Nesta quinta-feira (13) é comemorado o Dia Internacional do Beijo. É difícil saber, ao certo, o que motivou a criação da data comemorativa, mas diz a história - verdadeira ou não - que o italiano Enrique Porchelo beijava todas as mulheres que encontrava na vila em que vivia, casadas ou não. Em 13 de abril de 1882, o padre local teria oferecido um prêmio em moedas de ouro às mulheres que não haviam sido beijadas pelo "Don Juan". Conta a lenda que nenhuma apareceu e que o tesouro está escondido em algum lugar da Itália até hoje.
No Antigo Testamento, o substantivo beijo, do hebraico neshîqâ, procede de uma raiz primitiva (nashaq) cujo significado básico é pegar fogo, queimar, acender, com a ideia de fixar, amarrar. No hebraico, o verbo beijar significa literalmente tocar levemente. No grego do Novo Testamento, o vocábulo para beijo deriva-se de phileo, amor, amizade, afeição.
Na Bíblia estão representados todos os motivos do beijo. Seus simples significados se recolhem em muitos textos distribuídos pelas páginas sagradas.
Beijo de amor
O beijo de amor, dado nos lábios, parece ser o mais efusivo que se conhece na Bíblia, especialmente em sua literatura poética. Ct 1:2 o evoca com palavras da protagonista: “Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho”. Em Pv 24:26, o autor do texto anterior, Salomão, vale-se do amor profundo que supõe o beijo nos lábios para o pôr como exemplo da boa resposta: “Beija com os lábios o que responde com palavras retas”. O primeiro beijo de amor entre Jacó e sua prima Raquel, ao encontrá-la pela primeira vez, foi um beijo de saudação de duas pessoas parentes: "E Jacó beijou a Raquel, e levantou a sua voz, e chorou” (Gn 29:11).
Beijo de amigo
Desde que se conheceram, “…a alma de Jônatas se ligou com a alma de Davi: e Jônatas o amou, como à sua própria alma” (1Sm 18:1). Quando ambos os jovens se vêem forçados a se separarem, as lágrimas e os beijos exteriorizam a forte amizade que os unia: “E, indo-se o moço, levantou-se Davi da banda do sul, e lançou-se sobre o seu rosto em terra, e inclinou-se três vezes: e beijaram-se um ao outro, e choraram juntos, até que Davi chorou muito mais” (1Sm 20:41).
Beijo paternal
Absalão não era precisamente um modelo de filho. Suas ambições pessoais o levaram s sublevar-se contra seu pai Davi e teve um final trágico. Porém Davi o amava. Levado à sua presença, depois de um período de afastamento, o rei pai beija o filho: “Então entrou Joabe ao rei, e assim lho disse. Então chamou a Absalão, e ele entrou ao rei, e se inclinou sobre o seu rosto em terra diante do rei: e o rei beijou Absalão” (2Sm 14:33). Em outra cena ingrata, Labão se queixa contra Jacó de não lhe haver permitido beijar suas filhas e netos (Gn 31:28). Em plena dúvida e num diálogo cordial, Labão beija e abençoa a todos: “E levantou-se Labão pela manhã de madrugada, e beijou seus filhos, e suas filhas, e abençoou-os, e partiu; e voltou Labão ao seu lugar” (Gn 31:55).
Beijo filial
O homem judeu manifestava seu amor filial por meio do beijo. Quando Elias pede a Eliseu que o siga, este lhe responde: “Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe, e então te seguirei” (1Rs 19:20). Jacó usava o beijo para agradar a vontade do pai acerca dos seus próprios interesses. Perto da morte, cego e acamado, Isaque confunde Jacó com Esaú e lhe diz: “Ora chega-te, e beija-me, filho meu. E chegou-se, e beijou-o; então cheirou o cheiro dos seus vestidos, e abençoou-o” (Gn 27:26-27).
Beijo fraternal
O beijo fraternal está representado em Moisés e Aarão. “E disse também o Senhor a Aarão: Vai ao encontro de Moisés ao deserto. E ele foi, encontrou-o no monte de Deus e beijou-o” (Êx 4:27). Quando o apóstolo Paulo estava prestes a partir de Mileto, os anciãos da Igreja de Éfeso ficaram tão comovidos, que “lançaram-se ao pescoço de Paulo e o beijaram ternamente” (At 20:17, 37).
Beijo entre genro e sogro
Moisés recebe a visita de seu sogro Jetro, que chega acompanhado de sua filha, mulher de Moisés, e netos. Os dois homens se saúdam com um beijo: “Então saiu Moisés ao encontro de seu sogro, e inclinou-se, e beijou-o, e perguntaram um ao outro como estavam, e entraram na tenda” (Êx 18:7).
Beijo entre sogra e nora
Muitas sogras e noras protagonizam a vida do VT. Porém não temos notícias de mulheres tão unidas como Noemi (a sogra) e Rute (sua nora). O amor que Rute tinha por Noemi tinha mais valor que sete filhos (Rt 4:15). Noemi enviuvou e morreram seus dois únicos filhos varões. Rute permanece junto a ela. Sua outra nora, Orfa, se despede de Noemi com lágrimas e beijos: “Então levantaram a sua voz, e tornaram a chamar: e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela” (Rt 1:14).
