Há milênios, a humanidade observa que existe uma relação entre a mente e o corpo no que se refere ao bem-estar e ao surgimento de doenças. Porém, foi somente nos últimos 50 anos que se constatou que essa ligação é mais direta do que se imaginava, e que se passou a estudar empiricamente os mecanismos fisiológicos desses processos.
Por meio de pesquisas nos campos da psicologia, neuroimunologia, biopsicologia, neurogastroenterologia, entre outras áreas, pode-se estabelecer cientificamente essa relação e identificar anatomicamente como ocorre a comunicação entre o cérebro e os demais órgãos. A interface entre as emoções e o organismo humano é chamada de sistema neuroendócrino, que é formado principalmente pelas glândulas pineal e supra-renais, além da hipófise, hipotálamo e tireoide.
Para os que acreditam na veracidade da Bíblia, o primeiro relato que se tem na história humana sobre uma resposta física a um sentimento negativo ocorreu no jardim do Éden. Ao desobedecerem a Deus, a luz que cobria a nudez de Adão e Eva se dissipou e, imediatamente, sentiram medo e se esconderam do Criador (Gn 3:7, 8). Com o conhecimento científico que temos hoje, poderíamos explicar o que ocorreu no corpo deles: a sensação de perigo iminente desencadeou uma sequência de eventos fisiológicos que começou na parte do cérebro conhecida como amígdalas, passando pelo hipotálamo, que, por sua vez, desencadeou a liberação dos hormônios do estresse via glândulas suprarenais, induzindo assim a uma resposta de fuga diante do medo.
Desde essa queda moral, os sentimentos de cobiça, medo, vergonha e culpa têm afetado milhões de pessoas, lançando as sementes das doenças psicossomáticas (junção de duas palavras gregas: psique – alma e soma - corpo), que são respostas patológicas às tensões emocionais. Em Seu ministério terrestre, quando Jesus percebia que um doente sofria também de um forte sentimento de culpa causado pela transgressão dos mandamentos morais e/ou das leis de saúde, Ele aconselhava: “Vá e não peques mais para que não te suceda coisa pior” (Jo 5:14).
Ellen White, pioneira adventista, escreveu que a maioria das enfermidades tem sua origem nos pensamentos e sentimentos. Veja alguns textos impressionantes.
"A afinidade que existe entre a mente e o corpo é muito grande. Quando um é atingido, o outro é influenciado. O estado mental tem muito que ver com a saúde física" (Medicina e Salvação, p. 105).
Interessante essa ligação. Olha o próximo texto:
"Poucos, porém, compreendem o poder que exerce a mente sobre o corpo. Grande parte das doenças que afligem a humanidade têm a sua origem na mente, e podem ser curadas apenas pela restauração da mente à saúde" (Conselhos sobre Saúde, p. 349).
E esta autora inspirada diz outro texto muito interessante:
"Enfermidades mentais prevalecem por toda parte. Nove décimos das doenças das quais os homens sofrem têm aí sua base" (Mente, Caráter e Personalidade 1, p. 59).
Não é interessante? Você percebe então que esse último texto está afirmando que nove entre dez doenças têm origem na mente. É exagero isso? O Dr. Herbert Benson, médico clínico da Universidade Harvard, EUA, diz o seguinte: "60% à 90% dos pacientes que procuram médicos na clínica (ambulatório) têm suas doenças devido a estresse físico e mental. São pessoas que têm tido sintomas físicos como um resultado de problemas sociais e emocionais. A média poderia ser 75%" (Timeless Healing – The Power and Biology of Belief).
Veja esse outro texto mostrando que a maneira como você sente afeta o seu corpo. Diz Ellen White:
"É dever de todos cultivar um espírito prazenteiro, em vez de estar incubando tristezas e dificuldades. Muitos há que, deste modo, não só se fazem infelizes a si mesmos, mas também sacrificam a saúde e a felicidade a uma imaginação mórbida. Há em seu ambiente coisas que não são aprazíveis, e seu semblante traz continuamente o sobrecenho carregado que, mais claramente do que o fariam palavras, expressam descontentamento. Essas emoções deprimentes fazem-lhes grande mal à saúde" (Mente, Caráter e Personalidade 1, pp. 62, 63).
Então parece que quanto mais uma pessoa tem dificuldades de tomar consciência de suas emoções, especialmente das emoções dolorosas ou desagradáveis, mais provável é que ela apresente sintomas psicossomáticos, por que o corpo absorve tais sentimentos que a pessoa se sente inapta para vivenciá-las num nível consciente. Isso significa que quanto mais um sintoma psicossomático está enterrado no corpo, mais longe a pessoa está da verdade sobre o sentimento reprimido e somatizado, ou sobre aqueles pensamentos dolorosos que a pessoa não quer pensar naquele momento. Estresse, ansiedade, raiva, medo, entre outros sentimentos podem gerar doenças psicossomáticas. As consequências podem ser leves ou mesmo gravíssimas.
Confira três elementos desencadeantes das doenças psicossomáticas e que requerem atenção para possível tratamento profissional. Veja abaixo:
Ansiedade – É considerada transtorno quando sua qualidade de vida cai. Entre suas reações estão a perda de memória recente, confusão, realidade distorcida e os pensamentos sem interrupções sobre tudo e todos. Há prejuízos sociais nos relacionamentos conjugais, relações no trabalho, com vizinhos e amigos.
Estresse – Em períodos de estresse, quando as pessoas desenvolvem muitas reações emocionais negativas, é mais provável que surjam certas doenças relacionadas ao sistema imunológico como a gripe, herpes, queda de cabelo, fadiga e infecções com vírus oportunistas.
Raiva - Provoca uma grande descarga de adrenalina no organismo e leva a alterações fisiológicas, como o aumento da pressão e dos batimentos cardíacos, tonturas, vertigens, tremores, sudorese e até insônia. Os hormônios por trás da raiva podem se transformar em gatilhos para um infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).
A prevenção e cura dessas enfermidades psicossomáticas se encontram na libertação pessoal dos sentimentos e pensamentos que lhe deram origem. Essa tarefa é possível apenas com a ajuda de Deus, o autoconhecimento e, em alguns casos, com assistência psicológica. Particularmente, creio que o aumento de enfermidades neuropsiquiátricas nos últimos 30 anos se deve, em grande medida, à desobediência consciente ou inconsciente das leis moral e de saúde deixadas por Deus. Portanto, tentar tratar as doenças psicossomáticas sem reconhecer essa dimensão do problema pode trazer apenas resultados limitados e transitórios.
A boa notícia é que, para cada sentimento negativo, Deus oferece um remédio: para a cobiça, a liberalidade; para o medo, a fé; para a vergonha, a restauração da dignidade; para o sentimento de culpa, o perdão. Porém, não devemos esquecer que essas mudanças são possíveis somente com nossa permissão para que Deus transforme nossa vontade, formando em nós uma nova natureza.
Diante desse quadro, cabe aos médicos, psicólogos e outros profissionais cristãos da área da saúde não apenas buscar o alívio dos sintomas, mas orar com os pacientes e orientá-los para que encontrem a cura completa em Deus.
Ellen White aconselha: "Há uma enfermidade da alma que nenhum bálsamo pode alcançar, nenhum remédio curar. Orai por esses, e trazei-os a Jesus Cristo" (Beneficência Social, p. 71).
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