terça-feira, 4 de outubro de 2016

Precisamos falar sobre a vaidade no meio cristão


Recentemente circulou pela minha timeline algumas vezes um texto intitulado “Precisamos falar sobre a vaidade no meio acadêmico”. Não li porque não integro o tal meio acadêmico, mas aproveito o gancho porque o meio cristão eu integro, e sei por experiência própria que o assunto é tão ou mais pertinente cá como lá.

No último mês minha igreja me cedeu o púlpito e sei bem o tipo de comentário que eu esperava em meu íntimo receber ao final da mensagem. Sei bem aquele sentimento insidioso que me assaltava na hora de preparar a mensagem: a vontade de primeiro “parecer inteligente” e só depois, se desse, transmitir o recado certo. Sei bem a bipolaridade que me faz irascível com minha família imediatamente após haver sido usado por Deus. E aquele ciúme quando é outro que está falando, a quantidade de vezes que me ocorre algo como “bah, eu faria melhor!”, o despeito quando não sou eu o chamado ou quando o texto não é lido. Conheço a tentação e desconfio que não é só comigo.

Na última semana encontrei Tiago Arrais em uma festa. O cara é um dos primeiros casos em nosso meio de algo parecido com um popstar. Famoso, lota teatros por onde vai, dialoga com e transita entre gente de muito mais nichos além do espaço restrito de nossa denominação Adventista. Imagino a tentação em proporções muito mais explosivas para ele do que para mim. Mas o cara que conheci não parecia nada disso. Simpático, simples, fazendo questão de ouvir, recebendo nossa pequena tietagem com humildade.

O segredo para uma atitude correta, no caso dele, além da óbvia comunhão com Deus, parece estar na base teórica que veio antes da fama e que transparece em letras de músicas que falam coisas como “me esvazie de mim e deste mundo/ e que meu nome morra com meu corpo/ e que o de Cristo permaneça em tudo” (Os Arrais - Oração).

É a teoria que deflui da simples constatação do contraste entre tudo o que somos e podemos ser com tudo o que Cristo na cruz é. É a constatação que faz Paulo afirmar que temos um tesouro guardado em vasos de barro (II Corintios 4:7).

Precisamos falar sobre a vaidade no meio cristão porque ela é real e porque o tesouro vale muito e porque o vaso é sempre barro, barro ordinário. Aquele insight não é meu. Aquele talento não é razão para me achar de algum modo superior. Aquele carisma que eu lutei para desenvolver é lixo se não for para honra e glória de Jesus Cristo. Aquele espírito de desprendimento e serviço são trapos sujos se não apontarem ao Salvador. Pretender me vestir com eles é a pior idiotice que eu poderia cometer.

Oremos por todos que entram sob o holofote de alguma forma. Oremos para que venham mais pessoas que possam, com a atitude certa, entrar sob os holofotes (Lucas 10:2). E oremos para que também nós desejemos honestamente que o nosso nome morra com nosso corpo, se for para glória de Quem realmente a merece. Amém.

Marco Aurélio Brasil (via Nova Semente)

Nenhum comentário:

Postar um comentário