sexta-feira, 28 de novembro de 2025

AMANHÃ

As palavras de Jesus têm uma força incomum. O pouco que Ele escreveu na areia, o vento apagou, mas o que disse está gravado na mente e no coração de seus seguidores até hoje. No entanto, há algumas frases suas que soam de maneira estranha. Não têm fácil explicação. Uma delas me chama a atenção.

Jesus ressuscitara ao nascer do dia. E uma pessoa especial se encontrava chorando, sozinha, na entrada do túmulo vazio. Seu nome: Maria Madalena. Ela não estava ali por acaso. Tinha bons motivos para chorar a perda de Jesus. Não era sem explicação sua coragem de estar ao pé da cruz nas horas finais de seu mestre, enquanto os outros discípulos se escondiam pelos cantos da noite. Sua vida fora marcada pelas palavras de Jesus. Deve haver algo incrível por trás da experiência de alguém que é liberto de "sete demônios" pela própria palavra de Cristo. De qualquer maneira, a vida de Maria estava intimamente ligada à vida dAquele que morrera.

De repente, Jesus quebra o roteiro triste da história e aparece vivo. Maria é a primeira a vê-Lo ressurreto e eu imagino o porquê.

Seguindo o impulso natural, Maria corre para abraçá-Lo, mas algo estranho acontece. Jesus simplesmente se afasta, dizendo: "Mulher, não me segure!" (João 20:17). Em outras palavras, "Mulher, me solte!" Como entender tais palavras vindas da boca de quem só tinha palavras de convite e aceitação? Como entender Jesus aqui? As palavras seguintes dão nova luz a Maria e podem dar a nós também: "Vá... e conte aos outros o que ainda irá acontecer".

Na caminhada espiritual, corremos o grande perigo de nos apegar ao que já passou, ao que Deus já fez por nós no passado e até ao que nós já fizemos por Ele ontem. Mas as palavras "estranhas" de Jesus acendem uma luz, mostram uma nova direção. O mais importante não é o que Deus já fez por nós, mas o que Ele ainda promete fazer. Quem vive agarrado ao que foi ontem, não tem espaço nas mãos para receber o amanhã. Não devemos deixar que as grandes coisas que Deus fez ontem em nossa vida nos ceguem para as que Ele promete fazer amanhã.

Ouvi tempos atrás, a história de um menino que tinha um pai muito ocupado. Os melhores momentos de sua infância ele vivera sem a presença do pai. Tudo o que ele mais queria era ter o pai perto, estar com ele, mas isso quase nunca era possível. Um belo dia - um dia desses em que a gente sente que alguma coisa precisa mudar - o pai resolveu adiar todos os compromissos e passar um dia com o filho, só com ele. Seria um acampamento. Ele disse: "Filho, prepare-se, pois amanhã nós vamos passar o dia juntos. Só você e eu. Nós vamos viajar e vai ser muito legal!". Essas eram palavras mágicas para um garoto pequeno. Já era noite. Assim, ele correu para o quarto, escovou os dentes, pulou na cama, puxou a coberta e fechou os olhos com toda a força que podia. Mal podia esperar chegar o amanhã. Acontece que ele não conseguia pegar no sono. Sua imaginação passeava, seu hoje era como que invadido pelo amanhã e isso não o deixava dormir.

No meio da noite, o garoto vai até o quarto do pai e bate à porta. O pai fica assustado ao ver o menino acordado àquela hora. "O que aconteceu, filho?", pergunta. Ao que o menino responde: "É que eu não consigo dormir." O pai continua: "Filho, você precisa dormir. Lembra? Amanhã é o nosso dia. Vai ser um dia cheio. Você precisa descansar!" O menino junta toda a alegria que o impedia de dormir e diz: "Pai, é sobre isso que eu quero falar. Pai, obrigado pelo amanhã!"

Com Jesus, o melhor ainda está por vir. Se no passado Ele nos ofereceu perdão e salvação através de sua morte, no amanhã Ele nos promete o abraço da eternidade, quando de sua segunda vinda. Às vezes eu me sinto como um garoto pequeno num quarto escuro, esperando a noite dessa vida passar. Não sei se você já sentiu assim.

A promessa mais bonita da Bíblia está escondida nas palavras de Jesus. Logo logo a luz do sol de Sua vinda vai brilhar, acabando com as trevas do pecado nesse mundo. Que seu coração marque ansioso cada momento da espera.

Eu mal posso esperar esse dia amanhecer.

"Nós estamos ainda em meio às sombras e tumultos das atividades terrenas. Consideremos com todo o empenho o bendito porvir. Atravesse a nossa fé toda nuvem de escuridão, e contemplemos Aquele que morreu pelos pecados do mundo. Sejamos animados pelo pensamento de que o Senhor logo virá. Alegre-nos o coração esta esperança. 'Porque, ainda dentro de pouco tempo, Aquele que vem virá e não tardará' (Hebreus 10:37)” (Ellen G. White - Testemunhos Para a Igreja, v. 9, p. 287).

terça-feira, 25 de novembro de 2025

ESCATOLOGIA DESFOCADA

Vivemos em um mundo obcecado pelo fim. De filmes apocalípticos a relatórios científicos, a ideia do colapso final da civilização ocupa cada vez mais espaço na cultura contemporânea. No entanto, nem todas as formas de pensar o fim do mundo são iguais. A maneira como concebemos o futuro revela muito sobre como entendemos o presente – e é por isso que a escatologia, a doutrina bíblica sobre os últimos acontecimentos, não é um assunto secundário. Em especial, é vital distinguir entre uma escatologia centrada na Bíblia e outra que perdeu o rumo, seja por um excesso de confiança na ciência, por uma leitura alarmista do presente ou por interpretações equivocadas do texto profético.

Por um lado, encontramos o que poderíamos chamar de escatologia secular. Ela não se baseia na Bíblia, mas em uma visão de mundo que antecipa um colapso por causas naturais ou humanas: mudanças climáticas, uma pandemia global, uma catástrofe nuclear ou o impacto de um asteroide. Até mesmo agências governamentais como a Nasa têm destinado milhões de dólares a projetos voltados para prevenir ou minimizar esse tipo de ameaça, como sistemas para desviar objetos próximos à Terra ou a exploração planetária. Nesse tipo de perspectiva, a esperança está depositada no desenvolvimento científico e tecnológico supostamente capaz de garantir a sobrevivência humana.

No outro extremo, encontramos dentro do cristianismo o que chamarei de escatologia desfocada. Esse enfoque, embora invoque a Bíblia, deslocou seu centro de gravidade. Já não interpreta a história a partir da Palavra de Deus, mas interpreta as Escrituras a partir de notícias, teorias conspiratórias, especulações científicas ou informações de procedência duvidosa. Trata-se de uma abordagem que perdeu de vista o princípio sola Scriptura, subordinando a mensagem profética a uma série de interesses ou agendas que nada têm que ver com o propósito pelo qual Deus revelou o futuro.

A escatologia desfocada costuma apresentar-se com aparente zelo doutrinário, mas, na prática, caracteriza-se por retirar textos do seu contexto e por conectar versículos como peças de um quebra-cabeça, sem respeitar seu enquadramento literário, histórico ou teológico. Essa abordagem frequentemente sugere que, para compreender verdadeiramente a profecia bíblica, é preciso tornar-se especialista em sociedades secretas, astronomia, política internacional, ciências ocultas ou história medieval. Seu fundamento não é o estudo sério da Palavra, mas a acumulação de dados externos usados para interpretar a Escritura, em vez de permitir que a Escritura interprete os acontecimentos do mundo.

Os que abraçam esse tipo de pensamento muitas vezes desenvolvem uma fascinação doentia por descobrir indícios de conspirações mundiais, enxergando conexões ocultas por trás de cada notícia ou evento global – ou até mesmo dentro da própria igreja. Com o tempo, muitas dessas interpretações acabam gerando uma atitude crítica, desconfiada e desdenhosa em relação à organização da igreja, a qual acusam de cumplicidade e cegueira espiritual. Esse tipo de pensamento, longe de edificar, corrói a comunhão, enfraquece o testemunho coletivo e pode acabar isolando o crente em um caminho espiritual construído mais sobre o medo e a suspeita do que sobre a verdade revelada. Quando a interpretação profética se afasta da Palavra e da comunidade de fé, o resultado não é maior fidelidade, mas um perigoso desvio.

Um dos sinais mais claros de uma escatologia desfocada é a obsessão em “ler os jornais” como se fossem o comentário autorizado de Apocalipse ou Daniel. Esse enfoque inverte a ordem correta: a Bíblia não deve ser interpretada à luz das notícias, mas é a Palavra de Deus que nos dá discernimento para compreender o tempo em que vivemos. Outra manifestação desse desalinhamento é a ideia de que o estudo das profecias exige reconstruir o cumprimento de cada símbolo ou detalhe do passado ou do presente, como se o valor da profecia residisse unicamente em sua capacidade de coincidir com eventos documentados. Isso não apenas esgota o texto bíblico, como também exclui o seu poder transformador.

Corrigindo o foco
Diante dessas distorções, precisamos promover uma escatologia que se caracterize por ser bíblica, cristocêntrica e edificante; que reconheça, antes de tudo, que Cristo é o centro de toda profecia. Como declara Apocalipse 19:10, “o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”. As profecias não foram dadas para revelar segredos do Universo nem para alimentar a ansiedade com previsões detalhadas, mas para nos levar a conhecer melhor a Cristo, confiar em Sua vitória final e viver sob Seu senhorio. Quando a escatologia deixa de nos falar de Cristo, ela perde o rumo.

Além disso, uma escatologia focada afirma que a Escritura é a fonte segura e suficiente. Como escreveu o apóstolo Pedro: “Assim, temos ainda mais segura a palavra profética, e vocês fazem bem em dar atenção a ela, como a uma luz que brilha em lugar escuro” (2Pe 1:19). Não devemos recorrer ao ocultismo, a vazamentos digitais ou a conferências geopolíticas para encontrar luz sobre o futuro. Deus já revelou em Sua Palavra tudo o que é necessário para confiar, viver e esperar. A escatologia bíblica não se fundamenta em suposições externas, mas no testemunho fiel das Escrituras, interpretadas com reverência, estudo sério e dependência do Espírito Santo.

