“Dai a César o que é de César” significa que é lícito o pagamento de impostos cobrados pelos governos humanos. Contudo, jamais alguém pode direcionar aos governantes terrenos aquilo que é devido exclusivamente a Deus. Daí a continuação da declaração é: “e a Deus o que é de Deus”.
Na verdade o significado da declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, é melhor compreendido à luz de seu contexto. Foi Jesus quem disse essas palavras. Isso aconteceu quando Ele foi questionado por um grupo de pessoas se era lícito pagar ou não pagar impostos a César. Mas essa pergunta era, na realidade, uma armadilha contra o Senhor Jesus.
Conta-nos Ellen G. White: "Os sacerdotes e príncipes estavam decididos a armar-Lhe ciladas; e com esse desígnio, enviaram-Lhe espias, 'que se fingissem justos, para O apanharem nalguma palavra, e O entregarem à jurisdição e poder do presidente' (Lucas 20:20). Não mandaram os velhos fariseus a quem Jesus encontrara muitas vezes, mas jovens, que eram ardentes e zelosos, e os quais, pensavam, Cristo não conhecia. Estes foram acompanhados por certos herodianos, que deviam ouvir as palavras de Cristo, a fim de poderem testificar contra Ele em julgamento. Os fariseus e os herodianos haviam sido acérrimos inimigos, mas estavam agora unidos na inimizade para com Cristo" (O Desejado de Todas as Nações, p. 601).
Os fariseus queriam destruir Jesus. Mas eles não o atacavam pessoalmente porque temiam a reação do povo. Então eles procuravam a todo custo apanhar Jesus em suas próprias palavras. Ellen G. White esclarece: "Os fariseus sempre se tinham sentido irritados com a cobrança do tributo por parte dos romanos. Sustentavam que o pagamento do tributo era contrário à lei divina. Viram então ensejo de armar uma cilada a Jesus".
Os fariseus foram ter com Jesus e, com aparente sinceridade, como desejando conhecer seu dever, disseram: "Mestre, nós sabemos que falas e ensinas bem e retamente, e que não consideras a aparência da pessoa, mas ensinas com verdade o caminho de Deus. É-nos lícito dar tributo a César ou não?" (Lucas 20:21 e 22).
Jesus rapidamente percebeu a intenção perversa daqueles homens que queriam prová-lo e denunciou sua hipocrisia. Então ele pediu que lhe mostrassem a moeda do imposto. A moeda era o denário romano – uma moeda de prata equivalente à dracma grega. O denário era muito comum naquela época; era a moeda usada como referência para o salário padrão por um dia trabalhado.
A moeda do denário trazia a imagem do imperador cunhada nela junto de uma inscrição que lhe atribuía um título divino. Um denário do tempo do imperador Tibério, por exemplo, tinha de um lado a imagem de sua cabeça. Acompanhando essa imagem, havia a seguinte legenda: “Tibério César Augusto Filho do Divino Augusto”. Do outro lado da moeda, havia a figura do próprio imperador vestido com vestes sacerdotais, coroado e assentado num trono; bem como uma inscrição que dizia: “Sumo Sacerdote”.
Naquele momento de grande tensão, Jesus disse: “De quem é esta efígie e esta inscrição? Disseram-lhe eles: De César. Então, ele lhes disse: Portanto, dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:20,21).
Ellen G. White continua: "Os espias haviam esperado que Jesus respondesse diretamente à pergunta, de uma ou de outra maneira. Se Ele dissesse: Não é lícito dar tributo a César, seria levado às autoridades romanas, e preso por incitar rebelião. No caso de declarar lícito pagar o tributo, porém, intentavam acusá-Lo perante o povo como contrário à lei divina. Sentiram-se então confusos e derrotados. Frustraram-se-lhes os planos. A maneira sumária por que fora assentada a questão por eles proposta, deixou-os sem ter que dizer" (Idem, p. 602).
A resposta de Cristo não foi uma evasiva, mas uma réplica sincera. Segurando a moeda romana sobre que se achavam inscritos o nome e a imagem de César, declarou que, uma vez que estavam vivendo sob a proteção do poder romano, deviam prestar àquele poder o apoio que lhes exigia, enquanto isso não estivesse em oposição a um mais elevado dever. Mas, conquanto pacificamente sujeitos às leis da Terra, deviam em todos os tempos manter primeiramente lealdade para com Deus.
Ellen G. White complementa: "As palavras do Salvador 'Dai a Deus o que é de Deus' foram uma severa repreensão aos intrigantes judeus. Houvessem cumprido fielmente suas obrigações para com Deus, e não teriam chegado a ser uma nação falida, subjugada a uma potência estrangeira. Nenhuma insígnia romana haveria tremulado sobre Jerusalém, nenhuma sentinela romana lhe jazeria às portas, nem romano governo teria reinado dentro de seus muros. A nação judaica estava então pagando a pena de sua apostasia de Deus".
Ao ouvirem os fariseus a resposta de Cristo, "maravilharam-se e, deixando-O, se retiraram" (Mateus 22:22). Ele lhes censurara a hipocrisia e presunção e, assim fazendo, expressara um grande princípio, princípio que define claramente os limites do dever do homem para com o governo civil, e seu dever para com Deus. Em última análise, a declaração: “Daí a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, se harmoniza perfeitamente ao ensino bíblico sobre o papel do governo civil e o dever de seus cidadãos.
A Bíblia diz que os governos são legítimos e exercem uma autoridade conferida pelo próprio Deus. Nesse sentido, eles servem como instrumentos na mão de Deus para regular a sociedade humana (Romanos 13:1-7). Contudo, Deus permanece soberano sobre todos (Daniel 4:34, 35). Então os governos devem ser respeitados e obedecidos; desde que suas leis não entrem em conflito com a vontade do Senhor. Em ocasiões em que isso ocorre, o conselho bíblico é muito claro. Em Atos 5:29, lemos: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens”. Portanto, daí a César o que é de César; mas jamais daí a César o que é de Deus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário