segunda-feira, 16 de agosto de 2021

CHUVAS DO ESPÍRITO

Segundo Atos 1:5, a última promessa de Cristo aos discípulos foi a de que eles seriam "batizados com o Espírito Santo". "O dom do Espírito é aqui denominado de batismo, sendo assim caracterizado como dom da plenitude, [...] uma imersão em um elemento purificador e doador de vida."1 Tal imersão no Espírito pode ser entendida como inteira submissão à vontade dEle, deixando-O ser o guia em todas as circunstâncias e atos da vida. Quando isso ocorre, o crente "vive e anda no Espírito" (Gl 5:25), torna-se "habitação" ou "santuário do Espírito Santo" (1Co 3:16 e 6:19), chegando mesmo a tornar-se "participante do Espírito" (Hb 6:4), ou seja, suas ações refletem as ações do Espírito e age como o Espírito agiria - supremo privilégio este, de que pecadores e imperfeitos (mas convertidos a Cristo) possam participar da Santidade e Perfeição do Espírito!

Não poderia haver bênção maior que a de ser cheio do Espírito (At 4:31), pois dela resultam todas as outras bênçãos espirituais.2 A Escritura nos diz que o Divino Espírito nos convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:8), levando-nos ao arrependimento; guia-nos a toda a verdade (Jo 16:13); lembra-nos das palavras de Cristo em momentos de necessidade e emergência (Jo 14:26; Mc 13:11); intercede por nós perante o Pai (Rm 8:26); dá-nos a certeza de que "somos filhos de Deus" (Rm 8:16) e capacita-nos a ser poderosas testemunhas de Cristo (At 1:8).3

Chuva têmpora - No livro do profeta Joel, está escrito que Deus faria descer sobre Seu povo "a chuva têmpora e a serôdia" (2:23). A chuva "têmpora" caía de meados de outubro a início de dezembro, indo, às vezes, até janeiro.4 Servia para amolecer a terra, possibilitando seu preparo para a semeadura.

Os apóstolos aplicaram as palavras de Joel 2:23 ao derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2:15-21). Essa chuva do Espírito deve, com propriedade, ser considerada a chuva "têmpora" pois, por meio dela, corações foram amolecidos para a semeadura do evangelho, e maravilhosos foram os resultados. Homens assustados e iletrados chegaram a abalar as estruturas de Roma - o império mais poderoso do mundo - com as boas-novas da salvação por meio de Cristo Jesus. Realmente, eles não só encheram Jerusalém (At 5:28), mas transtornaram o mundo com a doutrina de Cristo (At 17:6).

Vivemos ainda hoje sob o refrigério dessa chuva inicial do Espírito. Cada um que aceita a Cristo como seu Salvador o faz pela atuação do Espírito, pois é Ele quem nos "convence do pecado" - faz-nos ver nosso real estado espiritual; "da justiça" - mostra-nos que a verdadeira justiça é a que é oferecida por Cristo, pois a nossa é comparada a "trapo da imundícia" (Is 64:6); e "do juízo" - lembra-nos de que todos compareceremos "perante o tribunal de Cristo" (2Co 5:10). Podemos, então, dizer que o "batismo com o Espírito Santo" ocorre para o cristão desde o momento em que ele permite essa Divina Pessoa atuar em sua vida, levando-o ao arrependimento e convertendo-o a Cristo. É assim que somos batizados com a chuva têmpora. O batismo nas águas serve como testemunho público da transformação que já vinha sendo operada pelo Espírito.

Chuva serôdia - Diz-nos Ellen G. White: "O derramamento do Espírito nos dias dos apóstolos foi o começo da primeira chuva, ou têmpora, e glorioso foi o resultado. Até ao fim do tempo, a presença do Espírito deve ser encontrada com a verdadeira igreja."5 Aproximadamente por dois mil anos, verdadeiros cristãos, impulsionados pelo derramamento inicial do Espírito nos dias apostólicos, têm testemunhado de Cristo. Mas a tarefa da pregação do Evangelho a todo o mundo permanece inconclusa. É de se perguntar mesmo se um dia ela será concluída. Ao olharmos para o nosso presente estado espiritual e fervor missionário, temos a impressão de que essa é uma tarefa impossível, além das nossas forças. E essa impressão está correta. Como estamos e com o poder que ora temos seria impossível cumprir a tarefa deixada por Cristo à Sua igreja. O certo é que precisamos de um poder muito maior, de um amor aos perdidos muito mais profundo do que o que temos e manifestamos hoje, se queremos ver a pregação concluída em todo o mundo.