Beijo de perdão
José, tipo de Cristo no Velho Testamento, dá provas de seu grande coração. Desprezado e invejado por seus irmãos, vendido a mercadores que o revenderam como escravo, quando se encontra de novo com seus irmãos enche seus rostos com beijos de perdão. A dignidade de seu rasgo não impede a espontânea explosão sentimental: “E beijou a todos os seus irmãos, e chorou sobre eles; e depois seus irmãos falaram com ele” (Gn 45:15).
Beijo de reconciliação
Esta variante do beijo está representada no NT entre um pai perdoador e um filho pródigo e, no VT, por Esaú e Jacó. Estes dois irmãos andavam em disputas contínuas e Esaú toma a iniciativa do reencontro com um beijo reconciliador: “Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram” (Gn 33:4). Mais conhecida é a parábola do filho pródigo. Diz Lucas: “E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou” (Lc 15:20).
Beijo assassino
Joabe, chefe do exército de Davi, assassina seu primo Amasa com uma adaga que levava escondida. Antes de a cravar nas suas costas, o beija. Triste prelúdio de aliança entre a traição e o beijo, tão repetida na história: “E disse Joabe a Amasa: Vai contigo bem, meu irmão? E Joabe, com a mão direita, pegou da barba de Amasa, para o beijar. E Amasa não se resguardou da espada que estava na mão de Joabe, de sorte que este o feriu com ela na quinta costela, e lhe derramou por terra as entranhas; e não o feriou segunda vez, e morreu” (2Sm 20:9-10).
Beijo hipócrita
Absalão beijava seus interlocutores com beijos superficiais, interesseiros, hipócritas. Beijos que conseguiam os resultados propostos: “Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra! Para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça. Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava nela, e o beijava. E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo: assim furtava Absalão o coração dos homens de Israel” (2Sm 15:4-6).
Beijo de morte
O beijo do vivo ao morto, beijo frio, beijo de dor e de impotência, se encontra no último capítulo de Gênesis. Quando Jacó morre, José beija seu cadáver: “Então José se lançou sobre o rosto de seu pai; e chorou sobre ele, e o beijou. E José ordenou aos seus servos, os médicos, que embalsamassem a seu pai; e os médicos embalsamaram a Israel” (Gn 50:1-2).
Beijo de mulher sedutora
O autor de Provérbios apresenta mui graficamente, com circunstâncias concretas e imagens reais, o caso de uma sedutora (adúltera ou prostituta) que com carícias, meiguice e astúcias consegue atrair um jovem inexperiente (Pv 7:6-23). A descrição do beijo se encontra no versículo 13.
Beijo idólatra
Beijar, como ato de adoração para com os deuses falsos, que os pagãos devam às suas imagens religiosas, está registado em 1Rs 19:18: “Também eu fiz ficar em Israel sete mil; todos os joelhos que se não dobraram a Baal, e toda a boca que o não beijou”. E em Os 13:2: “E agora multiplicaram pecados, e da sua prata fizeram imagem de fundição, ídolos segundo o seu entendimento, todos obra de artífices, dos quais dizem: Os homens que sacrificam beijem os bezerros”.
Beijo traidor
O beijo mais famoso nas páginas do NT e, possivelmente em toda a Bíblia, é o beijo traidor dado por Judas a Cristo. Pv 27:6, diz que “fiéis são as feridas feitas pelos que ama, mas os beijos do que aborrece são enganosos”. Dos quatro Evangelistas, três deles mencionam a cena do beijo traidor. João a silencia. O texto de Lucas o conta assim: “E, estando ele ainda a falar, surgiu uma multidão; e um dos doze, que se chamava Judas, ia adiante dela, e chegou-se a Jesus para o beijar. E Jesus lhe disse: Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc 22:47-48).
Beijo de adoração
Lucas conta a cena: “E rogou-lhe um dos fariseus que comesse com ele; e, entrando em casa do fariseu, assentou-se à mesa. E eis que uma mulher da cidade, uma pecadora, sabendo que ele estava à mesa em casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, começou a regar-lhe os pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua cabeça; e beijava-lhe os pés, e ungia-lhos com o unguento” (Lc 7:36-38).
Beijo santo
Na Igreja primitiva era corrente o beijo da paz, chamado também beijo santo, que se praticava indistintamente entre pessoas de ambos os sexos. Paulo mostrava tal sinceridade e amor santo que se lembrou deste costume íntimo e fraternal nos seus escritos. Em Rm 16:16, vemos que os irmãos se saudavam com um beijo no rosto em sinal de cordialidade e cumprimento: “Saudai-vos uns aos outros com santo ósculo. As Igrejas de Cristo vos saúdam”. Vemos também em 1Co 16:20, em 2Co 13:12, em 1Ts 5:26 e Pedro também o menciona: “Saudai-vos uns aos outros com ósculo de caridade. Paz seja com todos vós que estais em Cristo Jesus. Amém” (1Pe 5:14).
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