quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

Hipocrisia cristã: maldição ao mundo

"O maior dos enganos do espírito humano, nos dias de Cristo, era que um mero assentimento à verdade constituísse justiça. Em toda experiência humana, o conhecimento teórico da verdade se tem demonstrado insuficiente para a salvação. Não produz os frutos de justiça. (...) Os fariseus pretendiam ser filhos de Abraão e se vangloriavam de possuir os oráculos de Deus; todavia, essas vantagens não os preservavam do egoísmo, da malignidade, da ganância e da mais baixa hipocrisia. (...)

O mesmo perigo existe ainda hoje. Muitos se têm na conta de cristãos simplesmente porque concordam com certos dogmas teológicos. No entanto, não introduziram a verdade na vida prática. Não creram nela nem a amaram; não receberam, portanto, o poder e a graça que advêm mediante a satisfação da verdade. As pessoas podem professar fé na verdade; mas, se ela não os tornar sinceros, bondosos, pacientes, dominados, tomando prazer nas coisas de cima, isso é uma maldição a seu possuidor e, por meio de sua influência, uma maldição ao mundo.

A justiça ensinada por Cristo é conformidade de coração e de vida com a revelada vontade de Deus. Os pecadores só se podem tornar justos à medida que têm fé em Deus e mantêm vital ligação com Ele. Dessa forma, a verdadeira piedade elevará seus pensamentos e enobrecerá a vida. Então, as formas externas da religião se harmonizarão com a interior pureza cristã. Nesse caso, as cerimônias exigidas no serviço de Deus não são ritos destituídos de sentido, como os dos fariseus hipócritas." (Ellen G. White - A Fé Pela Qual eu Vivo, p. 108)

Um dos predicados que Jesus mais usou para (des)qualificar as pessoas durante seu ministério terreno foi “hipócrita”. Era o adjetivo principal que Ele utilizava para se referir aos escribas e fariseus, por exemplo. Nas minhas leituras da Bíblia, acabei atentando para essa palavra e acabei me entregando à reflexão acerca da hipocrisia. E tenho pensado tanto sobre a minha hipocrisia quanto a das pessoas que me cercam. Não se espante de eu dizer “a minha”, porque quando se é honesto consigo mesmo é impossível não reconhecer que todos temos um pouco (ou muito) dela. Uns mais, outros menos, mas todos temos nossa dose desse mal, nem que seja em nome do bom convívio social. Não virar a mão na cara de uma pessoa que você sabe que está mentindo para você e ficar sorrindo para ela, não deixa de ser um ato hipócrita, se você parar para pensar. Então, eu e você temos nossa cota de hipocrisia, admitamos. Afinal, não admitir isso seria… hipocrisia.

“Hipocrisia” vem do grego hupokrisía, vocábulo que tem o sentido de “alguém que desempenha um papel”. Ou seja, em resumo, hipocrisia tem a ver com fingimento. É uma coisa meio teatral, quando você finge ser, sentir ou pensar algo que não condiz com a realidade. Mas, mesmo sendo uma característica tão presente no ser humano como qualquer outro pecado, preciso reconhecer que ultimamente tenho visto tanta hipocrisia que chega a gerar em mim uma certa repulsa.

Obviamente isso não significa que todos os cristãos são hipócritas. Na verdade os cristãos sinceros não deixam de ser pecadores, mas passam a tentar vencer o pecado com todas as suas forças apoiadas na força que Cristo concede. 

O que o texto acima de Ellen White quer nos dizer é que a tendência de muitos é de achar que por terem o conhecimento da "verdade" isso os torna "verdadeiros"; por terem o conhecimento da Justiça, isso os torna justos; por terem o conhecimento do que é o cristianismo, isso os torna cristãos. Não é assim que acontece. Isso era comum com certa classe de pessoas, nos dias de Cristo, e parece que é mais comum nos dias de hoje!

A única coisa que identifica uma pessoa não é o que ela profere ser, mas o que ela é de fato, ou seja, o que os seus atos dizem que ela é. Coerência é tudo o que Jesus ensinou. Busquemos incansavelmente conhecer a verdade e pratiquemos a verdade que conhecemos, dessa forma não traremos maldição, ou escândalo ao mundo, que já está farto de gente que diz ser o que nunca foi. Antes de tudo, conheça a verdade que é Cristo (João 14:6 e 8:32), e Ele transformará suas atitudes, de forma que a hipocrisia - um dos maiores males que enchem bancos de igrejas e lotam as ruas, praças, faculdades e a sociedade em geral - não se achará em sua vida.

A nossa hipocrisia não engana a Deus. A Bíblia diz em Lucas 16:15: “E ele lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações; porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação.”

A hipocrisia tem motivos duvidosos. A Bíblia diz em Mateus 6:2: “Quando, pois, deres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.”

Hipocrisia é conhecer a verdade, mas não obedecer – dizer que Cristo é o Senhor mas não segui-Lo. A Bíblia diz em Mateus 23:13: “Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! porque fechais aos homens o reino dos céus; pois nem vós entrais, nem aos que entrariam permitis entrar.”

[Texto adaptado via Contramão e Apenas]

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Quem está frio: o louvor ou o cantor?

Quantas vezes você já ouviu dizer que os momentos de adoração musical na sua igreja têm uma temperatura que varia entre morno e frio? E quantas vezes você ouviu uma resposta rápida dizendo que isso é “falta de Jesus no coração do povo”?

De uma forma geral, a adoração precisa ser mais calorosa? Sim. O povo vai à igreja sem espírito de adoração? Também. No entanto, colocar a culpa na mornidão do louvor e na falta de comunhão nos leva a um beco sem saída: a adoração é fria por causa do povo ou o povo é frio por causa da música?

Pensando bem, nem a monotonia do serviço de louvor nem a frieza espiritual da congregação são “culpadas” isoladamente por essa situação.

Por um lado, a adoração pode estar sem vigor na sua igreja por causa da forma como o louvor está sendo conduzido. Muitas vezes, as igrejas têm tentado tapar a desorganização usando a música como peneira. É quando se ouve expressões do tipo: “enquanto o culto não começa, vamos cantar o hino …”. É verdade que, às vezes, há uma emergência: o pregador não chegou a tempo, o diácono contou errado o número de cadeiras na plataforma, a porta de acesso à plataforma emperrou e por aí vai. Mas, se todo culto tem uma emergência, das duas, uma: ou acabam com a emergência ou a emergência acaba com o culto.

Por outro lado, as músicas escolhidas para os momentos de louvor da congregação às vezes são inadequadas. Isso inclui hinos antigos e cânticos modernos. Pense com franqueza: por que tantos hinos do hinário não entusiasmam uma boa parcela da congregação? Você acha mesmo que é falta de comunhão do povo?

Alguns pensam em resgatar velhos hinos que deixaram de ser cantados. Ora, se um hino deixou de ser muito cantado é porque ele se tornou pouco preferido. Vários hinos suportaram a passagem do tempo, mas outros não envelheceram muito bem.

Há líderes de louvor que procuram estimular o canto congregacional por meio de canções contemporâneas. Não há problema nessa atitude. Afinal, os hinos do século 19 não nasceram tradicionais. Eles eram a linguagem musical contemporânea dos crentes de sua época. Mas, em algumas ocasiões, o louvor não empolga a igreja porque, enquanto alguns adotam novos modelos litúrgicos de forma irrefletida, outros não aceitam novidade alguma.

Hinos vibrantes e outros solenes, alguns alegres e outros mais reflexivos. Quem dirige o louvor precisa levar em conta a unidade congregacional e não somente a diversidade musical. Porque, dependendo do repertório escolhido, o dirigente da música pode auxiliar na criação de uma atmosfera de adoração e contentamento, mas também pode entediar ou constranger uma congregação.

Muitas vezes, estamos pensando somente em nosso gosto musical e no senso comum sobre adoração. Alguns confundem adoração com solenidade formal, enquanto outros confundem o espaço do templo com sua sala de estar. Por que se apegar a um extremo ou outro? O louvor não precisa ser feito nem com notas de funeral nem com sons de carnaval.

Não existem soluções mágicas para fazer as pessoas cantarem “em espírito e em verdade” (João 4:23). O regente poderá levar um repertório da maior excelência e apreciação do povo, mas de nada adiantará se as pessoas não suspirarem por Deus como a “corça suspira pelas correntes de águas” (Salmos 42:1). A música poderá ser a mais contemporânea, mas se eu não me alegrar quando me disserem “vamos à casa do Senhor” (Salmos 122:1), o louvor será incompleto. O hino poderá ser o mais tradicional, mas se eu não celebrar com júbilo nem servir com alegria, não haverá adoração.

Nosso louvor não existe para que Deus nos ame. Nós o louvamos porque Ele nos amou primeiro (1 João 4:19). Nossa adoração também não serve para mostrarmos que somos bons. Nós o adoramos porque “Ele é bom e a Sua misericórdia dura para sempre” (Salmos 136:1).

