segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Madre Teresa é declarada santa - As canonizações sob a ótica bíblica


Celebrada por sua obra de caridade com órfãos e leprosos em favelas da Índia, a freira Madre Teresa de Calcutá (1910-1997) foi canonizada na manhã de ontem, tornando-se, assim, a mais nova santa da Igreja Católica. A cerimônia, celebrada pelo Papa Francisco, foi acompanhada por 120 mil pessoas diante da Basílica de São Pedro, segundo estimativas do Vaticano.

A Igreja define como santo aquele que foi sagrado o suficiente durante a vida para que possa viver no céu após a morte e consiga concretizar milagres. À madre, foram atribuídos dois: a cura de uma mulher indiana com tumor estomacal, em 2003, e de um brasileiro em estado terminal e em coma devido a um câncer no cérebro, reconhecido no ano passado.

A cerimônia, transmitida ao vivo pela Santa Sé, oficializou o longo reconhecimento pelo trabalho de Madre Tereza. Já em 1975, a revista Time havia celebrado a religiosa como uma das "santas vivas" do mundo. Conhecida pela humildade, ela recebeu o Nobel da Paz em 1979.

Madre Teresa de Calcutá, que nasceu em uma família albanesa na Macedônia, fundou sua própria congregação em 1950, as Missionárias da Caridade, e se dedicou durante mais de 40 anos aos pobres e aos doentes, especialmente na cidade indiana de Calcutá. Foi beatificada por João Paulo II no dia 19 de outubro de 2003, em Roma, cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.

Leia a seguir, texto do jornalista Felipe Lemos que trata das canonizações sob a ótica bíblica:

Segundo a própria Igreja Católica Apostólica Romana, canonização é o ato de atribuir o estatuto de santo a alguém que já era beato. É a confirmação final da Santa Sé para quem um beato seja santo e somente o papa, líder máximo católico, pode conceder esse estatuto. O Código de Direito Canônico da Igreja Católica, no seu cânon 1186, estabelece que “para fomentar a santificação do povo de Deus, a Igreja recomenda à veneração peculiar e filial dos fiéis a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus, que Jesus Cristo constituiu Mãe de todos os homens, e promove o verdadeiro e autêntico culto dos outros Santos, com cujo exemplo os fiéis se edificam e de cuja intercessão se valem.”; e, ainda no artigo 1187 acrescenta que “só é lícito venerar com culto público os servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos Santos ou Beatos”. [...]

Como o tempo passa e algumas ações religiosas continuam a ser realizadas praticamente sem nenhuma reflexão mais profunda acerca do seu significado e relevância espiritual no contexto bíblico, é importante pontuar se são tradições religiosas repetidas por motivações diversas (especialmente políticas ou econômicas) ou ensinamentos bíblicos embasados por aquilo que Deus revelou. Apesar de parecer, os dois termos não significam a mesma coisa. Joel Peters, estudioso dos assuntos católicos, escreveu 21 razões pelas quais não se pode aceitar a autoridade da Bíblia somente (Sola Scriptura) para assuntos de fé. Ali está a diferença entre tradição e ensino bíblico.

Bem, sem mais rodeios, não consigo encontrar fundamentação bíblica para as canonizações de gente como os antigos papas ou piedosos católicos já mortos há séculos. Muitos deles, diga-se de passagem, que tiveram uma conduta admirável e louvável em vários aspectos. Não entro no mérito da vida dessas pessoas, pois somente Deus pode julgar o ser humano. Mas entro no mérito do processo e de seu significado. Vamos as minhas principais considerações:
1. O conceito bíblico de santos não é o mesmo apregoado pelos que defendem a canonização. A palavra grega hagios, normalmente traduzida para santos, tem muito a ver com o conceito de pessoas separadas do pecado, portanto consagradas a Deus. Há muitos textos, mas vamos a alguns deles que evidenciam que os santos são os cristãos vivos de hoje em dia e não apenas quem já morreu. A palavra não denota um grupo de pessoas diferenciada ou em nível acima dos demais que estão militando na fé cristã ainda. O apóstolo Paulo, testemunhando ao rei Agripa, relembra que ele perseguiu muitos santos e os jogou nas prisões (Atos 26:10). Ainda ele, autor da carta aos romanos, destaca na introdução que os destinatários de sua epístola são santos (Romanos 1:7). E vai mais além. Diz que, em determinado momento da história do mundo, os santos hão de julgar o mundo (I Coríntios 6:2). Ele está falando de gente comum que decide se colocar nas mãos de Deus e abandonar o pecado ou de um grupo seleto de gente que, por decisão de homens, passa a exibir esse status de santos? Há outros textos nessa mesma linha e a ideia é a mesma.
2. Os santos, na Bíblia, são os que passam pelo processo de santificação aqui e isso não está associado a meramente se fazer obras em favor dos outros. O apóstolo Pedro destaca que, assim como Deus é santo, Ele espera que Seus filhos se tornem santos ( I Pedro 1:15). Mas não há indicação de que essa busca por santidade deva acontecer somente depois da morte e nem que está baseada apenas em boas obras praticadas. É uma ação divina que acontece obviamente enquanto a pessoa está viva (I Tessalonicenses 5:23) e que vai até a vinda de Jesus Cristo. Logicamente se Deus habitar na vida de uma pessoa e impressionar sua mente, isso resultará em mudança de comportamento e consequente realização de obras dignas (Efésios 2:8-10 e Filipenses 2:12,13).
3. Não há qualquer aprovação divina para que alguém busque pessoas mortas como intercessores perante Ele. Os mortos não possuem consciência do que se passa com os vivos (Eclesiastes 9:5,6 e Jó 7:8-10), portanto, não podem ser intercessores junto a Deus. No livro de Apocalipse, capítulo 5 e verso 8, há menção das orações dos santos, porém não há qualquer base para se pensar que mortos possam fazer preces. Está falando, em realidade, de uma visão profética dada ao apóstolo João em que ele tem um vislumbre do que é o santuário celestial e a comparação de que o incenso, que era usado no santuário terrestre no tempo em que o povo de Israel antigo mantinha essa representação autorizada divinamente, significa justamente a oração dos santos (ou seja, pessoas tementes a Deus).
4. A única intercessão amparada pela Bíblia é a de Jesus Cristo. Apesar da reputação digna e da maneira honrosa de vida que tiveram muitos homens e mulheres fiéis cristãos ao longo dos séculos, isso não os credencia a ser intercessores junto a Deus. Há um só mediador entre Deus e os homens (I Timóteo 2:5) e, desde o tempo do santuário terrestre, fica bem claro que o sangue do cordeiro representava o perdão dos pecados, ou seja, a morte de Cristo (Hebreus 8, 9 e 10 os capítulos inteiros e Apocalipse 19).
Mesmo que cerimônias de canonização reúnam milhares de pessoas, ganhem repercussão midiática mundial e sejam praticadas há séculos, biblicamente não encontro consistência para depositar minha fé nelas. Prefiro me manter ao que dizem os textos bíblicos e espero sinceramente que os interessados em saber mais acerca do tema voltem-se ao livro sagrado para conhecê-lo mais profundamente e encontrar nele as respostas para assuntos religiosos e espirituais.

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