quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

PREGAÇÃO EM CRISE

A pregação sempre foi, é e será o ponto alto do culto, a intersecção entre o Céu e a Terra, o momento em que Deus toca mentes e transforma corações. O ministério ganha e transmite vida (ou morte) a partir do púlpito. No entanto, para quem transita por igrejas diversas, já está se tornando lugar-comum a reclamação de que existe uma crise na qualidade da pregação. Onde estão os grandes oradores da atualidade? Por que os nomes associados com a pregação poderosa estão no passado? Qual seria a solução para o suposto declínio do púlpito cristão e adventista?

Sem dúvida, a pregação é um fator essencial na conversão dos pecadores, no sucesso da igreja e na espiritualidade dos membros. As pessoas buscam sermões de qualidade. Se a pregação realmente passa por uma crise, quais são as principais causas? Sem ser exaustivo nem apontar o dedo para ninguém, vou enumerar alguns fatores. Primeiro, nota-se uma superficialidade no conhecimento bíblico. Todavia, ninguém consegue pregar com excelência se não tiver base teológica sólida e familiaridade com a Bíblia. Para pregar bem, não basta inspiração momentânea. Alguns temem que a letra mate o espírito, mas o espírito também pode matar a letra. Sem o conteúdo, o pregador se torna um mensageiro sem mensagem. E não ter nada para dizer no púlpito, mais do que escândalo, é uma traição ao legado do evangelho.

Outro aspecto é a mudança no contexto cultural. Vivemos em uma época de ceticismo, entretenimento, consumismo, distração, superficialidade e cinismo. O império do imediato exige tudo para agora. A fragmentação é real em muitas esferas. Essas transformações acabam afetando muitos pregadores, que, buscando agradar o público, nutrem o desejo por popularidade fácil, transformam a plataforma num tablado e pregam a si mesmos. O púlpito se torna um grande cenário para selfies em que Cristo jamais aparece.

Em terceiro lugar, existe a pressão do pluralismo e do relativismo. O nível de incerteza aumenta a cada dia. Nesse contexto, o pregador pode ser tentado a não confiar totalmente na relevância da Bíblia. Passa também a relativizar os aspectos distintivos da teologia e dilui a mensagem. Com isso, ele não prega com convicção. Porém, em uma sociedade instável, a Palavra de Deus deve ser o fator de estabilidade. Para quem crê, Deus é a grande âncora existencial.

Há também a perda de autoridade, potencializada pela facilidade no “preparo” dos sermões. Muitas pregações são entediantes, irrelevantes e dispensáveis. A oferta de materiais na internet tornou-se uma bênção e uma maldição. O pregador que apenas recorta sermões e os apresenta como se fossem seus tem um problema ético. Mas há outra implicação: o corta-e-cola mina a sua autoridade, pois é o processo de preparo que ajuda a solidificar o conhecimento e a espiritualidade do pregador.

Por fim, vem a incoerência entre o discurso e a vida. Na sociedade, falta integridade, sobra hipocrisia. Pregador e audiência podem ser contaminados por esses vícios. O estilo de vida de muitos pregadores nem sempre transmite confiança. Quando o público percebe o orador como aproveitador, demagogo, egoísta, manipulador, oportunista ou simulador, temos um problema sério. Pior ainda é quando ele leva uma vida incompatível com a ética do evangelho, pois o descompasso entre pregação e vida é um desastre para a autoestima do pregador e o poder da pregação.

Muitos pregadores estão dando uma sopa rala para o povo. E ovelha faminta é ovelha suscetível aos lobos. Perdemos a centralidade das Escrituras. Por isso estamos deixando de expor as Escrituras no púlpito. Precisamos desesperadamente de um reavivamento no púlpito: um reavivamento da pregação bíblica, expositiva. Se a igreja se voltar para uma pregação centralizada na Bíblia, feita no poder do Espírito Santo, teremos um reavivamento e um crescimento saudável da igreja.

Concluímos com algumas considerações de Ellen G. White sobre o assunto:

"Deus pede um reavivamento e uma reforma. As palavras da Bíblia, e a Bíblia somente, deviam ser ouvidas do púlpito. Mas a Bíblia tem sido roubada em seu poder, e o resultado é visto no rebaixamento do tono da vida espiritual. Em muitos sermões de hoje, não existe aquela divina manifestação que desperta a consciência e leva vida à alma. Os ouvintes não podem dizer: 'Porventura não ardia em nós o nosso coração quando, pelo caminho, nos falava, e quando nos abria as Escrituras?' (Lc 24:32). Há muitos que estão clamando pelo Deus vivo, ansiando pela divina presença. Permiti que a Palavra de Deus lhes fale ao coração. Deixai que os que têm ouvido apenas tradição e teorias e máximas humanas ouçam a voz dAquele que pode renovar a alma para a vida eterna" (Profetas e Reis, p. 626).

“Há homens que ficam nos púlpitos como pastores, professando alimentar o rebanho, enquanto as ovelhas estão morrendo por falta do pão da vida. Há longos e arrastados discursos grandemente compostos de narrativas de anedotas; mas o coração dos ouvintes não é tocado. Pode ser que os sentimentos de alguns sejam tocados, podem derramar algumas lágrimas, mas seu coração não foi quebrantado. […] O Senhor, Deus do Céu, não pode aprovar muito do que é trazido ao púlpito pelos que professam estar falando a Palavra do Senhor. Não inculcam ideias que sejam uma bênção para os que o ouvem. Alimento barato, muito barato é colocado diante do povo. [...] Esteja o pregador cheio da Palavra do Senhor. Saiba cada homem que vai ao púlpito que tem anjos do Céu em seu auditório. [...] A Bíblia, a Palavra de Deus, é o pão da vida. Aquele que alimenta o rebanho de Deus deve ele próprio comer primeiro do pão que desceu do Céu. Verá a verdade a cada lado. Não se aventurará a chegar diante do povo enquanto não tiver primeiro comungado com Deus. Então é levado a trabalhar como Cristo trabalhou. Respeita as mentes variadas que lhe compõem o auditório. Tem uma palavra que toca o caso de todos, não ideias mundanas que confundem. Não tem ele direito de introduzir as perplexidades mundanas. O pão da vida satisfará toda fome da alma" (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, pp. 336-339).

(Com informações de Revista Adventista)

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