Joêzer Mendonça (via Revista Adventista)

Nota: Vejamos somente alguns conselhos extraídos do livro Evangelismo, pp. 504-512 que Ellen G. White nos deixou sobre os momentos de adoração musical na igreja:

"A música pode ser um grande poder para o bem; contudo não tiramos o máximo proveito desta parte do culto. O cântico é geralmente originado do impulso ou para atender casos especiais, e em outras vezes os que cantam o fazem mal, e a música perde o devido efeito sobre a mente dos presentes. A música deve possuir beleza, poder e faculdade de comover. Ergam-se as vozes em cânticos de louvor e adoração. Que haja auxílio, se possível, de instrumentos musicais, e a gloriosa harmonia suba a Deus em oferta aceitável." 

"Um ministro não deve designar hinos para serem cantados, enquanto não estiver certificado de que os mesmos são familiares aos que cantam. Uma pessoa capaz deve ser indicada para dirigir esse serviço, sendo seu dever verificar que se escolham hinos que possam ser entoados com o espírito e com o entendimento também." 

"O canto é uma parte do culto de Deus, porém na maneira estropiada por que é muitas vezes conduzido, não é nenhum crédito para a verdade, nenhuma honra para Deus. Deve haver sistema e ordem nisto, da mesma maneira que em qualquer outra parte da obra do Senhor. Organizai um grupo dos melhores cantores, cuja voz possa guiar a congregação, e depois todos quantos queiram se unam com eles. Os que cantam devem esforçar-se para cantar em harmonia; devem dedicar algum tempo a ensaiar, de modo a empregarem esse talento para glória de Deus." 

"Os que fazem do canto uma parte do culto divino, devem escolher hinos com música apropriada para a ocasião, não notas de funeral, porém melodias alegres, e todavia solenes. A voz pode e deve ser modulada, suavizada e dominada." 

"Deus é glorificado por hinos de louvor vindos de um coração puro, cheio de amor e devoção para com Ele."

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Valores sem valor - Onde vamos parar?

O cartunista argentino Joaquín Tejón, mais conhecido como Quino, criador da famosa personagem de tirinhas Mafalda, produziu uma sequência de cartuns que define muito bem os valores de nossa época (ilustração acima). Preocupado em ensinar ao filho, ainda de chupeta, como a vida é, o pai aponta para o carro e diz: “Isso se chama pernas”. Mostra o computador e afirma: “Isso se chama cérebro”. O celular é chamado de “contato humano”. Um programa de televisão imoral recebe o nome de “cultura”. No espelho, a criança vê o “próximo” a quem deve amar. Na lata do lixo estão os ideais, a moral e a honestidade. Por fim, uma nota de dinheiro é apresentada como “Deus”!

Em sentido filosófico, valor tem que ver com a importância que atribuímos às coisas. E os valores que adotamos motivam nossas escolhas e ações. A sociedade vive uma crise moral. Valores como solidariedade, bondade, verdade e lealdade têm perdido lugar para seus opostos. A justiça, imparcialidade e integridade têm sido dribladas pelo “jeitinho brasileiro”. E a santidade, pureza e reverência têm sido suplantadas por desregramento e profanidade. Somem-se a isso a desconstrução e a perda da noção de pecado. O resultado? Pessoas insensíveis ao sofrimento alheio, aumento galopante da criminalidade, corrupção generalizada, famílias disfuncionais, uma geração sem limites e uma filosofia de vida “vale tudo”.

Onde vamos parar? Talvez seja mais importante perguntar onde já chegamos. Há quase vinte séculos, o apóstolo Paulo previu com precisão cirúrgica o tempo difícil em que vivemos. Os seres humanos seriam “egoístas, avarentos, presunçosos, arrogantes, blasfemos, desobedientes aos pais, ingratos, ímpios, sem amor pela família, irreconciliáveis, caluniadores, sem domínio próprio, cruéis, inimigos do bem, traidores, precipitados, soberbos, mais amantes dos prazeres do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando o seu poder” (2Tm 3:2-5, NVI).

E qual é a raiz do problema? Os princípios; ou melhor, a falta deles! Apesar de haver várias definições que diferenciam valor de princípio, gosto de pensar nos princípios como sendo leis de caráter universal e atemporal, que não dependem de tempo nem de lugar. Além disso, os princípios são objetivos, existem independentemente da minha vontade ou opinião. As leis de Deus e da Física (que também são de origem divina) são bons exemplos de princípios.

Por outro lado, os valores têm um caráter mais subjetivo, interior. Embora geralmente haja uma opinião comum sobre eles, cada pessoa determina o que tem ou não tem importância para si. Por esse motivo, os mesmos valores podem ser interpretados de maneiras diversas por diferentes indivíduos. Há pessoas, por exemplo, que não se consideram menos honestas por sonegar impostos ou deixar de restituir o troco devolvido a mais pelo caixa do supermercado.

É aqui que entra a importância dos princípios bíblicos. Enquanto a ética situacional e relativista, típica do nosso tempo, deixa as pessoas livres para fabricar seu próprio repertório de valores, a ética da Bíblia, com base nos mandamentos imutáveis de Deus, fornece um conjunto de princípios e valores invariáveis que refletem a natureza daquele que é eterno e onipresente – sem limites de tempo e geografia.

No entanto, a motivação mais importante para o cultivo de bons valores é o caráter de Deus. A consciência de um Ser supremo que personifica, ao mesmo tempo, o amor e a justiça serve como constante lembrete de nossa obrigação moral. Ellen White escreveu:

“Aqueles que têm fé genuína em Cristo serão sóbrios, lembrando-se de que os olhos de Deus estão sobre eles, que o Juiz de todos os homens está pesando os valores morais e que os seres celestiais estão esperando para ver que tipo de caráter está sendo desenvolvido.” (Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes, p. 223)

Eduardo Rueda (via Revista Adventista)

Qual é o objetivo da verdadeira educação?

Ellen G. White, escritora e mensageira do Senhor, fala sobre o objetivo da verdadeira educação:

O método de educação instituído ao princípio do mundo deveria ser para o homem o modelo, durante todo o tempo subsequente. Como ilustração de seus princípios, foi estabelecida uma escola-modelo no Éden, o lar de nossos primeiros pais. O jardim do Éden era sala de aulas; a Natureza, o livro; o próprio Criador, o instrutor.1

Mas qual é a tendência da educação dada atualmente? Qual é o objetivo para que se apela mais frequentemente? O proveito próprio. Grande parte dessa educação é uma perversão desse nome. Na verdadeira educação, a ambição egoísta, a avidez do poder, a desconsideração pelos direitos e necessidades da humanidade - coisas que são uma maldição para o nosso mundo - encontram uma influência contrária.2

A educação que consiste em treinamento da memória, tendendo a desencorajar o pensamento independente, tem uma relevância moral muito pouco apreciada. À medida que o estudante sacrifica o poder de raciocinar e de julgar por si mesmo, torna-se incapaz de discernir entre a verdade e o erro, e cai como presa fácil do engano. Deixa-se facilmente levar, para seguir a tradição e os costumes.3

A mais elevada espécie de educação é aquela que dê tal conhecimento e disciplina que leve ao melhor desenvolvimento do caráter, e habilite a alma para aquela vida que se mede pela vida de Deus. A eternidade não deve ficar fora de nossos cálculos. A mais elevada educação é aquela que ensine às nossas crianças e jovens a ciência do cristianismo, que lhes dê um conhecimento experimental dos caminhos de Deus, e lhes comunique as lições que Cristo deu a Seus discípulos sobre o caráter paternal de Deus.4

Nossas idéias acerca da educação têm sido demasiadamente acanhadas. Há a necessidade de um objetivo mais amplo e mais elevado. A verdadeira educação significa mais do que avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais. Prepara o estudante para a satisfação do serviço neste mundo, e para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo vindouro.

Todo o saber e desenvolvimento real têm sua fonte no conhecimento de Deus. Para onde quer que nos volvamos, seja para o mundo físico, intelectual ou espiritual; no que quer que contemplemos, afora a mancha do pecado, revela-se esse conhecimento. Qualquer que seja o ramo de pesquisa a que procedamos com um sincero propósito de chegar à verdade, somos postos em contato com a Inteligência invisível e poderosa que opera em tudo e através de tudo. A mente humana é colocada em comunhão com a mente divina, o finito com o Infinito. O efeito de tal comunhão sobre o corpo, o espírito e a alma está além de toda estimativa.

O amor, base da criação e redenção, é o fundamento da educação verdadeira. Isto se evidencia na lei que Deus deu como guia da vida. 

Cada ser humano criado à imagem de Deus, é dotado de certa faculdade própria do Criador - a individualidade - faculdade esta de pensar e agir. Os homens nos quais se desenvolve essa faculdade, são os que encaram responsabilidades, que são os dirigentes nos empreendimentos e que influenciam caracteres. É a obra da verdadeira educação desenvolver essa faculdade, preparar os jovens para que sejam pensantes e não meros refletores do pensamento de outrem. Em vez de limitar o seu estudo ao que os homens têm dito ou escrito, sejam os estudantes encaminhados às fontes da verdade, aos vastos campos abertos a pesquisas na Natureza e na revelação. Que contemplem os grandes fatos do dever e do destino, e a mente expandir-se-á e fortalecer-se-á. 

