quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Abertura do Mar Vermelho: quando o milagre rouba a cena


Ontem, o Brasil parou para assistir à mais aguardada cena da novela bíblica "Os Dez Mandamentos". Não se via tal mobilização popular em torno de um folhetim desde o último capítulo de "Avenida Brasil". Confesso que desde que foi lançada, não me senti atraído à produção. Mas soube que se trata de uma produção muito caprichosa, que tem feito por merecer desbancar a audiência da Globo no horário. O que teria alavancado a audiência teriam sido as pragas. Porém, nada poderia se comparar à expectativa em torno da abertura do Mar Vermelho. 

A Rede Record, de propriedade do bispo Edir Macedo, desembolsou uma bagatela de um milhão de reais para a produção da cena que foi feita num estúdio em Hollywood.

De repente, uma enxurrada de comentários nas redes sociais dava conta da grandiosidade dos efeitos especiais. Todos ficaram muito impressionados com a perfeição gráfica que retratou um dos maiores milagres narrados pelas Escrituras.

Até aí, tudo bem. O que é belo deve ser aplaudido. E como brasileiros, devemos nos orgulhar de uma produção nacional neste nível. Porém, há algo que me causou certa preocupação. Se por um lado, chama-se a atenção para o milagre espetaculoso, por outro, perde-se de vista a razão de ter ocorrido. Fica a impressão de que foi tão somente uma demonstração de poder por parte de Deus. Longe disso, a abertura do Mar Vermelho, bem como as demais intervenções sobrenaturais narradas na Bíblia foram motivadas por amor. 

O que deveria nos chamar a atenção não são as paredes de água que se formaram, mas a libertação de um povo que por séculos viveu sob o domínio dos egípcios. Foi por eles que Deus moveu céu e terra. Ainda que tal milagre não houvesse ocorrido historicamente, o simples fato de uma multidão de escravos ter deixado o Egito rumando à Terra Prometida já se constituiria num extraordinário acontecimento.

Creio piamente na historicidade dos milagres, digo, de todos eles narrados na Bíblia, tanto no Antigo, quanto no Novo Testamento. Mas se não tivermos cuidado na ênfase dada a eles, corremos o risco de perder de vista o seu propósito. [...]

Toda vez que divulgamos as intervenções miraculosas de Deus na história, devemos revelar a conexão entre elas e o propósito divino de promover uma sociedade justa, sem preconceitos, ódio, egoísmo e corrupção. Sem isso, serão apenas espetáculos pirotécnicos para fazer arrepiar a espinha de quem os assiste. 

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