terça-feira, 11 de abril de 2017

Vamos falar sobre abuso emocional?

"Marcos Harter está eliminado do Big Brother Brasil." O anúncio foi feito pelo apresentador Tiago Leifert no início do programa desta segunda-feira (10) (assista ao vídeo). A decisão foi baseada nas regras do reality show, que proíbem agressão física, e nas investigações da Polícia Civil do Rio, que abriu inquérito para apurar se houve lesão corporal quando o médico de 37 anos discutiu com a estudante Emilly Araújo, de 20 anos, dentro da casa. Gravações do programa mostram o gaúcho apertando e beliscando a jovem. O cirurgião também constrangeu Emilly em várias ocasiões, descritas como "tortura psicológica" pela diretora da Divisão de Política de Atendimento à Mulher do Rio de Janeiro, Marcia Noeli Barreto. Leifert também ressaltou a ocorrência de "abuso psicológico". Pelos abusos e agressão, o público pediu a expulsão do médico. A tag #MarcosExpulso foi um dos tópicos mais discutidos neste fim de semana.
"Toda e qualquer violência física e psicológica contra a mulher deve, sim, ser repudiada. Quando se fala em agressão, não devemos pensar apenas em socos, tapas e chutes. A agressão também se faz com palavras, atitudes e manipulações que ferem a nossa dignidade. Estar presa em um relacionamento abusivo é também não ter real dimensão da gravidade da situação. É preciso que fique claro aqui que as atitudes de Marcos Harter são de truculência e violência, principalmente psicológica, contra Emilly Araújo. Sempre é importante destacar: a lei Maria da Penha enquadra a tortura psicológica como violência doméstica. Para além dessa nossa fala, o protagonismo do público em denunciar e amplificar o caso é comovente. Que nossa voz ecoe e ajude a não deixar uma de nós só. Porque se mexeu com uma, mexeu com todas, SIM." (Júlia Audi, Master Coach na empresa Instituto Empodera.Mente)
Abuso emocional
Violência doméstica e abuso podem acontecer com qualquer pessoa. Mesmo assim, quase sempre esse problema é negligenciado, desculpado ou negado. Isso é especialmente verdadeiro quando o abuso é psicológico, e não físico. O abuso emocional é frequentemente minimizado, apesar de deixar cicatrizes profundas e duradouras.

Normalmente, o abuso emocional é muito difícil de ser reconhecido, até mesmo pela própria vítima, quanto mais por quem está à sua volta. Por acontecer de forma sutil, muitas vezes passa despercebido pelos familiares e amigos da vítima. Em geral, a vítima não pensa nem sente que o abuso é abuso, e vai se anestesiando em relação a ele. Essa forma de abuso afeta principalmente mulheres e crianças, não deixa marcas roxas, cortes nem ossos quebrados, mas deixa cicatrizes psicológicas profundas, destrói a autoconfiança e autoestima da pessoa certa que vive o abuso e das crianças que estão à sua volta, marcando um padrão futuro de comportamento: nas meninas, de permitirem ser abusadas pelos companheiros, e nos meninos, de serem futuros abusadores, apesar do sofrimento vivido na infância...

O abuso emocional é definido como qualquer julgamento, não importa a origem, que paralisa ou humilha uma pessoa, mantendo-a presa ao passado, ao mesmo tempo que o futuro só é visto através da perspectiva negativa do relacionamento abusivo. Quando está numa relação abusiva, o parceiro sempre se lembra daquilo que foi ruim, daquilo que o outro não fez certo, daquilo em que errou e afirma constantemente a incapacidade de fazer algo diferente do ruim.

O abuso emocional funciona como uma "lavagem cerebral" e a vítima aprende que tudo o que faz é errado, tudo é sua culpa, não sabe nem pode nada. Se as palavras do parceiro a fazem sentir-se pequena, sem valor ou humilhada, e se ele não a respeita nem leva em conta como você se sente, isso é abuso emocional. Mais importante ainda: isso é inaceitável.

Os relacionamentos abusivos são caracterizados por muito ciume, negação emocional, falta de intimidade, acessos de raiva, coerção sexual, infidelidade, ameaças, mentiras, promessas quebradas, jogos de poder e controle.

O abuso emocional é tão destruidor quanto o abuso físico, apesar de muito mais difícil de ser reconhecido. Por isso, também é difícil alguém se recuperar dele. Esse abuso é tipicamente alternado com declarações de amor e afirmações de que tudo vai mudar. Assim, o parceiro abusado fica "fisgado", preso nas promessas que nunca se cumprem.

