Ela está entre nós há muito tempo, mas nem por isso nos acostumamos com sua realidade. A notícia da infidelidade no casamento ainda choca, traumatiza, entristece e fragmenta famílias em todo o mundo. Porém, se ela é tão prejudicial, por que ainda faz parte do cotidiano da sociedade?
O adultério pode acontecer de várias formas, com danos igualmente consideráveis. Vale atentar, pelo menos, para três tipos de traição: a imaginária (vivenciada na fantasia da pessoa, sem que haja, necessariamente, a participação consciente do outro), a virtual (muito popular em nossos dias, podendo incluir desde o acesso à pornografia online até um relacionamento virtual com uma pessoa específica) e a real (um estágio mais avançado do que as anteriores e que inclui o contato físico). À medida que a traição avança, o parceiro vai se esvaziando na vida do outro. Quando menos se percebe, ele não está mais lá. Ainda que os dois dividam a mesma casa, caminham silentes em sua solidão.
Tanto traidor como traído sofrem. O primeiro experimenta perda da integridade, forte sentimento de culpa, angústia, medo de ser descoberto e confusão de sentimentos. O segundo sente dor, decepção, rejeição, tristeza, medo quanto ao futuro, perda da autoestima, raiva e desespero, entre outras coisas. Ambos podem experimentar depressão e precisar de ajuda. Os danos tendem a aumentar quando crianças estão envolvidas.
No contexto religioso
Qualquer pessoa, religiosa ou não, está sujeita à paixões afetivas. Quando ela é religiosa, o compromisso de fidelidade é assumido não só para com o cônjuge, mas para com Deus também. Ocorrendo adultério, além da quebra da fidelidade com o companheiro(a), ocorre também a quebra do relacionamento com Deus.
Claudia Bruscagin, psicoterapeuta familiar, com doutorado em Psicologia Clínica pela PUC-SP e professora no Curso de Especialização em Terapia Familiar e de Casal do Núcleo de Família e Comunidade da PUC-SP, diz, no livro Religiosidade e Psicoterapia, Editora Roca, p. 59 e 60, 2008: “No contexto religioso, a infidelidade parece denunciar uma falta de compromisso não somente com o casamento, mas também com Deus, com a religião e seus preceitos. Para o casal religioso, a reconstrução do relacionamento após um caso de infidelidade exige que não somente a dinâmica da relação seja revista, mas também a interação de cada um dos membros do casal com Deus, pois o perdão de Deus é tão importante quanto o perdão do cônjuge traído.”
Vejamos o que diz Ellen G. White sobre o adultério em seu livro Testemunhos sobre Conduta Sexual, Adultério e Divórcio, pp. 89-91: "Um dos pecados graves nesta degenerada época de corrupção é o do adultério. Esse vergonhoso pecado é praticado em alarmante extensão. Houvessem, contudo, os transgressores do sétimo mandamento de ser encontrados unicamente entre os que não professam ser seguidores de Cristo, o mal não alcançaria a décima parte do que hoje representa; mas o crime do adultério é amplamente cometido por professos cristãos. O homem pode dissimular os fatos e ocultar que está praticando adultério; ainda assim Deus tem Seus olhos postos sobre ele. Deus o observa. Não é possível ao homem esconder dEle os seus crimes. Pode até mesmo conduzir-se de forma aparentemente correta diante da família e da comunidade, sendo considerado como um bom homem. Haverá, porém, de enganar a si mesmo, pensando que o Altíssimo não conhece todas as coisas?"
Os cristãos são chamados a exercitar pensamentos puros e viver vida pura, pois estão se preparando para viver em uma sociedade pura ao longo de toda a eternidade. A propósito, o mandamento “não adulterarás” em Êxodo 20:14 é mais abrangente. “Esta proibição abrange não apenas o adultério, mas a fornicação e a impureza de todo e qualquer tipo, em atitude, palavra e pensamento” (Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, v. 1, p. 651). E Ellen G. White complementa: "Este mandamento proíbe não somente atos de impureza, mas pensamentos e desejos sensuais, ou qualquer prática com a tendência de os excitar. A pureza é exigida não somente na vida exterior, mas nos intuitos e emoções secretos do coração. Cristo, que ensinou os deveres impostos pela lei de Deus, em seu grande alcance, declarou ser o mau pensamento ou olhar tão verdadeiramente pecado como o é o ato ilícito" (Patriarcas e Profetas, p. 217).
Como se libertar do adultério
Reconhecer o problema e buscar ajuda é fundamental para se alcançar a vitória. Esteja certo de que sua convicção é fruto do trabalho do Espírito Santo que despertou em sua mente o senso de pecado. Cristo é a grande solução! Realmente essa é uma das maiores dificuldades de pessoas de todas as épocas; elas são atraídos pela beleza física e às vezes parece impossível apenas achar uma pessoa bonita sem cobiçá-la. Jesus disse que o adultério começa na mente e que, portanto, é preciso ser cuidadoso em não alimentar sentimentos indevidos no coração (cf. Mateus 5:28).
Comungando com Cristo, e tendo a poderosa influência do Espírito Santo na vida, é possível adotar uma atitude mental saudável e positiva. Você até poderá ver pessoas e achá-las bonitas, o que é natural, mas se pensamentos impuros surgirem, você terá a opção de alimentá-los, e isso se tornaria em pecado, ou você poderá escolher cortar o pensamento e não permitir que ele se desenvolva e o domine. O grande segredo para se obter a vitória é se consagrar todos os dias pela manhã à Cristo. Dessa maneira, sua permanência em Cristo será fortalecida, e quando aparecer uma tentação, você terá muito mais confiança para se apegar ao Senhor e cortar o pensamento impuro. Assim, você terá de aprender a lidar com a situação, dependendo de Cristo e cultivando pensamentos puros, evitando qualquer lixo visual e obsceno, seja na TV, em revistas ou na internet.
Quando sua mente começar a “planejar” ou a “fantasiar”, deverá orar ao Senhor e cortar o pensamento. Essa habilidade (domínio dos pensamentos), quando adquirida, é a chave que abre as portas para o sucesso. Não desanime em sua caminhada. Volte-se para Deus em arrependimento e confissão, pois Deus é “rico em perdoar” (Isaías 55:7). Sua graça pode transformar seu coração e libertá-lo completamente desse pecado. A graça de Jesus o capacitará para a eternidade! Basta perseverar (cf. Lucas 21:19; Hebreus 10:38). O decidir-se pela pureza sexual já é uma resposta positiva à influência do Espírito Santo, e é um dos primeiros passos para o êxito. É fundamental permanecer em Cristo. Jesus disse: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (João 15:4). Esse é o segredo para a vitória na vida – permanecer em Cristo.
Certamente você consente que Cristo é o Salvador, e se você aceitá-Lo como o seu único Salvador pessoal, ao recebê-Lo no coração, não se esqueça do conselho de Paulo: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Colossenses 2:6, 7). Aqui Paulo fala de continuidade. Você está recebendo Cristo no coração, agora, permaneça nEle. Sem em algum momento de sua caminhada você cair, recorra a Jesus imediatamente, pois Ele é fiel em perdoar (1 João 1:9).
Clame a Deus, como o fez Davi, que em sua angústia, orou ao Senhor: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmos 51:10). Ele pode fazer isso em sua vida.
Ellen G. White diz: “Ninguém tem necessidade de se abandonar ao desânimo e desespero. Satanás poderá se achegar a vós com a cruel sugestão: ‘Teu caso é desesperado. És irremissível.’ Mas há para vós esperança em Cristo. Deus não nos manda vencer em nossas próprias forças. Pede-nos que nos acheguemos bem estreitamente a Ele. Sejam quais forem as dificuldades sob que lutemos, que nos façam vergar o corpo e a alma, Ele está à espera de nos libertar” (A Ciência do Bom Viver, p. 249).
A realidade do perdão para o adultério
O escritor e jornalista cristão americano Philip Yancey diz: “O perdão é dolorosamente difícil e, muito tempo depois de você perdoar, a ferida continua na lembrança. Por trás de cada ato de perdão jaz uma ferida de traição, e a dor de ser traído não se desvanece facilmente” (Maravilhosa Graça, Editora Vida, p. 86 e 87, 2006).
É fácil um líder religioso falar de perdão em sua mensagem. Mas perdoar é mais difícil do que as palavras dizem. Na palavra “perdoar” tem a parte que diz “doar”. Você doa, de graça, algo a alguém que não merece. Ou você recebe o que não merece, o perdão, mesmo sendo culpado.
Claudia Bruscagin diz: “Perdoar não é a negação dos sentimentos de mágoa, ira e rancor. É reconhecer os sentimentos e então escolher não agir por eles” (Religiosidade e Psicoterapia, p. 60). Perdoar tem que ver com escolha. Mas e os sentimentos de dor? Escolher perdoar os elimina?
O tempo cura. Mas nessa cura pode haver, e em geral há, mudanças profundas no relacionamento entre as pessoas envolvidas. Uma pessoa traída, pode precisar de anos de restabelecimento emocional para se recompor da tragédia e voltar a viver com serenidade. É como você jogar uma pedra num lago sereno e formar múltiplas ondas. As ondas se formam, não porque o lago é malvado, mas porque ele responde à uma lei da Natureza. Um coração partido não se recompõe rapidinho com qualquer “band-aid” religioso ou não.
Isto mostra que há um timing, ou tempo necessário, para cada pessoa viver o processo do perdão após uma ofensa. Quanto mais devastadora foi a ofensa e quanto mais importante significado emocional havia no relacionamento entre a pessoa e o ofensor, maior a ferida e maior o tempo necessário para sua cura. Cada um tem um ritmo de cura.
Claudia Bruscagin diz que "num caso de traição conjugal, se o cônjuge que traiu desejar dar passos para uma reconciliação, ele precisa: (1) Aceitar a responsabilidade pelo ocorrido; (2) expressar sincero pesar e arrependimento; (3) oferecer alguma recompensa de alguma forma; (4) prometer não repetir o mesmo erro, e (5) pedir perdão" (Religiosidade e Psicoterapia, p. 61). Eu acrescento: não só prometer não repetir mais o mesmo erro, mas NÃO repetir mesmo! Verdadeiro arrependimento é mais do que pesar pelo erro cometido. É um decidido afastamento dele.
O perdão não é de graça porque ele não livra a pessoa dos resultados de seus atos. O povo de Israel foi perdoado, porém, de cerca de dois milhões de pessoas que andaram pelo deserto após saírem do Egito, somente duas entraram na Terra Prometida. Havia um preço. O perdão bíblico é sempre um ato realizado num contexto de justiça. Em nenhuma parte é um ato isento de responsabilidade. Seria confundir perdão com impunidade, e não é isso o que a Bíblia apresenta. Não se pode viver num contexto de rancor. Mas é importante entender que o perdão tem seu tempo de desenvolvimento, é pessoal e, em muitos casos, um milagre.
Claudia Bruscagin conclui: “Na reconciliação, quando possível, o ofendido convida a pessoa que o machucou de volta para sua vida. Se o outro vem honestamente, o amor pode atuar e juntos podem desenvolver um novo relacionamento. Esse estágio depende tanto da pessoa a ser perdoada quanto da que perdoa; às vezes a pessoa não volta e é preciso se curar sozinho.”
Embora o perdão divino não garanta a reconciliação de um casal, o verdadeiro arrependimento e confissão a Deus é o caminho para a restauração do casamento. Ao buscar a Deus diariamente, através de Sua Palavra e da oração, é possível encontrar perdão, paz, conforto e esperança.
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