sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

OS 24 ANCIÃOS

A referência aos 24 anciãos é feita por João em Apocalipse 4:4:

“Ao redor do trono há também vinte e quatro tronos e assentados nele vinte e quatro anciãos vestidos de branco, em cujas cabeças estão coroas de ouro.”

Uriah Smith, grande expoente da escatologia nos anos iniciais da Igreja Adventista do Sétimo Dia, interpreta da seguinte forma os 24 anciãos. Em Biblioteca dos Pioneiros Adventistas - Considerações sobre Daniel e Apocalipse, p. 408-410, lemos:

Quem são estes seres que rodeiam o trono de glória? Observe-se que estão vestidos de branco e têm na cabeça coroas de ouro, que são sinais tanto de um conflito terminado como de uma vitória ganha. Daqui concluímos que participaram anteriormente na luta cristã, trilharam outrora, com todos os santos, esta peregrinação terrena, mas venceram, e, com antecipação à grande multidão dos remidos, estão com suas coroas de vitória no mundo celeste.

Com efeito, nos dizem isso claramente no cântico de louvor que tributam ao Cordeiro: “E entoavam novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir-lhe os selos, parque foste morto e com o Teu sangue compraste para Deus os que procedem de toda tribo, língua, povo e nação” (Apocalipse 5:9). Este cântico é cantado antes de se realizar qualquer dos acontecimentos preditos na profecia dos sete selos, porque é cantado para estabelecer que o Cordeiro é digno de tomar o livro e de abrir os selos, visto Ele próprio já ter operado a redenção deles. Não é algo colocado aqui por antecipação, com aplicação apenas no futuro, mas expressa um fato absoluto e consumado na história dos que o cantam. Esta, pois, era uma classe de pessoas remidas desta Terra, como todos devem de ser remidos: pelo precioso sangue de Cristo.

Encontraremos alguma outra parte outra referência a esta classe de remidos? Cremos que Paulo se refira ao mesmo grupo, quando escreve assim aos efésios: “Pelo que diz: Subindo ao alto levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens.” O original diz: levou “uma multidão de cativos” (Efésios 4:8).

Retrocedendo aos acontecimentos relacionados com a crucifixão e ressurreição de Cristo, lemos: “Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam, ressuscitaram; e, saindo dos sepulcros depois da ressurreição de Jesus, entraram na cidade santa e apareceram a muitos” (Mateus 27:52, 53). A página sagrada dá, pois, a resposta à nossa pergunta. Estes são alguns dos que saíram dos sepulcros quando Cristo ressuscitou, e foram contados entre a ilustre multidão que Ele tirou do cativeiro do sombrio domínio da morte quando subiu em triunfo ao Céu. Mateus fala de Sua ressurreição, Paulo de Sua ascensão, e João os contempla no Céu, fazendo os sagrados deveres para o cumprimento dos quais foram ressuscitados.

Não estamos sozinhos nesta interpretação. João Wesley fala dos vinte e quatro anciãos nos seguintes termos: “‘Vestidos com vestes brancas’. Isto e as suas coroas de ouro mostram-nos que já terminaram a sua carreira e ocuparam seus lugares entre os cidadãos do Céu. Não são chamados almas, e por isso é provável que já tenham corpos glorificados. Compare-se com Mateus 27:52”. (John Wesley, Explanatory Notes Upon the New Testament, p. 695, Comment on Revelation 4:4).

A atenção do leitor é atraída particularmente para o fato de se dizer que os vinte e quatro anciãos estão sentados em tronos (grego: thronoi). Esta passagem derrama luz sobre a expressão que encontramos em Daniel 7:9: “Continuei olhando, até que foram postos uns tronos”. Esta figura é tomada do costume oriental de pôr esteiras ou divãs para os hóspedes distintos se sentarem. Estes vinte e quatro anciãos evidentemente são assistentes de Cristo em Sua obra de mediação no santuário celeste. Quando a cena do juízo descrita em Daniel 7:9 começou no lugar santíssimo, seus tronos foram postos ali, segundo o testemunho dessa passagem.

Na Lição da Escola Sabatina do 2º trimestre de 1989 lemos o seguinte:

Quando Cristo morreu na cruz, esses santos ressuscitados não foram deixados na Terra para morrerem pela segunda vez. Foram levados para o Céu com Jesus, como as primícias de Seu sacrifício, e são hoje os vinte e quatro anciãos no Céu que foram mártires para Deus, desde o tempo da criação até o tempo de Cristo. Pode ser que Abel e João Batista estejam incluídos entre eles.

Em Apocalipse 4 o número 24 é usado simbolicamente. A cena toda é uma representação simbólica da realidade. Não devemos deduzir que há um número literal de 24 anciãos no Céu. Esse número chama nossa atenção para as funções dos anciãos. Como havia 24 divisões ou classes de sacerdotes que labutavam no santuário antigo, assim a obra dos anciãos é auxiliar a Cristo, nosso Sumo Sacerdote, em Seu ministério celestial.

Além de seus deveres sacerdotais no santuário, os antigos sacerdotes israelitas eram juízes adjuntos. Assim também, os anciãos celestiais ajudam a Cristo em Sua obra de julgamento.

As vestes brancas usadas por eles simbolizam a justiça de Cristo concedida aos crentes. Cristo, introduzido em nosso coração pelo Espírito Santo, é nossa justiça. As vestes brancas representam a Cristo no interior das pessoas. Sentados diante do trono de Deus no Céu há seres humanos redimidos que alcançaram a suprema vitória por meio de Cristo, que é a sua justiça. As coroas usadas pelos vinte e quatro anciãos representam a vitória espiritual que eles já receberam.

Ellen G. White explica assim:

"Quando Jesus, estando suspenso na cruz, clamou: 'Está consumado', as pedras se partiram, a terra tremeu e algumas das sepulturas se abriram. Quando Ele surgiu, vitorioso sobre a morte e o túmulo, enquanto a terra vacilava e a glória do Céu resplandecia em redor do local sagrado, muitos dos justos mortos, obedientes à Sua chamada, saíram como testemunhas de que Ele ressurgira. Aqueles favorecidos santos ressurgidos saíram glorificados. Eram escolhidos e santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo. Assim, enquanto os chefes judeus procuravam esconder o fato da ressurreição de Cristo, Deus preferiu suscitar, do túmulo, um grupo a fim de que testificasse que Jesus ressuscitara e declarasse Sua glória" (Primeiros Escritos, p. 184).

"Todo o Céu estava esperando para saudar o Salvador à Sua chegada às cortes celestiais. Ao ascender, abriu Ele o caminho, e a multidão de cativos libertos à Sua ressurreição O seguiu. A hoste celestial, com brados de alegria e aclamações de louvor e cântico celestial, tomava parte na jubilosa comitiva" (O Desejado de Todas as Nações, p. 590).

"Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro" (O Desejado de Todas as Nações, p. 786).

Outros intérpretes afirmam que os 24 anciãos são anjos, não seres humanos. Eles destacam que os anciãos são retratados ministrando as orações dos santos (Ap 5:8), obra que, segundo acreditam, dificilmente seria confiada a homens. Achamos improvável que sejam seres angélicos, assim como alguns sugerem. O fato de que se sentam em tronos indica que reinam com Cristo. Em nenhum lugar nas Escrituras os anjos governam ou sentam-se em tronos. Além disso, a palavra grega traduzida aqui como “anciãos” nunca é usada para se referir a anjos, apenas a homens, particularmente a homens de uma certa idade que são maduros e capazes de governar a Igreja. A palavra ancião seria inadequada para se referir aos anjos, os quais não envelhecem. Seu modo de vestir também indica que são homens. Embora os anjos apareçam em branco, roupas brancas são mais comumente usadas pelos crentes, simbolizando a justiça de Cristo a nós imputada na salvação (Apocalipse 3:5,18; 19:8).

Algumas pessoas acreditam que estes vinte e quatro anciãos representam Israel, mas no momento dessa visão, Israel como uma nação inteira ainda não tinha sido resgatada. Os anciãos não podem representar santos da tribulação pelo mesmo motivo – nem todos tinham sido convertidos no momento da visão de João.

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