Nosso mundo contemporâneo se tornou um caldeirão do sobrenatural e do místico, incrementado por Hollywood, que não tem problemas em fazer filmes com temas religiosos e místicos em uma miscelânea de erro e engano. A velha mentira: “É certo que vocês não morrerão” (Gn 3:4) inspirou alguns dos livros mais lidos e filmes mais assistidos das últimas décadas, bem como muitos videogames populares. Inegavelmente, somos expostos ao terreno encantado de Satanás e somos tentados por ele, que pode aparecer em inúmeras formas e até, em alguns casos, vir escondido no verniz da ciência.
Neste artigo, estudaremos sobre alguns enganos do fim dos tempos, como o misticismo, experiências de quase morte, reencarnação, necromancia, culto aos ancestrais e outros. São assuntos perigosos aos quais devemos estar atentos, mas sem nos expormos às suas influências.
Misticismo
O mundo tem sido inundado pelo misticismo. A palavra “misticismo” é um termo complexo que engloba enorme variedade de ideias. Do ponto de vista religioso, a palavra sugere a união do indivíduo com o Divino ou Absoluto em algum tipo de experiência espiritual ou transe. Isso caracteriza a experiência de adoração até mesmo de certas igrejas. Os fenômenos variam em forma e intensidade, mas a tendência é substituir a autoridade da Palavra de Deus pelas experiências subjetivas. A Bíblia perde muito de sua função doutrinária, e o cristão fica vulnerável às suas próprias experiências. A religião subjetiva não protege contra os enganos do tempo do fim.
Há uma tendência no mundo cristão pós-moderno de minimizar a relevância das doutrinas bíblicas, considerando-as ecos entediantes de uma forma obsoleta de religião. Nesse processo, os ensinamentos de Cristo são artificialmente substituídos pela Pessoa de Cristo. O argumento é que uma ou outra história bíblica não pode ser verdadeira porque Jesus, conforme O veem, nunca teria permitido que acontecessem como está descrito. Sentimentos e gostos pessoais acabam sendo os critérios de interpretação das Escrituras ou até mesmo para rejeitar totalmente o que a Bíblia ensina de forma clara, muitas vezes sobre a obediência a Deus, que, como disse Jesus, é essencial para construir a casa sobre a rocha (Mt 7:21-27).
Os que pensam que não importa em que doutrina creem, desde que acreditem em Jesus, estão em terreno perigoso. Os inquisidores romanos que condenaram à morte incontáveis protestantes acreditavam em Jesus Cristo. Aqueles que expulsam demônios em nome de Cristo (Mt 7:22) creem Nele. Ellen G. White diz: “A teoria que diz que não importa o que as pessoas creiam é um dos enganos mais bem-sucedidos de Satanás. Ele sabe que a verdade, recebida por amor, santifica a alma de quem a recebe; portanto, está constantemente procurando substituí-la por falsas teorias e fábulas ou por outro evangelho” (O Grande Conflito, p. 434, 435).
Experiências de quase morte
Alguns dos argumentos modernos mais populares para “provar” a teoria da imortalidade natural da alma são as experiências de quase morte. Em seu livro, Vida Depois da Vida: O que acontece quando uma pessoa morre? Uma pesquisa séria e impressionante do fenômeno da sobrevivência à morte física (Rio de Janeiro, RJ: Editorial Nórdica, 1979), Raymond A. Moody Jr. apresentou os resultados de seu estudo de cinco anos acerca de mais de cem pessoas que experimentaram “morte clínica” e foram reanimadas. Essas pessoas afirmaram ter visto um ser de luz amoroso e caloroso antes de voltarem à vida. Isso tem sido considerado “prova incontestável da sobrevivência do espírito humano depois da morte” (contracapa). Muitos outros livros promovem a mesma ideia.
Todas as experiências de quase morte relatadas na literatura moderna são de pessoas consideradas clinicamente mortas, porém não mortas de fato, em contraste com Lázaro, que estava morto havia quatro dias e cujo cadáver estava apodrecendo (Jo 11:39). Os que ressuscitaram nos tempos bíblicos jamais mencionaram qualquer experiência de vida após a morte, seja no paraíso, no purgatório ou no inferno. Esse é um argumento do silêncio, mas está de pleno acordo com os ensinamentos bíblicos sobre o estado inconsciente dos mortos! (1Rs 17:22-24; 2Rs 4:34-37; Mc 5:41-43; Lc 7:14-17; Jo 11:40-44).