Os relacionamentos abusivos pioram com o tempo. O abuso emocional e o verbal mudam, com frequência, para ameaças mais abertas ou para o abuso físico, particularmente em períodos de stress. Os abusadores são carentes e controladores; o abuso se intensifica quando eles sentem que vão perder o parceiro ou quando o relacionamento acaba (75% das mortes violentas de mulheres ocorrem depois da separação).

Os abusadores agem a partir de fortes sentimentos de inadequação e vergonha de si mesmos, e querem inferiorizar seus parceiros para, desta forma, sentir-se melhores.

Até que você consiga reconhecer o abuso emocional e verbal, você continuará a sofrê-lo em sua vida, porque vai continuar a deixar que amigos, conhecidos e estranhos a agridam de forma que a machuquem ou não levem em conta os seus sentimentos. Muitas vezes você até confunde ações abusivas contra você como realistas. Se você pensar: "Eles podem fazer isso porque é diferente para eles; não são assim tão ruins ou incapazes como eu" - isso é um julgamento abusivo. Qualquer julgamento que você faça sobre si mesma que negue sua habilidade para criar bons relacionamentos e uma vida positiva para você, é abusivo e errado.

Ciclo do abuso
* Abuso - O parceiro agride com palavras, atitudes ou comportamentos agressivos e/ou que humilham. O abuso é um jogo de poder para mostrar "quem manda".
* Culpa - Depois do abuso, o parceiro sente culpa, mas não pelo que fez. Ele está mais preocupado com a possibilidade de ser pego e com as consequências causadas pelo comportamento abusivo.
* Comportamento "normal" - O abusador faz de tudo para conseguir o controle novamente e manter a vítima no relacionamento. Ele pode agir como se nada tivesse acontecido, ou ele pode agir muito sedutoramente, jogando todo o seu charme sobre a parceira. Essa lua-de-mel, esse momento de doce paz, pode dar a esperança de que ele realmente mudou de vez (quantas vezes isso aconteceu?).
* Fantasia e planejamento - O abusador começa a fantasiar sobre a maneira de abusar novamente da parceira. Gasta muito tempo pensando sobre o que ela fez de errado, com quem ela anda conversando no celular e como ela vai pagar pelo mal feio. Então, ele planeja transformar a fantasia do abuso em realidade.
* Armadilha - O abusador fica à espreita e põe seu plano em ação, criando uma situação em que ele possa justificar o abuso.

E o ciclo continua... As desculpas e gestos de amor entre os episódios tornam a situação muito difícil de ser mudada. Fica sempre a esperança da mudança, e com o tempo a pressão abusada fica como que anestesiada, entendendo e aceitando que a relação funciona assim - para receber um pouco de amor e carinho, precisa se submeter a um período de dor e sofrimento. Ele faz a parceira acreditar que ela é tudo para ele, que ele realmente a ama. Entretando, o perigo de permanecer na relação existe e é bem real.

Formas de abuso emocional
* Colocar para baixo, chamar nomes, fazer pensar que está louca, fazer jogos mentais.
* Ameaças de machucar física ou emocionalmente. Ameaças de divórcio, traição, suicídio, levar as crianças embora, contar a todos sobre intimidades.
* Deixar com medo através do olhar, gesto, voz alta, quebrar coisas, destruir propriedades, dirigir em alta velocidade.
* Ameaçar fazê-la de empregada. Tomar todas as grandes decisões, agir como "mestre da casa", negligenciar responsabilidades com trabalho, cuidado dos filhos e responsabilidades da casa.
* Padrões abusivos de sedução. Forçar a fazer coisas contra sua vontade. Criticar performance sexual. Contar sobre relacionamentos fora da relação.
* Não deixar que você trabalhe ou atrapalhar seu trabalho, controlar seu acesso ao dinheiro, esconder investimentos.
* Controlar o que você faz, com quem sai, com quem se encontra, com quem fala. Negar acesso ao carro. Deliberadamente afastar dos seus contatos de apoio.

Como você se recupera do abuso emocional?
1. Entenda que a mudança é inevitável e que você tem forças para fazer as mudanças que quer e precisa fazer. Com certeza, você não vai conseguir todas de uma só vez, porque até pode nem saber exatamente o que quer e precisa. Você pode começar a fazer uma ou outra pequena mudança para ver como se sente. Comece, talvez, a cuidar um pouco de você, sentar à mesa para tomar o café da manhã, fazer um exercício, tomar um banho gostoso e demorado.

2. Comece a reprogramar sua mente. Você pode esperar até que as coisas melhorem para começar a acreditar que elas vão melhorar; ou pode acelerar a marcha da sua recuperação começando a acreditar nas melhoras, independentemente das mudanças. Mesmo que o quadro continue o mesmo, ou tenha mudado muito pouco, a grande diferença será como você se sente a respeito dele. Sua atitude mental fará essa diferença.

3. Procure ajuda e apoio. Existem grupos de apoio, terapeutas, conselheiros, amigas e outros profissionais de saúde que entendem o quanto você está sofrendo e poderão ajudá-la. Não confunda: abuso emocional é violência doméstica, sim.

4. Procure informações. Você não é a unica a estar nas mãos de um parceiro abusador. Alguns batem, outros não, mas todos se comportam de modo muito parecido. Todos dizem mais ou menos as mesmas coisas cruéis. Você logo vai perceber que, como todos trabalham com o mesmo script, o que eles dizem não é sobre você, mas sobre eles.

5. Comece a contar suas bênçãos. Sim, você passou por situações inimagináveis, dor e sofrimento que você não merecia. Sem duvida alguma, você ainda está ferida, mas tem uma escolha. Você pode ficar olhando a dor, ou pode começar a olhar para as coisas pelas quais podem agradecer e celebrar. Até aqui o Senhor a protegeu - você está saindo dessa situação. Reserve um tempo no seu dia, pode ser a ultima coisa do seu dia. Seja agradecida a Deus pela saúde, pela saúde dos seus filhos, pelo sorriso de uma criança, por qualquer coisa boa que tenha acontecido no seu dia. Agradeça a Deus por um agrado recebido, pelo sol brilhante, a beleza de uma flor. Se você se comprometer a ser grata a Deus por dez bênçãos recebidas, você vai precisar procurar por elas. Ao criar esse hábito, verá quantas mais você vai encontrar.

Essas ideias são só o começo. Todas essas sugestões são para afastar você da sua dor, da sua mente de vítima para a conscientização de que é uma pessoa de valor e de que há muitas coisas para você conseguir e conquistar na vida. A jornada de recuperação do abuso emocional é uma jornada para longe do medo, da vergonha, da humilhação e da incapacidade para a crença em você e numa vida melhor para você e seus filhos. Você não sabe o que a aguarda no futuro, mas tenha certeza de que será muito, muito mais feliz do que pode imaginar agora.

Cláudia Bruscagin (Via Revista Quebrando o Silêncio)

6 comentários:

  1. Muito esclarecedor este artigo.Obrigada

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  2. Claro que toda forma de violência é errada mas ela sabe muito bem se virar nesse jogo e vai tirar a melhor por gostar de ser a coitadinha. Qualquer mulher que se preza não leva um relacionamento assim adiante. OBS: Mas ela quer o dinheiro e a piedade do povo vai dar isso.

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  3. Ótima matéria
    Parabéns ��������

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  4. Ótimo, aproveita e comenta os abusos que a própria Emily cometeu e a toda manipulação? É justo a mulher conhecer uma pessoa claramente desequilibrada e poder poder manipular, forçar a barra e depois sair totalmente ilesa como vitima dessa história? O sujeito era um animal, mas manipulação psiquicologica é marca registrada desse programa de TV imundo, tanto, que a manipulação da Emily passou batido e quase ninguém questionou devido a grandeza da imbecilidade e descontrole desse sujeito. Mulher manipuladora também é responsável! Ambos foram abusivos, cada um de uma forma, ambos deveriam ter saído e forçados a frequentar um psiquiatra!

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  5. Olha... como alguém que não assiste o BBB ficou-me uma dúvida sobre o artigo. Ele começou citando a expulsão de um componente masculino do programa por agressão física, mas fala sobre agressão emocional. Está se apresentando a agressão dele como emocional ou a manipulação dela (emocional) como sendo também um tipo de agressão?

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    1. Anderson, a vítima em questão além das agressões físicas, sofreu principalmente abuso psicológico e constrangimento. Também não assisto BBB, mas pelo impacto que causou o fato, achei relevante abordar este tema no blog. Abraço e obrigado pela participação.

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