Em vez de fracos educados, as instituições de ensino poderão produzir homens fortes para pensar e agir, homens que sejam senhores e não escravos das circunstâncias, homens que possuam amplidão de espírito, clareza de pensamento, e coragem nas suas convicções.

Uma educação assim provê mais do que disciplina mental; provê mais do que treinamento físico. Fortalece o caráter de modo que a verdade e a retidão não são sacrificadas ao desejo egoísta ou ambição mundana. Fortifica a mente contra o mal. Em vez de qualquer paixão dominante torna-se um poder para a destruição, todo motivo e desejo é posto em harmonia com os grandes princípios do que é reto. Ao meditar-se sobre a perfeição do caráter de Deus a mente se renova, e a alma é restaurada a Sua imagem.5

Referências:
1. Educação, p. 20
2. Orientação da Criança, p. 293
3. Educação, p. 230
4. Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, pp. 45 e 46
5. Educação, pp. 13-18

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

A capacidade de valorizar o outro

Helen Keller tem sido admirada por todo o mundo. Nem sempre, porém, foi um exemplo atraente. Nascida cega, surda e cheia de energia, expressava suas frustrações em acessos de ira e raiva. Com ou sem provocação, ela se tornava fisicamente violenta e golpeava a pessoa ou o objeto mais próximo. O que quer que suas mãos achassem, tornava-se objeto de seus atos agressivos. Ela chutava, mordia e batia se fosse contrariada. Sua mãe tentava ser amiga e compreensiva. Seu pai gritava (como se ela pudesse ouvir), e até mesmo sugeria que ela fosse enviada para um manicômio. Um autor descreveu sua primeira infância como a de “um animal descontrolado e selvagem”.

Mas quando Helen completou seis anos, uma pessoa nova entrou em sua vida. Alguém com ternura e carinho. Alguém que cria em Helen e sentia através daqueles ouvidos surdos e olhos cegos. Alguém que sabia que Helen tinha um tremendo potencial encerrado em seu íntimo. Alguém que conhecia o milagre da valorização.

Ann Sulivan não era milagrosa. Ela própria tinha sido vítima de limitações, mas as tinha vencido e sabia que podia transmitir aquele toque inspirador sendo gentil e amorosa. Sabia como administrar disciplina e orientação, mas também sabia como fazê-lo com carinho e interesse. Durante os primeiros dias, Helen dava pontapés e mordia sua nova professora, jogava coisas nela e mostrava de todos os modos possíveis seu desafio e desobediência. Mas Ann era feita de fibra mais forte. Toda demonstração de raiva de Helen fazia com que Ann lhe mostrasse com firmeza que tais atos eram inaceitáveis. Ann lhe dava uma palmada gentil e lhe negava alimento, a menos que estivesse disposta a comer com boas maneiras, mas sempre recompensava Helen com um abraço ou um tapinha amável em resposta ao menor sinal de obediência de Helen.

Anos mais tarde, lembrando seu primeiro encontro, Helen escreveu: “Senti passos que se aproximavam e estendi a mão, como supunha, à minha mãe. Alguém a tomou, e fui abraçada e apertada. Ela viera revelar tudo para mim e, mais que qualquer outra coisa, amar-me”. Aquele amor abriu para Helen o belo mundo ao redor. Ela apegou-se a Ann Sullivan como a alguém que podia mudar sua vida, que podia dar visão sem olhos, audição sem a capacidade de ouvir e vida em toda a sua plenitude.

Como aconteceu isso? Ann Sullivan cria em Helen. Era positiva — sabia que um elogio pode extrair todas as possibilidades ocultas numa criança desamparada.

Que é valorização?
A palavra correspondente em inglês significa “tornar firme” ou “dar força a outro”. Os psicólogos nos dizem que tendemos a definir o que somos no contexto de como os outros nos consideram. Todos ansiamos por valorização e encorajamento por parte de outrem. Essa aceitação nos dá um sentimento de integração e identidade.

Quando encorajamos a alguém com comentários positivos, nós, com efeito, lhe damos força para reconhecer seus dons e a contribuição que fazem à vida. Sem esta valorização, é difícil superar os problemas que enfrentamos na vida, é difícil sobreviver numa comunidade, escola ou local de trabalho onde a competição é a ordem do dia. Com efeito, sem o calor e o carinho que acompanham a valorização, é provável que fiquemos alienados.

Elogiar é talvez o toque mais terno de um ser humano em outro — um toque que nos encoraja a reconhecer o potencial que nos é dado por Deus. Em todos os meus anos como conselheiro vim a compreender que não há crescimento pessoal sem valorização. Como disse alguém: “O maior bem que fazemos aos outros não é dar-lhes nossa riqueza, mas mostrar-lhes sua própria riqueza”. Ou como Salomão se expressa: “Não te furtes a fazer o bem a quem de direito, estando em tua mão o poder de fazê-lo”; “A alma generosa prosperará, e quem dá a beber será dessedentado” (Provérbios 3:27; 11:25).

Na ausência de um elogio
Se as pessoas não recebem encorajamento e elogios daqueles ao seu redor, sentem-se inseguras e inadequadas. Isso por sua vez pode levá-las a agir de modo estranho, só para se sentirem aceitas, aprovadas e apreciadas pelos outros. Alguns passam a “agradar” as pessoas e esperam que outros os elogiem pelo bem que fazem. Podem até deixar que outros “andem por cima deles” a fim de receber o elogio de serem “gentis” ou “cooperadores”. Outros podem se tornar viciados no trabalho, na esperança de que seu desempenho vá deslumbrar e atrair os elogios alheios. Outros podem se tornar perfeccionistas, esforçando-se por fazer seu trabalho perfeito ou insistindo em ter sempre as respostas corretas para os problemas que enfrentam. Todo este comportamento perfeccionista é motivado pela esperança de que “se eu fizer bem ou se tiver a resposta certa, serei respeitado e apreciado pelas pessoas”. Ainda outros assumem o papel de mártires, na esperança de que, por seu sofrimento, sejam apreciados como um “santo”, enquanto outros adotam um comportamento autoritário na esperança de que, ao controlarem situações e pessoas, sejam apreciados por sua habilidade. Seja qual for o comportamento, as pessoas procuram provar seu valor e solicitam os elogios de que necessitam para executar suas tarefas em favor de outros na comunidade.

Jesus e a valorização
Jesus conhecia o valor do elogio. Tudo o que Ele dizia e fazia visava a encorajar e edificar os outros. Suas palavras possuíam grande poder curativo. Seu toque gentil curava os feridos, restaurava os quebrantados de coração e confortava os ansiosos. Suas palavras de apreço encorajavam os indivíduos a se erguerem acima de suas frustrações e atingirem seu pleno potencial. Ele conferia poder às pessoas.

Jesus confortou o ladrão arrependido na cruz, quando lhe prometeu Sua companhia no paraíso. Jesus tranqüilizou Zaqueu. Disse-lhe que, embora outros o desprezassem, Ele o considerava cidadão de Seu reino. “Hoje houve salvação nesta casa” (Lucas 19:9).

Jesus valorizou as criancinhas. Os discípulos queriam livrar-se delas, mas não Jesus. Ele cria na possibilidade de aquelas crianças se tornarem parte de Seu reino. “Deixai vir a Mim os pequeninos”, disse Ele, “e não os embaraceis, porque dos tais é o reino de Deus” (Lucas 18:16).

Considere a viúva que foi ao templo com uma oferta de apenas dois vinténs. Os dirigentes da sinagoga não tinham tempo nem emprego para ela. Mas Jesus reconheceu nela uma devoção total à causa de Deus: “Ela, porém, de sua pobreza deu tudo quanto possuía, todo o seu sustento” (Lucas 19:9). Isso é valorização.

Observe também como Jesus deu um voto de confiança à mulher apanhada em adultério. Seus acusadores estavam prontos, com a lei e as pedras. Queriam justiça. Farejavam sangue. Jesus não Se concentrou no pecado, mas na pecadora carente de graça. Ofereceu-lhe perdão, aconselhando-a: “Vai, e não peques mais” (João 8:11). Isto é fortalecer a auto-estima: crer que a mulher, embora pecadora, pudesse estender a mão e apegar-se à graça e ao perdão de Deus — e viver os desígnios de Deus para ela.

Esse otimismo edifica as pessoas. Fortalece-as para viver uma nova vida. Encoraja-as a ver o novo eu interior.

O desafio de edificar
Talvez seja tempo de lembrar as palavras do apóstolo: “Consolai-vos, pois, uns aos outros, e edificai-vos reciprocamente” (I Tessalonicenses 5:11). O apóstolo cria que devíamos estimular-nos uns aos outros “ao amor e às boas obras,...e tanto mais quanto vedes que o dia se aproxima” (Hebreus 10:24, 25).

Mas como elogiar? Aqui estão três sugestões:

1. Simplesmente o faça! Não subentenda que os outros saibam o que você sente e quanto você os aprecia. Diga-lhes. A intenção de elogiar só é boa quando você lhe obedece.

2. Faça-o frequentemente! Muitos de nós somos como um vazamento lento num pneu: precisamos ser “bombados” com freqüência. Precisamos receber encorajamento e ânimo uns dos outros. Assim não só devíamos elogiar, mas fazê-lo freqüentemente.

3. Não se sinta repelido por aqueles que têm dificuldade em aceitar seus elogios. Alguns têm dificuldade para aceitar elogios. Podem retrucar dizendo: “Ah, você não precisava fazer isso”. Mas lembre-se de que a melhor maneira de receber um elogio é fazê-lo. Quanto mais você dá, tanto mais sobra.

Lembre-se do que Salomão disse: “Quem dá a beber será dessedentado” (Provérbios 11:25).

Bryan Craig (via Diálogo Universitário)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

Doenças psicossomáticas: as doenças da alma

Há milênios, a humanidade observa que existe uma relação entre a mente e o corpo no que se refere ao bem-estar e ao surgimento de doenças. Porém, foi somente nos últimos 50 anos que se constatou que essa ligação é mais direta do que se imaginava, e que se passou a estudar empiricamente os mecanismos fisiológicos desses processos. 

Por meio de pesquisas nos campos da psicologia, neuroimunologia, biopsicologia, neurogastroenterologia, entre outras áreas, pode-se estabelecer cientificamente essa relação e identificar anatomicamente como ocorre a comunicação entre o cérebro e os demais órgãos. A interface entre as emoções e o organismo humano é chamada de sistema neuroendócrino, que é formado principalmente pelas glândulas pineal e supra-renais, além da hipófise, hipotálamo e tireoide. 

Para os que acreditam na veracidade da Bíblia, o primeiro relato que se tem na história humana sobre uma resposta física a um sentimento negativo ocorreu no jardim do Éden. Ao desobedecerem a Deus, a luz que cobria a nudez de Adão e Eva se dissipou e, imediatamente, sentiram medo e se esconderam do Criador (Gn 3:7, 8). Com o conhecimento científico que temos hoje, poderíamos explicar o que ocorreu no corpo deles: a sensação de perigo iminente desencadeou uma sequência de eventos fisiológicos que começou na parte do cérebro conhecida como amígdalas, passando pelo hipotálamo, que, por sua vez, desencadeou a liberação dos hormônios do estresse via glândulas suprarenais, induzindo assim a uma resposta de fuga diante do medo. 

Desde essa queda moral, os sentimentos de cobiça, medo, vergonha e culpa têm afetado milhões de pessoas, lançando as sementes das doenças psicossomáticas (junção de duas palavras gregas: psique – alma e soma - corpo), que são respostas patológicas às tensões emocionais. Em Seu ministério terrestre, quando Jesus percebia que um doente sofria também de um forte sentimento de culpa causado pela transgressão dos mandamentos morais e/ou das leis de saúde, Ele aconselhava: “Vá e não peques mais para que não te suceda coisa pior” (Jo 5:14). 

Ellen White, pioneira adventista, escreveu que a maioria das enfermidades tem sua origem nos pensamentos e sentimentos (Testemunhos Para a Igreja, v. 5, p. 443 e 444). 

“Enfermidades mentais prevalecem por toda parte. Nove décimos das doenças das quais os homens sofrem têm aí sua base. Talvez algum vivo problema doméstico esteja, qual cancro, roendo até à alma e enfraquecendo as forças vitais. Remorsos pelos pecados às vezes encobrem a constituição e desequilibram a mente. Há também doutrinas errôneas, como a de um inferno sempre ardente e o eterno tormento dos ímpios que, dando exagerada e distorcida visão do caráter de Deus, têm produzido os mesmos resultados sobre as mentes sensíveis.”

Essa declaração faz mais sentido ainda quando percebemos que são as angústias e tensões que abrem caminho para vários comportamentos não saudáveis, como comer muito e buscar satisfação imediata no uso de cigarro, álcool e drogas ilegais. 

A prevenção e cura dessas enfermidades psicossomáticas se encontram na libertação pessoal dos sentimentos e pensamentos que lhe deram origem. Essa tarefa é possível apenas com a ajuda de Deus, o autoconhecimento e, em alguns casos, com assistência psicológica. Particularmente, creio que o aumento de enfermidades neuropsiquiátricas nos últimos 30 anos se deve, em grande medida, à desobediência consciente ou inconsciente das leis moral e de saúde deixadas por Deus. Portanto, tentar tratar as doenças psicossomáticas sem reconhecer essa dimensão do problema pode trazer apenas resultados limitados e transitórios. 

A boa notícia é que, para cada sentimento negativo, Deus oferece um remédio: para a cobiça, a liberalidade; para o medo, a fé; para a vergonha, a restauração da dignidade; para o sentimento de culpa, o perdão. Porém, não devemos esquecer que essas mudanças são possíveis somente com nossa permissão para que Deus transforme nossa vontade, formando em nós uma nova natureza. 

Diante desse quadro, cabe aos médicos, psicólogos e outros profissionais cristãos da área da saúde não apenas buscar o alívio dos sintomas, mas orar com os pacientes e orientá-los para que encontrem a cura completa em Deus.

Silmar Cristo (via Revista Adventista)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Cuidado com as expressões e vícios de linguagem na igreja

É interessante notar como, com o tempo, certas expressões de linguagem e “vícios” de comportamento acabam sendo incorporados e cristalizados no meio religioso (no que diz respeito às expressões, isso é até normal, em qualquer língua falada). A lista abaixo é apenas uma sugestão para ajudar especialmente os líderes e comunicadores das igrejas a aprimorar o trabalho que desempenham e que é muito importante para Deus e para a comunidade:

1. “Vamos cantar o hino ....... para a entrada da plataforma.” A plataforma, sobre a qual ficam o púlpito e as cadeiras do pregador e dos oficiantes, nunca entra, a menos que tenha rodinhas e seja móvel. A plataforma sempre está lá. Quem entra são os oficiantes do culto ou componentes da plataforma. Alguns podem alegar que em “entrada da plataforma” há elipse e metonímia. Correto. Outros podem argumentar que o uso consagrou a expressão, apesar da incorreção. Igualmente correto. Então, para evitar maiores discussões, poderíamos simplesmente cantar para que entrem os oficiantes que compõem a plataforma, sem precisar chamá-los. Que tal?

2. Já que mencionamos a música, é bom lembrar que o ideal é anunciar os hinos pelo nome e depois informar o número deles. Assim, fica melhor: “Vamos cantar o hino ‘Jubilosos Te adoramos’, nº 14.” E nada de dizer “Vamos cantar o hino três, quatro, dois.” O correto é “trezentos e quarenta e dois”.

3. “Senhor, abençoa os que não puderam vir por motivo justo.” Esse tipo de súplica é comum em cultos de oração (às quartas-feiras), quando geralmente há menos pessoas na igreja. Infelizmente, é um tipo de oração legalista que procura excluir das bênçãos de Deus certas pessoas. Se alguém deixou de ir à igreja por “motivo injusto”, aí, sim, é que devemos orar por essa pessoa. O melhor mesmo é ser inclusivo e orar: “Senhor, abençoa aqueles que não puderam vir. Que Teu Espírito esteja com eles neste momento.” Outro detalhe: tem gente que parece ter fixação pelos que não vieram à igreja. O dirigente começa a reunião e já dispara: “Apesar de termos muitos bancos vazios...” ou “Mesmo sendo poucos...” Vamos valorizar os que estão presentes. Pra que ficar falando toda hora de quem não veio? Nenhum apresentador de TV fala sobre os que não estão assistindo ao seu programa... Quem não veio que ore em casa por si mesmo e vá à reunião seguinte, se for possível.

4. “Aqueles que puderem, vamos nos ajoelhar para orar.” Essa também já virou “vício”. É evidente que somente se ajoelharão aqueles que puderem. E os que não puderem por certo serão tão poucos que nem é preciso mencionar. Essa frase é dispensável.

5. “Senhor, que Tuas bênçãos venham de encontro às nossas necessidades.” Tenho certeza de que quem ora dessa maneira não quer esbarrar nas bênçãos de Deus nem ser atingido por elas. Vir de encontro é se chocar contra. O correto, então, é pedir que as bênçãos de Deus venham ao encontro das nossas necessidades, ou seja, estejam de acordo com o que precisamos.

6. “Viemos aqui para celebrar...” Viemos é pretérito perfeito de “vir”. Talvez o mais adequado seja dizer “vimos”, presente do indicativo de “vir”. Mas dizer “Vimos aqui” fica muito formal, não é? Então, que tal mudar para algo do tipo: “Estamos aqui para celebrar...”? Na dúvida, saia pela tangente e busque sempre a maneira mais simples (porém correta) de falar.

7. “Senhor, abençoa esta semana que para nós é desconhecida”; “Não temos mérito algum, mas confiamos nos méritos do Teu filho Jesus Cristo”; etc. Não há nada de gramaticalmente errado nessas frases, mas será que quem as usa está pensando no que diz? Aqui quero chamar atenção para as “frases feitas” que povoam nossas orações. Oração, como bem definiu Ellen White, é abrir o coração a Deus como se faz com um amigo. Portanto, as orações, mesmo as feitas em público, deveriam ser dirigidas a Deus com palavras simples e sem modismos ou tradicionalismos ditos automaticamente.

8. “Quando a porta da graça for fechada”; “Depois do tempo da sacudidura”; “O povo remanescente da profecia”; “A pena inspirada registra que...”; “O povo laodiceano”; “Segunda hora”; “Vamos para o lava-pés”; “O departamento de Mordomia”, “Fazer o pôr do sol” (não precisa fazer, ele é automático!); “Devolução do pacto”; etc. Novamente, nada há de errado com essas frases e expressões. Mas imagine que você não é adventista ou não é cristão e está visitando uma igreja adventista pela primeira vez. Como interpretaria essas expressões? Entenderia alguma coisa? Portanto, os pregadores devem tanto quanto possível evitar o “adventistês”. Se tiverem que usar termos do jargão adventista, o melhor é explicá-los em seguida. Nossa mensagem tem que ser clara, simples e universal. 

9. Devemos evitar também termos denominacionais (esse é um deles) que se referem à estrutura da igreja e que não têm muito sentido para quem não os conhece. Imagine a cena: alguém anuncia que naquela manhã de sábado falarão "o pastor da União e o pastor da Divisão". Alguém pode pensar que um é bom, pois promove a união, e o outro é mau. Assim, o ideal é explicar os termos ou simplesmente dizer: “Hoje falarão o pastor fulano, diretor de Educação da Igreja no Estado de São Paulo, e o pastor cicrano, líder de Jovens para a América do Sul.” Por que “diretor” e “líder”? Porque é mais claro que “departamental”.

10. As pessoas oram, cantam alguns hinos e depois o dirigente diz: “Para começarmos o culto, cantemos o hino...” A oração e os hinos anteriores não eram parte do culto? Eram o que, então?

11. Outro “vício” envolve a palavra “possa” (e suas variantes) e até lança dúvida sobre o poder de Deus. Quer um exemplo? “Senhor, que Tu possas nos perdoar os pecados. Que Tu possas conceder a cura ao irmão fulano e que nós possamos ser fieis a Ti.” Além de ficar sonoramente feio, quando repetido, o “possa” aplicado a Deus relativiza o poder dEle. É claro que Deus pode! Talvez Ele não queira algumas coisas, mas que pode, pode. Assim, melhor seria orar: “Senhor, perdoa nossos pecados. Se Tu quiseres, cura o irmão fulano e ajuda-nos a ser fieis a Ti.”

12. Imperativos são outro problema. Errado: “Senhor, cure”, “Senhor, ouça”, “Senhor, atenda”, “Senhor, faça”. Correto: “Senhor, cura”, “Senhor, ouve”, “Senhor, atende”, “Senhor, faze”. Ok, essa é um pouco mais complicada, mas, com o tempo, um pouco de estudo e atenção, é possível orar direitinho sem perder a espontaneidade. Devemos sempre oferecer o melhor a Deus, inclusive nosso melhor português possível. 

13. Como mais ninguém (a não ser os mais antigos e alguns preciosistas) usa a palavra “genuflexos”, basta dizer “ajoelhados”. Sim, porque “de joelhos” (desde que tenhamos pernas completas) sempre estaremos, mesmo quando ajoelhados. O mesmo vale para “de pé”. O certo é “em pé”. (Porém, fica aqui o registro de que o Dicionário Houaiss já aceita a expressão “de joelhos”.)

14. Devemos evitar o uso abusivo da palavra “alma”. Exemplos: “Foram batizadas mais de quinhentas almas”; “Sair para a conquista de almas”; “Ganhador de almas”; etc. Para os que entendem “alma” como uma entidade separada do corpo e que sai dele quando a pessoa morre, falar em “conquista de almas” talvez possa configurar a intenção de proceder a essa separação, ou seja, praticar assassinato! Melhor substituir a palavra “alma” por “pessoa”, que é exatamente o sentido bíblico.

15. Para encerrar esta lista (mas não o assunto e a preocupação que ele levanta), não poderíamos deixar de fora expressões exclusivistas, como, por exemplo, “não adventistas”. Você conhece alguém que gosta de ser chamado “não”? “Apresento-lhes este meu não parente.” Horrível, né? Então, evitemos termos que dão a impressão de que somos um clube fechado, exclusivo. Nada de “não adventista”, “mundanos”, etc. Podemos nos referir a “amigos visitantes”, “irmãos evangélicos”, etc. É mais simpático.

Resumindo: temos que descomplicar nossa linguagem e liturgia a fim de que não criemos barreiras para a compreensão da mensagem que é simples e clara: Deus nos ama e quer nos salvar.

Michelson Borges (via Criacionismo)

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Conflito de gerações na igreja

O conceito de gerações engloba “o conjunto de pessoas nascidas na mesma época dentro de um espaço de tempo (aproximadamente 25 anos) que vai de uma geração a outra” (Minidicionário Aurélio). Cada geração tende a viver conforme os conceitos preestabelecidos pelo mundo que a cerca. Fatores econômicos, sociais, religiosos e culturais, somados aos paradigmas da família, influenciam o comportamento, o estabelecimento de valores e a formação de seus pontos de vista com relação à vida. 

Embora sociologicamente as gerações não possuam um limite fixado pela idade e não exista base cronológica que permita datá-las com exatidão, cientistas sociais viram a necessidade de nomeação das gerações a fim de entendê-las melhor. Em linhas gerais, essa nomeação compreende seis principais gerações:

Tradicionais (até 1945): É a geração que enfrentou uma grande guerra e passou pela Grande Depressão. Com os países arrasados, precisaram reconstruir o mundo e sobreviver. São práticos, dedicados, gostam de hierarquias rígidas, ficam bastante tempo na mesma empresa (organização) e sacrificam-se para alcançar seus objetivos.

Baby Boomers (1946-1964): Inicialmente essa nomenclatura não era uma geração, mas era um termo usado para descrever quem nasceu logo após a Segunda Guerra Mundial, quando houve um grande aumento no número de nascimentos, provavelmente resultado da empolgação dos soldados que voltaram da guerra para seus países de origem. O termo foi usado pela primeira vez em um artigo do Washington Post em 1970. São os filhos do pós-guerra, que romperam padrões e lutaram pela paz. Não conheceram o mundo destruído e puderam pensar em valores pessoais e na boa educação dos filhos. Têm relações de amor e ódio com os superiores, são concentrados e preferem agir em consenso com os outros.

Geração X (1965-1977): Com o nome baseado no livro de Douglas Copeland Geração X: Contos para uma cultura acelerada, essa geração é a herdeira do recomeço experimentado pelos Baby Boomers. Pressionados para serem os melhores, é a geração que experimentou os livros de autoajuda, programas de auto-treinamento e viveram em permanente estado de ansiedade – social, financeira e sexual. Nesse período, as condições materiais do planeta permitiram que os integrantes dessa geração pensassem em qualidade de vida, liberdade no trabalho e nas relações. Com o desenvolvimento das tecnologias de comunicação, tentaram equilibrar vida pessoal e trabalho. Mas, como enfrentaram crises violentas, incluindo a do desemprego na década de 1980, também se tornaram céticos e superprotetores. 

Geração Y ou Millenials (1978-1999): Nascidos e crescendo em meio a um mundo onde a tecnologia digital e a internet se proliferava e se barateava, essa é a geração moldada pela influência high techAlguns, herdando os anseios dos Yuppies, se tornaram bilionários da tecnologia com serviços como redes sociais. O nome Geração Y foi usado primeiro em um artigo de Ad Age, já o termo millennials foi cunhado pelos sociologistas Neil Howe e William Strauss. Confortáveis em compartilhar toda sua vida online, essa é uma geração que experimenta o crescimento da individualidade e da autossuficiência. De modo geral, é a geração onde ser relevante no mundo é vivenciar experiências exclusivas e ser interessante.

Geração Z (2000-2009): Nascidos em meio a um turbilhão político e financeiro, a Geração Z é preocupada com seu dinheiro e em fazer do mundo um lugar melhor. É a primeira geração 100% digital e já nascem em um mundo conectado. Desse modo, se usam da internet e das tecnologias digitais para se tornarem mais inteligentes, seguros e maduros, mesmo muito novos. Costumam ser dispostos a trabalhos voluntários, conscientes da importância da educação e possuem fortes noções éticas e sociais. De modo geral, é a geração que abraça a diversidade absorvida na internet e lidera a mudança ao agir no mundo por meio de ações práticas. 

Geração Alpha (a partir de 2010): Herdeiros da segurança e das noções éticas da Geração Z, os Alphas vibram em uma energia de transformação como nunca antes. De modo geral, é a geração dos conectados e autossuficientes que não verão mais a tecnologia como algo separado da vida humana. Tudo será tecnologia digital e tudo estará conectado com o resto do mundo.

Biblicamente, a duração de uma geração é mutável. O teólogo Alberto Fonseca lembra que, de acordo com Jó 42:16, uma geração era um período de aproximadamente 30 a 40 anos e, em Gênesis 15:16, cerca de 100 anos. Mateus 1 mostra que se tratava de um período de vida humana, independentemente da duração. 

A pedagógica divisão proposta pelos sociólogos e especialistas da atualidade é parâmetro para tentar compreender os valores humanos contemporâneos. Eles afirmam que, em uma família, várias gerações estão presentes: avós, pais, filhos e netos. Isso significa distintas visões de mundo e presença de variados pensamentos, conceitos e valores. E como cada geração tem sua maneira de agir, sentir, pensar e decidir, diversos conflitos acabam aparecendo. 

Choque de gerações
Nos últimos anos, o choque de gerações, que era mais visível apenas no contexto familiar, passou a ser o grande quebra-cabeças dos especialistas em recursos humanos, especialmente por causa da inserção de um grande número de jovens na faixa etária entre 20 e 30 anos em postos hierarquicamente elevados nas mais diferentes organizações. 

O embate de gerações existe não somente na família e no ambiente de trabalho, mas também em toda relação de convivência de pessoas com intervalos diferentes de idade geracional, e isso inclui a igreja, pois ela também é um grupo social composto por pessoas de diferentes segmentos etários. Ela é palco de encontros de famílias e de interações, onde crianças, adolescentes e jovens participam de atividades litúrgicas e diversos outros eventos com seus pais e demais adultos das mais variadas idades. 

Nesse contexto, uma vez que a igreja pode ser classificada como multigeracional, é necessário muito esforço para atender as necessidades de todas as gerações que a compõem. Essa realidade leva a sérias questões: (1) Como atender as necessidades e expectativas de gerações tão diversas? (2) Como promover um clima harmonioso entre elas dentro da igreja? (3) Quais são os principais pontos que devem ser explorados para diminuir as chances de conflitos? (4) Como a comunidade eclesial pode desfrutar melhor do imenso potencial dos jovens sem desvalorizar a experiência dos mais vividos? (5) O que tem contribuído mais para afastar os jovens das gerações anteriores? (6) Como “agradar” os mais idosos que cobram o retorno dos “marcos antigos” e, ao mesmo tempo, como agradar os mais jovens que pedem o avanço das “novas conquistas”? 

Para uma reflexão mais acurada sobre a existência de conflitos de gerações na igreja e a busca de soluções dentro de uma perspectiva cristã, as pedagógicas divisões geracionais propostas por especialistas do comportamento humano serão subdivididas em dois grupos: os mais jovens e os mais idosos. Essa classificação tem a proximidade cronológica de faixas etárias como principal fator de ligação. Assim, o primeiro grupo é formado da geração X para trás. E o segundo grupo, a partir da geração Y. Feita essa divisão, também fica mais fácil garimpar referências bíblicas que mostram, explícita ou implicitamente, a tendente conduta comportamental tanto dos mais idosos quanto dos mais jovens de todas as épocas. 

Os mais idosos
A Bíblia apresenta os mais idosos como símbolo da pessoa repleta de sabedoria e do temor de Deus. Ela também revela que, em momentos decisivos, o conselho de anciãos se reunia para que o melhor caminho fosse procurado e indicado. Há amplo consenso no pensamento de que, quanto mais se vive, mais se acumula experiência. Velhice não é finalização das atividades, tampouco doença, mas uma fase de riqueza em sabedoria armazenada num arquivo vivo que, se for sensatamente “pesquisado”, mostrará como tomar decisões prudentes e como aprender sem dor desnecessária. Os mais idosos têm perdas no aspecto físico, mas, em contrapartida, ganham muito em espiritualidade e sensatez.

Entretanto, como alerta a escritora Orfelina Melo no livro Espiritualidade na Terceira Idade e Melhor Idade, “a soma dos anos por si só não jubila ninguém, mas o bom uso dos seus dias colocados a serviço do próximo é que dá sentido, amadurece e plenifica uma existência”. É preciso saber aceitar, mesmo a contragosto, as mudanças que não sepultam princípios. Aceitar algo novo não significa necessariamente aprová-lo ou reprovar o antigo. Aceitar o novo significa aprender a viver com as mudanças inevitáveis na vida pessoal, no lar, na educação, no trabalho, na igreja e na sociedade em geral. Muitos conflitos de gerações surgem devido à falta dessa capacidade. Portanto, diante de algumas mudanças, esse tipo de conduta é uma das maneiras de viver a linda oração coletiva feita por Moisés (Sl 90:12), na qual, após reconhecer a eficácia do incomparável refúgio encontrado em Deus (v. 1) – Sua eternidade e Seu insuperável poder (v. 2, 3) contrastados com a mortalidade e finitude humana (9, 10) –, ele elucida: “Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio.” 

Talvez outro ponto a ser melhorado em algumas pessoas mais vividas seja a prática da arte de conversar, ou seja, falar com o próximo e ouvi-lo. Não pode haver interação e harmoniosa amizade entre pessoas que não sabem conversar umas com as outras. É preciso perseguir o interminável aprimoramento da prática da comunicação verbal, pois esse é o tipo mais usado nas relações interpessoais.  

Na condição de representante da ala da igreja composta pelos mais idosos, Ellen G. White disse: “Em nossa obra em prol dos jovens, devemos chegar até eles, se os queremos auxiliar. Quando jovens discípulos são vencidos pela tentação, não os tratem os mais experientes com aspereza, nem olhem com indiferença seus esforços. Lembrem-se de que vocês têm manifestado muitas vezes pouca força para resistir ao poder do tentador. Sejam tão pacientes com esses cordeiros do rebanho como gostariam que os outros fossem para com vocês” (Obreiros Evangélicos, p. 209).

Também é preciso não esquecer que há muitas coisas consideradas importantes, mas não fundamentais. Logo, muitos conflitos podem ser evitados com bom senso e tolerância, à medida que se identifica o que é essencial e o que é secundário; ou o que é inegociável e o que é tolerável. Quantas vezes ocorrem brigas por algo que, após pouco tempo, não tem valor nenhum para ninguém? Essa conduta faz parte do preparo para um envelhecimento que não os torne amargos, alienados e fixados em só falar do passado. 

Ter discernimento e sabedoria para desfrutar as conquistas modernas, sem menosprezar a Bíblia como a mais eficaz bússola para um viver sensato, e ter abalizada autocrítica para filtrar aspectos positivos e negativos dos ganhos no mundo atual, é uma das consequências da incessante busca pela vivência do Salmo 71:18: “Não me desampares, pois, ó Deus, até à minha velhice e às cãs; até que eu tenha declarado à presente geração a Tua força e às vindouras o Teu poder.” 

Os mais jovens
Um olhar retrospectivo na História mostra que boa parte das grandes realizações humanas teve pessoas jovens como protagonistas. Atualmente, não é diferente. A juventude é possuidora de grande potencial; sua personalidade é formada em uma época de avanços tecnológicos constantes. Para eles, a tecnologia e a interação digital são tão comuns quanto escovar os dentes. Conseguem se dedicar a muitas atividades simultâneas, gostam de desafios, são rápidos, criativos e usam recursos tecnológicos para criar soluções. 

Mas não basta ter potencial e grande aspiração; também é preciso descobrir o caminho que conduz ao êxito. E todo êxito genuíno e duradouro tem Deus como esteio. Assim como o jovem não compreende a ideia de uma vida longe da comunicação instantânea, deve também ser para ele inconcebível uma vida sem a contínua dependência do Senhor. 

A Bíblia faz muitas referências aos mais jovens. Uma delas diz que eles são fortes quando a Palavra de Deus é mantida no coração deles, e assim podem vencer continuamente o maligno (1Jo 2:14). Eles também são exortados a ser criteriosos em todas as coisas (Tt 2:6). São incentivados a se lembrar do Criador durante a fase da “eterna juventude”, para depois não ter seu sentido e contentamento de viver “deletados” pelas vicissitudes da vida, que geralmente se agigantam na fase adulta (Ec 12:1). Somente observando a Palavra de Deus podem ter seu caminho purificado (Sl 119:9). E, quando guardam os preceitos de Deus, podem ser mais prudentes que os idosos (Sl 119:100).

Mesmo sendo possuidor da constante dificuldade que todo mortal tem de conceder a primazia da vida para o Senhor Jesus Cristo, o jovem cristão geralmente reconhece ser imprescindível o senhorio de Cristo para uma existência humana com sentido e verdadeira realização. Porém, quando o foco é a esfera humana, no que tange à relevância do respeito e à convivência harmoniosa com os mais idosos, geralmente os mais jovens sentem muita dificuldade, pois, em relação a eles, possuem ideias, gostos e estilos antagônicos. Por isso, muitas vezes podem considerar as pessoas mais idosas retrógradas e descartadas. No entanto, pelas lentes da Bíblia, o mais idoso pode ser um portador de valores e de experiências e sua riqueza vivencial pode representar relevante contribuição para as outras gerações. Contundentemente, Pedro exorta os jovens a respeitar os mais idosos quando declara: “Rogo igualmente aos jovens: Sede submissos aos que são mais velhos; outrossim, no trato de uns com os outros, cingi-vos todos de humildade, porque Deus resiste aos soberbos, contudo, ao humildes concede a Sua graça” (1Pe 5:5). 

Ênio R. Mueller, em seu livro I Pedro: Introdução e Comentário, explica que a expressão “ser submisso” é uma característica do comportamento cristão, a qual consiste na decisão de se postar debaixo da liderança de outros, por amor à ordem e para a prática do bem. Para tanto, é indispensável o revestimento da humildade. O texto usa o termo “cingir” como uma figura para a leal disposição com relação a alguma coisa. Nesse caso, a firme disposição pela humildade. Essa aplicação é relevante para o realce da contraposição e a constante inimizade entre a humildade e a repulsiva soberba feita na segunda parte do verso. 

Essa voluntária submissão evoca três aspectos: (1) equivale a respeitar os mais idosos em respeito a Deus; (2) promove relações interpessoais não conflitantes; (3) reconhece a vantajosa experiência de vida que os mais idosos detêm. Provérbios 15:22 diz: “Onde não há conselho, fracassam os projetos.” 

Na escalada da montanha da existência humana, os que apenas passaram do sopé precisam da experiência dos que já estão mais próximos do cimo, para completar o percurso a contento. Nesse contexto, a Bíblia registra a imprudência do jovem monarca Roboão, quando sucedeu seu pai Salomão. Como novo detentor do cetro do reino israelita, “tomou o rei Roboão conselho com os homens idosos, que estiveram na presença de Salomão, seu pai, quando este ainda vivia, dizendo: ‘Como aconselhais que se responda a este povo?’ Eles lhe disseram: ‘Se te fizeres benigno para com este povo, e lhes agradares, e lhes falares boas palavras, eles se farão teus servos para sempre’” (2Cr 10:6, 7). Com base em 1 Reis 12:9, Ellen G. White explica que, não satisfeito, Roboão se voltou para os jovens que com ele tinham se associado durante sua juventude e maturidade, e inquiriu deles: “Que aconselhais vós, que respondamos a este povo, que me falou, dizendo: Alivia o jugo que teu pai nos impôs?” (Profetas e Reis, p. 89). Os jovens sugeriram que ele tratasse asperamente com os súditos de seu reino, e lhes tornasse claro que desde o princípio ele não admitiria interferência com seus desejos pessoais. Inflado pela perspectiva de exercer suprema autoridade, Roboão determinou desconsiderar o conselho dos homens mais idosos do seu reino, e fazer dos jovens seus conselheiros. Como consequência, a nação foi dividida e a parte norte estabeleceu outro rei para si. 

Via de regra, os mais jovens têm mais energia. Contudo, os mais idosos conhecem melhor o caminho da sensatez, pois o tempo lhes trouxe experiência, e assim têm condição de errar menos. Por essa ótica, é mais coerente o conselho que Paulo deu ao jovem Timóteo (1Tm 5:1, 2) de não repreender asperamente uma pessoa idosa, mesmo quando esta cometesse algum equívoco; ao contrário, ela deveria ser admoestada como pai ou mãe. A atitude de menosprezar as pessoas mais idosas por achar que elas são antiquadas, muito defensivas, incapazes de se comunicar com os mais jovens, contribui para aumentar os conflitos geracionais tanto nas relações familiares, especialmente na prática de seus papéis do lar, quanto nas relações fraternais e funcionais da igreja. 

Construção de pontes entre as gerações
A diferença de idade gera conflitos entre as gerações, pois cada uma delas foi criada em um momento da história que contribuiu distintamente para a construção de sua cosmovisão. Assim, geralmente existem conflitos entre pessoas de diferentes faixas etárias. Mas esses embates podem ser diminuídos se ao menos três aspectos forem considerados.

O primeiro é a efetiva comunicação mutuamente respeitosa. Para Fernando Basto de Ávila, em seu livro Introdução à Sociologia, o reencontro das gerações, no diálogo leal, na redescoberta de valores comuns e na convergência de esforços para um projeto solidário que respeite a colaboração específica de cada uma delas, seria uma sensata forma de superação do conflito. A esse processo de harmonização de diferenças etárias e culturais ele denomina de alternativa processiva. Esse diálogo leal ou mutuamente respeitoso evoca a empatia. Quando todo esforço é feito a fim de entender a posição do outro apenas como uma posição diferente – nem melhor nem pior –, a convivência se torna mais harmoniosa. Mas, para isso, é preciso lembrar que ambos os lados precisam falar e ser ouvidos. Assim, as dissonâncias existentes na comunicação serão minimizadas ou até eliminadas.

O segundo aspecto é o da complementaridade geracional, por meio da qual a compreensão, maturidade e boa vontade aliadas ao tirar proveito do melhor das duas culturas, pela complementaridade de propósitos, valores, conhecimentos e habilidades são as chaves para minimizar o conflito de gerações. Trata-se da tentativa de aproximação da sabedoria dos mais vividos com o dinamismo dos mais jovens. Dentro da dinâmica administrativa e funcional da igreja, essa adição e esse intercâmbio enriquecem os dois lados e presenteiam a comunidade eclesial com ganhos de sábia experiência e força polivalente devidamente canalizadas. Ellen G. White endossa a relevância desse aspecto ao declarar: “Necessita-se de jovens na obra – daqueles que assumam o trabalho com interesse e o executem zelosa e vigorosamente. Mas o Senhor está, e estará sempre, com os idosos e firmes líderes que se mantiveram apegados à verdade em tempos de perigo. Quando o fundamento da fé dos jovens líderes parecer ser varrido, e tombadas as suas casas, será ouvido dos idosos guerreiros um testemunho como aquele de Calebe: ‘Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente, prevaleceremos contra ela’ (Nm 13:30)” (Cristo Triunfante, p. 119). Por outro lado, a falta de coexistência leva a uma perda de energia que impacta os resultados de forma negativa. Em suma, essa complementaridade mostra a importância do bom uso das “diferenças” ao buscar os pontos de convergência e identificação, onde e como cada uma poderá contribuir mais e melhor.

O terceiro aspecto é o da unidade cristã como principal evidência da genuína religião. Ele prega que a Bíblia apresenta princípios aplicáveis para a situação em estudo que norteiam o diligente cristão que deseja a postura da integração em vez da deliberada rivalidade. É o caso de Efésios 4:11-16, que primariamente não trata da relação entre diferentes gerações, mas de dons que o Espírito Santo outorga ao corpo de Cristo, visando ao crescimento espiritual e relacional de cada integrante da igreja. Por extensão ou secundariamente, essa unidade pode também ser buscada pelas diferentes gerações como um alvo supremo, pois, para que a igreja avance e alcance unidade (v. 13), maturidade (v. 14), discernimento (v. 14) e perfeição cristã (v. 13 = varonilidade e estatura da plenitude de Cristo), o verso 15 contundentemente orienta que é imprescindível viver em amor autêntico para crescer em todos os aspectos em direção a Cristo. Assim que, vivendo uma relação fraterna em que haja autêntico amor, caracterizado pelo respeito, paciência, humildade, afetos ternos, diálogo, bondade, mansidão e todas as demais marcas do fruto do Espírito Santo (Gl 5:22, 23), não apenas poderá o povo de Deus superar os conflitos entre pessoas e gerações, mas também aprender com eles e uns com os outros. 

A construção da unidade de gerações não é algo facultativo para o cristão, pois a “prova dos nove” do genuíno cristianismo declarada por Jesus diz: “Nisto conhecerão todos que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13:35). Logo, não é suficiente gostar apenas das pessoas da mesma faixa etária. Também se faz necessário gostar fraternalmente dos que têm idade, comportamento e concepções diferentes. Essa conduta constrói pontes e não muros de separação e indiferença. Caso contrário, o cristianismo não passará de hipócrita e seletiva religiosidade. 

Conclusão
A igreja é mais que um local em que se realizam atividades litúrgicas. É um grupo social, um lugar de encontro de famílias e de interações reais entre pessoas das mais variadas faixas etárias. Consequentemente, embates de gerações ocorrem entre seus integrantes. Mas a igreja também é uma comunidade de pessoas que foram alcançadas pelo amor divino, transformadas pela graça e instruídas pela Palavra de Deus. Por isso, é o melhor lugar para se aprender ou reaprender as coisas que estimulam a superação dos conflitos entre as gerações. Nela há sempre o incentivo ao companheirismo sadio, ao reconhecimento das diferenças, do valor e da capacidade que o outro tem. 

Quando os mais jovens e os mais idosos, em situações de conflitos, praticam respeitoso diálogo, ouvindo um ao outro sem se colocar na defensiva, e as diferenças são desfocalizadas para se apreciar a riqueza da complementaridade entre cada um dos lados, os embates são dirimidos. Como resultado, a comunidade eclesial usufrui melhor do polivalente potencial dos jovens sem desvalorizar e sem abrir mão da experiência dos mais vividos. Em Cristo, os mais jovens reprimem a conduta de impor o ponto de vista deles em detrimento das orientações e advertências dos mais idosos e os mais idosos não ignoram a dinamicidade dos mais jovens, pois a força jovial aliada à sábia visão dos idosos forma um exército poderoso (Pv 20:29). Afinal, pelas lentes da eternidade, a didática classificação das gerações em Tradicional, Baby Boomer, X, Y, Z, Alpha proposta pelos cientistas sociais, perde sua aplicação, porque os redimidos pela graça de Cristo, de todas as idades e épocas, formarão uma só geração: a dos salvos. 

