Caim e Abel representam duas classes que sempre existiram desde a queda e continuarão existindo até o fim dos tempos. Ellen G. White diz: "Caim e Abel representam duas classes — os ímpios e os justos, aqueles que seguem seu próprio caminho e aqueles que conscienciosamente guardam os caminhos do Senhor para fazer justiça e juízo" (Cristo Triunfante, p. 33).
Olhando de fora, eles tinham a mesma aparência. Os dois construíram altares, ofereceram sacrifícios, “adoraram” o Deus do céu. Se a gente levar em conta questões como o nascimento e a instrução religiosa, os dois irmãos eram iguais. Ambos eram pecadores e reconheciam que Deus deveria ser reverenciado e adorado. Exteriormente, a religião deles era a mesma até certo ponto, mas internamente, a diferença entre os dois era muito grande. Ellen White escreve: "Caim e Abel, filhos de Adão, diferiam grandemente em caráter. Abel tinha um espírito de fidelidade para com Deus; via justiça e misericórdia no trato do Criador com a raça decaída, e com gratidão aceitou a esperança da redenção. Caim, porém, acariciava sentimentos de rebeldia, e murmurava contra Deus por causa da maldição pronunciada sobre a Terra e sobre o gênero humano, em virtude do pecado de Adão. Permitiu que a mente se deixasse levar pelo mesmo conduto que determinara a queda de Satanás, condescendendo com o desejo de exaltação própria, e pondo em dúvida a justiça e autoridade divinas" (Patriarcas e Profetas, p. 40).
A primeira e mais fundamental característica é que Caim já chega diante de Deus com um coração inclinado à rebeldia. Isso fica muito claro nos diálogos que vamos ver daqui a pouco, mas veja só o detalhe do texto de Gênesis 4:4 e 5: “O Senhor se agradou de Abel e de sua oferta, mas de Caim e de sua oferta não se agradou”. Perceba que antes de ter um desagrado com a oferta, Deus tem um desagrado com o próprio Caim. Já com Abel, ocorre o contrário, ele é aceito, e consequentemente, sua oferta é aceita. Isso nos leva à segunda diferença entre ambos. Justamente por ter um coração rebelde e uma postura de alguém que não se sumeteu à soberania de Deus, Caim ofereceu uma oferta de agradecimento, enquanto Abel ofereceu uma oferta pelo pecado. O sacrifício de Caim foi desprovido de fé em Cristo, e isso o levou a uma obediência parcial às exigências de Deus. "Pela fé, Abel ofereceu um sacrifício mais excelente..." (Hb 11:4).
Caim obedeceu na construção de um altar, obedeceu ao trazer uma oferta; mas ele obedeceu apenas parcialmente. A parte essencial, o reconhecimento da necessidade de um Redentor, foi deixada de fora. Abel escolheu a fé e a obediência que brota dela; Caim preferiu a descrença e colheu a rebeldia como fruto. Essa é toda a questão. Ellen White afirma: "Os dois irmãos de modo semelhante construíram seus altares, e cada qual trouxe uma oferta. Abel apresentou um sacrifício do rebanho, de acordo com as instruções do Senhor. 'E atentou o Senhor para Abel e para a sua oferta' (Gn 4:4). Lampejou o fogo do Céu, e consumiu o sacrifício. Mas Caim, desrespeitando o mandado direto e explícito do Senhor, apresentou apenas uma oferta de frutos. Não houve sinal do Céu para mostrar que era aceita" (Patriarcas e Profetas, p. 40).
Deus sempre desejou obediência, e não o sangue dos sacrifícios animais. Vários profetas, como Isaías, vão falar dessa liturgia vazia de trazer animais pro sacrifício, mas sem colocarem o próprio coração no altar. A verdadeira fé, que depende inteiramente de Cristo, será manifestada nos frutos de obediência a tudo aquilo que Deus nos pede. Diz Ellen White: "Caim e Abel representam duas classes que existirão no mundo até o final do tempo. Uma dessas classes se prevalece do sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se a confiar em seus próprios méritos; o sacrifício desta é destituído da virtude da mediação divina, e assim não é apto para levar o homem ao favor de Deus" (Patriarcas e Profetas, p. 41).
