Não é a Arca de Noé. Até porque ficaram muitos inocentes para trás. Mas é uma arca. Pessoas petrificadas. Aliviadas. Nesta foto, dois lados de gente: os de dentro se abrigando enquanto outros despencavam do lado de fora.
O horror do Afeganistão revelou do caos à náusea. Se lá a desordem virou a humanidade do avesso, aqui, e atrás do abismo, ficamos enjoados na plateia. Queremos fazer algo! Além de orar. Como? O quê? Resta-nos interceder e refletir profundamente.
Só a Promessa supera o pandemônio. Repatriados da anarquia. Resgatados. Ainda acessível, a Arca nos alerta com suas portas fechando. Desta vez, tem lugar para todos. O talibã não é com a gente? Não se iluda. Estamos em Cabul. Também. O mundo todo ali. Só questão tempo e espaço. Inevitavelmente profético.
Fiquei muito atordoado com a turba ensandecida; pais jogando bebês dos muros; idosos pisoteados na escada das aeronaves; jovens desesperados agarrados nas fuselagens. Por instantes, notei que a vacina - qualquer que seja - não curará o vírus da injustiça, da mortalidade, do pecado. Percebe? Distraídos, esquecemos que a esteira sob nossos pés também nos leva ao precipício. Cedo ou tarde.
“Na terra, as nações estarão em angústia e perplexidade - os homens desmaiarão de terror, apreensivos com o que estará sobrevindo ao mundo” (Lc 21:25). Inexiste improviso ao que foi previsto. Deus sabe, vê. E cadê? Dentro daquele avião e fora dele. Não cruzou Seus braços para judeus, tutsis, afegãos, cambojanos, armênios ou valdenses. Morreu pelos vivos, mas morreu pelos mortos. Para dar um basta nisso.
Pra sempre. De uma vez.
Meu pedido? Menos politização desta atrocidade e mais entrega de alma na serenidade da fé. Culpados pagarão. Injustiçados descansarão. Ainda haverá paz porque a esperança é atributo celestial. Choramos e nos encolhemos? Resistimos e albergamos. Tem Amparo no lodo, Rocha no pântano, Refúgio na tormenta e Pastor na selva.
Um dia, não terá mais dias assim. Num voo sem voltar pra cá - até que tudo se faça novo, de novo.
Odailson Fonseca (via instagram)
Ilustração: Um avião de transporte militar dos EUA decolou ontem (16) de Cabul, capital do Afeganistão, com mais de 600 afegãos a bordo. A imagem foi obtida pelo site especializado Defense One e compartilhada pelo ativista afegão Rustam Wahab, que vive no Reino Unido, onde estuda na Universidade de Southampton. A aeronave seria um Boeing C-17 Globemaster. Segundo as especificações da fabricante, o veículo foi desenvolvido para a Força Aérea norte-americana e pode carregar até 134 soldados sentados. Logo, a ocupação é cerca de cinco vezes maior do que a recomendada. Segundo o Defense One, o avião não planejava levar tantas pessoas, mas pessoas em pânico entraram na rampa meio-aberta da aeronave. Em vez de forçá-los a sair, "a tripulação tomou a decisão de partir", disse um funcionário da Defesa dos EUA ao veículo. "Cerca de 640 civis afegãos desembarcaram da aeronave quando ela chegou ao seu destino". O funcionário não revelou o local de chegada, mas a reportagem diz que um software de monitoramento de voos mostra que o avião pertence a uma base aérea em Dover, Delaware —estado natal do presidente Joe Biden. (UOL)
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