Imagine alguém saindo de casa atrasado para fazer uma entrevista de emprego, depois de estar há mais de um ano desempregado. Por falta de energia durante a noite, o despertador não tocou e o candidato acabou perdendo a hora. Ao acordar desesperado, pensou: “Que azar! Tinha que acontecer isso logo hoje?” Apesar da correria para sair de casa, o ônibus chegou rápido. Enquanto ele se aproximava, veio o pensamento: “Que sorte encontrar esse ônibus exatamente agora!” Depois, já com o contrato de trabalho em mãos, encontrou um amigo que lhe perguntou como conseguiu o emprego. Ele respondeu sem hesitar: “Tive a sorte de ser o único candidato que cumpriu todos os requisitos da empresa!”
Apesar de não ser real, a cena é bastante comum. Já notou quantas vezes creditamos à sorte ou ao azar os fatos positivos ou negativos que nos acontecem? Você acredita que eles sejam realmente fruto do acaso? Aconteceram porque você estava no lugar exato e na hora certa? Ou deram errado porque não era o seu dia? Você acredita em coincidência ou providência, sorte ou bênção? As perguntas parecem óbvias para um cristão, mas precisam nos levar a refletir sobre o contraste entre o que realmente cremos, como nos expressamos e quanto isso acaba demonstrando ingratidão e desrespeito ao Senhor.
A Bíblia não incentiva a crença de que as coisas acontecem por acaso. O próprio Jesus foi claro ao mencionar que nada acontece sem o conhecimento do Pai, e Ele é tão preciso que “até os cabelos da cabeça estão contados” (Mt 10:30). Então, por que chamar de sorte as bênçãos de Deus e azar os desafios que Ele nos permite enfrentar? Se “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8:28), por que definir como azar o que acontece de negativo e sorte o que ocorre de positivo quando todas são ações divinas para moldar o caráter e proporcionar salvação?
Ellen White aprofundou essa visão, destacando que “frequentemente os homens oram e lamentam por causa das perplexidades e obstáculos que os confrontam. Mas é propósito de Deus que eles enfrentem perplexidades e obstáculos e, se mantiverem firme até o fim o princípio de sua confiança […] terão êxito ao lutar com perseverança contra dificuldades aparentemente insuperáveis, e com o êxito virá maior alegria” (Olhando Para o Alto, p. 119). Ela vai mais longe: “A aflição e adversidade podem causar tristeza, mas é a prosperidade que representa maior perigo para a vida espiritual” (Profetas e Reis, p. 24). O que parece perda pode se tornar ganho e o que parece ganho pode acabar em perda, porque, conforme disse Roosevelt Marsden, “nossa fé não está nas bênçãos de Deus, mas no Deus das bênçãos”.
Precisamos tirar o foco da sorte e colocá-lo na bênção. Assim, aprenderemos a depender do Senhor em cada passo e poderemos alcançar a mesma visão e confiança que teve H. G. Spafford, o qual, mesmo perdendo a casa em um incêndio e duas filhas em um naufrágio, compôs as palavras emocionantes do hino “Sou Feliz com Jesus” (HA, 230). Você certamente conhece suas palavras: “Se paz, a mais doce, me deres gozar / Se dor a mais forte sofrer / Oh, seja o que for, Tu me fazes saber / Que feliz com Jesus hei de estar.”
Viva cada dia na certeza de que, “quando as pessoas saem para trabalhar, quando se entregam à oração, quando se deitam à noite para dormir e quando se levantam pela manhã; quando o rico dá uma festa em sua mansão ou quando o pobre reúne seus filhos em volta de uma mesa escassa, em qualquer situação, o Pai celestial observa com ternura cada um dos seus filhos. Nenhuma lágrima é derramada sem que Deus saiba. Não há sorriso que Ele não perceba” (Caminho a Cristo, p. 86).
Deixe de lado a sorte e o azar e entregue sua vida nas mãos do Senhor, porque, “se você teme a Deus, não há necessidade de temer mais nada” (John Mason). Deus está acima do acaso!
Pr. Erton Köhler (via Revista Adventista) (Título original: Sorte ou bênção?)
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