quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

PRESÉPIO

O primeiro presépio do mundo teria sido montado em argila em 1223 por ninguém menos que Francisco de Assis. Naquele ano, em vez de celebrar a noite de Natal na igreja, como de hábito, Francisco resolveu celebrá-la na floresta, para onde mandou transportar uma manjedoura, um boi e um burro. Seu objetivo era explicar o Natal às pessoas comuns, camponeses iletrados que não tinham acesso aos textos bíblicos que narravam o nascimento de Jesus. O costume acabou se espalhando por entre as principais Catedrais, Igrejas e Mosteiros da Europa durante a Idade Média, começando a ser montado também nas casas de Reis e Nobres a partir do Renascimento. Somente no Século XVIII que o costume de montar o presépio se disseminou pelas casas comuns por toda Europa e, posteriormente pelo mundo.

O presépio está em casas e ruas, igrejas e praças. Nesta época do ano, adquire uma presença que remete à data, ainda que pouco tempo se dedique à reflexão do seu significado, com pessoas atarefadas pelas demandas de consumos e deveres típicos desta celebração. E ainda que não se pense a respeito, o fato é que, se há festejos natalinos, haverá presépios, o lugar da natividade.

É uma expressão cristã do nascimento de Jesus. Por conta do recenseamento na Galiléia, conta Lucas 2, José e Maria vão a Belém, e lá Jesus nasceu. Após o nascimento, Jesus foi envolvido em panos e deitado em uma manjedoura, lugar destinado a alimentação de animais, agora improvisado como um berço. Ellen White diz que "as hospedarias estavam todas lotadas. Os ricos e orgulhosos estavam bem hospedados, enquanto aqueles humildes viajantes tiveram que encontrar descanso em uma rude estrebaria" (Vida de Jesus, p. 13). Além dos pais do menino, havia animais e pastores, guiados por um anjo, que foram até aquela modesta instalação para ver o milagre do advento, que haveria de trazer esperança à humanidade.

O presépio comunica esta história. E ainda que a história não confirme o Natal como a data real do acontecimento, os presépios estão por aí como lembrança de uma promessa que encarnou em um menino nascido em um lugar de tanta simplicidade e amor. “Um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado Maravilhoso, Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Isaías 9:6). Reis vindos do Oriente, guiados por uma estrela, levaram ouro, incenso e mirra a este menino tão imponente nas palavras do profeta.

Que presente eu teria levado ao presépio, pensei certa vez, o que teria colocado ao lado da manjedoura se lá eu estivesse? Penso em muitas opções, maneiras de materializar o sentimento pessoal diante de um acontecimento tão importante, evidenciado no texto sagrado. Até que um dia li um artigo que me comoveu, lembrando que o menino na manjedoura é o mesmo que disse certa vez: “O que vocês fizeram a um dos meus menores irmãos, a mim o fizeram” (Mateus 25:40).

Os irmãos e irmãs menores daquele menino estão entre nós, à espera de súplicas atendidas, desejos mais urgentes do que a fantasia infantil alimentada pelo comércio nesta época do ano. Estão à espera do bem que faríamos ao menino da manjedoura. São meninos e meninas desafiados por uma sociedade do cansaço, que parece naturalizar a ansiedade e a depressão. E com vida tão curta, muitos desses irmãos e irmãs menores de Jesus perdem o sentido da vida aos 7 anos de idade. São aqueles que, ainda tão cedo na vida, sofrem violência, abandono, fome e pobreza extrema, refugiados em tempos de guerra, castigados por estruturas que insistem em tratá-los com tanta crueldade.

O bem que é feito a estas pequenas criaturas, a mim é feito, foi o que disse o menino da manjedoura. O Natal é tempo de reflexão para a Igreja. De avaliar o que está sendo feito e de ampliar as possibilidades do que pode ser feito. O presépio, então, será lembrança de cuidado. Que transformará vidas logo cedo, e permitirá que uma geração cresça com entendimento claro da compaixão e amor que resultam da inspiração daquele menino da manjedoura.

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