sexta-feira, 13 de maio de 2011

Por que a igreja disciplina?


















Tenho percebido em minha igreja que, quase sempre que uma pessoa recebe disciplina da igreja, fica revoltada e faz muitas queixas à liderança. Será que, em uma socie­dade moderna e aberta como a nossa, a disciplina ainda cumpre seus objetivos? Será que continua sendo a melhor forma de lidar com os pecados e pecadores na igreja?

Em primeiro lugar, quero admitir que a disciplina ecle­siástica é um procedimento delicado, complexo e cheio de implicações. É necessário equilíbrio, paciência e amor para que seja aplicada adequadamente. Mas gostaria de fazer al­gumas ponderações:

A disciplina da igreja (censura ou remoção do rol de mem­bros) é bíblica. O próprio Senhor Jesus deu as orientações so­bre o assunto em Mateus 18:15-18. Portanto, os líderes da igreja têm a responsabilidade de administrá-la, conforme orienta a Palavra de Deus e o Espírito de Profecia. Eilen G. White faz a seguinte declaração:

"À igreja foi conferido o poder de agir em lugar de Cristo. É a agência de Deus para a conservação da ordem e disciplina entre Seu povo. A ela o Senhor delegou poderes para dirimir todas as questões concernentes à sua prosperidade, pureza e ordem." Testemunhos Seletos, v. 3, p. 203

Os objetivos desse procedimento são pelo menos três:

a) Salvaguardar a honra da igreja. Comentando a respeito da disciplina por censura, o Manual da Igreja esclarece uma das razões para esse procedimento: "Permitir à igreja o pronuncia­mento de sua desaprovação de uma ofensa grave que trouxe desonra para a causa de Deus." Manual da Igreja, p. 193

b) Despertar a pessoa que cometeu o erro para a gravi­dade e o perigo de sua conduta. Assim, a disciplina é um instrumento para redimir e resgatar o pecador.

c) A disciplina ajuda os outros membros da igreja a per­ceber a gravidade do pecado e evitar cometerem erro se­melhante. Se um membro comete um erro de repercussão pública e nada é feito, a mensagem que é transmitida para os outros, especialmente os jovens, é que o pecado não é realmente grave e a igreja não sofre nada com isso.

Assim, os líderes da igreja precisam seguir a orientação inspirada. É como um pai quando disciplina um filho que está em um caminho perigoso. O pai não precisa ser santo para aplicar a disciplina, ele o faz porque ama e quer prote­ger o filho.

É possível corrigir eventuais injustiças. Se uma pessoa recebeu injustamente uma disciplina, pode solicitar reconsi­deração do voto tomado. Os líderes da igreja devem sempre ter uma atitude humilde e respeitar esse tipo de solicitação. Se, após séria consideração, se percebe que houve de fato injustiça, o reconhecimento do erro é uma atitude de gran­deza por parte da liderança e da própria igreja. Caso não se identifique a eventual injustiça, de igual forma, o membro disciplinado deve ter humildade em reconhecer seu erro e aceitar a decisão da igreja.

Por fim, cabe ressaltar que, estar sob disciplina eclesiásti­ca não é sinônimo de estar perdido. Deus conhece o coração de cada um e só Ele pode julgar o arrependimento e a since­ridade de uma pessoa.

Finalmente, reiteramos a verdade de que o amor de Deus é incondicional. Ele odeia o pecado, mas ama o pecador. To­dos nós temos falhas e estamos sujeitos ao erro. E o maior conforto que podemos ter é o fato de que sempre somos "aceitos no Amado".

Pr. Ranieri Sales

Um comentário:

  1. Muito bom texto do Pr. Ranieri Santos.

    Acredito que muitas das vezes as disciplinas não são aplicadas da forma correta, pois ignoram a graça concedida por Deus a cada um de nós, usurpando a liderança da igreja o papel de juiz, que só cabe a Deus. Aparenta haver um tipo de prazer em disciplinar, enquanto na verdade deveria haver tristeza e uma necessidade de ajudar o que se encontra em grave erro.

    Do outro lado, em outras tantas situações, está a omissão. Muitos erros de membros são passados em branco sem um mínimo de sincera orientação e decisão com relação à disciplina, manchando a imagem da igreja.

    Creio que a disciplina seria semelhante a relação individual com o pecado. Quando o que fazemos de errado nos incomoda, e nos arrependemos e pedimos perdão, Deus nos limpa. Porém nesse ponto encontro divergência com relação àqueles pecados 'escandalosos'. Disciplinar ou não disciplinar? E se houver sincero arrependimento? Acho que o que Jesus queria é que acreditássemos nas pessoas. Assim disciplinar iria de encontro com o conceito de 'graça', se o desejo do que pecou é livrar-se daquilo. Em situações assim a disciplina atua mais como fator de desânimo e afastamento do que realmente de correção, de ajuda. Poderia 'preservar' a imagem da igreja, o que também é questionável, pois tantos chamam a nossa igreja da igreja das regras, que não pode fazer nada (visão claramente deturpada) e situações assim contribuiriam, inclusive, para confirmar esse estereótipo.

    Como em tudo na vida, é quase impossível considerar todos os pontos, e se fosse tentar passaria muito tempo nisso e mesmo assim no final restariam apenas inconclusões. Mas sei, por experiência pessoal, que a ênfase no pecado, no 'é errado', tida durante meu processo de instrução na igreja me trouxe danos espirituais. Também sei, por ver, que o entendimento equivocado da graça de Deus provoca consequências desastrosas na nossa igreja. O equilíbrio é preciso, mas difícil de ser conseguido.

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