sexta-feira, 31 de maio de 2024

A MARCHA QUE NUNCA FOI PARA JESUS

Milhares de pessoas se reuniram para participar da 32ª edição da Marcha para Jesus nesta quinta-feira (30), feriado de Corpus Christi, em São Paulo. A caminhada começou às 10h em frente à estação Luz do Metrô e seguiu até a Praça Heróis da Força Expedicionária Brasileira (FEB), próximo ao Campo de Marte, na Zona Norte. Cartazes com os dizeres ‘100% Jesus’ e uma enorme bandeira de Israel foram carregadas pelo público durante a caminhada. O evento contou com a participação de 17.250 caravanas de várias partes do país e reuniu um público de 29,2 mil pessoas, estimam pesquisadores da USP.

Foram 12 horas de programação com mais de 17 atrações musicais e 10 trios elétricos que foi intercalada com louvores e discursos inflamados de políticos de olho dos votos do segmento, seja para a disputa das eleições municipais, em outubro, ou para um voo mais alto — como a Presidência da República, em 2026. Do presidente Luiz Inácio Lula da Silva — que remeteu uma carta, lida no evento, e foi representado pelo advogado-geral da União, Jorge Messias — ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tenta a reeleição na capital paulista, e aos presidenciáveis Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União), respectivamente governadores de São Paulo e Goiás, todos se apresentaram como fiéis seguidores dos preceitos bíblicos.

O primeiro a discursar na marcha foi Ricardo Nunes, ao lado da primeira-dama Regina Carnovale Nunes. Chamado de "servo de Deus" pelo 'apóstolo' Estevam Hernandes, organizador da marcha, o prefeito agradeceu a presença dos fiéis e desejou boas-vindas àqueles de outras cidades e estados. "Mais um ano, e a marcha é um grande sucesso, é maior do que o ano passado [...] Esse grande evento está abençoando nossa cidade, nosso estado, nosso país e o mundo. Saímos daqui com a nossa fé renovada", afirmou.

Em seguida, foi a vez de Tarcísio de Freitas no microfone. Durante cinco minutos, o governador de São Paulo fez referências a passagens bíblicas e também agradeceu a participação dos fiéis. Segundo o ‘apóstolo’, foi o ex-presidente Jair Bolsonaro que pediu para que ele apoiasse Tarcísio em São Paulo. “Nós oramos e ali identificamos um grande homem de Deus. E ele realmente é fruto das orações de sua mãe. Um homem temente a Deus. No governo do Estado de São Paulo, que é o maior estado dessa federação, tem em seu comando um homem servo de Jesus Cristo”, disse, ao apresentar Tarcísio no evento, chamando inclusive o governador de “sinal de Deus para o Brasil”.

Na minha modesta opinião, é completo absurdo que representantes de governos compareçam a qualquer atividade religiosa de forma institucional. Fere a Constituição, que determina a laicidade do Estado, além de ser gesto oportunista e antipedagógico. Tal comportamento alimenta o fundamentalismo religioso.

E outra... a figura de Jesus não cabe dentro de qualquer arranjo ideológico. Sua mensagem transcende as utopias, subverte o establishment e desafia o mais insólito dos ideais humanos. Também não é cabo eleitoral de candidatura alguma. Não ousem conferir tom partidário à Sua mensagem. Toda vez que Sua mensagem é diluída numa ideologia qualquer, perde sua essência e eficácia.

No Brasil, esse evento começou a ser realizado em terras pauliceias no ano de 1993, organizado pela Igreja Renascer em Cristo através de seus líderes, o 'apóstolo' Estevam Hernandes e 'bispa' Sônia Hernandes, ambos conhecidos internacionalmente após sérios problemas com a justiça brasileira e americana, em razão de suas respectivas infrações contravencionais. Além disso, são conhecidos por serem expoentes do neopentecostalismo, bem como por pregar as perniciosas doutrinas da restauração apostólica triunfalista e teologia da prosperidade.

O conceito “Marcha para Jesus” começou na Inglaterra em meados de 1987, através de uma ação ecumênica entre protestantes e católicos de Londres. A organização foi iniciativa dos líderes carismáticos britânicos Gerald Coates, Roger Forster, Lynn Green e Graham Kendrick. Segundo eles, a passeata pública foi feita para demonstrar a “unidade entre a Igreja” e expressar a fé cristã para a sociedade, bem como promover atos proféticos de batalha espiritual contra espíritos territoriais malignos, dominantes da Europa secularizada.

Como todo ano, o evento no Brasil reúne diversas denominações evangélicas, reunidas em uma grande procissão pelas ruas da capital paulistana. Mas afinal, qual o objetivo desta Marcha para Jesus no Brasil? O interessante é que não vemos em nenhum lugar no Novo Testamento a ordem evangelística de marchar para Jesus, ou no Antigo Testamento para Deus, muito menos nas literaturas dos pais da igreja, reformadores, missionários e evangelistas por toda a história. Não há, absolutamente, nenhum fundamento espiritual cristão para se praticar marchas evangelísticas. Na verdade, eu não consigo imaginar como alguém pode se converter em um evento como este.

Além do 'apóstolo' organizador da Marcha para Jesus, também são destacados os trios elétricos que puxam a “micareta gospel”, ao som de músicas triunfalisticamente antropocêntricas, preparadas cuidadosamente para massagear o ego dos participantes em detrimento do evangelho que confronta o caráter. É no mínimo questionável esse tipo de evangelismo, pois a palavra quase não é proclamada devido ao foco na euforia festiva, salvo raras exceções quando é falada ou cantada, mas de maneira superficial e distorcida, onde não há entendimento profundo das Escrituras.

Richard Foster, um teólogo cristão da tradição Quaker, começa seu livro mais conhecido Celebração da Disciplina com uma frase que me marca até hoje: “A superficialidade é a maldição do nosso tempo”. Concordo plenamente com ele. E eu iria mais longe. Pior do que a superficialidade é a celebração dessa superficialidade. O povo comemora o fato de não ter profundidade. Essa pra mim é a maior mensagem da Marcha Para Jesus: a celebração da superficialidade evangélica brasileira.

A verdadeira "Marcha para Jesus" não acontece com data marcada, guiada por trios elétricos, ao som de gritos de guerra, mas acontece todos os dias, pelas ruas, avenidas, corredores de supermercados, shoppings, bancos, onde pessoas conquistadas pelo amor de Jesus são conduzidas como evidência do poder do Evangelho. A marcha que Cristo ensinou à sua igreja foi outra, silenciosa e efetiva, tal qual o sal penetrando no alimento (Mt 5:13); pessoal e de relacionamento, como na igreja primitiva (At 8:4); cotidiana e sem cessar, como entre os primeiros convertidos (At 2:42-47).

3 comentários:

  1. Mensagem verdadeira de um falso adventista. D'US ainda utiliza "Balaãos", hoje 🙏🏻🙏🏻🙏🏻

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  2. Eu acredito que vc quem escreveu não entende nada de política,pois Satanás está minando todos os campos possíveis e a política faz tempo se tornou un campo de batalla entre o cristianismo e o progresismo mas muitos cristãos não entendem nada de política esa marcha pra jesus pode significar cualquier coisa pra vc mas o fato e que Tarcísio de Freitas e sim un homen que teme a Deus

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  3. Ótimo texto..concordo.. Graça e paz a todos e venha Senhor Jesus ansiamos a sua segunda volta..amém

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