Adaptação do artigo de Josimar Rios Oliveira (via Revista Adventista)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Reflexão sobre a mulher espancada por 4 horas

Uma mulher apanhou por 4 horas (leia aqui a reportagem). Revoltante. Outras apanham por 40 anos. Mais revoltante. Nem todo soco é com as mãos. Alguns são com a sombra - aquela pancada obscura que não toca na pele, mas espanca a alma. E na cara, ou na auto-estima, é inadmissível que o ser humano se brutalize às agressões animalescas. Não só homens contra mulheres, mas qualquer filho de Deus contra o seu semelhante. 

Confesso que uma cova se abriu no meu estômago ao pensar no suplício de uma dama esbofeteada por um bicho-monstro. Covarde acéfalo. Como chegamos à isso? Com ‘omens’ sem ‘h’ tão fracotes quanto sua frouxidão descarada na estupidez? Não me acalma a prisão para coisas assim - pois de grades este mundo já está cheio. Quero ver mesmo é o fim do mal, do pecado, do desrespeito, da grosseria. 

Ei, você que sofre qualquer tipo de abuso, fale! A denúncia é a única ferramenta capaz de frear a monstruosidade. Calar é perpetuar - sempre. Procure alguém, diga o que houve, ouse se amar delatando quem se odeia. Inúmeras mulheres (e homens) vivem cativos do seu próprio silêncio. 
Em Provérbios 31:8-9, a Bíblia liberta: “erga a voz!”. Ou seja, proteger e amparar é missão urgente de um cristianismo relevante. Vou mais além? Religião de nome não higieniza grosseria de fato. Não pode haver benção divina numa igreja cujos bancos apadrinham agressores camuflados. Temo e tremo de pensar no inferno de alguns lares devotos travestidos de um céu de papelão. Por favor, fale. Repito, FALE! ⠀

O poder da oração contra tamanha aberração vem acompanhado da necessidade clara de se dizer “basta”. Chega! Rejeite uma cantada desafinada com a sua vontade. Proíba gente folgada se achando engraçada em qualquer assédio sem-graça. Observe uma cilada à vista! Jamais confie em desconhecidos, nem conhecidos alterados; nunca saia com alguém sem um Plano B de segurança; e não tema o gigante projetado na parede - intimidação é fumaça de fósforo.
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Finalmente, confie no milagre restaurador de Deus. Ossos e coração quebrados não serão mais fortes que o Salvador maior que a tumba. Dói aqui, mas doeu mais nEle. Um dia, a justiça divina será feita, todos pagarão, e você será feliz - maior que esta vida.

Odaílson Fonseca (via facebook)

O prof. Leandro Quadros fala sobre a postura do cristão frente ao abuso e à violência:

Haverá relações sexuais, casamento e procriação no Céu?

As palavras “na ressurreição, nem casam, nem se dão em casamento; são, porém, como os anjos no céu” (Mt 22:30), constituem-se numa revelação especial de Jesus sobre o futuro dos remidos. 

Em função de sua natureza espiritual (Hb 1:14), os anjos de Deus não se casam e nem procriam. Eles foram criados por Deus para executarem a Sua vontade como mensageiros. Por sua vez, os seres humanos foram criados por Deus para serem fecundos, multiplicar-se, encher a terra, sujeitarem-na e dominar os animais (Gn 1:28). Diferentemente dos anjos, que são seres espirituais, o ser humano foi feito do barro (Gn 2:7) e recebeu a incumbência de procriar por meio da instituição matrimonial (Gn 2:24). Em comparação aos anjos, os homens são inferiores (Hb 2:7). 

Um dos propósitos divinos em criar o ser humano era que este, após ser aprovado no teste, repovoasse o céu, em lugar dos anjos que foram expulsos com Satanás. Este propósito será alcançado após a ressurreição dos justos. Em si, este fato significará uma promoção funcional para os justos redimidos, pois, de acordo com a revelação de Cristo, eles serão “como os anjos no céu” (Mt 22:30). Deste modo, “como os anjos no céu” não significa que os remidos se tornarão anjos, mas que desfrutarão dos privilégios dos anjos, como estar na presença de Deus, louvar a Sua Pessoa, receberem asas e, principalmente, cumprir uma missão especial, que será a de testemunhar aos habitantes dos outros mundos que não pecaram sobre o amor e a justiça de Deus.

Assim, os justos redimidos, por serem levados ao céu pelo Senhor, compartilharão da mesma condição dos anjos, onde não é necessário o casamento nem a procriação, porque exercerão uma função eminentemente superior às que realizavam na terra. Enfim, os remidos não casarão e não se darão em casamento porque o Senhor também o revelou à Sua serva Ellen G. White:

"Homens há hoje que expressam a crença de que haverá casamentos e nascimentos na Nova Terra; os que creem nas Escrituras, porém, não podem admitir tais doutrinas. A doutrina de que nascerão filhos na Nova Terra não constitui parte da “firme palavra da profecia” (2Pe 1:19). As palavras de Cristo são demasiado claras para serem mal compreendidas. Elas esclarecem de uma vez por todas a questão dos casamentos e nascimentos na Nova Terra. Nenhum dos que forem despertados da morte, nem dos que forem trasladados sem ver a morte, casará ou será dado em casamento. Eles serão como os anjos de Deus, membros da família real." (Medicina e Salvação, 99-100)

Há uma outra declaração de Ellen G. White que contribui para esclarecer a origem das crenças referentes a casamento na nova terra. Em carta endereçada a determinado irmão ela afirmou:

"O inimigo ganha muito quando consegue levar a imaginação de um dos escolhidos servos de Jeová a demorar o pensamento nas possibilidades de associação, no mundo por vir, com uma mulher a quem ama, e ali criar família. Não precisamos desses quadros aprazíveis. Todos esses pontos de vista se originam da mente do tentador. Temos a clara afirmação de Cristo de que no mundo vindouro os redimidos “não se casam, nem se dão em casamento. Pois não podem mais morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição”. (Lc 20:35 e 36). Foi-me apresentado o fato de que as fábulas espirituais estão levando cativos a muitos. Tua mente é sensual e, a menos que venha uma mudança, isso se demonstrará tua ruína. A todos os que condescendem com fantasias profanas, desejo dizer: Parai por amor de Cristo, parai exatamente onde estais. Estais em terreno proibido. Arrependei-vos, eu vos rogo, e convertei-vos." (Carta 231, 1903)

Desse modo, pode-se perceber que os ensinos relacionados com a realização de casamentos, relações sexuais e procriação a terem lugar na Nova Terra têm sua origem e inspiração com Satanás, o inimigo de Deus. Como bem se pode constatar, não haverá relacionamento conjugal na vida pós-ressurreição, no sentido de relações íntimas e procriação. Por outro lado, haverá convivência familiar. Em carta escrita a um irmão que perdera sua esposa e ficara só para cuidar dos filhos, Ellen G. White afirmou:

"Oraremos por vós e por vossos preciosos pequeninos, para que possais, mediante paciente continuação em fazer o bem, conservar vossa face e vossos passos sempre em direção do Céu. Oraremos para que tenhais influência e êxito em guiar vossos pequenos, a fim de que, com eles, possais alcançar a coroa da vida, e no lar lá de cima, que agora está sendo preparado para nós, vós e vossa esposa e filhos possais ser uma família reunida, feliz e jubilosa, para nunca mais vos separardes. Com muito amor e simpatia." (Carta 143, 1903)

Após Sua segunda vinda, Cristo levará os justos vivos transformados e os justos ressuscitados para estarem com Ele, inicialmente por mil anos no céu e, depois, pelos anos da eternidade nesta terra que será renovada. Os salvos não casarão nem se darão em casamento porque vivenciarão uma nova qualidade de existência. Eles fruirão eternamente a presença de Deus e Seus anjos.

Alguns não conseguem compreender por que na nova ordem da vida pós-ressurreição não haverá casamento, relações sexuais e procriação. Argumentam que aquilo que era bom e não tinha relação com o pecado deveria continuar na eternidade. Pareceria uma injustiça privar os salvos da intimidade do relacionamento conjugal. Neste aspecto, trata-se de uma subestimação pueril do caráter e poder de Deus. É bom lembrar as palavras do apóstolo Paulo: “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1Co 2:9). É preciso confiar, Deus tem algo infinitamente melhor entesourado para os Seus filhos redimidos do que casamento e sexo. Certamente os relacionamentos na vida por vir serão mais íntimos do que no casamento e a comunicação, mais profunda do que o sexo.

Textos extraídos de Centro de Pesquisas Ellen G. White

O prof. Leandro Quadros também comenta sobre esse assunto: