Não há nada que me revolte mais do que injustiça. Ela entra nos meus poros e só o Senhor, trabalhando em mim ao longo destes anos, foi capaz de me ensinar a lidar com ela. Não sou um homem conformado, sou transformado. Minha natureza é radical contra a injustiça. Mas o Senhor tem me apascentado.
Por causa desse ímpeto em relação as injustiças, sofri as maiores vergonhas pessoais na vida. Foi aí que eu me percebi perpetrador de injustiças. Me comovo facilmente com pessoas que estão sendo vítimas de alguma maneira, desde uma senhora caindo no chão com sua sacola de compras quando eu tinha nova anos até pessoas que não encontram justiça em tribunais humanos nos meus dias atuais.
No entanto, há uma coisa que tem me incomodado bastante nos últimos anos: a comunicação, que se expandiu muito com a internet, nos trouxe para diante dos olhos um número enorme de injustiças e de vítimas. Mas o que tem me incomodado é ver cada vez mais pessoas reclamando da sua posição de vítimas e exigindo seus direitos. Como isso pode me incomodar? Se elas são vítimas, devem ter seus direitos atendidos. Não há dúvidas!
Há muitas pessoas que são vítimas que não fazem barulho. Choram, mas não gritam, clamam, mas não impõem, pedem, mas não demandam. Há uma diferença aí. Me soa imatura a vítima barulhenta, que grita e demanda seus próprios direitos. Algo não me soava certo, mas eu não sabia bem o que era. Até que, ouvindo a pregação de um homem que admiro, ele arrematou a frase que pôs tudo no lugar em minha mente.
“Os que se vitimizam são soberbos”.
Se vitimizar é diferente se ser vítima. Somos vítima aos olhos dos outros, mas quando nos vitimizamos, estamos querendo ser vistos como vítimas. Por trás, há um interesse pessoal que vai além da injustiça. Só o soberbo se sente humilhado, só o soberbo acha que foi preterido, é porque ele se vê em alta conta que ele espera que o mundo o trate de determinada maneira.
Na sua escala pessoal, lhe soa injusto o que lhe está acontecendo e, como soberbo é o seu coração, tomado de orgulho, exige, demanda, grita, cobra, esperneia. “A soberba do homem o abaterá” (Provérbios 29:23). Há mesmo imaturidade nisso, porque os soberbos são crianças que se acham maiores do que realmente são. São egos dominantes e inflados tentando dobrar o mundo à sua vontade. “Em vindo a soberba, sobrevém a desonra, mas com os humildes está a sabedoria” (Provérbios 11:2).
Se lamentar, se vitimizar, ter autopiedade ou autocomiseração são gatilhos para a depressão. Essa é uma armadilha do eu. Enfeitado com contornos de injustiça, estamos alimentando cada vez mais o nosso eu ao meditarmos em nosso próprio sofrimento, do ponto de vista do “coitadinho”. Quando encontramos razão para justificar nosso infortúnio, fortalecemos as essências mais vis da natureza caída. Exigimos das pessoas, do mundo e de Deus para que nos atendam em nossos reclamos. As verdadeiras vítimas não revidam. A vítima que ataca de volta nada mais é do que o algoz que dessa vez ficou do lado da derrota.
Os que se vitimizam querem deixar o mundo desconfortável para que suas vontades sejam atendidas. Eles intoxicam os ambientes com suas demandas. Ninguém pode estar bem diante de seu infortúnio, a menos que operem para revertê-lo. Percebe a diferença para uma vítima real? “A autocomiseração é deteriorante ao caráter dos que a cultivam, e exerce uma influência que estraga a felicidade dos outros” (Medicina e Salvação, p. 177).
Toda nossa honra e nosso eu se esfarela na presença de Deus. Quando pensamos, como Jó, que nada tínhamos, quem nem vivos merecíamos estar, e Deus ainda assim nos concedeu tal graça, do que iremos reclamar? Quando aceitamos o bem, amamos a Deus, mas quando o mal sobrevém, O odiamos? Faz sentido isso? Quando olhamos para a Cruz de Cristo, viram pó nossas humilhações.
“Necessitamos de evitar a compaixão de nós mesmos. Nunca alimenteis a impressão de que não sois estimados como deveríeis, que os vossos esforços não são apreciados e que o vosso trabalho é demasiado penoso. A lembrança de que Jesus sofreu por nós reduza ao silêncio todo o pensamento de murmuração. Somos tratados melhor do que foi nosso Senhor” (Mente Caráter Personalidade 2, p. 631).
Em minha natureza humana, eu tenho essa tendência. Talvez seja por isso, mesmo sem as palavras adequadas, eu sentia o problema. Se não deixar minha natureza em cheque, posso facilmente me tornar um desses pois está em meu DNA. Mas Cristo é misericordioso e poderoso, desde a infância vem operando transformação em minha vida. Não sou perfeito e guardo muitos pecados para a graça sobrepujar. Até a glorificação jamais estarei livre da minha natureza, mas Cristo me deu um novo hábito, um novo coração.
Não fosse por Ele, eu teria crescido um menino assim. Meu apelo no texto de hoje vai para todos que deixam seu mimimi transbordar ao redor, para todos que, como eu, lutam contra essa parte da natureza caída. Olhem para Cristo e nossa soberba será despedaçada. Encare Seus olhos de amor e peça o que nos falta: a humildade. Inclusive para sofrer.
Diego Barreto (via O Reino)
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