A vida é a dádiva mais preciosa concedida por Deus e foi um dos bens mais afetados primariamente pelo pecado. O primeiro homicídio (Gn 4:8-16) contribuiu grandemente para o crescimento do desvalor e indiferença para com a vida humana. Por ser o maior bem instituído por Deus, a vida, é que se justifica o fato de sua preservação se tornar um mandamento.
“Não matarás” é a ordem do sexto mandamento. O verbo hebraico ratsach, “matar”, aparece cerca de 47 vezes no Antigo Testamento, sendo 20 delas apenas no livro de Números. O significado mais apropriado seria assassinar premeditadamente ou a tomada ilegal de vida inocente, incluindo qualquer assassinato não autorizado. Desta forma, o mandamento ensina a santidade da vida humana e traz o princípio da correta compreensão da nossa relação com o próximo, indicando que devemos respeitar e honrar a vida, pois a vida é um sagrado dom de Deus (Gn 9: 5-6).
Embora o mandamento não desautorize a possibilidade de legítima defesa ou mesmo a pena capital, como ocorreu algumas vezes no sistema teocrático, como representantes do evangelho de Cristo, o ministério cristão é de plena promoção da esperança e valorização da vida (Jo 10:10). Portanto, a pena capital, no Novo Testamento, é suprimida pelo evangelho da piedade prática ensinada amplamente por Jesus no sermão do monte (Mt 5, 6). Ellen G. White diz: "No sermão da montanha, Ele mostrou como seus requisitos vão além dos atos exteriores, e penetram os pensamentos e as intenções do coração" (Atos dos Apóstolos, p. 505). Sob as palavras de Jesus, este mandamento tornou-se mais amplo ao incluir a raiva, o desprezo (Mt 5:21-22), e posteriormente, o ódio (1Jo 3:14-15).
Ellen G. White comenta como o mandamento “não matarás” (Êx 20:13) é tão amplo em suas implicações: "Todos os atos de injustiça que tendem a abreviar a vida; o espírito de ódio e vingança, ou a condescendência de qualquer paixão que leve a atos ofensivos a outrem, ou nos faça mesmo desejar-lhe mal (pois “qualquer que aborrece seu irmão é homicida”); uma negligência egoísta de cuidar dos necessitados e sofredores; toda a condescendência própria ou desnecessária privação, ou trabalho excessivo com a tendência de prejudicar a saúde — todas estas coisas são, em maior ou menor grau, violação do sexto mandamento" (Patriarcas e Profetas, p. 217).
A maioria de nós, claro, conhece a solução perfeita para os problemas
das relações humanas: se as pessoas fossem legais conosco, não teríamos problema nenhum em ser igualmente legais com elas. Mas Jesus
disse: “Não fazem os gentios também o mesmo?” (Mt 5:47).
A verdadeira questão é: Você consegue ser bondoso com alguém que o magoou?
Pode realmente amar alguém que o prejudicou?
Não é fácil. Na verdade, as pessoas acham que o ensino de Jesus sobre
o sexto mandamento é um exemplo extremo, sem a intenção de que seja
obedecido na prática, exceto talvez por algumas santas almas que vivem
sozinhas no topo de montanha.
Veja este pensamento de Ellen G. White: "O espírito de ódio e de vingança originou-se com Satanás; e isto o levou a fazer matar o Filho de Deus. Quem quer que acaricie a malícia ou a falta de bondade, está nutrindo o mesmo espírito; e seus frutos são para a morte. No pensamento de vingança jaz encoberta a má ação, da mesma maneira que a árvore está na semente" (O Maior Discurso de Cristo, p. 56).
Certa vez, ouvi uma discussão a esse
respeito. Em sua maioria, as pessoas que se manifestaram disseram que
o ensino de Jesus sobre o tema não poderia ser aplicado literalmente a
pessoas que vivem no mundo real, como nós. Discordo totalmente. Há pelo menos três importantes razões pelas
quais a sabedoria de Jesus é bem mais do que apenas uma inconsistente
fantasia. Ela é, na verdade, a única maneira prática e sensível de viver.
1. É a única forma de romper a corrente da violência. O plano de Jesus
é melhor porque a única alternativa é o efeito dominó, uma interminável reação em cadeia no sentido de “dar o troco”. “Olho por olho, dente
por dente” é a receita para o desastre, porque a violência não pode ser
curada com mais violência.
2. É a única forma de obter o controle. Quando reagimos à maldade com
raiva, ódio e desejo de vingança, entregamos para outra pessoa o controle sobre nós. Deixamos que ela aperte os botões e determine nossos
sentimentos, atitudes e reações. Jesus deseja libertar-nos dessa tirania
e devolver nossa autonomia junto com a paz mental.
3. É a única forma de agirmos com responsabilidade. Ao dizer que não
devemos dar aos nossos inimigos a permissão de determinar nosso comportamento e atitudes, Jesus nos lembra uma vez mais de nossa responsabilidade. Se retribuímos a raiva com raiva, maldade com malvadeza, a
decisão de fazê-lo é nossa, porque temos o poder da escolha.
Ser verdadeiramente positivos em nossas relações cristãs significa mais do
que deixar de odiar. Requer que substituamos o ódio pelo amor. Disse Jesus:
“Amai os vossos inimigos,
fazei o bem aos que vos odeiam;
bendizei aos que vos maldizem,
orai pelos que vos caluniam”
(Lc 6:27 e 28). Ao apresentar esse tema, o apóstolo Paulo o coloca em termos práticos:
“Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer;
se tiver sede, dá-lhe de beber;
porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas
sobre a sua cabeça.
Não te deixes vencer do mal,
mas vence o mal com o bem”
(Rm 12:20 e 21).
Um dos livros mais vendidos no século 20 foi Como Fazer Amigos e
Influenciar Pessoas, de Dale Carnegie. Um manual de relações humanas
com base em princípios de egoísmo e manipulação, a sua mensagem é:
seja simpático para com as outras pessoas, elogie-as e faça com que se
sintam bem, porque, se você fizer isso, elas lhe darão aquilo que você
deseja e o ajudarão a ir em frente na vida.
“O amor é paciente, é benigno;
o amor não arde em ciúmes,
não se ufana, não se ensoberbece,
não se conduz inconvenientemente,
não procura os seus interesses,
não se exaspera, não se ressente do mal;
não se alegra com a injustiça,
mas regozija-se com a verdade;
tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”
(1 Coríntios 13:4-7).
O verdadeiro amor é um dom divino. Vem somente do próprio Deus.
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