Uma escatologia focada também compreende que o objetivo da profecia não é satisfazer a curiosidade sobre o futuro, mas preparar o coração para a vinda do Senhor. Jesus foi claro em Seu aviso: “Tenham cuidado para não acontecer que o coração de vocês fique sobrecarregado […], e para que aquele dia não venha sobre vocês repentinamente” (Lc 21:34). O propósito dos sinais do fim não é nos levar a elaborar cronogramas detalhados, mas a vigiar em oração e viver em santidade. A profecia é um chamado constante à fidelidade, não à especulação.

Por fim, uma escatologia centrada na Bíblia afirma que a esperança do retorno de Cristo exerce um poder transformador no presente. O apóstolo João expressou essa convicção dizendo: “E todo o que tem essa esperança Nele purifica a si mesmo, assim como Ele é puro” (1Jo 3:3). A escatologia não nos fala apenas do fim, mas também de como viver até esse dia. Ela nos chama a viver com propósito, paciência, responsabilidade e alegria. Em vez de nos paralisar pelo medo, ela nos mobiliza pela esperança.

A verdadeira profecia não deve ser vista como um espetáculo nem como uma arma. Sua função é fortalecer a fé do povo de Deus, como disse Jesus: “Isso Eu falei agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vocês creiam” (Jo 14:29). Retornar a uma escatologia focada é, em última análise, voltar a Cristo, voltar à Palavra e viver como aqueles que esperam não um desastre inevitável, mas uma gloriosa redenção.

Temos o privilégio e a responsabilidade de ensinar, pregar e guiar o povo de Deus. Também nos é confiada a tarefa de cuidar do enfoque escatológico com o qual comunicamos a esperança cristã. Em tempos marcados pela ansiedade global e pelo sensacionalismo religioso, é vital que nosso ministério promova uma escatologia centrada na Palavra, enraizada em Cristo e orientada para a fidelidade. Não somos chamados a alimentar temores nem a levantar teorias de base duvidosa, mas a anunciar com clareza e convicção a segura esperança da vinda do Senhor. Que em nossas igrejas, salas de aula e púlpitos se ouça uma escatologia que console, exorte e edifique, para que o povo de Deus caminhe com confiança rumo ao dia glorioso do encontro com seu Salvador.

Karl Boskamp (via Ministério)

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

DINOSSAUROS

Neste fim de semana resolvi conferir a obra mais recente sobre dinossauros pela Netflix. O filme "65: Ameaça Pré-Histórica" segue o piloto Mills (Adam Driver), que sofre um acidente e cai em uma Terra 65 milhões de anos atrás, na suposta era dos dinossauros. Ele descobre que não está sozinho, pois a única outra sobrevivente é Koa (Ariana Greenblatt), uma jovem que não fala sua língua. Juntos, eles precisam lutar contra criaturas pré-históricas para atravessar o terreno perigoso e chegar a uma cápsula de escape.

Como criacionista, me veio à mente algumas perguntas enquanto assistia o filme: Como podemos encaixar os dinossauros no relato bíblico da criação? Será que a Bíblia e os escritos de Ellen G. White oferecem alguma base para a crença na existência desses estranhos animais?

Etimologia
O termo "Dinosauria" foi proposto em 1842 por Richard Owen para classificar os grandes esqueletos de animais extintos, que haviam sido recém-descobertos no Reino Unido. A palavra, em latim, deriva do grego δεινός σαῦρος, que significa "lagarto terrível", apesar de esses animais serem ornitodiros, e, portanto, taxonomicamente distantes dos lagartos.

Esses animais, assim como todos os demais seres vivos, existentes ou extintos, foram batizados de acordo com a nomenclatura binomial, promulgada por Carlos Lineu no século XVIII, que estabelecia que todos os animais deviam ser nomeados usando termos das línguas grega ou latina, como foi o caso do primeiro gênero de dinossauro não aviário catalogado, o megalossauro (que vem do grego μεγάλο σαύρος), cujo nome significa "lagarto grande". No entanto, no decorrer dos anos, muitos dinossauros foram classificados com termos vindos de outros idiomas, como o Dilong, que vem da língua chinesa, significando "dragão imperador", e também o Mapusaurus, que vem da língua indígena mapuche, significando lagarto da terra.

No museu e na TV
Se você já visitou um museu de história natural, provavelmente viu grandes esqueletos de dinossauros. Também pode ter visto reproduções animadas em que, no caso de documentários, filmes e séries da televisão, eles parecem vivos e reais. Ao assistir a tais animações, o espectador deve considerar alguns detalhes. Primeiramente, devemos aceitar que os dinossauros existiram por um período de tempo na Terra e que, em certos lugares, eles pareciam numerosos. Paleontólogos têm encontrado evidências de sua existência em todos os continentes, incluindo Antártica. Essas evidências incluem ossos, ovos, tocas e pegadas. Rastros e pegadas são abundantes e não podem ser associados a nenhuma outra criatura fora do que conhecemos como dinossauros.

Em segundo lugar, devemos saber que os esqueletos encontrados em museus não são tipicamente reais, mas réplicas. Os ossos originais são muito valiosos e delicados para ser expostos ao público; portanto, são armazenados em lugares mais seguros. Além disso, os esqueletos dos museus são ajuntamentos de réplicas de ossos de várias espécies oriundas de lugares distantes. Os paleontólogos são capazes de compor a arquitetura do corpo dos dinossauros, embora não possam ter todos os elementos da mesma criatura. Assim, as réplicas encontradas nos museus são razoavelmente confiáveis. Entretanto, animações vistas na TV são mais especulativas, especialmente no que tange à cor, fisiologia, comportamento e assim por diante.

Desaparecimento
Na coluna geológica, vestígios de dinossauros aparecem em camadas de rochas que os paleontólogos chamam de Triássico, Jurássico e Cretáceo. Essas camadas sedimentadas, amontoadas uma sobre a outra, mostram características específicas, incluindo as de certas espécies fósseis como moluscos, répteis, peixes, dinossauros e organismos microscópicos (diatomácea, algas) que habitaram os oceanos. Alguns paleontólogos creem que os dinossauros, bem como outros grupos de animais e plantas, desapareceram subitamente em consequência do impacto de um meteorito gigante 65 milhões de anos atrás. Outros duvidam disso, por várias razões.

Muitos cientistas criacionistas acreditam que os dinossauros desapareceram junto com outras espécies, durante o dilúvio universal descrito em Gênesis. Esse cenário poderia incluir atividade de um meteorito resultando em tsunamis, atividade vulcânica e emissão de dióxido de carbono, sulfeto e outros elementos químicos prejudiciais a plantas e animais. Portanto, a ideia de um meteorito impactando a Terra não é necessariamente incompatível com o modelo bíblico do dilúvio.

Apesar da falta de consenso entre os cientistas sobre a causa do desaparecimento dos dinossauros, a mídia e a imprensa pseudocientífica decidiram que a teoria do impacto do meteoro é a única explicação válida. Isso está longe da realidade. Os dinossauros desapareceram, mas não sabemos exatamente quando nem por quê. Entretanto, a possibilidade de sua extinção durante o dilúvio do Gênesis (com ou sem impacto) pode ser vista como hipótese científica plausível e merece consideração.

Convivência com humanos
Muito tem sido escrito e falado sobre certas evidências que supostamente mostram dinossauros e seres humanos juntos. Elas incluem o que é interpretado como pegadas de humanos e dinossauros, quadros pré-históricos em cavernas e cerâmicas, em que figuras humanas aparecem junto a criaturas excepcionais muito semelhantes às atuais reconstruções desses répteis gigantes. Mas, estudos científicos têm mostrado que esses traços têm sido mal interpretados.

Analisemos, por exemplo, os alegados sinais de “humanos” e dinossauros encontrados no leito do Rio Paluxy no Texas. Poucas décadas atrás, cientistas proclamaram que essa era uma segura evidência contra a teoria da evolução e prova da ocorrência de um dilúvio universal. Intrigados por essa afirmação, vários cientistas evolucionistas e criacionistas estudaram detalhadamente as marcas encontradas nas rochas. Nesse lugar específico, o leito e a margem têm muitas marcas por causa de erosão. Através das marcas deixadas sobre a rocha, causadas pela circulação da água, podemos distinguir se o traço do dinossauro é verdadeiro ou falso.

Há também estudos feitos em laboratório. Se uma marca é autêntica, deve mostrar as camadas achatadas de sedimento rochoso sob ela, por causa do peso do animal. Para testar essa deformação característica, cientistas cortaram transversalmente a marca e não observaram presença dela. Concluíram que o molde não se tratava de real pegada humana, mas resultava de erosão pela natureza ou forjada pelo homem. Estudos posteriores mostraram que tais “marcas” e desenhos foram deliberadamente colocados por fanáticos defensores da coexistência de humanos e dinossauros, acarretando, assim, zombaria e rejeição no mundo acadêmico.

Na Bíblia
A Bíblia é clara em afirmar que Deus é o originador da vida. Ou seja, todos os seres vivos do Universo, incluindo os que vivem no planeta Terra, são obra do Criador. Paulo, em seu discurso aos sábios de Atenas, afirmou que “Deus fez o mundo e tudo o que nele existe” (Atos 17:24).

O relato da criação em Gênesis 1 fala de um Deus que criou vida marinha bem como pássaros no quinto dia; e o restante dos animais, no sexto dia. Embora os répteis sejam citados, os dinossauros não são mencionados, o que não deve nos surpreender; afinal, nos dias de Moisés, a palavra “dinossauro” não existia, nem ele estava obrigado a mencioná-los. Ele também não mencionou outros grupos de animais como, por exemplo, besouros, tubarões, estrelas-do-mar.

O fato de a Bíblia não citar os dinossauros pelo nome não prova que Deus não os tivesse criado; muito menos a estranha aparência deles. Hoje existem muitos animais tão estranhos como os dinossauros – observe o ornitorrinco e o canguru – que não atraem muito a atenção. Algumas pessoas creem que os dinossauros surgiram como resultado da maldição depois do pecado de Adão e Eva, mas a Bíblia não emite luz sobre isso, nem identifica explicitamente os animais que mudaram como resultado do pecado nem qual foi o tipo de mudança.

Muitos cientistas criacionistas acreditam que os dinossauros desapareceram durante ou logo após o dilúvio. Mas, a Bíblia também não nos dá indícios sobre o destino deles. Por causa desse silêncio bíblico, o fato de que os dinossauros desapareceram durante uma catástrofe mundial conhecida como dilúvio é uma hipótese que deve ser considerada através de pesquisa científica. A comprovação de tal hipótese deve ser feita através de dados geológicos e paleontológicos, não por forçar a Bíblia a dizer o que ela não diz.

Finalmente, há quem pense que os dinossauros sobreviveram ao dilúvio, mas logo desapareceram por não se terem adaptado ao novo ambiente. Essa é outra possibilidade, pois havia dinossauros na arca e, talvez, tenham desaparecido durante a colonização pós-diluviana. A Bíblia menciona duas estranhas criaturas: beemote (Jó 40:15-18) e leviatã (Jó 41:1), que alguns interpretam como possíveis exemplos dos dinossauros pós-diluvianos. Entretanto, a maioria dos eruditos não aceita essa explicação, e esses termos são geralmente traduzidos respectivamente como hipopótamo e crocodilo. Não estão relacionados aos dinossauros.

Ellen White
O termo dinossauro foi usado pela primeira vez em 1842, para nomear um grupo de fósseis répteis então descobertos. O uso do termo se expandiu enquanto novas descobertas aconteciam na Europa e América do Norte. No tempo em que Ellen White escreveu suas primeiras declarações sobre criação, dilúvio, ciência e fé (1864), o termo dinossauro já era comum nos livros e revistas. Entretanto, ela nunca usou esse termo nem qualquer outra palavra similar para se referir a esses répteis extintos.

Numa breve declaração, em 1864, ela escreveu: “Todas as espécies de animais que Deus criou foram preservadas na arca. As espécies confusas que Ele não criou, e que foram resultado de amálgama, foram destruídas no dilúvio”.[1] Essa é uma declaração favorita entre alguns adventistas para os quais ela explica os organismos extintos, incluindo dinossauros, bem como fósseis com características intermediárias, também conhecidos como fósseis em transição, ou seja, aqueles que, de acordo com a teoria da evolução, mostram mistura de características entre dois grupos de animais ou plantas considerados consecutivos no tempo. Exemplo disso são os répteis parecidos com mamíferos, considerados um degrau intermediário na evolução.

Muitas pessoas leem nessas palavras o que nós conhecemos como engenharia genética, indicando que, nos tempos antediluvianos as pessoas praticavam acasalamento híbrido, resultando em estranhas formas biológicas.

Entretanto, essa interpretação apresenta problemas. O primeiro é a dificuldade para definir o que Ellen White quis dizer com “amálgama”. Estudos mais profundos sobre a declaração não têm dado uma resposta definitiva, e concluímos que ainda não sabemos exatamente o significado desse termo.

Um segundo problema é a aplicação de “amálgama” a casos reais no registro fóssil. Se “amálgama” significa “híbrido”, como poderíamos reconhecer esse fenômeno entre os fósseis ou entre animais e plantas dos nossos dias? Como poderíamos determinar que espécies eram híbridas antes do dilúvio, se elas realmente já existiam? Alguns respondem a essa pergunta dizendo que as espécies híbridas não sobreviveram ao dilúvio, precisamente porque Deus não quis. Mas, esse raciocínio é um círculo vicioso falho porque o critério que usamos para diferenciar os híbridos (extinção) é o mesmo que usamos para definir o que gostaríamos de diferenciar (híbridos). Em outras palavras, amalgamação explica seu próprio desaparecimento, e seu desaparecimento define o que são eles.

Ellen White continua dizendo que “desde o dilúvio tem havido amalgamação de homens e bestas, como pode ser visto em variedades quase infindáveis de espécies de animais”.[2] Em primeiro lugar, é importante enfatizar que ela diz “amalgamação de”; não diz “amalgamação entre” como alguns interpretam. Em segundo lugar, se amalgamação significa formas intermediárias, híbridas ou criaturas estranhamente formadas, qual é o critério para reconhecê-las? Se essas foram formadas depois do dilúvio, provavelmente se tornaram fósseis, e outras teriam sobrevivido até agora. Como podemos diferenciá-las entre si e de outros organismos vivos que não são híbridos? Ellen White não dá indícios sobre isso.

No mesmo texto, ela estabelece que lhe foi mostrado “que animais muito grandes e poderosos existiram antes do dilúvio, e não mais existem agora”.[3] E também disse em outro texto que “houve uma classe de animais que pereceram no dilúvio. Deus sabia que a força do homem diminuiria e esses mamutes não poderiam ser controlados por homens fracos”.[4] Entre outras, essa declaração a respeito da vida antes do dilúvio sugere que a profetiza estava se referindo à existência de uma ampla variedade de animais que não sobreviveram na arca. Entretanto, não estamos seguros quanto ao significado da declaração; não sabemos o que eram esses “animais muito grandes e poderosos”. Porém, suas palavras não estão longe da descrição científica dos dinossauros. Falando biologicamente, eles são um tanto confusos, não apenas porque alguns são gigantes, mas também partes do seu corpo (pernas, pescoço, cauda, cérebro) são, em alguns casos, desproporcionais.

A verdade é que muitas pessoas têm lutado para encontrar declarações de Ellen White apoiando a ideia de que os dinossauros não foram criados por Deus, mas resultaram de amálgama antes do dilúvio, sendo, portanto, condenados ao desaparecimento na catástrofe universal. Essa pode ser uma possibilidade, mas, depois de minucioso estudo de seus escritos, não encontramos apoio inequívoco para essa conclusão.

A Escritura não menciona a existência de dinossauros, pelo menos como nós os compreendemos, nem antes nem depois do dilúvio. Ellen White também não os menciona, e não estamos absolutamente seguros quanto ao significado de sua afirmação referente a “animais muito grandes”. Porém, isso não representa evidência de que eles não existiram. Ao contrário, as evidências disso são claras: ossos, dentes, ovos, pegadas e impressões. Mas, em algum ponto da história, eles desapareceram. Sua origem e seu desaparecimento estão envolvidos num mistério que requer cuidadoso e rigoroso estudo. E isso não compromete nossa fé nos ensinamentos bíblicos.

Referências:
1 Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek, MI: SDA Publishing, 1864), v. 3, p. 75.
2 Ibid., p. 35.
3 Ibid., p. 92.
4 Ibid., v. 4, p. 121.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

OS HUMILHADOS SERÃO EXALTADOS?

A representante do México, Fátima Bosch Fernández, de 25 anos, foi coroada Miss Universo 2025 na noite de quinta-feira (20). Em sua trajetória no concurso que foi realizado em Bangkok, na Tailândia, ela foi de humilhada a exaltada.

No dia 4 de novembro, a vencedora do concurso se tornou o centro de uma grande polêmica, quando o coordenador do Miss Universo Tailândia, Nawat Itsaragrisil, a repreendeu duramente em público, chegando a chamá-la de “burra”, pela falta de conteúdos promocionais sobre o país asiático nas redes sociais da então candidata. O episódio, divulgado ao vivo para todo o mundo, gerou enorme repercussão, levou várias candidatas a deixarem o local onde estavam naquele momento em protesto e resultou em um comunicado oficial da organização do Miss Universo, que classificou o comportamento de Nawat como “malicioso, desrespeitoso e humilhante”.

Mas no desfecho do concurso realizado ontem, Fátima foi coroada Miss Universo. A vitória foi vista por muitos como um triunfo sobre a adversidade e uma mensagem poderosa sobre resiliência e a importância de levantar a voz contra agressões, como destacou a presidente eleita do México, Claudia Sheinbaum. O episódio gerou um debate global sobre respeito, comportamento nos bastidores de concursos de beleza e o empoderamento feminino. A mexicana Fátima foi de humilhada a exaltada!

Mas qual o real significado da expressão "os humilhados serão exaltados"?

A maioria das pessoas pensam, quando usam esta frase, que há um sentimento de "revanche" ou "vingança" quando se sentem humilhadas por outros. A ideia central é que a humildade antecede a honra de Deus (Provérbios 18:12). Quando nos humilhamos perante Deus e até mesmo os homens, o Senhor nos exaltará.
"Pois todo aquele que a si mesmo se exaltar será humilhado, e todo aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mateus 23:12).
Ellen G. White diz: "Repetidamente ensinara Cristo que a verdadeira grandeza se mede pelo valor moral. Na estimativa celeste, a grandeza de caráter consiste em viver para o bem-estar de nossos semelhantes, em praticar obras de amor e de misericórdia. Cristo, o Rei da Glória, foi servo do homem caído" (DTN, p. 431).
"Eu lhes digo que este homem, e não o outro, foi para casa justificado diante de Deus. Pois quem se exalta será humilhado, e quem se humilha será exaltado” (Lucas 18:14).
Ao lermos o texto (Lucas 18:9-14), podemos ver que trata-se de uma parábola contada por Jesus e já no início do versículo observamos o motivo pelo qual Jesus contou esta história. Numa olhada rápida nesta passagem bíblica já podemos perceber que o texto não diz respeito a pessoas que foram humilhadas e depois o Deus as exaltou. Aliás o versículo nove desta passagem já deixa claro para quem Jesus estava falando: “alguns que confiavam em sua própria justiça e desprezavam os outros”.

Vejamos a história com mais atenção! Neste texto lemos a história de dois homens que estavam orando a Deus: Um fariseu e um publicano. Os fariseus eram religiosos, mestres da lei, enquanto os publicanos eram os cobradores de impostos, que eram mal vistos por todos.

O fariseu se achava digno, santo, melhor que todos os outros. Do outro lado estava o publicano, que tinha o entendimento de quem era e que precisava mesmo de Jesus. O fariseu deixou-se levar pela arrogância e o publicano se humilhou diante de Deus.

É interessante perceber neste texto bíblico que só alcançou o objetivo da oração aquele que teve uma atitude humilde diante de Deus. O outro, com toda sua prepotência e justiça própria não enxergava nem mesmo seu próprio coração pecador. Quando você se humilha diante de Deus é quando você é exaltado por Deus! Ellen G. White afirma: "Toda exaltação verdadeira provém da humilhação desenvolvida na vida de Cristo, manifestada pelo maravilhoso sacrifício que Ele fez para salvar almas prestes a perecer. Aquele que é exaltado por Deus, primeiro deve humilhar-se" (RP, p. 54). 
“Portanto, humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido” (1 Pedro 5:6). 

Humilhar-se diante de Deus é reconhecer nossa pobreza espiritual. Jesus disse que há certas condições para recebermos as bênçãos do reino de Deus. A primeira é ser pobre de espírito (Mateus 5:3). Do ponto de vista espiritual, não temos nada. Precisamos ter consciência de nossas fraquezas e reconhecer que somos fracos. É assim que o poder de Deus se aperfeiçoa em nossa fraqueza.
"Humilhai-vos na presença do Senhor, e Ele vos exaltará" (Tiago 4:10).
A palavra humilhar vem do hebraico kana e significa “ajoelhar”. Talvez esse gesto seja o mais representativo para a humildade. O pecador não arrependido é orgulhoso demais para orar. Oração é submissão, dependência, rendição. O orgulho não tolera essas coisas. Na oração, abrimos mão de achar que somos alguma coisa. Somente os humildes oram de verdade.
"Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar e orar, buscar a minha face e se afastar dos seus maus caminhos, dos céus o ouvirei, perdoarei o seu pecado e curarei a sua terra" (2 Crônicas 7:14).
Você não acha que estamos vivendo hoje numa situação em que precisamos nos humilhar diante do Todo-Poderoso? Ellen G. White conclui: "Ao vos humilhardes ante a potente mão de Deus, Ele vos exaltará. Confiai-Lhe vossa obra, trabalhai com fidelidade, com sinceridade e verdade, e vereis que o trabalho de cada dia traz sua recompensa" (CP, p. 235).

Se formos humildes, deixaremos Deus ser Deus em nossa vida. Se permitirmos, um relacionamento real com Ele vai começar. Que o Senhor tenha misericórdia de nós!

quinta-feira, 20 de novembro de 2025

CONSUMISMO

O economista e sociólogo americano Thorstein Veblen nasceu em 1857, nos primeiros anos da segunda revolução industrial, e morreu em 1929, ano da Grande Depressão, o mais longo período de recessão econômica da história. Convém que um crítico tão importante de um certo tipo de consumo ostentatório, como foi Veblen, tenha sua trajetória de vida ligada a esses dois momentos históricos do capitalismo. A segunda revolução industrial, entre os anos de 1850 a 1870, apresentou ao mundo uma classe de novos ricos, resultado do desenvolvimento da indústria química, elétrica, de petróleo e de aço.

A análise dessa nova classe social inspirou Veblen a produzir seu estudo mais famoso: A Teoria da Classe Ociosa. É nesse texto que ele reflete sobre uma forma até então inusitada de demonstrar sucesso, partindo do consumo de bens e serviços como status social. Os gastos não buscavam atender a uma necessidade específica. Pior ainda, não havia equilíbrio entre o consumo e a produção. O fim era um só: ostentar riqueza. Começou com uma classe endinheirada e se estendeu depois para outras classes menos abastadas. Era o início do que hoje conhecemos como consumismo.

O consumismo hoje é um estilo de vida orientado pelo que é supérfluo, pela cultura do descartável, pelo desejo incessante de surfar sempre a nova onda. Criou-se um presente perpétuo. O passado não serve mais como orientação, o futuro não importa mais. O consumismo é o desejo de viver o aqui e o agora, e com tudo o que isso tiver para oferecer, com o melhor slogan, energizado pelos melhores insights publicitários, embalado pelas mais criativas campanhas de marketing. A internet e as redes sociais elevaram essa sensação a níveis estratosféricos. É o tempo em que o que se consome não importa mais; o que esse consumo pode ostentar e o que ele pode proporcionar para o status do consumidor, para a sua imagem, é o que conta.

É a era do Culto às Marcas, título de um livro fundamental, escrito por Douglas Atkins. Ou, para usar uma expressão do filósofo francês Jean Baudrillard: é o tempo em que não mais consumimos coisas. Agora, o que nós consumimos são signos, que se expressam pela intensificação da imagem, dos desejos, das sensações. A necessidade acabou se tornando o que menos importa, nessa era de culto ao consumismo.

A cultura consumista provocou um comportamento econômico irracional e confuso. Causa alienação em relação ao ideal do consumo, que é a produção de bens e serviços essenciais para o desenvolvimento econômico das sociedades. Provoca a mercantilização de segmentos sociais, especialmente mulheres e crianças. Afeta a capacidade de empatia e de generosidade. Há quem aponte conexões entre o consumismo e a violência por trás de situações de criminalidade.

O consumismo afeta um dos mais nobres princípios do Cristianismo, que é a compaixão. Pessoas que se dedicam de modo cego a um comportamento consumista têm dificuldades de agir de modo solidário e auxiliar pessoas que precisam de ajuda. É esta a conclusão que eu chego depois de ler textos como o da escritora Ellen White, que foi contemporânea de Thorstei Veblen durante um certo tempo, ao pensar sobre o consumismo, bem antes dessa palavra ganhar a conotação que hoje conhecemos:

“Todo gasto desnecessário deve ser cortado. Compreendam os auxiliares que o consumo não deve exceder à produção... A economia é uma ciência muito valiosa. Muitos desperdiçam muito por deixarem de economizar as sobras e os restos. Em muitas famílias, desperdiça-se tanto quanto bastaria para sustentar uma família pequena” (Medicina e Salvação, p. 176).

Existe um papel a ser destacado pelos líderes da igreja na atualidade, de reflexão sobre até onde o consumismo pode prejudicar o seguidor de Cristo, em particular, e a Igreja, de forma geral. Até onde valores cristãos como a misericórdia, a compaixão e mesmo a fé são afetados pelo consumismo? De que forma o consumismo se expressa nas igrejas atualmente? Como este assunto pode ser explorado em nossas igrejas, ao ponto de criar uma conscientização capaz de orientar para esse estilo de vida tão em evidência na sociedade pós-moderna?

Finalizo com mais este texto de Ellen White: "No professo mundo cristão há tanto dispêndio em prazeres extravagantes, que a necessidade de todos os famintos e faltos de roupa em nossas cidades podia ser suprida. Que dirão os membros dessa igreja quando se acarearem no dia do juízo de Deus com os pobres, os aflitos, as viúvas e órfãos, que experimentaram a penúria das necessidades da vida, enquanto era gasto por esses professos seguidores de Cristo, em ricas e supérfluas roupas, e ornamentos desnecessários e expressamente condenados na Palavra de Deus, o suficiente para suprir todas as suas necessidades? No capítulo 58 de Isaías a obra que o povo de Deus deve fazer conforme o desígnio de Cristo é claramente estabelecida. Quebrar as cadeias, alimentar o faminto, vestir o nu. Se praticarem estes princípios da lei de Deus em atos de misericórdia e amor, representarão o caráter de Deus ao mundo, e receberão as mais ricas bênçãos do Céu" (The Review and Herald, 21 de Novembro de 1878).

quarta-feira, 19 de novembro de 2025

QUAL É A SUA BANDEIRA?

A história nos conta que a bandeira foi inventada na Idade Média, onde os exércitos começaram a utilizar pedaços de pano com suas cores, para não se confundirem uns com os outros. Pequenas tiras de tecidos eram amarradas em varetas retiradas das árvores, hasteadas em locais visíveis. Aos poucos foram sendo aperfeiçoadas, tornando-se mais bonitas e com símbolos específicos.

No Brasil, existe um dia especial para se comemorar o Dia da Bandeira, que é 19 de novembro, devido à bandeira de nosso país ter sido criada nesta data, no ano de 1889, quatro dias após a Proclamação da República de nosso país. Segue as cores da nossa bandeira e seus significados (espirituais e nacionais):

- Verde (Matas/Esperança): Simboliza a rica vegetação, mas espiritualmente, pode representar a volta de Cristo que é central para a nossa fé, representando a "bendita esperança" de um evento literal, visível e glorioso.

- Amarelo (Ouro/Riquezas): Representa as riquezas do país, mas para o cristão, lembra que nosso maior tesouro não é material, mas sim a nossa fé e herança celestial. Os tesouros terrenos irão passar, mas a nobreza de caráter e o valor moral durarão para sempre.

- Azul (Céu/Rios): Simboliza o Céu e os rios, lembrando a soberania de Deus sobre a criação e a importância de buscar as coisas do alto. O azul também nos conecta com a oração, que é ordenada pelo Céu como meio de alcançar êxito no conflito com o pecado e no desenvolvimento do caráter cristão.

- Branco (Paz): Representa o desejo universal pela paz. Jesus é o Príncipe da Paz, e somos chamados a ser pacificadores em nossa sociedade. Os seguidores de Cristo são enviados ao mundo com a mensagem de paz, e a compartilhamos por meio da Palavra de Deus, do testemunho pessoal e de uma vida exemplar. 

A bandeira é a identidade de alguém, de um povo, de um movimento. Quando vemos a bandeira que alguém carrega, literalmente falando, ou bandeira essa defendida por suas filosofias e ideias, conseguimos identificá-lo. Atualmente vemos tantas bandeiras, tantos grupos e ideias diferentes que às vezes ficamos perdidos no meio delas. Quando alguém levanta uma bandeira, levanta junto tudo que está implícito naquela bandeira, tudo aquilo que ela representa.

A Bíblia relata em Êxodo 17:15 que Moisés edificou um altar e o chamou de "O Senhor é a Minha Bandeira" (Jeová Nissi), ou seja, sua identidade era marcada pelo Senhor. E também queria deixar claro que à sua frente estava o Senhor, a vontade dEle e não a sua. Isso nos deve lembrar que a nossa lealdade primária é a Deus e que Ele é a verdadeira fonte de vitória e identidade. Portanto, que a nossa bandeira seja o SENHOR e que possamos hastear a bandeira do Reino de Deus acima de tudo aquilo que é impuro, carnal e passageiro. E, quando Jesus vier para os Seus, não terá problemas em nos reconhecer. Nossa bandeira estará clara!

Ellen White finaliza dizendo: "Oro fervorosamente para que a obra que fazemos a este tempo se grave profundamente no coração, mente e alma. Aumentarão as perplexidades; como crentes em Deus, porém, encorajemo-nos uns aos outros. Não abaixemos a bandeira, antes conservemo-la alçada bem alto, olhando Àquele que é o Autor e Consumador de nossa fé" (Conselhos para a Igreja, p. 366).

terça-feira, 18 de novembro de 2025

MERITOCRACIA X HUMILDADE

Só uma lógica faz sentido no reino dos homens para dar valor às pessoas e às coisas: mérito. Nossa sociedade é construída em cima desse pilar. Desde a educação familiar, passando pela educação acadêmica e adentrando a vida adulta e profissional, todas as coisas são medidas na régua do mérito. O que fazemos, como fazemos e o que deixamos de fazer são e serão a sentença de nossas vidas.

E convenhamos, não dá para pensar de outra maneira. Alguma coisa ou alguém só valem mesmo se forem úteis de alguma maneira. Ninguém quer convocar o “gordinho pereba” para o time de futebol, queremos o artilheiro, o “fazedor de gols”. Quem chega mais rápido à linha de chegada é que é digno da medalha dourada. Aquele que vende mais é digno da promoção na empresa, o que rende mais, trabalha mais, acerta mais, enfim, nossos valores são pautados pela régua da meritocracia. A sociedade capitalista aplaude porque essa foi, até agora, a melhor forma de motivar o rendimento humano sem qualquer opressão que fira o direito a liberdade (em tese).

O Reino de Deus é diferente do nosso. Seus valores são outros e isso é desconcertante. Enquanto nós escolhemos os melhores, Jesus escolhe os doze discípulos mais improváveis, de um terrorista (zelote) a um político corrupto (Levi Mateus), de iletrados a homens irascíveis. O que tinha mais títulos, mais méritos, o mais estudado, era Judas. Segundo esse ponto de vista, não fosse por Judas, o ministério de Jesus teria caído em descrédito pela tenebrosa escolha dos outros onze.

Graças a Deus que Deus não é humano. Sua lógica é outra e Sua operação é diferente do que esperamos. Deus opera em outro paradigma, outra forma de enxergar a vida. Enquanto procuramos os melhores, os bons, os mais capacitados, Ele procura outra coisa. No Reino de Deus o valor é outro. Jesus disse:

“Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus” (Mateus 18:3).

Muitas versões foram produzidas com o tempo a respeito sobre o que Jesus quis dizer com essa afirmação. Mas basta olhar para o contexto judaico da época e será possível perceber o que exatamente Jesus estava falando. Mulheres e crianças não eram contadas naquele tempo. Apenas adultos homens tinham algum valor social. O mérito era todo deles. Eles lideravam, dominavam, trabalhavam, realizavam, eram quem “importava” naquele contexto. Jesus mesmo tem que dizer: “deixai vir a mim os pequeninos”, porque ninguém queria deixar que as crianças se aproximassem do Mestre, “atrapalhando” Seus afazeres. Era uma afronta uma criança ou uma mulher demandar atenção de um homem adulto. Crianças não tinham valor. Afinal, não tinham mérito algum, “serviam para quê?”.

Jesus começa a subverter essa ideia quando declara aos orgulhosos adultos que ninguém entra no Reino dos Céus se não se despir de suas personas infladas, e se diminuir ao nível de simplicidade, fragilidade, submissão de uma criança. Resumindo, Jesus falava de humildade. É como se dissesse: “Quem acha que vai a algum lugar por suas próprias forças, conquistas e méritos, não vai a lugar algum. Quanto mais vocês enxergam valor em vocês mesmos, menos aptos estão para o Reino. Enquanto aqueles que forem dependentes do Pai como uma criança, humildes e sem valorizar a si mesmos, estarão a caminho do céu”.

Quando Deus vai escolher “Seu time”, não busca os mais aptos, mais capazes, mais saudáveis, mais inteligentes, nada disso. Ele busca os mais humildes.

“Ao escolher homens e mulheres para Seu serviço, Deus não indaga se eles possuem riquezas mundanas, saber ou eloquência. Pergunta: ‘Andam eles em tanta humildade que lhes possa ensinar o Meu caminho? Posso pôr em seus lábios as Minhas palavras? Representar-Me-ão?” (Ellen White, Ciência do Bom Viver, p. 37).

Portanto, o valor do Reino de Deus é de um tipo que não exclui ninguém. Enquanto o mérito deixa de fora os que não o possuem, a humildade é um atributo que todos os homens podem se apropriar desde que não olhem para si mesmos como merecedores. É também um atributo agregador, em vez de excludente. O mérito clama por competição, a humildade clama por cooperação. Esse é o valor do Reino de Deus que contrapõe a meritocracia: humildade. É certo que “como ferro afia o ferro, um homem afia o seu companheiro” (Provérbios 27:17), e a competitividade ajuda um homem a aprimorar o outro. Mas como o ferro batendo no ferro esse aprimoramento ocorre ao custo de feridas e enfrentamentos. O texto, embora fale do “ferro com o ferro”, fala também de companheirismo. A humildade também é capaz de aprimorar o homem, também haverá feridas e enfrentamentos, mas aqui o outro é companheiro. Existe amor nessa relação, cooperação e não competição. No Reino de Deus, a humildade é a substituta do mérito.

Ouvi recentemente que a arrogância e o orgulho é como um cadáver que pensa em ganhar um concurso de beleza. Nossos melhores méritos não são mais do que “trapos de imundícia”. Estamos maculados pelo pecado, nossa natureza é doente, somos como cadáveres, mas nos pomos a ganhar um concurso de beleza, porque olhamos para nós mesmos como merecedores de alguma coisa, dignos de reconhecimento e valiosos a nossos olhos.

O Reino de Deus vem para desconstruir nossa ilusão. Revelar o que somos e mudar nossa postura. O convite de Deus é para uma vida de muita humildade. De abatimento constante do orgulho e da consciência de merecimento. No Reino, nós somos completamente dependentes de Deus. Ele é o grande realizador, por meio de nós. Não há disputa sobre quem é maior, ninguém se vê superior ao outro, somos convocados e olhar de baixo para cima todas as outras pessoas, nos permitindo ser usados por Deus. Sim, usados. Essa palavra vai incomodar os mais soberbos e orgulhosos. Deixe Deus usá-lo.

Quando Deus chama Seus líderes, Ele escolhe os que se parecem mais com crianças, dependentes do Pai, do que os autossuficientes. Os mais humildes são os mais moldáveis, os mais orgulhosos, mais engessados.

“Muitos não percebem que ao andarmos humildemente com Deus, nos colocamos numa posição em que o inimigo não pode tirar vantagem de nós. … Unicamente se nos submetermos como crianças dispostas a ser instruídas e disciplinadas, poderá Deus usar-nos para a Sua glória” (Ellen White, Manuscrito 102 de 1904).

Mas isso não é fácil:

”É unicamente por meio de torturante esforço de nossa parte que nos tornaremos altruístas, modestos, semelhantes a crianças, dóceis, mansos e humildes de coração, como nosso divino Senhor” (Ellen White, Para Conhecê-lo, p. 182).

Assim, imitando a Cristo, a gente vai levando o Seu Reino ao mundo. Com uma verdade espantosa que o mundo não espera. Gente indigna, carregando a maior dignidade, Jesus Cristo em seu próprio coração. Vivendo em outro parâmetro, ocupando um outro patamar, apresentando um amor não fingido, e um valor que não vale em si mesmo. A humildade é só tem valor, porque é o espaço que se abre no ser para que Deus possa habitar em nós.

“Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Filipenses 2:3).

Esse é o Reino.

Diego Barreto (via O Reino - Título original: Miss Cadáver)

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

NATUREZA PECAMINOSA

O pecado é descrito na Bíblia principalmente em termos teológicos e relacionais, pois se dirige contra o nosso Deus, o Criador e Redentor, e destrói a nós e aos nossos relacionamentos com as pessoas ao nosso redor. Davi o expressou eloquentemente em seu arrependimento, após compreender profundamente a natureza desmoralizante de seus atos pecaminosos contra si mesmo, Bate-Seba e sua família: “Contra ti [ó Deus], ​​[...] pequei e fiz o que é mau perante os teus olhos” (Salmo 51:4; cf. Gênesis 39:8).

A terminologia hebraica abrangente e colorida para pecado revela sua natureza devastadora. O rico vocabulário demonstra a complexidade do pecado. A linguagem bíblica mais forte para pecado — a trilogia do pecado — consiste nos seguintes termos: hattah (o termo mais comum para pecado no sentido de errar o alvo, desviar-se do caminho certo ou se perder da senda reta; a palavra grega hamartia expressa a mesma ideia), avon (transgressão, algo que é torto, distorcido ou desviado) e peshah (rebelião, revolta). Deus perdoa todas essas variantes pecaminosas e transgressões mencionadas em passagens cruciais das escrituras hebraicas (ver Êxodo 34:6; Levítico 16:21; Salmo 32:1, 2; Isaías 53:5, 6, 8-12; Daniel 9:24). Além dessas três palavras principais para pecado, a Bíblia contém termos adicionais que descrevem a complexidade do pecado e nossa natureza pecaminosa, por exemplo: maldade, culpa, perversidade, transgressão, impureza, engano, desonestidade, falsidade, ofensa, abominação, profanação, perversão, injustiça, erro, arrogância e fracasso.

De acordo com o relato da Criação em Gênesis, os seres humanos foram criados (1) para um relacionamento com Deus, (2) em total dependência Dele, (3) para desfrutar e cultivar Sua presença na vida. O pecado destrói esse modelo e arruína o belo projeto original que Deus estabeleceu para a felicidade, prosperidade e crescimento da humanidade.

Cinco definições bíblicas de pecado
É possível resumir os vários aspectos do problema do pecado em cinco definições bíblicas principais de pecado:

1. O pecado, segundo Gênesis 3, é uma relação rompida com Deus, uma tentativa de viver de forma independente e autônoma, longe de Deus (do grego autos, “próprio”, e nomos, “lei”, ou seja, ser a lei de si mesmo). É uma vida sem Deus, Sua autoridade e Sua lei. Destrói as qualidades básicas da vida e nega a presença de Deus (por isso, Adão e Eva se esconderam após pecarem). O pecado é, portanto, a descriação, o desfazimento da maravilhosa Criação de Deus. O pecado inverte todas as três funções e propósitos fundamentais da vida para os quais fomos criados: rompe uma comunhão de confiança com Deus, decide pela própria autoridade o que é certo ou errado e nos afasta da presença do Senhor. Assim, o mal nos separa de Deus e nos isola Dele. 

O pecado surge como resultado da recusa da autoridade de Deus e da falta de vontade de reconhecê-Lo como o Criador, a quem somos e devemos prestar contas. A lei de Deus é quebrada primeiro na mente e depois no comportamento. A mesma ideia de Gênesis 3 é expressa por Paulo no Novo Testamento: “Tudo o que não provém da fé é pecado” (Romanos 14:23). Fé é uma relação de confiança com Deus, e quebrar a fé é pecado (Malaquias 2:10, 11). Deus comentou sobre o pecado de Moisés da mesma maneira: “Vocês não confiaram em mim o suficiente para me honrar como santo aos olhos dos israelitas” (Números 20:12). Portanto, pecado é desconfiança em Deus, descrença nele; é um estado de espírito com rejeição direta da lei de Deus.[1]

A Bíblia apresenta definições adicionais de pecado; no entanto, elas são, em princípio, uma elaboração e expansão da descrição acima, construídas sobre a teologia do pecado apresentada na narrativa da Queda.

2. A definição bem conhecida de pecado na Bíblia vem do apóstolo João (com base em Gênesis 3): pecado é a transgressão da lei (1 João 3:4; a palavra grega anomia significa literalmente “transgressão da lei”), um ato concreto de desobediência. É uma ação externa, um resultado visível de um relacionamento rompido, uma consequência de pensamentos errados, um efeito da fé quebrada e um produto da desconfiança. A pergunta de Deus: “Comestes da árvore da qual te ordenei que não comesses?” (Gênesis 3:11) revelou que a desobediência é o resultado do desrespeito ao mandamento de Deus. Dessa forma, o pecado é uma rebelião desafiadora e arrogante contra Deus, e uma rejeição orgulhosa de Sua palavra, vontade e autoridade. Isso foi bem explicado por Samuel a Saul, o primeiro rei de Israel, após sua desobediência: “Obedecer é melhor do que sacrificar. [...] A rebeldia é como o pecado da adivinhação, e a arrogância como a maldade da idolatria” (1 Samuel 15:22, 23). Viver em pecado significa viver sem se concentrar em Deus e cumprir a Sua vontade.

3. O pecado é um estado inato para os seres humanos. Isso já se reflete em Gênesis 5:1-3, onde se afirma que Adão foi criado à imagem de Deus, mas Sete nasceu à imagem de Adão, seu pai. A diferença entre Adão ser criado à imagem de Deus (Gênesis 1) e Sete ser feito à imagem de Adão (Gênesis 5) pode ser explicada pelo evento que provocou essa mudança: a queda no pecado, conforme descrito em Gênesis 3. Após o pecado de Adão e Eva, nossa natureza humana foi corrompida, e sua posteridade nasceu com uma natureza pecaminosa. Davi afirma isso claramente: “Certamente eu nasci em pecado, e em iniquidade me concebeu minha mãe” (Salmo 51:5). Também no Salmo 58:3, Davi fala sobre a atitude errada dos ímpios para com Deus: “Desde o nascimento os ímpios se desviam; desde o ventre materno se desviam, espalhando mentiras”. Antes do nosso arrependimento, todas as nossas vestes estão imundas (Isaías 64:6); Antes da regeneração, nosso coração está pervertido e nos engana (Jeremias 17:9). O caminho parece reto aos homens, mas seu fim é a morte (Provérbios 14:12). Não somos capazes de mudar nossa natureza, assim como um leopardo não pode trocar de pele (Jeremias 13:23). Sem exceção, somos todos pecadores (Eclesiastes 7:20; Romanos 3:23; 1 João 1:8). Temos medo de Deus por natureza (Gênesis 3:10); nascemos alienados dEle e mortos em nossos pecados (Efésios 2:1, 12, 19).[2]

O apóstolo Paulo explica isso claramente em Romanos 7:15-20, quando declara que o pecado reside em nossa natureza humana. Os seres humanos nascem com uma natureza pecaminosa e, consequentemente, nascem como pecadores, separados de Deus e necessitados de salvação. Como pecadores, amamos e praticamos o pecado, e nossa natureza pecaminosa é caracterizada por egoísmo, tendências ao mal, propensões ao pecado e inclinações para o mal. O poder do pecado nos escraviza (Romanos 5:6; 6:6, 7, 14; 7:25). Não apenas uma parte do ser humano pecou, ​​mas a pessoa inteira; portanto, tudo é afetado e corrompido pelo pecado.

Tiago reforça essa mesma verdade ao explicar que o pecado começa com os desejos íntimos da nossa natureza pecaminosa, que o “desejo maligno” reside dentro de nós e, quando cultivado, produz pecado, a busca pelo fruto proibido. Esse desejo errado ainda não é pecado (a menos que seja acalentado), mas quando cedemos a ele, leva a ações erradas e à morte (Tiago 1:14, 15). Somos culpados quando nos entregamos a esses desejos malignos e nos associamos a eles.

4. Pecado é a negligência em fazer o bem, a omissão em fazer o que é certo (Tiago 4:17). Envolve uma atitude de indiferença. Essa atitude também pode ser chamada de apatia ou tibieza (Apocalipse 3:15-18). O cristianismo é mais do que apenas não fazer coisas erradas (Tiago 1:27), pois a verdadeira religião consiste em fazer o que é bom, certo e proveitoso (Miquéias 6:8; João 5:29; Tito 3:8; Tiago 1:27; cf. Filipenses 4:5, 6). O cristianismo é uma religião ativa. O Deus vivo é um Deus de ação; portanto, Ele deseja seguidores proativos. Conhecer a verdade e praticar boas obras devem sempre andar de mãos dadas (Gálatas 5:4; Tiago 1:27; 1 Pedro 2:9; Efésios 2:10).

5. O pecado por excelência é não crer em Jesus Cristo, pois Ele é a única solução para a nossa pecaminosidade (João 16:8, 9). Os seres humanos não podem se ajudar, curar o problema do pecado e sarar suas próprias feridas. Cristo é o único e exclusivo Salvador do mundo (Atos 4:12; 16:31; Romanos 8:1; 1 João 5:12, 13). Rejeitar o Seu sacrifício supremo por nós — a Sua morte na cruz — é como se afogar no oceano e, quando o socorro chega, recusar a oferta de salvação. Pecado é a incredulidade em Jesus, a recusa da Sua ação salvadora em nosso favor, porque Ele é o único que pode nos resgatar da escravidão do pecado. Deixar de aceitar Jesus como Salvador pessoal e permanecer no pecado é fatal (Provérbios 24:16; João 3:36).

Somente quando compreendemos a verdadeira natureza do pecado podemos nos conhecer melhor e admirar ainda mais o que Jesus fez e está fazendo por nós, em nós e através de nós. A compreensão de que a solução para o problema do pecado exigiu a encarnação e a morte de Jesus Cristo (Gênesis 3:15; Isaías 53:1-6; João 3:16; Romanos 6:23; 2 Coríntios 5:21) nos ajuda a enxergar a verdadeira e terrível natureza do pecado, com toda a sua seriedade e profundidade. Deus teve que deixar Sua posição no céu, viver como um ser humano e passar por imenso sofrimento e morte para nos salvar e nos libertar do poder do pecado. Essa solução teve um custo extremamente alto — custou a vida do Filho de Deus, Jesus Cristo.

Conclusão
Onde o primeiro Adão falhou, o segundo Adão venceu (Rm 5:14-21; 1Co 15:22, 45-49). O que os humanos perderam no Jardim do Éden, Cristo veio restaurar na cruz. Nossa nova e verdadeira identidade pode e deve ser moldada e edificada de acordo com a vitória conquistada por Jesus Cristo (2Co 5:17). Deus não nos deixou à mercê do poder de Satanás e do pecado — o Espírito de Deus traz a vitória quando, pela fé, nos apegamos a Deus e à Sua Palavra, pois somente o Espírito Santo e a Palavra de Deus podem produzir a verdadeira vida (Ez 36:25-27; Rm 8:4, 14). A solução para o pecado envolve não apenas o perdão, mas também a renovação e a restauração da imagem de Deus e a libertação da escravidão e dos vícios do pecado. Uma nova vida é orientada pela Palavra e pelo Espírito (Rm 8:2-6; Cl 3:1-4, 10).

