terça-feira, 14 de abril de 2015

103 anos do naufrágio - Estamos vivendo como um Titanic?



"Mas já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos em nós, 
mas em Deus que ressuscita os mortos." II Coríntios 1:9

Corria o ano de 1912. Todas as atenções estavam voltadas para a inauguração da maior máquina construída até então, com 46 mil toneladas e 260 metros de comprimento: o famoso Titanic. Só para se ter uma idéia, em pé, o navio teria a altura de um prédio de dez andares e chegou a ser apelidado de o “insubmergível” (unsinkable, em inglês).

Mas a viagem inaugural, com saída da Inglaterra e chegada (jamais concretizada) aos Estados Unidos, foi, na verdade, um dos maiores desastres do século 20. Em meio ao Oceano Atlântico, na noite do dia 14 de abril, o “insubmergível” acabou esbarrando em um bloco de gelo e afundando em apenas duas horas e quarenta minutos. Dos 2.228 passageiros a bordo, 1.523 morreram.

Ocorrida há 103 anos, essa triste história ainda dá o que falar. Já inspirou uma dezena de filmes e cerca de 100 livros. Num deles – A Cultural History of the Titanic Disaster - lançado em 1996 nos Estados Unidos e ainda não traduzido para o português, o historiador americano Steven Biel se propõe a mostrar como cada época extraiu uma lição diferente do mesmo drama. Nos tempos do naufrágio, por exemplo, a história serviu para alimentar debates sobre racismo e feminismo. Até os nazistas aproveitaram a “onda” Titanic. 

E nós, cristãos, poderíamos fazer alguma analogia com a história do “insubmergível”? Creio que sim. E, para tanto, utilizarei as experiências vividas por três personagens bíblicos: o apóstolo Pedro e os reis Nabucodonosor e Saul.

O apóstolo Pedro manifestou seu “complexo de Titanic” ao declarar a Cristo: “Ainda que todos se escandalizem por Tua causa, eu nunca me escandalizarei”, e, “ainda que seja necessário morrer contigo, de modo nenhum Te negarei” (Mateus 26:33 e 35). Pedro se considerava inabalável, “insubmergível” em sua fé. No entanto, algumas horas depois, negava a Jesus. Qual era o problema do intrépido discípulo? Confiança demais em si mesmo.

Cerca de 500 anos antes, outro personagem sofreu as conseqüências do egocentrismo. Ao caminhar pelos corredores suntuosos de seu palácio, Nabucodonosor jactava-se: “Não é esta a grande Babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu poder, e para glória da minha majestade?” (Daniel 4:30). De fato, Nabucodonosor havia tornado Babilônia uma grandiosa capital. Construíra 53 templos, 955 pequenos santuários, bem como obras fantásticas como os Jardins Suspensos. Mas seu problema, à semelhança de Pedro, era o eu. Esquecera que seu poder advinha do Senhor (Daniel 2:37). Resultado: o grande e inabalável rei pastou como animal durante sete anos, aprendendo amargamente o valor da humildade e que “a verdadeira grandeza consiste na verdadeira bondade” (Profetas e Reis, pág. 521). 

Nosso terceiro “Titanic espiritual” foi o primeiro rei de Israel. O jovem Saul, escolhido por Deus para uma importante posição, atribuía, à princípio, a glória as Senhor por suas grandes realizações. No entanto, mais tarde, tomou para si a honra e “perdeu de vista sua dependência de Deus, e em seu coração afastou-se do Senhor” (Ellen White. Patriarcas e Profetas, pág. 521). Preparou, assim, para si o próprio naufrágio. Imergiu completamente no mar do pecado, consultando uma feiticeira (I Samuel 28) e suicidando-se após uma batalha perdida para os filisteus (I Samuel 31). “Quando Saul preferiu agir independentemente de Deus, o Senhor não mais pôde ser seu Guia” (Patriarcas e Profetas, pág. 682). 

Aliás, essa é a causa de todos os naufrágios espirituais. Extrema confiança em si e nenhuma dependência de Deus. Muitos, assim como o “insubmergível” Titanic, vivem orgulhosamente como se Deus não existisse, até o momento em que o “iceberg” da doença, decepção, tristeza ou morte esbarra em suas vidas. Alguns, nesse momento, agarram a mão amorosa do Pai, sempre estendida em sua direção. Outros, infelizmente, afundam.

O Titanic era, sem dúvida, uma maravilha da engenharia náutica, mas nem isso pôde garantir a vida daquelas 1.523 pessoas. Em contrapartida, a Arca de Noé, feita inteiramente de madeira, preservou a vida de seus oito tripulantes em meio às ondas turbulentas do dilúvio. A diferença não estava no material ou no modelo dos barcos, mas sim no poder que os mantinha. O Titanic contava com motores poderosos. A Arca era amparada pelas mãos que sustentam o Universo.

E esse mesmo poder está à nossa disposição hoje. Precisamos confiar mais no Espírito Santo e menos no que Ellen White chama de “instrumentalidades humanas”.

Quando toda auto-suficiência, orgulho e egocentrismo forem arrancados de nosso coração, teremos a certeza de que “o Senhor guiará com segurança ao porto a nobre embarcação que conduz Seu povo” (Review and Herald, 20 de setembro de 1892). 

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