimo.”

Infelizmente, boa parcela dos cristãos, adotando uma dicotomia rígida, pensa que o importante é a alma e que o corpo é apenas um acessório. A matéria não teria valor. Outros focalizam o corpo e menosprezam a dimensão espiritual da mente. Ainda bem que a Igreja Adventista adota uma visão integral, que valoriza a pessoa toda. Se o corpo é o templo do Espírito Santo, a mente é seu lugar mais sagrado. Leia em 1 Coríntios 6:19 e 20 sobre a importância de cuidar do corpo.

4. O trabalho em equipe facilita a vitória do time
Futebol é esporte coletivo. Você ganha ou perde em grupo. Nenhum jogador deve ser individualista. Todo mundo tem que dar 100% de si para o sucesso do time. Ninguém pode jogar se não estiver disposto a entrar em campo, suar a camisa e participar das jogadas do grupo.

O segredo é confiar nos colegas e passar a bola na hora certa, sem se achar o dono do time. Por mais competente que pareça, o presidente do clube não ganha nenhum jogo; por mais estratégia que conheça, o técnico não obtém nenhuma vitória sem o time; por melhor que seja, o jogador nada resolve sozinho.

Cristianismo é jogo em equipe, vida em comunidade, conquista coletiva. Na arena religiosa, não há lugar para estrelismos e celebridades, como se tudo dependesse de um jogador. Os talentos de todos se complementam para obter a vitória. Como disse o empreendedor Andrew Carnegie, trabalho em equipe é “o combustível que permite que pessoas comuns obtenham resultados incomuns”. O sucesso que marcou o início do cristianismo não dependeu do talento de um superapóstolo, mas da cooperação de um grupo de pessoas. Seria por acaso que a expressão “uns aos outros” (em grego, allelon) aparece mais de 100 vezes no Novo Testamento? O trabalho unido na igreja é “como uma sinfonia” para os ouvidos de Deus, compara Wayne Cordeiro em Doing Church as a Team (Regal Books). Leia em 1 Coríntios 12:4-20 sobre o trabalho em equipe.

5. O respeito pelas funções de cada um cria um bom ambiente
Cada atleta tem uma responsabilidade, uma posição e um estilo de jogo. Os papéis específicos dos jogadores, do técnico e do presidente precisam ser respeitados. Se o técnico entrar em campo, alguma coisa está errada. A mesma coisa vale para o presidente do clube. Sua função não é interferir na escalação do time nem nos tipos de jogada. Os técnicos precisam de autonomia e liberdade para trabalhar.

Ficou famosa uma frase de João Saldanha, técnico da seleção brasileira nas eliminatórias para a Copa de 1970, quando o general Emílio Garrastazu Médici, no auge na ditadura militar, exigiu que ele convocasse o jogador Dario. “O presidente nomeia o ministério, eu escalo a seleção”, disse o polêmico jornalista-técnico, que perdeu o cargo, mas criou uma frase memorável.

Na igreja, jogadores (membros), técnicos (pastores/anciãos) e presidentes (administradores) precisam reconhecer seus papéis e respeitar as funções de cada um. Querer interferir onde não se deve é tumultuar o ambiente. Todo líder inteligente resiste a essa tentação quase irresistível. Leia em 1 Coríntios 12:27-30 sobre a especificidade e complementaridade das funções de cada um.

6. As lesões inevitáveis não são sinônimas de derrotas
Para um jogador de futebol, jogar a Copa é a glória, o auge da carreira. Contudo, mesmo os atletas de alto nível não estão livres de problemas, especialmente depois que o futebol-arte deu lugar ao futebol-força. Nesse esporte, as lesões representam 50 a 60% dos problemas físicos. O drama de sofrer uma lesão e ser “cortado” não pode ser subestimado. “É a morte da minha alma ser forçado a deixar o grupo e ficar de fora do mundial”, disse o craque francês Frank Ribéry ao ser cortado à véspera da Copa de 2014 devido a uma lesão nas costas.

Apesar de tudo isso, o jogo prossegue, pois ninguém é insubstituível. “Sem Pelé, o Brasil fica muito fraco. Quem é Amarildo?”, disse Helenio Herrera, técnico da seleção espanhola na Copa de 1962. Seu time perdeu para o Brasil por 2 a 1, com 2 gols de Amarildo!

Ao contrário do que dizem alguns pregadores, os cristãos não estão imunes ao sofrimento. Quase todos os grandes “jogadores” do time de Deus, como Moisés, Elias, Isaías, Jeremias, Pedro, Paulo e João, enfrentaram “contusões”, “lesões” e “traumatismos”. A diferença é que Deus não corta Seus jogadores por causa de lesões. Ele os mantém no time e os recupera com um tratamento chamado graça. Leia em 2 Coríntios 12:7-10 sobre a graça para superar a fraqueza.

7. Jogar de acordo com as regras evita problemas
Os futebolistas precisam ter autocontrole e aprender a obedecer aos regulamentos do esporte, jogando limpo e não se irritando facilmente com as provocações. Caso contrário, a consequência pode ser desastrosa.

Na final da Copa de 2006, a dez minutos do fim da prorrogação, quando o jogo estava 1 a 1, o craque francês Zinedine Zidane deu uma cabeçada no peito do zagueiro italiano Marco Materazzi, que havia xingado sua irmã. Zidane foi expulso na última partida da carreira. Nos pênaltis, a Itália se sagrou tetracampeã. Se ele não tivesse levado cartão vermelho, será que o resultado poderia ter sido diferente? Ninguém sabe. 

Seguir as regras significa não lançar mão de nenhum recurso ilícito. É um teste do caráter. Quem joga no time de Deus precisa ter uma ética inquestionável. O fato de milhões acharem que o mundo não tem regras não invalida a existência delas. Assim como o regulamento do futebol é criado pela entidade que controla o futebol, quem criou o mundo e o controla é que define as regras. Leia em 2 Timóteo 2:5 sobre a importância de competir de acordo com as regras.

8. O foco no êxito diminui o medo do fracasso
Pense nas possibilidades. Você já viu um jogador ser entrevistado no intervalo e dizer: “Nosso time realmente não jogou nada e vamos perder”? Quase sempre os futebolistas falam que o técnico vai acertar o time e virar o jogo. Se o time perde, no máximo, admitem que o adversário estava muito retrancado. A retórica do otimismo sempre está presente, expressando a confiança de que o time vai recuperar seu melhor futebol.

Os grandes atletas aprendem com os erros, mas não ficam lamentando o insucesso. É como se eles precisassem de um “tanque emocional” cheio para continuar correndo, assim como um carro tem mais autonomia com o tanque cheio de combustível. A responsabilidade de “encher” o tanque emocional não é só do técnico, mas dos próprios atletas.

Na arena do cristianismo, assim como no futebol, atitude é tudo. Se você não for positivo, entusiasta, já entra em campo derrotado. Os fracassos do pecado precisam ser esquecidos. Ter confiança e esperança é fundamental. “Se falarmos de fé, esperança e coragem, nosso coração será fortalecido, e nossa esperança, coragem e fé aumentarão”, diz Ellen White no livro O Cuidado de Deus (CPB). Em Cristo, todos podem ser mais que vencedores. Leia em Romanos 8 sobre a mentalidade vitoriosa.

9. Atenção até o último minuto evita surpresas desagradáveis
O jogo só termina com o apito final. O sucesso não é medido pelo placar parcial, mas pelo resultado final. Os times excepcionais nunca consideram o jogo ganho nem perdido enquanto a partida não termina. Eles jogam com intensidade até o fim.

Na final de 1958, aos quatro minutos de jogo, a Suécia fez um gol no Brasil, e o fantasma de 1950 poderia abalar o time nacional. No entanto, Didi pegou a bola dentro das redes, ergueu a cabeça e caminhou para o centro do campo com a pelota debaixo do braço. Resultado: o Brasil virou o jogo, venceu por 5 a 2 e foi campeão. Em 1966, na Inglaterra, a Coreia do Norte, surpresa do mundial, fez 3 a 0 em Portugal, mas os patrícios tiveram uma reação incrível e venceram por 5 a 3, com quatro gols de Eusébio.

Igualmente, na vida cristã, precisamos lutar até o fim, pois a partida só terminará quando o juiz apitar. Contar vantagem ou desistir antes da hora é correr o risco de se decepcionar. A taça ou coroa não é entregue no início do campeonato, mas no fim. Se você viver bem sua vida e fizer o que tiver que fazer, mantendo a atenção o tempo todo, o resultado aparecerá naturalmente. A vitória será uma consequência do jogo bem jogado até o último minuto. Leia em Marcos 13:13 e Apocalipse 2:10 sobre a necessidade de ficar firme até o fim.

10. A lealdade ao time ultrapassa a cor da camisa
Nas primeiras décadas do século 20, a seleção brasileira usou uma bela camisa branca com gola “polo”, inclusive nas Copas de 1930, 1934, 1938 e 1950. Com a derrota na final da Copa de 1950, a camisa branca nunca mais foi usada. Contudo, a mudança na cor do uniforme para o amarelo com detalhes verdes não diminuiu o amor dos fãs, pois a essência da seleção transcende a cor da camisa. O compromisso da torcida é com a seleção, não com o uniforme.

De modo semelhante, a devoção do cristão deve ser a Cristo, não apenas às cores da igreja. O Salvador está acima de slogans administrativos. Ele transcende circunstâncias e culturas. É mais do que programas, métodos, ideias ou campanhas. Cristo é a verdadeira essência do time. Sendo tudo em todos, Ele une torcedores e jogadores numa realidade única. Leia em 1 Coríntios 2 sobre a centralidade de Cristo.

11. A celebração do sucesso contagia o time
Futebol é um jogo que envolve paixão. A cada gol, os jogadores correm, pulam, batem no peito, dão socos no ar, dançam, deslizam ajoelhados sobre o gramado, estendem os braços e simulam um avião, beijam a aliança, chupam o dedo para homenagear o filho ou a filha, abraçam-se, jogam-se uns sobre os outros, beijam o escudo do time ou da seleção, apontam o dedo para o céu... A criatividade é o limite. Quem não se lembra de Bebeto balançando os braços na Copa de 1994, como se embalasse um bebê?

Quando termina o campeonato, a festa se intensifica para os vencedores. Na Copa de 1958, o capitão Bellini eternizou o gesto de erguer a taça, movimento repetido por todos os capitães das seleções campeãs. Os brasileiros Mauro (1962), Carlos Alberto Torres (1970), Dunga (1994) e Cafu (2002) tiveram o mesmo privilégio. Será que o próximo capitão vai repetir o gesto em 2022?

Nem sempre vemos a mesma vibração nos campos do evangelho. Há cristãos que não sorriem, não vibram, não comemoram as vitórias do time de Cristo. Não colocam o coração no “jogo” e o time no coração. É como se Deus fosse malhumorado, um amante de fracassos, um eterno fã do sofrimento. Entretanto, a Bíblia está cheia de brados de louvor e exclamação pela vitória do time de Deus. O Apocalipse é um livro de celebração pelo título do campeonato entre o bem e o mal, a vitória do time que estampa o Cordeiro no escudo sobre o time que ostenta o Dragão. Se você faz parte da equipe vencedora, celebre cada gol e a conquista do título! Leia em Apocalipse 7:9-17 e 14:1-5 sobre a celebração do time vitorioso.

Para finalizar, é importante destacar que, na Copa do Mundo, 32 seleções brigam pela taça, mas apenas uma a levanta. Até equipes vitoriosas como a da Espanha, Brasil e Inglaterra podem cair na primeira fase. Porém, no torneio do grande conflito, todos podem ser campeões. Se você fizer parte do time de Cristo, já pode se considerar campeão por antecipação.

Outras lições
Não é novidade que o futebol ensina perseverança, determinação, autocontrole, responsabilidade, lealdade, liderança, luta pelo objetivo. Contudo, ele pode ensinar outras lições. Confira:

1. Entre em campo. O objetivo do jogador não é ficar sentado na arquibancada nem no banco de reserva. O cristão não pode ficar na plateia.

2. Aprenda na prática. Você atinge a “perfeição” não apenas ouvindo preleções, mas tendo experiência no jogo real, transformando cada erro em futuro acerto.

3. Não reclame da concentração. É preciso ficar longe das distrações do mundo e treinar sério.

4. Desenvolva habilidade. Para jogar bem, é preciso equilíbrio no controle da bola em alta velocidade, percepção dos melhores caminhos, excelente coordenação e movimentos precisos.

5. Enfrente a pressão dentro e fora de campo. Cada jogo é uma batalha. A cobrança da imprensa e da torcida é enorme.

6. Equilibre defesa e ataque. Todos os setores da equipe, da igreja e da vida precisam de atenção.

7. Assuma riscos. Seja ousado, saia da retranca, vá para o ataque. Jogar é estar aberto a novas emoções.

8. Combine seriedade e entretenimento. A vida não é só trabalho e disputa.

9. Ganhe e perca com dignidade. As vitórias e derrotas fazem parte do jogo e da vida. Seja humilde na vitória e gracioso na derrota. Nenhum time é imbatível.

10. Seja flexível. Procure se adaptar a novas situações, novo ambiente, nova cultura e novas funções, como os jogadores fazem.

11. Seja um jogador de integridade. Você representa a família, o técnico, o time e o país. Jogue para a glória de Deus!

Adaptação de texto de Marcos De Benedicto (via Revista Adventista)

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