Nossa natureza pecaminosa não muda nem desaparece por meio da conversão ou do arrependimento. Contudo, nossa natureza pecaminosa, tendências ou inclinações (herdadas ou cultivadas) podem ser controladas pelo poder do Espírito Santo, Sua Palavra e a graça de Deus (Romanos 7:25; 8:1-11). Até a Segunda Vinda, teremos nossa natureza pecaminosa, e somente então os crentes serão completamente transformados e receberão um corpo incorruptível (1 Coríntios 15:50-57; Filipenses 3:20, 21; 1 João 3:2-5). Enquanto isso, porém, podemos ter plena confiança em Cristo, que nos liberta do pecado.

Referências
[1] Ellen G. White define com precisão o primeiro pecado de Adão e Eva no Jardim do Éden como “desconfiança na bondade de Deus, descrença em Sua palavra e rejeição de Sua autoridade, que fizeram de nossos primeiros pais transgressores e que trouxeram ao mundo o conhecimento do mal” (Educação, p. 25). A natureza do pecado é, portanto, explicada pelo conceito de um relacionamento rompido e um estado de espírito hostil em relação a Deus. Veja também o artigo “Pecado” em The Ellen G. White Encyclopedia, pp. 1164-1167.

[2] Somente Jesus nasceu como “o santo” (Lucas 1:35); todos os humanos nascem hostis a Deus (Romanos 8:7) e mortos em seu pecado (Salmo 51:5; Efésios 2:1-3).

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

EVANGELHO DO MEU JEITO

Tenho percebido que um dos grandes problemas de nossos dias entre nós, cristãos, é o que chamo de "evangelho parcial". O que é isso? É a postura de acatar apenas parte daquilo que a Bíblia nos aponta como sendo certo, justo e bom, deixando de lado grande montante dos mandamentos de Deus.

O evangelho de Jesus Cristo é um pacote completo. Não existe no cristianismo a ideia de abraçar apenas parte daquilo que agrada o coração de Deus e ignorar o resto. Como Tiago escreveu, com extrema gravidade, "Pois quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente" (Tg 2:10). Porém, é o que muitos fazemos, sem nenhum drama de consciência.

Não existe evangelho de Cristo sem amor ao próximo. Sem cuidado com as palavras que dizemos. Sem ter como primeira atitude diante de uma ofensa ir ao ofensor e dialogar com ele. Sem cuidado com órfaos e viúvas. Sem devolver mal com bem. Sem grande comissão. Sem perdão como postura padrão. Sem honra a pai e mãe. Sem negação de si mesmo. Sem preferir os outros em honra. Sem humildade. Nós é que complicamos, parcelando e fragmentando a boa nova de Cristo. 

Não é pecado você dar mais atenção a certas temáticas bíblicas que a outras. O pecado está em menosprezar as demais e, pior, desqualificar os irmãos que atentam para as demais, como se evangelho fosse só o que te interessa. Ellen White afirma: "Devemos procurar viver o evangelho em todos os seus ângulos, a fim de que suas bênçãos temporais e espirituais sejam sentidas ao redor de nós" (Beneficência Social, p. 199).

Infelizmente, para muitos o evangelho é como um grande buffet em que se escolhe apenas seis ingredientes diante de um balcão com seiscentos. Isso, porém, não é evangelho de Cristo. O suposto evangelho que se aplica, por exemplo, apenas a causas ideológicas humanas não é o da Cruz de Cristo.

Sempre que os homens preferem seus próprios caminhos, põem-se em conflito com Deus. Eles não terão lugar no reino do Céu, pois se encontram em guerra com os próprios princípios do mesmo. Desconsiderando a vontade de Deus, estão-se colocando ao lado de Satanás, o inimigo do homem. Ellen White diz: "Não por uma palavra, nem muitas palavras, mas por toda palavra que sai da boca de Deus viverá o homem. Não podemos desatender uma palavra, por mais insignificante que nos pareça, e estar seguros" (O Maior Discurso de Cristo, p. 52).

Meu irmão, minha irmã, precisamos mergulhar nas Escrituras para ler as partes que não costumamos ler. Abrir-nos a ser desafiados naquilo que mais nos tira da zona de conforto. Porque, se acharmos que a mensagem de Cristo se resume a algumas pautas morais ou sociais e deixarmos de lado todo o resto, estaremos servindo a outro evangelho. E, naquele grande e terrível dia, seremos cobrados por isso.

Que Deus nos ajude a enxergar as áreas do evangelho de Jesus que hoje estão cobertas por sombras aos nossos olhos. Que elas sejam descortinadas, para que nos consertemos e passemos a agir com integralidade, e nao mais com parcialidade, de acordo com a agradável, perfeita e boa vontade do Todo-poderoso. Ellen White conclui: "Diz-se que os tesouros do evangelho estão ocultos. A beleza, o poder, o mistério do plano da redenção não são perseguidos por aqueles que são sábios em seu próprio conceito, e ensoberbecidos pelos ensinos de uma filosofia vã. Muitos têm olhos, mas não veem; ouvidos, mas não ouvem; inteligência, mas não discernem o tesouro oculto" (Parábolas de Jesus, p. 47).

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

DIA MUNDIAL DA GENTILEZA

Celebrado em 13 de novembro, o Dia Mundial da Gentileza nasceu em 1996 durante uma conferência em Tóquio que reuniu representantes de diferentes países para promover a empatia, o respeito e a generosidade nas relações humanas. A data é um convite para lembrar que gestos simples (um sorriso, uma palavra de apoio ou um ato de cortesia) podem mudar o dia de alguém e tornar o mundo mais leve.

Gentileza é uma ordem de Cristo. Não é demonstração de fraqueza, tampouco de falta de zelo pelas coisas do alto: é justamente o padrão do Reino de Deus. E quem deseja ser cidadão desse reino precisa agir conforme a constituição da pátria celestial. Ellen White afirma: "Se fôssemos verdadeiras luzes no mundo, devíamos manifestar o amorável e compassivo espírito de Cristo. Amar como Cristo amou, quer dizer que devemos praticar o domínio próprio. Quer dizer que devemos revelar abnegação em todas as ocasiões e em todos os lugares. Quer dizer que temos de espalhar, ao nosso redor, palavras bondosas e olhares de simpatia" (O Cuidado de Deus, p. 52).

Existe uma constatação científica que afirma que gentileza também gera saúde. As atitudes gentis permitem a liberação de endorfinas no corpo, capazes de provocar no indivíduo uma sensação de alegria, que pode se transformar em calma e bem-estar. Madre Teresa de Calcutá, a personificação da bondade, disse: “Não deixe que ninguém venha até você e vá embora sem se sentir melhor e mais feliz. Seja a expressão viva da gentileza de Deus: gentil no semblante, gentil no olhar, gentil no sorriso.” Todos ganhamos, se nos vestirmos de gentileza.

Ellen White diz: "A essência da verdadeira polidez é a consideração para com os outros. A educação essencial e duradoura é a que alarga a simpatia, favorece a afabilidade universal. O verdadeiro requinte nos pensamentos e maneiras aprende-se melhor na escola do divino Mestre do que por qualquer observância de regras estabelecidas. Seu amor, penetrando no coração, dá ao caráter aquele contato purificador que o modela à semelhança do Seu. Esta educação comunica uma dignidade inspirada pelo Céu e um senso das verdadeiras conveniências. Proporciona uma doçura de índole e gentileza de maneiras que nunca poderão ser igualadas pelo verniz superficial dos costumes da sociedade" (Educação, p. 241).

Na Bíblia, a gentileza é uma qualidade essencial que envolve bondade, amabilidade e empatia, sendo apresentada como um fruto do Espírito Santo e um mandamento para os cristãos. Ela é expressa através de palavras amáveis, ações misericordiosas e uma conduta paciente e humilde, sendo Jesus o principal modelo a ser imitado nesse aspecto. A prática da gentileza é vista como uma forma de demonstrar o amor a Deus e ao próximo, inclusive em ações diárias e na relação com os mais necessitados.

Ellen White complementa: "A Bíblia recomenda a cortesia, e apresenta muitas ilustrações do espírito abnegado, das graças gentis, do temperamento cativante, que caracteriza a verdadeira polidez. Tais não são senão reflexos do caráter de Cristo. Toda ternura e cortesia verdadeiras no mundo mesmo entre os que não reconhecem o Seu nome, dEle procedem. E Ele deseja que estes característicos se reflitam perfeitamente nos Seus filhos. É Seu propósito que em nós os homens contemplem Sua beleza" (Educação, p. 242).

A Palavra de Deus também diz que nos últimos tempos o amor de muitos esfriaria. Se “o amor esfriar” não é ignorar as pequenas necessidades do próximo, não sei o que é. Ellen White alerta: "O egoísmo e a fria formalidade quase têm extinguido o fogo do amor, dissipando as graças que deveriam deixar o caráter perfumado. Muitos dos que professam o nome de Jesus têm esquecido que os cristãos devem representar Cristo. A menos que mostremos sacrifício prático para o bem dos outros onde quer que estejamos, não somos cristãos, não importa o que declaremos ser" (O Libertador, p. 293).

Ceder o lugar no ônibus, abrir a porta para senhoras passarem, puxar a cadeira no restaurante, ceder a vez no trânsito, permitir que gente idosa passe à sua frente na fila, deixar que o último pão da padaria seja comprado por outra pessoa, abrir mão do seu tempo para ouvir quem está triste, fazer elogios, dar de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede… Atitudes como essas custam muito barato ou nada e, acredite, não doem.

Você pode achar que pequenos gestos como esses não fazem a diferença. Mas lembre-se de que é do acúmulo de uma grande quantidade de tijolos bem pequenos que você constrói um enorme edifício de dezenas de andares. Pequenos gestos de amor fazem toda a diferença. Jesus morreu pela humanidade, e isso foi um gesto grandioso. Mas Ele também providenciou comida para pessoas que estavam com fome. Ele chorou em solidariedade à tristeza daqueles que estavam abatidos com a morte de Lázaro. Ele criou as galáxias, mas também as pequenas sementes, o que demonstra que dá atenção ao macro e também ao micro. Perceba: Deus se preocupa com amor e não apenas com grandes gestos de amor. Se for amor, pode ter a dimensão que tiver, será apreciado pelo Senhor e fará toda a diferença para o próximo.

Pode ser que você pense que a pequena gentileza não importa mais, porque, afinal, ninguém mais dá bola para isso. Que pequenos atos de solidariedade são coisa do passado... Todos os samaritanos deixariam o judeu roubado espancado caído à beira do caminho, mas Jesus disse que quem amava o próximo era justamente aquele que fez o que todos os outros não fariam. Que exemplo! E lembre-se que Deus vive fora do tempo, por isso, o conceito de que “isso era gentileza, mas não é mais”, simplesmente não existe para o Senhor.

Amor é amor. O que revela o amor, seja “grande” ou “pequeno”, é um coração que abre mão de si pelo próximo. Ellen White diz: "Qualquer ser humano que necessite de nossa simpatia e de nossos préstimos é nosso próximo. Os sofredores e desvalidos de toda classe são nosso próximo; e quando suas necessidades são trazidas ao nosso conhecimento, é nosso dever aliviá-los tanto quanto nos seja possível. Devemos cuidar de todo caso de sofrimento e considerar-nos a nós mesmos como instrumentos de Deus para aliviar os necessitados até o máximo de nossas possibilidades. Devemos amar a Deus sobre todas as coisas, e ao nosso próximo como a nós mesmos. Sem o exercício desse amor, a mais alta profissão de fé não passa de hipocrisia" (Beneficência Social, p. 45-46).

Seja gentil, minha irmã, meu irmão. Seja como Cristo é, o Príncipe da Paz. Seja coerente com o que você prega e com a fé que tem. Pelo amor de Deus.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

TRADIÇÕES NÃO TRADICIONAIS

"Quantas vezes é preciso para que algo se torne uma tradição?"

A sociedade judaica na época de Jesus tinha uma longa história que resultou no estabelecimento de tradições que abrangiam quase todos os aspectos da vida. A declaração de Jesus sobre a necessidade de vinho novo em odres novos deve ter sido um choque para seus ouvintes. “Nem se põe vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Mas põe-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam” (Mateus 9:17).

Nos tempos bíblicos, o vinho era armazenado em odres de pele de animal. O vinho fresco se expande, por isso precisa de odres flexíveis. Odres velhos, quebradiços e rachados, não suportam a pressão do vinho novo. Derramar vinho novo neles arruinaria tanto o recipiente quanto o vinho.

Jesus não estava dando uma lição sobre opções ideais de armazenamento. Ele estava apontando para o potencial explosivo do evangelho. Seus ensinamentos não eram uma atualização dos sistemas e tradições antigos; o evangelho representava uma realidade completamente nova.

Renovação em vez de remendos
Jesus proferiu essas palavras quando questionado sobre o jejum. Os discípulos de João perguntaram: “Por que nós e os fariseus jejuamos frequentemente, mas os teus discípulos não jejuam?” (Mateus 9:14). A disciplina espiritual do jejum é boa. Rituais e tradições têm seu lugar e servem para apontar e lembrar as pessoas de realidades maiores e mais profundas. Nunca foram concebidos como fins em si mesmos, a serem defendidos sem questionamento.

Assim como remendar uma roupa velha com um pano novo só piora o rasgo, os ensinamentos de Jesus não podem ser encaixados em nenhum modelo rígido criado por nós. Quando Jesus entra em nossas vidas, Ele não vem para nos remendar — Ele nos transforma. “Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo!” (2 Coríntios 5:17).

É fácil pensar que as tradições se resumem à liturgia e ao culto. Quem já viveu em diferentes culturas sabe que perspectivas distintas sobre tradições e estilos podem facilmente se tornar pontos de atrito. Mas talvez a analogia de Jesus seja ainda mais profunda. Talvez Ele também estivesse falando sobre nossa tendência de tentar encaixar a nova vida de Deus em nossos velhos hábitos, "tradições" e modos de pensar. Talvez eu esteja buscando controle enquanto peço a Deus que me guie, me apegando à amargura enquanto oro por paz, ou vivendo sob o peso da culpa enquanto falo de perdão.

Essas antigas “tradições” pessoais podem não ser tão óbvias quanto os pontos críticos litúrgicos, mas criam tensão, frustração e esgotamento espiritual. Talvez seja um bom momento para perceber que o vinho novo exige um odre novo — um coração renovado, maleável e cheio do Espírito.


"Os homens se apegam a suas tradições, e reverenciam seus costumes, nutrindo ódio contra os que lhes procuram mostrar que estão em erro. Nesta época, quando somos mandados chamar a atenção para os mandamentos de Deus e a fé de Jesus, vemos a mesma inimizade que se manifestava nos dias de Cristo" (O Desejado de Todas as Nações, p. 277).

"Quando Cristo veio ao mundo para exemplificar a verdadeira religião, exaltando os princípios que devem governar o coração e as ações dos homens, de tal maneira havia a falsidade se apoderado dos que tinham tão grande luz, que não mais compreendiam a luz nem desejavam substituir a tradição pela verdade. Rejeitaram o Mestre celestial e crucificaram o Senhor da glória, para que pudessem reter seus próprios costumes e invenções. O mundo manifesta hoje o mesmo espírito. Os homens são contrários à investigação da verdade, pelo receio de que as tradições sejam perturbadas e introduzida nova ordem de coisas. Há, na humanidade, uma constante propensão ao erro e os homens naturalmente se inclinam a exaltar as idéias e o conhecimento humanos, não discernindo nem apreciando o que é divino e eterno" (Conselhos sobre a Escola Sabatina, p. 47).

"Devemos apegar-nos aos ensinos da Bíblia e não seguir os costumes e as tradições do mundo, os dizeres e os atos de homens" (Este Dia com Deus, p. 151).

terça-feira, 11 de novembro de 2025

REVESTIDOS DE IMORTALIDADE

Como será o corpo dos justos após a ressurreição, quando Cristo voltar?

Quando a Bíblia trata da ressurreição dos salvos, ela apresenta elementos de continuidade e descontinuidade em relação ao nosso corpo atual. A diferença não pode ser absoluta, pois, caso contrário, não seria uma ressurreição. Cristo ressuscitou com um corpo glorificado, e, em Sua vinda, “transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao corpo da Sua glória” (Fl 3:21).

Corpo físico. O corpo ressuscitado não é uma alma desencarnada, mas um corpo físico. Após Sua ressurreição, Cristo permitiu que os discípulos tocassem Nele, confirmando que possuía carne e ossos; Ele não era um fantasma (Lc 24:39; Jo 20:20). A natureza física do corpo ressuscitado de Cristo foi testemunhada por muitas outras pessoas. Ele apareceu aos onze discípulos em uma montanha (Mt 28:16, 17) e a “mais de quinhentos irmãos de uma só vez” (1Co 15:6; cf. At 1:3; 13:31). Nem todos O viram, mas chegará o tempo em que todos O verão na glória de Seu corpo ressuscitado (Ap 1:7).

Corpo espiritual. O corpo ressuscitado de Jesus não era exatamente o mesmo que Seu corpo terreno; havia também um elemento de descontinuidade. Maria ouviu Sua voz, mas inicialmente não O reconheceu (Jo 20:15, 16). Dois discípulos caminharam com Ele até Emaús e só O reconheceram quando Jesus abençoou e partiu o pão (Lc 24:30, 31). Naquele momento, os olhos incrédulos deles foram abertos. Assim como Cristo foi reconhecido pelos discípulos, também seremos capazes de reconhecer nossos entes queridos na eternidade. Os relatos bíblicos das aparições de Cristo após Sua ressurreição indicam uma mudança em seu corpo: de forma inesperada e sobrenatural, ele desaparecia (Jo 20:19, 26; Lc 24:31). Portanto, essas foram manifestações sobrenaturais de Sua presença na Terra. A expressão “corpo espiritual” não se refere a um ser imaterial, mas a alguém que pertence permanentemente ao reino celestial de glória.

Corpo transformado. Nosso corpo ressuscitado não será composto exatamente pelas mesmas partículas que formaram nosso corpo terreno (1Co 15:35-38). O que será preservado e trazido de volta à vida na existência corporal é o caráter da pessoa. Na ressurreição, algo extraordinário e misterioso acontecerá: o perecível será ressuscitado imperecível (1Co 15:42, 43) e o mortal será revestido de imortalidade (v. 53; Jo 8:51). Nossa existência corporal humana estará, então, perpetuamente livre dos danos que o pecado causou ao nosso corpo e à nossa natureza.

Ao sermos transformados, a comida será compatível com esse corpo glorificado, assim como foi com Jesus (Lc 24:41, 42; At 10:41). Comeremos da árvore da vida (Ap 22:2) e dos frutos da terra (Is 65:21). As distinções de sexo (masculino e feminino), estabelecidas na criação, serão preservadas, embora nós, assim como os anjos, não procriaremos (Mt 22:30). Na Nova Terra, nossa visão será perfeita, permitindo-nos reconhecer nossos entes queridos no esplendor de seus corpos ressuscitados. 

ÁNGEL MANUEL RODRÍGUEZ (via Revista Adventista)

"Alguns serão mudados quando Cristo vier. Isto que é mortal será revestido de imortalidade, e estes corpos corruptíveis, sujeitos à enfermidade, serão mudados do mortal ao imortal. Seremos então dotados de uma natureza superior. Os corpos de todos os que purificam a alma pela obediência à verdade serão glorificados. Os justos estarão revestidos de imortal juventude e beleza" (Ellen G. White - Olhando para o Alto, p. 97).