quinta-feira, 30 de maio de 2024

NÃO MATARÁS

A vida é a dádiva mais preciosa concedida por Deus e foi um dos bens mais afetados primariamente pelo pecado. O primeiro homicídio (Gn 4:8-16) contribuiu grandemente para o crescimento do desvalor e indiferença para com a vida humana. Por ser o maior bem instituído por Deus, a vida, é que se justifica o fato de sua preservação se tornar um mandamento. 

“Não matarás” é a ordem do sexto mandamento. O verbo hebraico ratsach, “matar”, aparece cerca de 47 vezes no Antigo Testamento, sendo 20 delas apenas no livro de Números. O significado mais apropriado seria assassinar premeditadamente ou a tomada ilegal de vida inocente, incluindo qualquer assassinato não autorizado. Desta forma, o mandamento ensina a santidade da vida humana e traz o princípio da correta compreensão da nossa relação com o próximo, indicando que devemos respeitar e honrar a vida, pois a vida é um sagrado dom de Deus (Gn 9: 5-6).

Embora o mandamento não desautorize a possibilidade de legítima defesa ou mesmo a pena capital, como ocorreu algumas vezes no sistema teocrático, como representantes do evangelho de Cristo, o ministério cristão é de plena promoção da esperança e valorização da vida (Jo 10:10). Portanto, a pena capital, no Novo Testamento, é suprimida pelo evangelho da piedade prática ensinada amplamente por Jesus no sermão do monte (Mt 5, 6). Ellen G. White diz: "No sermão da montanha, Ele mostrou como seus requisitos vão além dos atos exteriores, e penetram os pensamentos e as intenções do coração" (Atos dos Apóstolos, p. 505). Sob as palavras de Jesus, este mandamento tornou-se mais amplo ao incluir a raiva, o desprezo (Mt 5:21-22), e posteriormente, o ódio (1Jo 3:14-15).

Ellen G. White comenta como o mandamento “não matarás” (Êx 20:13) é tão amplo em suas implicações: "Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhe mal (pois “qualquer que aborrece seu irmão é homicida”); uma negligência egoísta de cuidar dos necessitados e sofredores; toda a condescendência própria ou desnecessária privação, ou trabalho excessivo com a tendência de prejudicar a saúde — todas estas coisas são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento" (Patriarcas e Profetas, p. 217).

A maioria de nós, claro, conhece a solução perfeita para os problemas das relações humanas: se as pessoas fossem legais conosco, não teríamos problema nenhum em ser igualmente legais com elas. Mas Jesus disse: “Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5:47). 

A verdadeira questão é: Você consegue ser bondoso com alguém que o magoou? Pode realmente amar alguém que o prejudicou? Não é fácil. Na verdade, as pessoas acham que o ensino de Jesus sobre o sexto mandamento é um exemplo extremo, sem a intenção de que seja obedecido na prática, exceto talvez por algumas santas almas que vivem sozinhas no topo de montanha. 

Veja este pensamento de Ellen G. White: "O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na semente" (O Maior Discurso de Cristo, p. 56).

Certa vez, ouvi uma discussão a esse respeito. Em sua maioria, as pessoas que se manifestaram disseram que o ensino de Jesus sobre o tema não poderia ser aplicado literalmente a pessoas que vivem no mundo real, como nós. Discordo totalmente. Há pelo menos três importantes razões pelas quais a sabedoria de Jesus é bem mais do que apenas uma inconsistente fantasia. Ela é, na verdade, a única maneira prática e sensível de viver. 

1. É a única forma de romper a corrente da violência. O plano de Jesus é melhor porque a única alternativa é o efeito dominó, uma interminável reação em cadeia no sentido de “dar o troco”. “Olho por olho, dente por dente” é a receita para o desastre, porque a violência não pode ser curada com mais violência.

2. É a única forma de obter o controle. Quando reagimos à maldade com raiva, ódio e desejo de vingança, entregamos para outra pessoa o controle sobre nós. Deixamos que ela aperte os botões e determine nossos sentimentos, atitudes e reações. Jesus deseja libertar-nos dessa tirania e devolver nossa autonomia junto com a paz mental.

3. É a única forma de agirmos com responsabilidade. Ao dizer que não devemos dar aos nossos inimigos a permissão de determinar nosso comportamento e atitudes, Jesus nos lembra uma vez mais de nossa responsabilidade. Se retribuímos a raiva com raiva, maldade com malvadeza, a decisão de fazê-lo é nossa, porque temos o poder da escolha.

Ser verdadeiramente positivos em nossas relações cristãs significa mais do que deixar de odiar. Requer que substituamos o ódio pelo amor. Disse Jesus: “Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam; bendizei aos que vos maldizem, orai pelos que vos caluniam” (Lc 6:27 e 28). Ao apresentar esse tema, o apóstolo Paulo o coloca em termos práticos: “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (Rm 12:20 e 21).

Um dos livros mais vendidos no século 20 foi Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie. Um manual de relações humanas com base em princípios de egoísmo e manipulação, a sua mensagem é: seja simpático para com as outras pessoas, elogie-as e faça com que se sintam bem, porque, se você fizer isso, elas lhe darão aquilo que você deseja e o ajudarão a ir em frente na vida. 

“O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Coríntios 13:4-7). 

O verdadeiro amor é um dom divino. Vem somente do próprio Deus.

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