quinta-feira, 29 de agosto de 2024

HAVERÁ CASAMENTO NO CÉU?

Haverá casamento no Céu? Frequentemente ouço essa pergunta feita por solteiros e, às vezes, por alguém casado. Os solteiros querem saber, porque se não houver casamento no Céu, querem se casar e ter filhos aqui. Não tenho certeza porque os que já são casados fazem essa pergunta, mas na maioria dos casos parece que gostariam de continuar seu relacionamento no Céu. (Porém, em alguns casos, não veem a hora de se libertar do relacionamento!) A resposta, muito clara na Bíblia, parece criar um problema teológico.

1. A Resposta de Jesus: Os saduceus fizeram essa pergunta a Jesus esperando refutar a doutrina da ressurreição. Eles apresentaram um caso hipotético baseado na lei bíblica do levirato – onde o irmão de um homem que morreu sem ter filhos, devia se casar com a viúva para ter filhos e preservar a genealogia do irmão morto (veja Deuteronômio 25:5-6). Os saduceus falaram de sete irmãos que, em cumprimento da lei, tiveram que se casar com a mesma mulher porque nenhum deles teve filhos com ela. E perguntaram a Jesus: “Na ressurreição, de quem ela será esposa, visto que os sete foram casados com ela?” (Marcos 12:23). Essa foi uma tentativa de lançar dúvida sobre a doutrina da ressurreição. Jesus os chamou de ignorantes: eles não conheciam o que as Escrituras ensinavam sobre a ressurreição, muito menos o poder de Deus que é capaz de trazer o morto de volta à vida. Então, Ele abordou a premissa implícita na questão. Os saduceus pensavam que a vida após a ressurreição seria uma continuação da vida como a conhecemos agora. Jesus os surpreendeu destacando um elemento importante de descontinuidade: “Quando os mortos ressuscitam, não se casam nem são dados em casamento, mas são como os anjos nos céus” (Marcos 12:25). Segundo Lucas, Jesus esclareceu o pensamento dizendo que “Não se casarão nem serão dados em casamento… pois são como os anjos. São filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:35-36). Na ressurreição as pessoas não se casarão, porque na ausência da morte não há necessidade de perpetuar a raça humana por meio da reprodução. Nesse sentido, os seres humanos serão como os anjos, que não se casam porque não morrem.

Ellen G. White diz: "Homens há hoje que expressam a crença de que haverá casamentos e nascimentos na Nova Terra; os que creem nas Escrituras, porém, não podem admitir tais doutrinas. A doutrina de que nascerão filhos na Nova Terra não constitui parte da “firme palavra da profecia” (2Pe 1:19). As palavras de Cristo são demasiado claras para serem mal compreendidas. Elas esclarecem de uma vez por todas a questão dos casamentos e nascimentos na Nova Terra. Nenhum dos que forem despertados da morte, nem dos que forem trasladados sem ver a morte, casará ou será dado em casamento. Eles serão como os anjos de Deus, membros da família real" (Medicina e Salvação, 99-100).

2. Implicações Teológicas: A resposta de Jesus cria um dilema teológico na mente de alguns: Se o casamento, como o sábado, foi instituído antes da entrada do pecado, por que seria incompatível com a vida na nova Terra? Isso não sugere que o pecado arruinou uma instituição divina de forma irreparável e que o plano divino para a humanidade foi arruinado pelo mal? Essas perguntas são importantes e merecem ser comentadas, mesmo que não possamos dar todas as respostas. Para abordar a questão teológica levantada aqui tenho que assumir que Deus, originalmente, não havia planejado que o casamento fosse uma instituição social permanente ou eterna. Essa ideia parece ser sugerida no Gênesis. O casamento tinha duas funções claras e intimamente relacionadas: procriação e companheirismo. A procriação tinha um objetivo muito específico – “Sejam férteis e multipliquem-se! Encham e subjuguem a terra!” (Gênesis 1:28) – inferindo que na ausência da morte, uma vez que o objetivo fosse alcançado, não haveria mais procriação. Essa ideia foi confirmada por Jesus em Sua resposta aos saduceus. 

Como uma expressão de companheirismo o casamento foi na ausência do pecado transcendido por uma profunda comunhão e união com Deus. Provavelmente a intenção nunca tenha sido de que o círculo do companheirismo fosse o casamento, mas o relacionamento com a família cósmica de Deus. É para essa experiência profunda – e no presente, misteriosa – que Jesus Se referiu quando disse que os ressurretos “são filhos de Deus, visto que são filhos da ressurreição” (Lucas 20:36). Essa é a referência da vida familiar que é infinitamente mais profunda do que o casamento, enriquecendo-nos de tal maneira que não podemos nem sequer começar a imaginar. Nossos entes queridos alcançarão a dimensão cósmica na pureza do amor altruísta.

Há uma outra declaração de Ellen G. White que contribui para esclarecer a origem das crenças referentes a casamento na nova terra. Em carta endereçada a determinado irmão, ela afirmou: "O inimigo ganha muito quando consegue levar a imaginação de um dos escolhidos servos de Jeová a demorar o pensamento nas possibilidades de associação, no mundo por vir, com uma mulher a quem ama, e ali criar família. Não precisamos desses quadros aprazíveis. Todos esses pontos de vista se originam da mente do tentador. Foi-me apresentado o fato de que as fábulas espirituais estão levando cativos a muitos" (Carta 231, 1903).

Após Sua segunda vinda, Cristo levará os justos vivos transformados e os justos ressuscitados para estarem com Ele, inicialmente por mil anos no céu e, depois, pelos anos da eternidade nesta terra que será renovada. Os salvos não casarão nem se darão em casamento porque vivenciarão uma nova qualidade de existência. Eles fruirão eternamente a presença de Deus e Seus anjos.

Alguns não conseguem compreender por que na nova ordem da vida pós-ressurreição não haverá casamento e procriação. Argumentam que aquilo que era bom e não tinha relação com o pecado deveria continuar na eternidade. Pareceria uma injustiça privar os salvos da intimidade do relacionamento conjugal. Neste aspecto, trata-se de uma subestimação pueril do caráter e poder de Deus. É bom lembrar as palavras do apóstolo Paulo: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1Co 2:9). É preciso confiar, Deus tem algo infinitamente melhor entesourado para os Seus filhos redimidos do que casamento. Certamente os relacionamentos na vida por vir serão mais íntimos e a comunicação mais profundado que no casamento.

[Texto adaptado da revista Adventist World]

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