terça-feira, 27 de agosto de 2024

A AGENDA SUBVERSIVA DE JESUS

Havia uma expectativa no ar. Todos comentavam entre si que finalmente chegara o dia em que o Messias tão esperado adentraria triunfantemente em Jerusalém; dirigindo-se ao palácio, deporia Herodes, o rei fajuto, marionete do império romano. Um jovem galileu surgira na periferia, fazendo milagres, exorcizando demônios, alimentando multidões. Além de tudo, pertencia à linhagem real. Só poderia ser Ele, o filho de Davi, que libertaria Seu povo do domínio romano, e assumiria o trono do qual era herdeiro.

A cidade estava em polvorosa. Munidos de ramos, todos dirigiram-se ao portão principal para dar boas vindas ao que vinha em nome do Senhor. HOSANA! Os tempos áureos voltaram! Viva o Filho de Davi!

De repente, desponta no horizonte um figura doce, serena, montada num jumentinho. Seus discípulos O precediam e engrossavam os brados de hosana.

Acostumados em assistir às paradas triunfais, em que reis e generais se apresentavam montados em extravagantes corcéis, a imagem d’Aquele galileu montado num jumento era, no mínimo, frustrante. Mesmo sem entender direito o que acontecia, os brados de hosana se intensificavam. Talvez aquilo fosse um recurso cênico, visando identificá-Lo com as camadas mais pobres e oprimidas da sociedade. Ninguém podia supor que o jumentinho era emprestado.

Ao atravessar o portão da cidade, todos imaginavam que Ele Se dirigiria ao palácio, liderando o povo para um golpe de estado, mas em vez disso, Ele toma o lado oposto, e Se dirige ao Templo.

Possivelmente muitos pensaram que Ele faria uma breve escala no templo, a fim de legitimar Seu motim, buscando apoio da casta sacerdotal.

Inusitadamente, sua feição é transformada. O galileu humilde montado num jumentinho, agora improvisa um chicote, adentra os pátios do templo, e de lá expulsa os cambistas e mercadores.

Confusão geral! Os brados de hosana foram substituídos por burburinhos. Todos estavam enganados em suas expectativas. Ele não estava interessado em ser unanimidade. Não buscava apoio dos sacerdotes, nem dos dos principais partidos religiosos.

O reino que Ele representava não propunha mudanças que começassem pelo palácio, mas pelo templo. A casa de seu pai estava sendo profanada, transformada num mercadão a céu aberto. Diz Ellen G. White: "O pátio do templo estava como um vasto curral de gado. Com os berros dos animais e o agudo tinir das moedas, misturava-se o som de iradas altercações entre os traficantes, e ouviam-se entre eles vozes de homens no sagrado ofício. Os dignitários do templo empenhavam-se, eles próprios, em comprar e vender, e trocar dinheiro. Tão completamente se achavam dominados pela cobiça de lucro que, aos olhos de Deus, não eram melhores que ladrões" (O Desejado de Todas as Nações, p. 412).

Antes de instaurar a ordem do reino, aquela “ordem” teria que ser subvertida. Mesas de pernas pro ar! Gaiolas abertas! Cambistas expulsos!

O mesmo Cristo do jumentinho é o Cristo do chicote. Não confunda sua humildade com passividade. Ele jamais fez vista grossa às injustiças dos homens.

"O penetrante olhar de Jesus percorreu o profanado pátio do templo. Todos os olhares estavam voltados para Ele. Sacerdotes e principais, fariseus e gentios, olhavam com surpresa e respeito para Aquele que Se achava diante deles com a majestade do Rei do Céu. A divindade irrompeu da humanidade, revestindo Cristo de uma dignidade e glória que jamais manifestara. Todos os sons cessaram. Parecia insuportável o profundo silêncio. Cristo falou com um poder que dominou o povo como uma forte tempestade: 'Está escrito: A Minha casa é casa de oração; mas vós fizestes dela covil de salteadores' (Lucas 19:46). Sua voz soou como trombeta através do templo. O desagrado de Sua fisionomia assemelhava-se a um fogo consumidor. Com autoridade, ordenou: 'Tirai daqui estes'" (DTN, p. 413).

Depois de limpar o terreno, cegos e coxos lhes são trazidos, e Ele os cura ali mesmo. De repente, o silêncio é quebrado por brados de hosana, que desta vez vinham dos lábios de crianças.

"As crianças superavam os demais no regozijo. Jesus lhes curara as moléstias; enlaçara-as nos braços, recebera-lhes os beijos de reconhecido afeto, e algumas delas haviam adormecido em Seu peito, ao ensinar Ele a multidão. Agora, com alegres vozes, os pequenos Lhe entoavam o louvor. Repetiam os hosanas da véspera, e triunfalmente agitavam palmas diante do Salvador. O som dessas felizes, irreprimidas vozes foi uma ofensa para os dirigentes do templo. Decidiram-se a fazer calar essas demonstrações. Disseram ao povo que a casa de Deus era profanada pelos pés das crianças e suas aclamações de júbilo. Verificando que suas palavras não causavam impressão no povo, voltaram-se os sacerdotes para Cristo: 'Ouves o que estes dizem? E Jesus lhes disse: Sim; nunca lestes: pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor?' (Mateus 21:16). Predissera a profecia que Cristo seria proclamado rei, e essa palavra se devia cumprir. Os sacerdotes e principais de Israel recusaram anunciar Sua glória, e Deus moveu as crianças para Lhe servirem de testemunhas. Silenciassem as vozes infantis, e os próprios pilares do templo entoariam o louvor do Salvador" (DTN, p. 414).

Repare nisso: Os hosanas bradados à entrada de Jerusalém não mereceram qualquer comentário de Jesus. Entretanto, Ele sai em defesa das crianças que O louvavam com a mesma expressão. Por quê? Porque estes eram legítimos, desprovidos de interesses. Os hosanas de quem O recepcionou à porta da cidade foram interrompidos, tão logo Jesus feriu seus interesses. Os mesmos lábios que O enalteciam, dias depois clamavam por sua crucificação. Quão volúveis somos nós, humanos. Num dia aplaudimos, noutro vaiamos. Quem hoje é unanimidade, amanhã é execrado.

Aqueles O louvavam por imaginarem que Jesus planejava um golpe político, e que, em posse do trono, romperia relações com Roma, reduziria a carga tributária, e restabeleceria a monarquia de Davi. Mas Jesus tinha em mente outro tipo de revolução. Só Ele teve a coragem de desafiar o status quo. Só Ele ousou enfrentar os que detinham o monopólio religioso.

Enquanto as crianças O louvavam, os adultos, indignados, já pensavam em como detê-Lo. Foi esta postura subversiva que Lhe custou a vida. Começava ali a contagem regressiva para que o Cristo subversivo fosse morto, não por defender uma ideologia, mas um ideal, o ideal do Reino de Deus.

É muito triste perceber que foram os líderes religiosos que iniciaram os planos para matar Jesus. Quando assim repreendidos pelo Salvador, “deviam ter corrigido os abusos no pátio do templo” (DTN, p. 116). Em vez de ouvirem a mensagem de Jesus, os líderes religiosos queriam se livrar do Mensageiro. “Os próprios sacerdotes que ministravam no templo haviam perdido de vista o significado do serviço que desempenhavam. Deixaram de olhar, para além do símbolo, àquilo que ele significava. Apresentando as ofertas sacrificiais, eram como atores em um palco. As ordenanças indicadas pelo próprio Deus tinham se tornado o meio de cegar a mente e endurecer o coração. Deus não poderia fazer nada mais pelo ser humano por intermédio desses agentes. Todo o sistema devia ser banido” (DTN, p. 36).

Que seja o hosana das crianças, dos representantes do futuro, aqueles para os quais é o reino dos céus, e não o hosana dos interesses inconfessáveis, do monopólio, da religiosidade insípida, do jogo político. É triste e revoltante ver tantos cristãos deixando seus cultos portando ramos nas mãos, sem com isso serem cúmplices de Deus na instauração do Seu reino. E que lições práticas podemos aprender com o ato de Jesus de purificar o templo? Considere a seguinte declaração: “Os pátios do templo de Jerusalém, cheios do tumulto de um comércio profano, representavam exatamente o templo do coração, contaminado por desejos impuros e pensamentos profanos. Purificando o templo dos compradores e vendedores do mundo, Jesus anunciou Sua missão de limpar o coração da contaminação do pecado – dos desejos terrenos, das ambições egoístas, dos maus hábitos que o corrompem” (DTN, p. 119).

Texto adaptado de Hermes C. Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário