O formalismo religioso é um dos ventos de doutrina que têm soprado com força sobre a igreja. Seus efeitos diminuem a vitalidade, a alegria e a espontaneidade cristã. Essa corrente fria de ar espiritual chega para congelar nossa essência e valorizar apenas a aparência.
Trata-se de um pecado sutil e perigosíssimo, pois entra na congregação de Deus com a aparência de espiritualidade e devoção. O formalismo é perigoso porque não se opõe aos ritos da religião; ao contrário, até enfatiza os cultos e as cerimônias. Tem cara de legalidade, mas é uma religiosidade vazia. É a troca da religião prática (Tg 1:27; Ez 16:49; Mt 25:34-46) pelas práticas da religião (Lc 18:10-12).
Portanto, o formalismo não é um inimigo visível, externo, que age de fora para dentro na comunidade. Seu perigo está na aparência de normalidade. É o autoengano (falsa avaliação de si mesmo) que leva à autoindulgência (tolerar as próprias faltas) e à lenta morte espiritual. Em outras palavras, é a apostasia travestida de religiosidade. Em seu sermão profético, Jesus disse que essa foi a condição dos antediluvianos e será a condição de milhares de pessoas, inclusive entre o professo povo do advento (Mt 24:37-39).
"Quando Jesus olha para o estado de seus professos seguidores hoje, vê ingratidão, formalismo oco, hipocrisia, orgulho farisaico e apostasia" (Jesus, Meu Modelo, p. 190).
"Muitos se acham aborrecidos com o árido formalismo existente no mundo cristão. Muitos se estão tornando descrentes porque vêem a falta de genuína piedade nos que professam o cristianismo" (Evangelismo, p. 514).
Igrejas paralisadas pelo vento gelado do formalismo perdem a sensibilidade espiritual. As pessoas mantêm sua religião por uma questão de família, tradição, hábito ou comodidade. Não surgem novos sonhos, planos e projetos. Não há ousadia, inovação nem paixão pela missão. Igrejas assim sobrevivem, mas deixam de crescer. Como disse o apóstolo Paulo, têm aparência de piedade, mas negam o seu poder (ver 2Tm 3:5).
"Há demasiada formalidade em nossos serviços religiosos. O Senhor quer que Seus ministros, que Lhe pregam a palavra, sejam possuídos da energia de Seu Santo Espírito; e o povo que ouve não ficará sentado em sonolenta indiferença, ou olhando vagamente de um lado para outro, sem corresponder ao que é dito. A impressão assim causada nos incrédulos é tudo, menos favorável à religião de Cristo" (Testemunhos Seletos 2, p. 111).
Igrejas congeladas pelo formalismo creem que, se alterarem suas rotinas, elas se afastarão dos antigos caminhos. Apegam-se aos costumes e deixam de lado os princípios. Estão mais preocupadas em não mudar o que os pioneiros fizeram do que em encontrar alternativas bíblicas para se comunicar e influenciar a geração do século 21. É óbvio que não podemos sacrificar nosso estilo de vida nem deixarmos de ser bíblicos. Porém, precisamos encontrar caminhos eficazes para representar melhor o caráter de Cristo e comunicar o evangelho às pessoas. Jesus não veio ao mundo para preservar rituais, mas para “buscar e salvar o perdido” (Lc 19:10).
"Nosso Salvador pede fiéis testemunhas nestes dias de formalismo religioso; mas quão poucos mesmo entre os professos embaixadores de Cristo, se acham prontos a dar um fiel testemunho pessoal em favor de seu Mestre!" (Obreiros Evangélicos, p. 273).
Quando nos entregamos a Jesus, o formalismo perde seu lugar. Nossas cerimônias se tornam vivas, nossos relacionamentos passam a ser autênticos, e nossa mensagem ganha força e profundidade. Ao mesmo tempo, o Senhor destrói a frieza que, muitas vezes, leva à falta de aceitação, crítica, intolerância, divisão e fanatismo.
"Que os servos de Deus em todos os lugares estudem Sua Palavra, olhando constantemente a Jesus para serem transformados à Sua imagem. A plenitude inexaurível e a total suficiência de Cristo estão à nossa disposição se andarmos diante de Deus em humildade e contrição" (Manuscrito 140, 1902).
Em igrejas submissas à Palavra de Deus, as coisas são diferentes. “O vento gelado do formalismo” para de soprar, o Espírito Santo está ativo e a transformação acontece. As pessoas são fiéis e demonstram isso vivendo em amor e engajadas na pregação do evangelho. Fuja da frieza do formalismo e mantenha sempre o equilíbrio entre a profundidade na Palavra e a intensidade no amor.
"A prevalecente monotonia da rotina religiosa em nossas igrejas precisa ser modificada. A influência da atividade necessita ser introduzido, para que os membros da igreja possam trabalhar em novos ramos e planejar novos métodos. O poder do Espírito Santo moverá corações à medida que for quebrada essa monotonia morta, sem vida, e muitos que nunca antes haviam pensado em ser além de espectadores ociosos começarão a trabalhar com vigor. […] Devem ser feitos esforços para fazer algo enquanto é dia, e a graça de Deus se manifestará, a fim de que pessoas possam ser alcançadas para Cristo" (Testemunhos para Ministros, p. 204).
* Os textos em negrito são de autoria de Ellen G. White.
Se me é permitido, partilho aqui um artigo que escrevi sobre a linguagem alegadamente "bíblica" que, afinal, não é mais do que uma construção tradicionalista e ritualista de conceitos quer do Antigo Testamento, quer de contextos extrabíblicos: https://vidaemabundancia.blogspot.com/2024/09/num-domingo-qualquer.html
ResponderExcluirOlá, Ruben! Obrigado por participar e compartilhar este excelente artigo. Parabéns e grande abraço!
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