segunda-feira, 1 de maio de 2023

O CRISTÃO E O TRABALHO

“Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co 15:58).

O trabalho é ideia de Deus. No mundo ideal antes do pecado, Deus deu a Adão e Eva a tarefa de cuidar do jardim (Gn 2:15). Como Criador, em cuja imagem eles haviam sido formados, eles deveriam se ocupar com trabalho criativo e serviço amoroso. Ou seja, mesmo no mundo não caído, sem pecado, morte e sofrimento, a humanidade deveria trabalhar. Diz Ellen G. White: "Deus colocou nossos primeiros pais no Paraíso, circundando-os de tudo quanto era útil e belo. Em seu lar edênico não faltava coisa alguma que lhes pudesse servir ao conforto e felicidade. E a Adão foi dado o trabalho de cuidar do jardim. O Criador sabia que Adão não poderia ser feliz sem ocupação. A beleza do jardim encantava-o, mas isto não era suficiente. Precisava de ter trabalho que chamasse ao exercício os maravilhosos órgãos do corpo. Houvesse a felicidade consistido em nada fazer, e o homem, em seu estado de inocência, haveria sido deixado sem ocupação. Mas Aquele que criou o homem sabia o que seria para sua felicidade; e assim que o criou designou-lhe um trabalho. A promessa da glória futura, e o decreto de que o homem deve trabalhar pelo pão de cada dia, vieram do mesmo trono" (Nossa Alta Vocação, p. 219).

Nesse período intermediário (após o mundo ideal e antes do prometido), somos convidados a considerar o trabalho como uma das bênçãos de Deus. Toda criança aprendia um ofício entre os judeus. Dizia-se que um pai que não ensinasse um ofício ao seu filho criaria um criminoso. Jesus, o Filho de Deus, passou muitos anos cumprindo a vontade de Seu pai em um trabalho honesto como carpinteiro e artesão habilidoso, talvez fornecendo às pessoas de Nazaré móveis e utensílios agrícolas necessários (Mc 6:3). Isso também fazia parte da educação que O prepararia para o ministério adiante. O apóstolo Paulo realizou a obra do Senhor da mesma forma ao trabalhar ao lado de Áquila e Priscila por um ano e meio como fabricante de tendas, enquanto debatia na sinagoga aos sábados (At 18:1-4;2Ts 3:8-12).

A palavra “trabalho” possui muitos significados. Trabalhamos por necessidade para pôr comida na mesa, pagar as contas e economizar um pouco para os momentos difíceis. Perder o emprego geralmente é pior do que aguentar um trabalho ruim.

Para algumas pessoas, o trabalho significa apenas a enfadonha labuta diária, que terminará com a morte. Elas trabalham em empregos que desprezam, na esperança de se aposentarem enquanto ainda têm saúde. Para outras, o trabalho pode até dominar a vida, tornando-se o centro da sua existência, até mesmo a fonte abrangente da identidade pessoal. Longe do trabalho, essas pessoas se sentem deprimidas ou desorientadas, sem saber o que fazer ou para onde ir. Na aposentadoria, elas podem desmoronar física e psicologicamente, e geralmente morrem prematuramente.

Os cristãos precisam aprender a trabalhar da maneira que Deus deseja. O trabalho é mais que uma necessidade econômica. O homem é mais que um empregado. Compreendido da maneira correta, o trabalho de alguém pode ser uma possibilidade de ministério, uma expressão de seu relacionamento com o Senhor. Parte da tarefa de um professor é ajudar os alunos a encontrar um trabalho em que suas habilidades e interesses dados por Deus coincidam com as necessidades do mundo.

Embora “a obra das nossas mãos” seja uma bênção de Deus para nós (veja Sl 90:17) e possibilite que vivamos de maneira significativa, o plano supremo de Deus é que “a obra das nossas mãos” abençoe os outros. Paulo declarou que devemos trabalhar, fazendo algo útil com nossas mãos, para que possamos ter algo a compartilhar com os outros (Ef 4:28). Ele certamente viveu por este princípio: “Vós mesmos sabeis que estas mãos serviram para o que me era necessário a mim e aos que estavam comigo. Tenho-vos mostrado em tudo que, trabalhando assim, é mister socorrer os necessitados e recordar as palavras do próprio Senhor Jesus: Mais bem-aventurado é dar que receber” (At 20:34, 35). A oração simples de Neemias deve ser a nossa: “Agora, pois, ó Deus, fortalece as minhas mãos” (Ne 6:9). 

O fato de sermos seres humanos caídos e pecadores não é desculpa válida para tratar qualquer tarefa com nada menos que a máxima dedicação. Deus espera que sempre tenhamos o melhor desempenho, usando bem nossos talentos, habilidades, tempo e educação para grandes causas.

“Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito” (Gl 5:25). O trabalho e a espiritualidade são inseparáveis. O cristianismo não é uma peça de roupa que pode ser vestida ou tirada quando mudamos de humor ou passamos por diferentes fases da vida. Em vez disso, o cristianismo cria um novo ser que se manifesta em todas as dimensões da vida, inclusive no trabalho.

Uma das armadilhas comuns da vida é a tendência de “compartimentalizar” os diferentes aspectos da vida. Existe vida profissional, familiar, espiritual e até uma vida de lazer. A tendência de separar essas áreas para que haja pouca ou nenhuma convergência entre elas deve ser desejada em alguns casos. Por exemplo, não é bom levar o trabalho para casa de maneira que interfira nas responsabilidades da família. A busca do lazer também não deve reduzir o tempo que passamos com Deus.

No entanto, essa restrição não deve se aplicar à função que nossa vida espiritual deve desempenhar em toda a nossa existência. O trabalho do cristão é modelado pela comunhão com Deus e pela nossa obra com Ele. O trabalho é um modo de praticar a presença de Deus. Compartimentalizar nossa vida religiosa, limitar Deus a um dia, a uma hora ou até apenas a uma área da vida é rejeitar a própria presença de Deus nessas outras áreas.

O trabalho é uma maldição ou uma bênção? Ele parece ter vindo como parte da maldição do pecado (Gn 3:17). Porém, uma leitura mais atenta revela que a Terra foi amaldiçoada, e não o trabalho. Ellen G. White declarou que Deus pretendia que essa ordem funcionasse como uma bênção: “E a vida de trabalho árduo e preocupações, que dali em diante deveria ser o destino do homem, foi ordenada com amor. Uma disciplina que havia se tornado necessária pelo seu pecado foi o obstáculo posto à satisfação do apetite e dos maus desejos, para desenvolver hábitos de domínio próprio. Fazia parte do grande plano de Deus para restaurar o ser humano da ruína e degradação do pecado” (Patriarcas e Profetas, p. 60). 

Será que temos feito do trabalho uma maldição pela monotonia, excesso ou supervalorização de sua função em nossa vida? Qualquer que seja a nossa situação, precisamos colocar o trabalho em sua perspectiva adequada. E a educação cristã deve ensinar as pessoas para que elas aprendam o valor do trabalho, mas, ao mesmo tempo, que não façam dele um ídolo.

Portanto, o trabalho foi criado por Deus para: (1) contribuir para o desenvolvimento harmonioso de todas as faculdades do ser humano; (2) cuidar da Terra, assim como veio das mãos de Deus; (3) fazer parte da vida religiosa do ser humano, o que implica adoração; (4) ser uma bênção para o ser humano; (5) fazer parte do plano da redenção; (6) ser um canal de recompensa econômica que permita ao ser humano honrar a Deus; (7) possibilitar que o homem desfrute da obra de suas mãos; mas, (8) o trabalho não deve interferir em suas outras responsabilidades, nem deve exceder suas capacidades.

Ao invés de ser algo cansativo, entediante ou um instrumento de exploração, Deus sempre desejou que o trabalho fosse uma bênção, que desse sentido para a vida. Os aspectos negativos relacionados ao trabalho acompanharão nossa rotina apenas enquanto durar as consequências do pecado. No Éden, Adão trabalhou, e na Terra restaurada, os salvos continuarão a trabalhar, não “em vão”, porque aproveitarão ao máximo essa atividade (Is 65:21-23). Quem espera um paraíso sem trabalho vai se decepcionar, pois Deus trabalha e os anjos também.

Ellen G. White conclui: A sonolência e a preguiça destroem a piedade, e ofendem o Espírito de Deus. Um poço estagnado exala desagradável odor; mas uma corrente pura esparge saúde e alegria pela terra. Nenhum homem ou mulher convertido pode deixar de ser um trabalhador. Há certamente e sempre haverá emprego no Céu. Os remidos não viverão num estado de sonhadora preguiça. Resta um repouso para o povo de Deus — repouso que eles encontrarão em servir Aquele a quem devem tudo quanto possuem e são" (Nossa Alta Vocação, p. 219).

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