segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Louvor "Tapa Buraco"


Você teria coragem de dizer ao pastor da sua igreja “vai pregando aí enquanto eu ligo o projetor para cantar com a congregação”, ou “vai pregando aí até o fulano chegar”, ou “comece a pregar logo pra ver se o pessoal para de conversar”? Com certeza não. O sermão é um momento especial, e nunca o usaríamos para preencher o tempo ou distrair o pessoal. Mas o louvor congregacional...

Certa vez, estava em um culto de domingo à noite em uma grande igreja. Haveria uma apresentação de um famoso grupo musical, de modo que o templo já estava lotado com vinte minutos de antecedência. A conversa cada vez aumentava mais, e isso incomodou muito ao pastor daquela igreja. Um tanto irritado pelo barulho da congregação, ele chamou os músicos e ordenou: “Comecem a cantar com a congregação pra ver se eles se calam!” A mensagem subliminar transmitida por esse tipo de comportamento é a seguinte: “A letra do hino não importa, a melodia do hino não importa. Na realidade o próprio hino não tem importância alguma, pois o culto ainda nem começou.”

A parte do documento votado pela Divisão Sul-Americana (Filosofia Adventista da Música) relacionada ao Louvor Congregacional estabelece:

1. Não deve ser utilizado para preencher espaços vagos, ou imprevistos. Deve estar inserido dentro de qualquer culto ou programa, em momento nobre, valorizando sua importância. 

2. Não deve ser realizado de maneira fria, automática ou despreparada. Os hinos a serem cantados e a mensagem a ser exposta devem ter ligação entre si, fruto do planejamento e da cuidadosa organização entre os líderes e o Ministério da Música. (Ver Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 457) 

Sejamos sinceros: em nossos cultos e eventos, frequentemente usamos música para tapar buracos e “encher linguiça”. E normalmente é a música congregacional, mas esse é um costume prejudicial. Precisamos dar ao louvor congregacional um lugar especial em nossos cultos de adoração. Ela não pode ser usada para preencher espaços vazios, ou ocupar a congregação enquanto não começa algum programa.[1]

Algumas comunidades possuem um “momento de louvor” antes de começar o culto. Cantam-se três ou quatro hinos (que não têm a menor relação temática entre si [2]) e então alguém diz: “Vamos fazer uma oração para iniciar o nosso culto.” Curioso.... Quer dizer então que o louvor congregacional não valeu nada? Foi tudo um passatempo? Já não estávamos cultuando a Deus? 

A inteligência da congregação muitas vezes é subestimada quando usamos hinos para preencher tempo, para cobrir falhas de outras pessoas ou para distrair a congregação. Se não valorizarmos o canto congregacional, planejando-o com sabedoria, estaremos cada vez mais perto do modo levítico de “adorar por procuração”. As pessoas estarão em nossas reuniões mais para assistir algo do que para oferecer algo a Deus. Manteremos a congregação no átrio externo, enquanto apenas uns poucos privilegiados entram no Santo dos santos! “Raras vezes deve o cântico ser entoado por uns poucos” – Conselhos Sobre Saúde, pág. 481. 

Dê prioridade ao essencial

O “normal” em nossos cultos é sacrificar o louvor congregacional em benefício de qualquer coisa. Quando o tempo está escasso, cortam-se hinos. Mas há um universo de frivolidades que são quase intocáveis: apresentação dos componentes da plataforma, anúncios (apesar do boletim), promoções de departamentos, leituras intermináveis de atas (existem alternativas para isso: boletins, murais, etc) e outras coisas.

Num culto de Adoração (preste atenção ao nome) é inadmissível diminuir o momento de louvor. Ou então mudamos o nome da reunião...

Pense: das 2 horas que ficamos na igreja durante a Adoração, o que é realmente “de adoração” em nosso culto? Em alguns cultos, apenas as orações são os elementos de adoração (cerca de 5 minutos!). Se precisar, corte os anúncios, corte a promoção do departamento, e a bajulação ao pregador, mas não toque no momento precioso de adoração ao rei do Universo.[3]

Por que temos esses hábitos?

Essa cultura do louvor “tapa-buraco” é alimentada por vários fatores, mas creio que existem alguns que se destacam:

1) Líderes que não louvam. A participação dos líderes na adoração é muito importante. Os pastores, anciãos, diáconos, diretores e todos os outros devem ser exemplos para os adoradores, cantando, orando, ouvindo respeitosamente a apresentação musical e o sermão. O que temos observado é que os líderes e dirigentes aproveitam os momentos musicais para resolver problemas, revisar o sermão, conversar, fazer anotações ou simplesmente ficar andando de um lado para o outro no templo. Alguns minutos de planejamento durante a semana e tudo isso seria evitado. A impressão que se tem é que o único momento em que todos devem estar atentos é o sermão, o resto é mera enrolação.

2) Músicos não valorizam o louvor congregacional. Dificilmente você vai conseguir reunir um grupo de cantores e instrumentistas adventistas para ensaiarem hinos e cânticos congregacionais. A explicação é simples: isso não faz parte da nossa “cultura”! Conseguimos reunir um grupo para ensaiar quartetos, conjuntos e corais, mas hinos e música congregacional... isso sempre foi feito de última hora. Devemos reconhecer: louvamos pouco, louvamos de improviso e louvamos mal...[4]

Mas esse comportamento é contrário à Filosofia Adventista de Música, à revelação dada a Ellen White e à Bíblia. O Louvor Congregacional é a parte musical mais importante de nossos cultos, mas não dedicamos nada a ele. Em suma, é mais que uma questão de costume: é um costume pecaminoso.

Os músicos devem aprender a valorizar o ministério que Deus os confiou. Portanto, nada de cantar para passar tempo, ou para distrair a congregação. O culto não é picadeiro, você não é animador de auditório, nem mestre de cerimônias, muito menos atração circense “enquanto o culto não começa”!

“Nem sempre o canto deve ser feito por apenas alguns. Tanto quanto possível, permita-se que toda a congregação participe.”– Testimonies, vol. 9, pág. 144

[1] Isso de forma alguma é culto racional (Rm 12:1). É irracional, mesmo sem emocionalismo, línguas estranhas, êxtases e outros elementos que usamos para rotular o culto irracional.

[2] Normalmente os hinos são precedidos pela pergunta-chavão “alguma escolha?” Falta planejamento. A música deve ser escolhida de maneira específica para cada ambiente, programa ou culto da igreja. "Os que fazem do cântico uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres e, todavia, solenes." – Evangelismo, pág. 508.

[3] Alguns pregadores deveriam pensar seriamente em cortar partes do sermão, seguindo os claros e específicos conselhos de Ellen White.

[4] Os cd`s de louvor congregacional apenas facilitaram o “trabalho” dos ociosos. Agora, nem cantar de improviso é mais necessário: o cd canta no lugar da congregação.

Pr. Isaac Malheiros – Adoração Adventista

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