A modernidade invade as igrejas de maneira espantosa, inclusive na ornamentação dos templos católicos, como aconteceu na Catedral de São João da cidade holandesa de 'S Hertogenbosch (mais conhecida por Den Bosch).
Apesar de ter começado a ser construída no século XIII, a catedral gótica entrou em franca decadência no século XIX, pelo que demorou mais um século para passar por uma longa restauração que mais parece uma "readequação" aos tempos modernos.
O escultor Ton Mooy recebeu a incumbência de criar 25 anjos, que, obviamente, tinham que se adaptar à decoração antiga da catedral, mas entre eles incluiu um anjo moderno, vestido com jeans, camiseta, jaqueta e "falando" ao celular.
Ton Mooy tinha pensado em caracterizar a imagem do anjo com uma espécie de turbinas a jato nas costas, mas a ideia foi rejeitada pelas autoridades católicas que, no entanto, aceitaram o projeto angélico do celular.
O processo de restauração da catedral enfrentou várias etapas desde 1998, e o anjo-do-celular foi mostrado ao público no mês de abril de 2011, causando um espanto inicial e - posteriormente - enorme sucesso.
A aceitação foi tão grande que um casal da cidade teve a ideia de habilitar um telefone celular para funcionar como o número de acesso ao "anjo", pelo que criaram inclusive um perfil no twitter, o @ut_engelke.
A repercussão foi imediata. Muitas pessoas passaram a ligar para o telefone do anjo, atendido obviamente pelo casal, fazendo pedidos, buscando conforto e contando seus problemas, especialmente naqueles períodos mais difíceis do ano para estar sozinho, como no Natal.
Embora digam que - eventualmente - se sentem incomodados pelas ligações, o casal decidiu manter a linha aberta para as pessoas ligarem, sem cobrar nada por isso nem obter lucro sob qualquer outra forma.
Ao ver o sucesso dessa iniciativa tão cristã, generosa e singela, a enciumada Igreja Católica local tratou de copiá-la e - pior - cobrar por isso. Criaram outra linha "oficial" para o anjo, cobrando cerca de 1 dólar por minuto, fazendo da imagem uma fonte de lucro.
Como era de se esperar, as pessoas preferem ligar para o primeiro telefone, que além de ter o custo de uma ligação comum, é atendido por uma pessoa real - com a qual é possível interagir humanamente - e não por uma gravação cheia de opções no estilo telemarketing, como é o caso do número oficial da igreja.
Não se sabe até quando as autoridades católicas de Den Bosch suportarão a "concorrência" gratuita do casal gentil, mas tudo isso não deixa de gerar uma bela reflexão sobre o verdadeiro significado da igreja e da vida cristã.
Hélio Pariz - Genizah
Fontes: The New York Times e Robs Webstek
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