terça-feira, 30 de julho de 2024

DERROTAS

Um dos momentos marcantes do judô neste último domingo nas Olimpíadas de Paris teve lágrimas de uma multicampeã e superfavorita ao ouro. A japonesa Uta Abe, atual campeão olímpica da categoria 52kg, deixou o tatame e a arena em desespero, aos prantos e aos berros, depois de ser eliminada nas oitavas de final por Diyora Keldiyorova, do Uzbequistão. (Assista no vídeo: https://globoplay.globo.com/v/12792011/)

Esta precoce eliminação da atleta japonesa nos deixa uma lição para a nossa vida espiritual também. Ninguém gosta de perder. E não é à toa, afinal, nossa sociedade nos ensina o tempo todo que perder é o que existe de pior na existência humana.

Os filmes que nos emocionam são os de superação. O documentário que nos cativa é o do homem que perdeu tudo, mas deu a volta por cima. O livro de romance que nos envolve é o da menina que perdeu seu amor, mas conseguiu alguém melhor. Queremos que o nosso candidato ganhe a eleição. Torcemos para o nosso time ganhar. Vibramos com a vitória do atleta de nosso país. E assim por diante. Nossa mente é socialmente condicionada para que ganhemos, ganhemos, ganhemos, ganhemos e ganhemos.

Mas aí vem a pergunta: e se perdermos?

Bem... aí a coisa complica. Afinal, pessoas adestradas desde o berço a buscar a cada segundo a vitória e o triunfo, perdem completamente o rebolado quando a derrota chega. E, com isso, vêm frustração, impotência, prostração, depressão, melancolia, ansiedade, questionamentos a Deus e muito mais. "Deus, como posso estar perdendo tanto se sou mais que vencedor?!"

Hoje, vemos muitos dando uma grande ênfase na vitória como sendo um referencial perfeito para indicar as pessoas que servem a Deus de verdade e são abençoadas por Ele. Os vencedores são os abençoados, não os perdedores. Os ricos são os abençoados, não os pobres. A fé vencedora é dos que venceram situações e não dos que perderam.

O problema é que o referencial humano sobre a vitória está bem longe do referencial que Deus tem dela. É evidente que o Senhor é um Deus que dá a vitória aos seus filhos, mas a plenitude da Sua ação não se dá apenas em ambientes onde o ser humano enxerga a vitória.

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego estavam diante do tirano rei da Babilônia, Nabucodonosor. Esse rei, loucamente, manda construir uma imagem para que todos a adorassem. Esses três desobedeceram a ordem e foram chamados para uma conversa particular com o rei. A resposta desses jovens ao rei é que nos mostra algo surpreendente sobre a vitória:

“Se formos atirados na fornalha em chamas, o Deus a quem prestamos culto pode livrar-nos, e Ele nos livrará das suas mãos, ó rei. Mas, se Ele não nos livrar, saiba, ó rei, que não prestaremos culto aos seus deuses nem adoraremos a imagem de ouro que mandaste erguer” (Daniel 3:17-18).

O que chama a atenção é que esses jovens criam que Deus tinha a escolha de livrá-los ou não. Essa atitude deles não era uma atitude de covardia ou de resignação, mas de fé plena em Deus, acontecesse o que acontecesse. Se eles morressem queimados, morreriam em obediência e pleno exercício de sua fé. Humanamente, talvez seriam chamados de derrotados, mas espiritualmente seriam vitoriosos. Eles não viam na vitória a base de sua fé, mas apenas no cumprimento da vontade de Deus, seja ela qual fosse. Eles confiavam na direção do Pai em todas as situações. 

Assim, as circunstâncias não tinham o poder de destruir a fé deles. A vitória era bem-vinda, mas se fossem derrotados (humanamente falando), mesmo assim morreriam exercendo plenamente a obediência à vontade do Pai e, portanto, seriam vitoriosos diante de Deus.

Agora, a questão é nossa: E se acontecer a nossa derrota? Continuaremos firmes na fé em Deus? Estaremos dispostos a exercer a fé seja no “sim” seja no “não”?

Consigo entender a lógica arrebatadora de Jesus no sermão da Montanha, quando Ele diz que bem-aventurado é aquele que chora, pois será consolado. Precisamos aprender a conviver com a derrota. Precisamos aprender a conviver com frustrações e sonhos não realizados. Saber perder não é conformar-se com a derrota, mas entendê-la como necessária para uma outra perspectiva da vida. Todas as vezes que perdemos, precisamos olhar a vida sem auto comiseração. Deus está nos dando uma nova chance de fazer aquilo que deixamos de fazer. Esta lição serve para muitas situações. Seja luto, seja falência, sejam relacionamentos destruídos, seja até uma luta perdida... 

O poeta romano Horácio observou que “a adversidade desperta em nós capacidades que, em circunstâncias favoráveis, teriam ficado adormecidas”. O historiador Eugen Weber também lembra que “tempos ruins para se viver são bons para se aprender”. Charles Colson, peça importante no caso Watergate, que acabou preso e, então, converteu-se ao cristianismo, concluiu: “Aquilo que o mundo vê como adversidade, Deus vê como oportunidade para abençoar”. Já A. W. Tozer, autor cristão, ressaltou que “Deus nunca usa alguém grandemente até que Ele o teste profundamente”. Para o pastor e evangelista Mark Finley, “nossos grandes desafios precedem nossos maiores milagres”. E Ellen G. White afirmou que "as mais difíceis experiências na vida do cristão, podem ser as mais abençoadas" (Nossa Alta Vocação, p. 322).

Deus continua transformando derrotas em oportunidades. Para isso, precisamos aprender a fugir da lamentação e a ver “em cada dificuldade” “um chamado à oração” (O Desejado de Todas as Nações, p. 667). Talvez, uma das orações mais difíceis que podemos fazer é esta: “Jesus, ensina-nos a perder!”

Crédito da ilustração: Kyodo News via Getty Images

Um comentário:

  1. BOA TARDE!
    SIM, PODEMOS PERDER EM MUITO NESSA VIDA, MAS, NÃO DESANIMEMOS E, O QUE EU POSSO DIZER E PEDIR EM ORAÇÃO É: "SENHOR, POSSO PERDER O MUNDO, MAS, O QUE EU NÃO POSSO PERDER É, TE PERDER". AMÉM E GLÓRIA A DEUS E ALELUIA.

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