quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Violência contra a mulher: educação para coibir e religião para curar


A violência contra a mulher tornou-se uma problemática recorrente no mundo – mesmo depois de tantos avanços em termos de leis e da valorização da mulher no âmbito social e doméstico. O emblemático lema “até que a morte nos separe” passou a ser uma meta dentro de muitos relacionamentos. De acordo com o último relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), sete em cada 10 mulheres já foram ou serão violentadas por homens em algum momento da vida. No Brasil, por exemplo, a cada 12 segundos uma mulher sofre pelo menos uma das violências citadas na lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha.

Dado o número elevado de casos de violência contra a mulher, campanhas, recursos sociais de proteção e a criação de leis se tornaram mais frequentes, até em países do oriente, em que a violência é considerada algo normal no cotidiano da vítima. Por isso, o Dia Internacional da Não-Violência contra a Mulher, 25 de novembro, é um marco para milhões de vítimas no mundo.

Apesar da vigência de leis específicas, campanhas e das milhares de ativistas que saem às ruas em favor dessas vítimas, a violência contra as mulheres é cada vez mais recorrente. Para a psicóloga especialista em atendimento às vítimas, Tereza Verone, o principal motivo pelo qual estes números não diminuem é o machismo, fruto de uma cultura patriarcal e sexista. “Os agressores são educados para desenvolver um comportamento agressivo. Estes homens são problemáticos, incapazes de se relacionar de maneira saudável sem tratamento”, complementa.

Neste sentido, Tereza aponta para outro problema: a educação no contexto da violência. De acordo coma profissional, a violência contra a mulher é algo intrínseco à vida, pois as crianças aprendem nas escolas, no seio familiar, na televisão e nas relações do cotidiano que a mulher deve aceitar o tratamento que vier, sem contestar. Consequentemente, essas crianças crescem e se tornam adultos violentos, em razão dos exemplos recebidos. Algumas vezes, esse comportamento é reproduzido de maneira inconsciente nas relações com o sexo oposto.

Além do machismo, o homem que pratica violência física contra a mulher também apresenta um perfil psicológico perturbado, segundo a psicóloga especialista em atendimento aos agressores, Cristiane Gutierres. “De modo geral, o agressor é incapaz de se relacionar de maneira saudável com uma parceira por causa de catalisadores, como o álcool e drogas, mas também porque eles são pessoas com problemas emocionais graves”, constata.

Ciclo da violência doméstica
São muitas as razões que fazem com que as mulheres permaneçam com seus maridos agressivos, tais como: medo, filhos, dependência financeira, dependência emocional e vergonha, respectivamente. Porém, muitas apenas são mais vítimas das circunstâncias, do que do próprio parceiro. “Elas estão presas ao chamado ciclo da violência doméstica (CVD), por isso é que se submetem a uma vida inteira de agressões”, explica a assistente social Tatiane Festa.

O CVD é a rotina da mulher que vive em situação de constante violência. No primeiro estágio, surge a tensão, que é quando o homem cria um conflito com a parceira. Logo em seguida, ele reage a tensão, agredindo-a. No entanto, após uma situação de agressão, o homem se arrepende e trata a mulher com carinho, cuidado e respeito, confundindo suas emoções.

Este ciclo é frequente na vida de milhares de mulheres no mundo e é graças a ele que muitas sofrem nas mãos de homens violentos por décadas. Um exemplo é a história da dona de casa Creusa Maria de Queiroz. Ela foi casada durante 25 anos com um agressor. Desde a gravidez até o ano passado, Creusa foi vítima do ex-marido e também do CVD. “Em um dia ele me agredia e me tratava com muita ignorância. No outro, ele parecia um anjo. Eu cheguei a achar que estava louca. Pensava: ‘Como vou me separar de um homem tão bom?’. isso me consumia dia após dia”, desabafa Creusa.

Creusa ao lado de seus filhos
A dona de casa só decidiu se divorciar do marido quando ele tentou matar seu próprio filho. Segundo Creusa, ele sempre odiou o primogênito e tinha aversão aos outros dois filhos. No entanto, o CVD deste casal provocava nas crianças uma revolta crescente por ver a mãe ser manipulada nas mãos do pai. “Então, em um dia inesperado, ele colocou toda a sua ira para fora. Meu ex-marido deu três facadas no meu filho. Foi horrível. Foi por causa daquela situação que eu percebi o quanto eu estava aprisionada e infeliz com meu relacionamento”, descreve.

Para Creusa, a separação não foi uma decisão fácil. Após ver o filho quase falecer por causa da violência que era nutrida em sua casa, ela buscou ajuda de especialistas e apoio na Igreja Adventista perto de sua casa, em Sorocaba-SP. “A igreja foi fundamental no meu processo de recuperação, além da influência positiva na minha vida e na dos meus filhos”, complementa.

A fé que cura
A deputada estadual e presidente da comissão de Liberdade Religiosa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Damaris Moura, defende que a religião tem um papel imprescindível no combate à violência contra a mulher. “É nas igrejas que muitas vítimas buscam conforto, apoio e paz. Por isso, os membros precisam estar preparados para receber esse grupo”, aconselha.

Devido a necessidade de pessoas preparadas para combater a violência e abuso contra mulheres, crianças e idosos, foi criado em 2002 o projeto educativo Quebrando o Silêncio, que é promovido anualmente pela Igreja Adventista. Foi este mesmo projeto que permitiu a Creusa o tratamento adequado na comunidade onde frequenta. “Quando eu precisei, as pessoas certas me ajudaram e me apresentaram o projeto Quebrando o Silêncio. Então, senti que a igreja estava realmente do meu lado”, certifica.

Contrário ao caso de Creusa, Damaris acredita que a intolerância religiosa, além de ser muitas vezes um motivo para que casais entrem em conflito, também é um fator que inibe a mulher de denunciar e divorciar-se do agressor, principalmente pela vergonha diante da exposição à comunidade religiosa.

Educação como prevenção
Em contrapartida, a violência contra a mulher tem se tornado pauta de discussão não apenas nas minorias – ativistas, feministas e vítimas -, mas, também, foi tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio no Brasil neste ano. Mais que isso, está latente em projetos públicos e privados e em iniciativas voluntárias de pessoas que se sensibilizam com o assunto no mundo todo.

A postura da sociedade e da justiça em relação à violência denota que o crime contra a mulher é considerado repulsivo. Por esse motivo, a proposta para acabar com este problema é a educação, instruindo desde a maternidade, passando pelas escolas, ruas, igrejas e mídia. “A educação contra a cultura machista e a violência é uma ferramenta que pode coibir as agressões praticadas na mulher, definitivamente”, conclui a psicóloga Tereza.

Com informações de ASN

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