terça-feira, 15 de novembro de 2022

QUEM NUNCA OUVIU FALAR DE JESUS PODERÁ SER SALVO?

Estima-se que das 8 bilhões de pessoas vivas no mundo hoje, 3,37 bilhões delas vivam em grupos de povos não alcançados com pouco ou nenhum acesso ao Evangelho de Jesus Cristo. De acordo com o Joshua Project, existem aproximadamente 17.428 grupos de pessoas únicas no mundo, com mais de 7.400 deles considerados não alcançados (mais de 42% da população mundial!). A grande maioria (85%) desses grupos menos alcançados mora na Janela 10/40 e menos de 10% do trabalho missionário é feito entre essas pessoas. Janela 10/40 é uma faixa da terra que se estende do norte da África, passa pelo Oriente Médio e vai até a Ásia. A partir da Linha do Equador, subindo forma um retângulo entre os graus 10 e 40. 

Neste artigo, propomos então a seguinte pergunta para reflexão: Quem nunca ouviu falar de Jesus poderá ser salvo?

Os cristãos respondem de maneiras diferentes a essa pergunta. Apresentarei algumas reflexões que me ajudaram a tirar minhas próprias conclusões. Para tanto, examinarei algumas provas bíblicas e farei observações de natureza teológica.

1. A salvação por meio de Cristo e da missão
Alguns cristãos negam que possa haver salvação separada do conhecimento de Cristo, o que poderia ser chamado de resposta exclusivista. Certas passagens bíblicas parecem apoiar esse ponto de vista. Por exemplo, Jesus disse: “Esta é a vida eterna: que Te conheçam, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Pedro reafirmou essa convicção: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do Céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (Atos 4:12). De fato, a comissão do evangelho requer que o conhecimento da salvação, por meio de Cristo, seja proclamado a todas as pessoas (Mateus 28:18-20; conforme Apocalipse 14:6-12). Salvação requer fé em Jesus (Romanos 1:16; 10:9; Atos 16:30-34). A morte redentora de Jesus e a reivindicação exclusiva de que salvação só é possível por meio dEle é o alicerce da missão da igreja. Foi isso que o Senhor ordenou que fizéssemos, e nós, em humilde submissão a Ele, vamos e cumprimos a missão.

2. A missão continua sendo a missão de Deus
Outro aspecto desta questão é: A missão não teve início na igreja, mas em Deus e continua sendo dEle. Ele a iniciou enviando Seu Filho como nosso Salvador (João 3:16). Cada aspecto do ministério de Jesus foi o cumprimento da missão salvadora de Deus para a raça caída. No fim de Seu ministério, Jesus disse ao Pai que havia completado “a obra que Me deste para fazer” (João 17:4). O Espírito está pessoalmente envolvido na missão divina. Jesus estava cheio do Espírito no cumprimento de Sua missão (Isaías 11:1-5; Mateus 3:16-17). A própria igreja foi capacitada pelo Espírito para cumprir sua missão (Atos 1:8). A profunda ligação entre a igreja e o Espírito indica que, embora a igreja tenha sido estabelecida para a missão, a missão é de Deus. É cumprida pelo Espírito por meio da igreja. O Espírito, de acordo com o desígnio divino, usa os fiéis para realizar a missão de Deus.

3. A missão e o Espírito
O que Deus faria se não houvesse cristãos? Proponho que o Espírito continue a ser responsável pela realização da missão. Quando a visão expressa do povo de Deus não é acessível em alguma região do mundo, seja por questões políticas, religiosas ou quaisquer outras, a missão salvadora de Deus para o mundo não é desativada. Deus “deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:4). Encontramos um bom exemplo disso na experiência de Cornélio, gentio que temia a Deus, mas que não dispunha de um cristão para ensiná-lo. Nessa situação, o Senhor falou diretamente com ele, em visão, e o guiou a Pedro (Atos 10:1-10). Deus não ficou sem testemunhas entre as nações que vivem em trevas espirituais. De tempos em tempos, Ele levanta profetas entre eles e a luz divina os alcança (conforme Números 24:2). Jesus, por meio do Espírito, continua a ser “a verdadeira luz que ilumina todos os homens” (João 1:9). Isso sugere que os não-cristãos que estão longe do contato com o povo de Deus, quando tocados pelo Espírito, sinceramente anseiam por algo melhor (conforme Tiago 1:17). Eles podem experimentar o poder salvador de Deus na mente e no caráter. Seu conhecimento pode ser extremamente limitado, mas eles foram transformados pela graça de Cristo em seu coração e, sem saber de Jesus, foram abençoados por Sua graça salvadora.

Essa obra do Espírito não legitima religiões não cristãs ou permite pluralismo religioso. Certamente, em Seu trabalho, o Espírito pode usar fragmentos da verdade que possa haver em qualquer religião; mas Ele não está preso a tais elementos. A graça é concedida por Cristo às pessoas por meio do Espírito. No entanto, essa obra do Espírito não torna o testemunho irrelevante. Pelo contrário, a obra do Espírito Santo prepara o caminho para que a igreja cumpra sua missão mais efetivamente.

4. Salvação para os gentios
Várias passagens bíblicas e declarações de Ellen White confirmam que entre os gentios existem pessoas sinceras que servem a Deus sem um conhecimento explícito da revelação bíblica. Emprega-se a palavra "gentios" para significar aqueles povos que não eram da família hebraica (Levítico 25.44 – 1 Coríntios 16:24, etc.). E usa-se o mesmo termo para descrever os incrédulos, como em Jeremias 10.25. De um modo geral os gentios eram todos aqueles que não aceitavam que Deus se tivesse revelado aos judeus, permanecendo eles então na idolatria. Por exemplo, o apóstolo Paulo, após asseverar que “para com Deus não há acepção de pessoas” (Romanos 2:11), esclarece: “Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos” (Romanos 2:14). Mesmo não dispondo da revelação escrita, essas pessoas se demonstram obedientes às impressões do Espírito Santo sobre a própria consciência individual.

Ellen White aborda o mesmo assunto nas seguintes declarações: “O divino plano de salvação é amplo bastante para abranger o mundo todo. Deus anseia por insuflar na prostrada humanidade o fôlego da vida. E Ele não permitirá [que] fique desapontada qualquer alma que seja sincera em seu anelo de algo mais elevado e mais nobre que aquilo que o mundo possa oferecer. Constantemente está Ele enviando os Seus anjos aos que, conquanto rodeados por circunstâncias as mais desencorajadoras, oram com fé para que algum poder mais alto que eles mesmos tome posse deles, dando-lhes libertação e paz” (Profetas e Reis, pp. 377 e 378).

“Aqueles que Cristo louva no Juízo, talvez tenham conhecido pouco de teologia, mas nutriram Seus princípios. … Há, entre os gentios, almas que servem a Deus ignorantemente, a quem a luz nunca foi levada por instrumentos humanos; todavia não perecerão. Conquanto ignorantes da lei escrita de Deus, ouviram Sua voz a falar-lhes por meio da natureza, e fizeram aquilo que a lei requeria. Suas obras testificam que o Espírito Santo lhes tocou o coração, e são reconhecidos como filhos de Deus” (O Desejado de Todas as Nações, p. 638).

“Onde quer que haja um impulso de amor e simpatia, onde quer que o coração se comova para abençoar e amparar os outros, é revelada a operação do Santo Espírito de Deus. Nas profundezas do paganismo os homens que não tiveram conhecimento da lei escrita de Deus, que nunca ouviram o nome de Cristo, têm sido bondosos com Seus servos, protegendo-os com o risco da própria vida. Seus atos mostram a operação de um poder divino. O Espírito Santo implantou a graça de Cristo no coração do selvagem, despertando nele a simpatia contrária à sua natureza e à sua educação. A ‘luz verdadeira, que alumia a todo homem que vem ao mundo’ (João 1:9), está-lhe brilhando na alma; e esta luz, se atendida, lhe guiará os pés para o reino de Deus” (Parábolas de Jesus, p. 385).

Algumas pessoas poderiam ser tentadas a imaginar que, se “o divino plano de salvação é amplo bastante para abranger o mundo todo” (inclusive os gentios), então não haveria mais necessidade de se pregar o evangelho, pois as pessoas sinceras seriam salvas independentemente de conhecerem ou não o plano da redenção. Mas essa suposição não é aceitável, uma vez que a ignorância da verdade é contrária aos propósitos divinos, e a proclamação do evangelho não se restringe apenas àqueles que já são sinceros.

Vários textos bíblicos enfatizam a necessidade de se conhecer e proclamar a verdade bíblica a todos os seres humanos. Por exemplo, Mateus 4:4 (cf. Deuteronômio 8:3) assevera que “não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. Por sua vez, João 16:13 acrescenta que a obra do “Espírito da verdade” é guiar os seguidores de Cristo “a toda a verdade”, definida como a pessoa de Cristo (João 14:6) e a palavra de Deus (João 17:17). Consequentemente, o mesmo Espírito da verdade também capacita os genuínos cristãos a ensinarem os novos “discípulos de todas as nações” a “guardar todas as coisas” que Cristo ordenou (Mateus 28:18-20).

A promessa bíblica é que finalmente “a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar” (Habacuque 2:14; ver também Isaías 11:9; Efésios 4:11-14). Enquanto essa plenitude de conhecimento não for atingida, Deus continuará usando instrumentalidades humanas imbuídas pelo poder do Seu Espírito na missão de compartilhar o evangelho a toda criatura sobre a face da Terra. O Espírito Santo, cuja missão é convencer “o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (João 16:8), atua mesmo na consciência daqueles que não tiveram a oportunidade de ouvir as boas-novas da salvação em Cristo. Os que vivem em conformidade com a luz da verdade a que tiveram acesso, ainda que esse conhecimento seja incipiente, não serão desapontados. Eles serão súditos do reino eterno.

[Com informações de Adventist World e Centro White]

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