Mas e as experiências de quase morte? Se aceitarmos o ensino da inconsciência dos mortos (Jó 3:11-13; Sl 115:17; 146:4, Ec 9:10), restarão duas possibilidades principais: ou se trata de uma alucinação psicoquímica natural sob condições extremas, ou pode ser uma experiência enganosa sobrenatural satânica (2Co 11:14). O engano satânico poderia ser a explicação, porque, em alguns casos, as pessoas afirmam ter falado com parentes mortos! Contudo, pode ser uma combinação dos dois fatores.
Portanto, é crucial nos apegarmos à Bíblia, independentemente das experiências que contradizem a Palavra, sejam essas experiências nossas ou de outras pessoas.
Reencarnação
A noção pagã de uma alma imortal provê a base para a teoria não bíblica da reencarnação ou transmigração da alma. Essa teoria é adotada por algumas das principais religiões do mundo. Enquanto a maioria dos cristãos acredita na existência de uma alma imortal que fica em um Céu ou inferno permanente após a morte, aqueles que acreditam na reencarnação sustentam que essa alma imortal passa por muitos ciclos de morte e renascimento na Terra.
Para alguns, a reencarnação é considerada um processo de evolução espiritual que permite ao espírito atingir níveis cada vez mais elevados de conhecimento e moralidade em sua jornada para a perfeição. Os hindus acreditam que a alma eterna passe por uma progressão de consciência ou “samsara” em seis classes de vida: aquática, plantas, répteis e insetos, pássaros, animais e seres humanos, incluindo os residentes do Céu.
Se Jesus morreu apenas “uma vez” (Hb 9:28; 1Pe 3:18) e da mesma forma todos os seres humanos morrem apenas “uma vez” (Hb 9:27), por que até mesmo alguns supostos cristãos acreditam em alguma forma de reencarnação? Muitas pessoas acreditam não no que deveriam, mas no que querem acreditar. Se uma teoria lhes traz paz e conforto existencial, isso é suficiente para resolver a discussão. Mas, para aqueles que levam a Bíblia a sério, não há como aceitar a teoria da reencarnação.
Primeiro, essa teoria contradiz os ensinos bíblicos da mortalidade da “alma” e da ressurreição do corpo (1Ts 4:13-18). Segundo, ela rejeita a doutrina da salvação pela graça através da fé na obra redentiva de Jesus Cristo (Ef 2:8-10) e a substitui por obras humanas. Terceiro, a teoria contradiz o ensino bíblico de que o destino eterno é decidido para sempre pelas decisões da pessoa nesta vida (Mt 22:1-14; 25:31-46). Quarto, essa teoria minimiza o significado e a relevância da segunda vinda de Cristo (Jo 14:1-3). E, quinto, a teoria propõe oportunidades após a morte para alguém ainda superar as dificuldades espirituais de sua própria vida, o que não é bíblico (Hb 9:27).
Em suma, não há lugar para a ideia de reencarnação na fé cristã.
Necromancia e culto aos ancestrais
A palavra “necromancia” deriva dos termos gregos nekros (“morto”) e manteia (“adivinhação”). Praticada desde os tempos antigos, a necromancia é uma forma de convocar os supostos espíritos ativos dos mortos para obter conhecimento, muitas vezes sobre eventos futuros. O culto aos ancestrais, por sua vez, é o costume de venerar os ancestrais falecidos, visto que ainda são considerados familiares, e cujos espíritos podem, acredita-se, influenciar os assuntos dos vivos. Essas práticas pagãs podem ser muito atraentes para aqueles que acreditam em uma alma imortal e que também sentem falta de seus entes queridos falecidos.
A Bíblia afirma claramente que todos os espíritas, médiuns, feiticeiros e necromantes, na antiga teocracia israelita, eram abomináveis ao Senhor e deveriam ser mortos por apedrejamento (Lv 19:31; 20:6, 27; Dt 18:9-14). Saul havia destruído todos os médiuns e espíritas de Israel segundo essa lei (1Sm 28:3, 9).
Porém, depois de ter sido rejeitado por Deus, o próprio Saul foi à cidade cananeia de En-Dor para consultar uma médium (1Sm 28:6, 7, 15; compare com Js 17:11, Sl 83:10). Ele pediu a ela que trouxesse o falecido profeta Samuel, o qual supostamente tenha aparecido e falado com Saul. O espírito enganador, que fingiu ser Samuel, disse a Saul: “Amanhã, você e os seus filhos estarão comigo” (1Sm 28:13-19). Ao predizer a morte de Saul, o espírito enganador, assumindo a forma de Samuel, reafirmou a teoria da imortalidade da alma. Foi um engano poderoso, do qual Saul deveria estar ciente, em vez de se envolver com o que ele mesmo havia condenado antes.
Mais de dois séculos depois, o profeta Isaías escreveu: “Quando disserem a vocês: ‘Consultem os médiuns e os adivinhos, que sussurram e murmuram’, será que um povo não deveria consultar o seu Deus? A favor dos vivos se consultarão os mortos? À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, jamais verão a luz do alvorecer” (Is 8:19, 20; também Is 19:3).
Personificações e outras aparições
As personificações demoníacas dos mortos e outras aparições demoníacas são semelhantes à necromancia. As personificações podem ocorrer na forma de um familiar falecido, amigo ou pessoa. A aparência física e a voz são semelhantes às do falecido. Esses artifícios serão usados para enganar os que não estão fundamentados na Bíblia. Ellen G. White adverte: "Não é difícil para os anjos maus representar tanto os santos como os pecadores que morreram, e tornar essas representações visíveis aos olhos humanos. Essas manifestações serão mais frequentes e aparecerão desenvolvimentos de caráter mais sensacional à medida que nos aproximarmos do fim do tempo. É o mais fascinante e bem-sucedido engano de Satanás - com a intenção de atrair as simpatias daqueles que depositaram seus entes queridos na sepultura. Anjos maus vêm na forma desses entes queridos, relatam incidentes relacionados com sua vida e efetuam atos que eles realizaram enquanto viviam. Desse modo, levam as pessoas a crer que seus amigos falecidos são anjos que pairam sobre essas pessoas e se comunicam com elas. Esses anjos maus, que aparentam ser os amigos falecidos, são encarados com certa idolatria e, para muitos, suas palavras têm mais valor do que a Palavra de Deus" (Eventos Finais, p. 161).
E quais devem ser nossas salvaguardas contra tais enganos demoníacos? O apóstolo Paulo nos adverte que “a nossa luta não é contra o sangue e a carne, mas contra os principados e as potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestiais” (Ef 6:12). Só podemos ser protegidos contra esses enganos estando vestidos com “toda a armadura de Deus” descrita em Efésios 6:13-18.
As personificações e aparições satânicas podem ser assustadoras e enganadoras, mas não podem enganar os que são protegidos por Deus e estão fundamentados na Sua Palavra. Do ponto de vista doutrinário, os que acreditam na doutrina bíblica da imortalidade condicional do ser humano sabem que qualquer aparição ou comunicação com os mortos é de origem satânica e precisa ser rejeitada pela graça de Deus. Não importa quão poderosa, convincente e aparentemente real seja a manifestação, devemos permanecer firmes no ensino de que os mortos estão dormindo na sepultura.
Imagine, porém, perder um ente querido e depois crer que ele apareceu para você. E se ele lhe expressar amor, dizer o quanto sente sua falta e falar coisas que só ele saberia? E se ele disser que agora está em um lugar melhor? Se uma pessoa não está fundamentada no que a Bíblia ensina sobre o estado dos mortos, imagine com que facilidade ela poderá cair nesse engano. Especialmente porque querem acreditar nisso.
Conclusão
Misticismo, relatos de experiências de quase morte, crença na reencarnação, necromancia, culto aos ancestrais e espiritismo contribuem para a normalização de tais coisas em nossa sociedade e para a confusão a respeito da vida após a morte. Mas Deus leva muito a sério qualquer coisa que tenha a ver com o espiritismo, e a Bíblia nos adverte em linguagem extremamente forte contra essas práticas, pois são um engano de Satanás.
O livro do Apocalipse acrescenta às admoestações encontradas anteriormente que, no tempo do fim, a obra enganosa de Satanás só aumentará (ver em especial Ap 9:5, 6, 10, 11, 19; 12:9; 16:13, 14). Portanto, ter armas contra esse engano é extremamente importante. Devemos estar fundamentados na Palavra de Deus e cheios do Espírito Santo para nos apegarmos à verdade e não cairmos nos esquemas de Satanás. Ellen G. White conclui: "Todos aqueles que não viverem de acordo com a fé estabelecida na Palavra de Deus, serão enganados e vencidos. Satanás atua com “todas as formas de engano da injustiça” (2 Tessalonicenses 2:10), e seus enganos aumentarão. Mas aqueles que desejam conhecer a verdade e se tornar puros através da obediência, encontrarão um refúgio seguro no Deus da verdade" (A Grande Esperança, p. 50).
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