"Se fizer o que é certo, não é verdade que você será aceito?" (Gn 4:7). O pecado de Caim foi uma escolha. "Mas, se não fizer o que é certo, eis que o pecado está à porta, à sua espera. O desejo dele será contra você, mas é necessário que você o domine". Ele não estava predestinado ao mal. Deus estava racionalizando com Caim para salvá-lo. Diz Ellen White: "Caim odiou e matou o irmão, não por qualquer falta que Abel houvesse cometido, mas 'porque as suas obras eram más, e as de seu irmão justas' (1Jo 3:12). Assim, em todos os tempos os ímpios têm odiado os que eram melhores do que eles. A vida de Abel, de obediência e inabalável fé, era para Caim uma reprovação perpétua" (Patriarcas e Profetas, p. 43).
O prolongamento da vida de Caim foi para dar a ele a oportunidade de se arrepender, assim como para demonstrar ao universo o resultado final de uma vida de rebeldia à lei de Deus (ver Gn 4:15). Ao se rebelar contra Deus, o apóstata Caim se tornou um tentador para os outros. Escreve Ellen White: "Apesar de Caim haver merecido a sentença de morte pelos seus crimes, um Criador misericordioso ainda lhe poupou a vida, e concedeu-lhe oportunidade para o arrependimento. Mas Caim viveu apenas para endurecer o coração, para incentivar a rebelião contra a autoridade divina, e tornar-se o chefe de uma linhagem de pecadores ousados e perdidos. Esse único apóstata, dirigido por Satanás, tornou-se o tentador para outros; e seu exemplo e influência exerceram uma força desmoralizadora, até que a Terra se corrompeu e se encheu de violência a ponto de reclamar a sua destruição" (Patriarcas e Profetas, p. 44).
Como já foi mencionado anteriormente, a permissão da existência de Caim fora para lhe dar tempo de arrependimento. Só que além disso, ela também serviu a um propósito maior. Essa misericórdia revelou ao universo o resultado do tipo de governo proposto por Satanás no grande conflito. Ao poupar a vida do primeiro assassino, Deus apresentou diante de todo o universo uma lição sobre o grande conflito. A história sombria de Caim e seus descendentes foi uma ilustração do que teria sido o resultado de permitir que o pecador vivesse para sempre, para levar adiante a sua rebelião contra Deus.
Os outros seres criados ao redor de todo o universo observavam com o mais profundo interesse os acontecimentos que estavam ocorrendo na Terra. Na condição do mundo que existia antes do dilúvio, eles viram um claro exemplo dos resultados da administração que Lúcifer havia se esforçado para estabelecer no céu, rejeitando a autoridade de Cristo e pondo de lado a lei de Deus. O nosso mundo está em exposição, é o grande "palco" sobre o qual Deus está revelando o Seu grande plano de redenção! (ver Jó, cap. 1 e 2). O apóstolo Paulo afirma que "fomos feitos um espetáculo para o mundo, tanto para os anjos como para os homens" (1Co 4:9).
A história de Caim e Abel é a história de como as pessoas reagem a Deus, ao pecado e à salvação. Esses dois irmãos representam o que você e eu pensamos sobre o caráter de Deus. Através dos fatos que vão se desdobrando no decorrer do grande conflito, Deus vai demonstrando os princípios da lei de Seu governo, que foram falsificados por Satanás e por todos aqueles a quem este enganou.
A justiça divina vai ser finalmente reconhecida por todo o mundo, mesmo que esse reconhecimento chegue tarde demais para que os rebeldes sejam salvos. Deus leva consigo a simpatia e a aprovação de todo o universo enquanto passo a passo Seu grande plano avança para sua completa realização. E um dia, finalmente, Ele executará os passos finais para a erradicação da rebelião e do pecado. Ellen White conclui: "Quando o príncipe deste mundo for julgado, e todos os que com ele se uniram participarem de sua sorte, o Universo inteiro, como testemunha da sentença, declarará: 'Justos e verdadeiros são os Teus caminhos, ó Rei dos santos' (Ap 15:3)" (Patriarcas e Profetas, p. 45).
Como foi dada a oportunidade a Caim e a Abel, também podemos escolher que caminho seguiremos: o da obediência ou da rebelião. Deus oferece oportunidades para voltar atrás. Talvez hoje seja uma dessas oportunidades para você. Novamente a escolha é sua. Você pode confiar na provisão de Deus feita em seu favor no Calvário e viver uma vida de adoração e devoção a Ele, ou pode recusar voltar atrás e continuar andando no caminho de Caim. Que você tome seu lugar junto a Abel, como alguém que confia plenamente no caráter e na provisão da misericórdia de Deus.
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