sexta-feira, 16 de maio de 2025

REBORN

As lágrimas de saudade são reais, mas os bebês não. Em milhares de lares ao redor do mundo, um novo fenômeno tem embalado colos, acalmado ansiedades e amenizado lutos: os bebês reborn. Parecem vivos. Alguns até respiram mecanicamente. Com cabelos implantados fio a fio, peso realista, cheiro de talco. Tudo isso por cifras que ultrapassam R$ 9.000 em um mercado movimentando mais de US$ 24 milhões por ano, segundo levantamento da BBC.

Mas a pergunta que ecoa feito choro noturno é: até onde vai o consolo e onde começa a ilusão?

O uso terapêutico é real e, em muitos casos, legítimo. Há mães que perderam filhos, mulheres em tratamento psiquiátrico, e pessoas com demência que se acalmam ao segurar um reborn. A ciência pondera: estudos da Duke University apontam que, quando bem orientado, o contato com bonecos realistas pode diminuir picos de ansiedade e quadros de depressão. Contudo, sem acompanhamento, a linha tênue entre afeto e fuga pode romper. Há relatos de mulheres que cancelam compromissos sociais para “não deixar o bebê sozinho”, pais que reformam quartos inteiros com berços e babás eletrônicas, além de casos em que o boneco substitui as interações humanas, inclusive com filhos reais.

Ellen White alerta: “Tudo quanto ocupa o lugar de Deus em nosso coração se torna um ídolo” (Mente, Caráter e Personalidade 1, p. 31). E se uma boneca substitui a convivência, a oração, o perdão ou a cicatrização do luto, então o colo deixou de ser ninho e virou prisão. Ou até cativeiro.

O problema não está no silicone, no vinil e fibra sintética. Está no vazio que tentamos silenciar com abraços de plástico. Em Ezequiel 14:3, o Senhor acusa Israel de levantar “ídolos no coração”. E mesmo que esses ídolos tenham rosto de anjo, olhos vítreos e roupinhas lavadas com amor, ainda podem ser ídolos.

A carência não é pecado. Entenda bem! Mas quando ela se torna culto, é hora de entregar no altar. O extremismo é sempre ameaçador. E a projeção descontrolada da realidade periga esvaziar o que deveria preencher. Que a nossa maior maternidade seja espiritual, que nossa maior ternura venha do Espírito, e que o único reborn que realmente nos defina seja o novo nascimento em Cristo.

Odailson Fonseca (via instagram)

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