quarta-feira, 15 de maio de 2024

ENTENDENDO AS 2.300 TARDES E MANHÃS

No livro de Daniel, capítulo 8, encontramos eventos históricos que precedem a segunda vinda de Cristo. Nele é descrito a sucessão de quatro reinos (babilônico, medo-persa, grego e romano), e, proveniente do último (romano), surgiria um poder que atuaria de maneira singular em relação aos seus antecessores, fazendo prosperar o engano ao deitar por terra a verdade referente ao santuário celestial; obscurecendo deste modo o ministério intercessório de Cristo. Daniel 7:25 descreve esse mesmo reino dizendo: “Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei…”.

Entretanto, Deus não permitiria que Seus ensinos, Sua lei e a verdade relativa ao ministério sumo-sacerdotal de Cristo prosseguisse indefinidamente obscurecida pelo erro. Através de homens e mulheres fiéis e tementes a Deus, Ele reavivaria Sua causa (Isaías 58:12). A reforma protestante redescobriu parcialmente o papel de Cristo como nosso Mediador, o que ocasionou grande reavivamento no seio do mundo cristão. Contudo, havia ainda outras verdades a serem reveladas acerca do ministério celestial de Jesus. E a Daniel foi revelado o tempo em que Deus restauraria essas verdades e iniciaria o grande julgamento da raça humana.

Em visão, Daniel contemplou esses eventos que precederiam o “tempo do fim” e, no desfecho dessa visão, o profeta acompanhou o seguinte diálogo:

“Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército a fim de serem pisados? Até duas mil e trezentas tardes e manhãs; e o santuário será purificado” (Daniel 8:13-14).

Após serem revelados esses acontecimentos a Daniel, ao anjo Gabriel fora dado a missão de explicá-los, mas, o impacto das informações levou Daniel a enfermidade, e, Gabriel, teve que adiar os esclarecimentos até que ele se recuperasse (Daniel 8:27). Devido a essa interrupção, Gabriel teve que adiar a explicação relativa ao período de tempo das 2300 tardes e manhãs; o único aspecto da visão que ainda não havia sido esclarecido. Daniel 9:22 descreve o retorno do anjo Gabriel com o objetivo de completar essa tarefa. Portanto, Daniel 8 e 9 acham-se conectados, sendo o capítulo 9 a chave para desvendar o mistério das “2300 tardes e manhãs” descrito no capítulo 8.

Entretanto, é necessário entender o que significa – “tardes e manhãs” – antes de prosseguirmos com este estudo. Analisemos o que a Bíblia diz:

"… E disse Deus: Haja luz. E houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia" (Gênesis 1:3-5).

Então, “uma tarde e uma manhã” corresponde a “um dia” (período de tempo aproximado de 24 horas) e, consequentemente as “2300 tardes e manhãs” mencionadas em Daniel 8:14 equivalem a 2300 dias. Mas, os capítulos 8 e 9 do livro de Daniel se referem a tempo profético e nestes casos “um dia” equivale a “um ano“:

“Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqUidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado” (Números 14:34)

“Quarenta dias te dei, cada dia por um ano…” (Ezequiel 4:7)

A partir desses versos podemos afirmar que “2300 dias” proféticos representam “2300 anos“, e, com base nessas informações, volvemo-nos às palavras do anjo Gabriel que retorna ao profeta com o intuito de fazê-lo entender o período de tempo descrito na profécia:

“… Daniel, agora, saí para fazer-te entender o sentido. No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para to declarar, porque és mui amado; considera, pois, a coisa e entende a visão. Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniquidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos” (Daniel 9:22-24).

A partir de Daniel 9:24 podemos fazer a seguinte pergunta: Qual a relação entre as “setenta semanas” e os “2300 anos”?

O anjo Gabriel anunciou que “setenta semanas foram determinadas” sobre o povo e sobre a santa cidade” de Daniel, isto é, sobre o povo judeu e sobre a cidade de Jerusalém.

A palavra “determinada” é uma tradução do verbo hebraico cuja raiz é chathak. Apesar dela aparecer na Bíblia somente neste verso, seu significado segundo o Léxico Hebraico de Strong1 tem o sentido de cortar, separar. Seu significado pode ser compreendido, também, a partir de outras fontes hebraicas2. O conhecido dicionário hebraico-inglês de Genesius3 estabelece que o significado apropriado do termo é “cortar”. Porém, figurativamente, os tradutores bíblicos optaram por traduzi-la por “determinada ou decretada”.

Assim, Gabriel revela ao profeta Daniel que as “setentas semanas” fixadas sobre os judeus e Jerusalém devem ser cortadas ou separadas de “2300 anos”, ou seja, as 70 semanas mencionadas em Daniel 9:24 estão inseridas dentro dos 2300 anos, e segundo as instruções do anjo Gabriel elas devem ser subtraídas.

Para realizar essa separação de tempo devemos aplicar o mesmo princípio bíblico que diz ser “cada dia por um ano“. Como uma semana possui 7 dias, e, na profecia são mencionadas 70 semanas, teremos: 70 x 7 = 490 dias ou 490 anos. Ou seja, 490 anos devem ser separadas de 2300 anos.

Agora vem o questionamento: “Em que momento inicia a contagem dos 490 anos?” Observe as palavras do anjo Gabriel: 

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, o Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas: as ruas e as tranqueiras se reedificarão, mas em tempos angustiosos” (Daniel 9:25).

Gabriel indica que o início da contagem dos 490 anos se daria a partir “da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém”. E a História registra que essa ordem foi dada pelo rei Artaxerxes, da Pérsia, no ano 457 a.C.

Daniel 9:25 revela ainda que, desde a ordem para restaurar Jerusalém até o Ungido, ou seja, até o batismo de Jesus Cristo, se passariam “sete semanas e sessenta e duas semanas“4, ou seja, 69 semanas. Então, a partir da contagem inicial das 70 semanas (490 anos), 69 semanas passariam até chegar a época do batismo de Cristo. Esse período de 69 semanas, em linguagem profética, equivalem a 483 anos (69 semanas x 7 dias). E os cálculos nos leva ao ano 27 d.C., data em que se realizou o batismo de Jesus.

Entretanto, Daniel 9:25 menciona somente 69 das 70 semanas proféticas. Resta ainda uma semana a ser analisada. Vejamos:

“E Ele firmará um concerto, com muitos, por uma semana: e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares…” (Daniel 9:27).

A profecia afirma que, na metade (3½) da “última semana“ (Daniel 9:27) – que nos leva ao ano 31 d.C. – “fará cessar o sacrifício”. Em outras palavras, Jesus morreria na cruz e já não seria mais necessário o sacrifício de animais que Israel realizava no santuário terrestre (Mateus 27:51). A História registra que, exatamente no ano 31 d.C., Jesus foi morto, confirmando com extrema exatidão as profecias.

A outra metade (3½) da “última semana” termina no ano 34 d.C. Nessa época o apóstolo Estevão foi apedrejado pelo povo judeu (Atos 7:54-60) e, com isso, o tempo de Israel finda-se, assim, a nação israelense perde as credenciais de sacerdotes e representantes de Deus na Terra (Êxodo 19:5-6). Finda-se deste modo o período de 490 anos ou das 70 semanas que dizia: “setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo…” (Daniel 9:24).

A profecia foi dada a Daniel por volta de 607 a.C. e, séculos depois, tudo se cumpriu com precisão perfeita. Agora acompanhe o raciocínio: Como os 490 anos fazem parte dos 2300 anos e, foram “separados” ou “cordados”, em que ano seremos encaminhados se continuarmos contando o tempo?

Concluiremos que o período de 2300 anos terminou em 1844. Ou seja, em 1844, segundo a profecia, iniciou-se a purificação do santuário celestial e o julgamento da humanidade (Hebreus 8:1-2; Hebreus 9:23-24; Daniel 7:9-10 cf Apocalipse 11:19). Resumidamente temos os principais eventos descritos em Daniel 9:

457 a.C. - Emissão da ordem para reconstruir Jerusalém (Esdras 7:7; 12-22).

27 d.C. - Batismo de Jesus (Mateus 3:13-17).

31 d.C. - Na metade da última (pertencente as 70 semanas), o Messias seria morto. Exatamente três anos e meio após o Seu batismo, Jesus foi morto na cruz (Lucas 23:46 cf Daniel 9:27).

34 d.C. - No fim das 70 semanas (Daniel 9:24), Estevão é apedrejado (Atos 7:54-60), a Igreja é perseguida (Atos 8:1-3), Paulo converte-se e o Evangelho foi levado aos gentios (Atos 13:44-52) e o povo judeu perde o título de nação escolhida por Deus (Êxodo 19:5-6).

1844 - Início do Juízo Investigativo (Daniel 8:14; Daniel 7:9-10; Apocalipse 11:19; Apocalipse 14:7).

Segundo as profecias, foi a partir de 1844 que o destino dos homens começou a ser definido, e milhões de pessoas no mundo ignoram essa verdade. Por isso o Apocalipse declara que era necessário levantar-se “um anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a toda nação, tribo, língua, e povo, dizendo em grande voz: “Temei a Deus e dai-Lhe glória, pois “É CHEGADA A HORA DE SEU JUÍZO…” (Apocalipse 14:7). A palavra anjo em linguagem profética significa mensagem ou mensageiro. E perceba que o anjo voa. Isso é urgente (Apocalipse 14:6). Voar significa rapidez. Não há mais tempo a perder. Perceba que a mensagem é dada em alta voz. Isso não pode ser ignorado por mais tempo. Precisa ser proclamado em toda a Terra e para todos.

Infelizmente, o juízo, por algum motivo, é mal compreendido. Muitos confundem o juízo com os flagelos e catástrofes que acontecerão antes da volta de Cristo, e que também estão profetizados no Apocalipse. Os flagelos por exemplo, são parte da sentença do juízo. Não é juízo. A prisão ou pena de morte, por exemplo, não é o juízo da pessoa, mas a condenação. Juízo é o processo pela qual se considera o caso: existe um juiz, um advogado, um promotor de acusação, testemunhas e provas.5 

Veja como o profeta Daniel descreve o juízo celestial: 

“Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de dias Se assentou; Sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a lã pura… um rio de fogo manava e saía de diante dEle. Milhares e milhares O serviam, e miríades e miríades estavam diante dEle; assentou-se o tribunal, e se abriram os livros” (Daniel 7:9:10).

Texto baseado em: “O Ministério de Cristo no Santuário Celestial“, em: Nisto Cremos, 7.ª ed., 2003, cap. 23, p. 408.

Referências
1. STRONG, J. (1981). The Exhaustive Concordance of the Bible. ed. Macdonald Publishing Company. (Palavra n.º 02852)

2. Análise de escritos hebraicos, tais como os Mishnah, revelam que embora “chathak” possa significar “determinar”, o uso mais comum “tem a ver com a idéia de cortar”. - SHEA, W. H. The Relationship Between the Prophecies of Daniel 8 and 9. IN: WALLENKAMPF, A.; LESHER, W. R. (1981). The Sanctuary and the Atonement. Washington, D.C.: Biblical Research Institute, p. 228-250.

3. GENESIUS. (1950). Hebrew and Chaldee Lexicon to the Old Testament Scripture. Tradução de Samuel P. Tregelles (Grand Rapids: Wm. B. Eerdmans, edição reimpressa, p. 314.

4. “sete semanas”, corresponde a 49 anos, tempo gasto para restauração e edificação de Jerusalém, e, “sessenta e duas semanas”, 434 anos, refere-se ao tempo compreendido entre a conclusão da reedificação de Jerusalém e o batismo de Jesus; e, ambos: “sete semanas e sessenta e duas semanas”, corresponde a soma de 7 semanas + 62 semanas = 69 semanas (483 anos).

5. BULLON, A. (1998). O Terceiro Milênio e as Profecias do Apocalipse, 1.ª ed., p. 29.

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