Mas ninguém precisa duvidar de que a igreja cumprirá o "ide" de Cristo (Mc 16:15). Ele, que deu a incumbência, capacitará Sua igreja a cumpri-la. Ele mesmo afirmou: "E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim" (Mt 24:14). Podemos perceber como a expressão "será pregado" denota certeza? Note que Jesus não disse: "talvez seja" "é possível que seja" mas "será! Como? Através da forte chuva do Espírito - a chuva serôdia (Os 6:3; Jl 2:23; Zc 10:1).

Essa chuva, chamada "serôdia" caía na Palestina nos meses de março e abril,6 e servia para amadurecer o cereal, preparando-o para a colheita. Sobre ela diz Ellen White: "Esta obra será semelhante à do dia de Pentecostes. Assim como a chuva têmpora foi dada, no derramamento do Espírito Santo no início do evangelho, para efetuar a germinação da preciosa semente, a chuva serôdia será dada em seu final para o amadurecimento da seara."7 E mais: 'As bênçãos recebidas sob a chuva têmpora, são-nos necessárias até ao fim. No entanto só isso não basta. Embora acariciemos as bênçãos da primeira chuva, não devemos, do outro lado, perder de vista o fato de que sem a chuva serôdia, para encher a espiga e amadurecer o grão, a colheita não estará pronta para a ceifa. [...] Podemos ter tido uma medida do Espírito de Deus, mas tanto pela oração como pela fé devemos buscar continuamente mais do Espírito."8

Uma vez que a chuva serôdia é a que possibilitará a conclusão da pregação do evangelho e o preparo de um povo para o Reino de Deus, quão disposto a dá-la está Deus? Jesus deu a resposta: "Ora, se vós, que sois maus, sabeis dar boas dádivas aos vossos filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedirem?" (Lc 11:13). Segundo Ellen G. White, "se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. [...] Cada obreiro devia fazer sua petição a Deus pelo batismo diário do Espírito? "A descida do Espírito Santo sobre a igreja é olhada como estando no futuro; é, porém, o privilégio da igreja tê-la agora. Buscai-a, orai por ela, crede nela. Precisamos tê-la, e o Céu espera para concedê-la."10

Condições - Como as demais promessas bíblicas, esta do derramamento do Espírito Santo sobre a igreja "é dada sob condições".11 Poderíamos enumerar algumas delas:12

1. Sentir necessidade do Espírito Santo e orar por Ele. "Se todos estivessem dispostos, todos seriam cheios do Espírito. Onde quer que a necessidade do Espírito Santo seja um assunto de que pouco se pense, ali se verá sequidão espiritual, escuridão espiritual e espirituais declínio e morte. Quando quer que assuntos de menor importância ocupem a atenção, o divino poder, preciso para o crescimento e prosperidade da igreja, e que haveria de trazer após si todas as demais bênçãos, está faltando, ainda que oferecido em infinita plenitude. Uma vez que este é o meio pelo qual havemos de receber poder, por que não sentimos fome e sede pelo dom do Espírito? Por que não falamos sobre Ele, não oramos por Ele e não pregamos a Seu respeito?"13 'Ao orardes, crede, confiai em Deus. Estamos no tempo da chuva serôdia, tempo em que o Senhor dará liberalmente o Seu Espírito. Sede fervorosos em oração, e vigiai no Espírito."14 "O Espírito Santo virá a todos quantos pedem o pão da vida para o dar aos semelhantes."15

2. Experimentar a chuva têmpora. "Mas não se deve negligenciar a graça representada pela chuva têmpora. Só os que estiverem vivendo de acordo com a luz que têm recebido poderão receber maior luz. A não ser que nos estejamos desenvolvendo diariamente na exemplificação das ativas virtudes cristãs, não reconheceremos as manifestações do Espírito Santo na chuva serôdia. Pode ser que ela esteja sendo derramada nos corações ao nosso redor, mas nós não a discerniremos nem a receberemos."16 "Podemos estar certos de que quando o Espírito Santo for derramado, os que não receberam nem apreciaram a chuva têmpora, não verão nem compreenderão o valor da chuva serôdia. Quando estivermos verdadeiramente consagrados a Deus, Seu amor habitará pela fé em nosso coração e haveremos de cumprir alegremente nosso dever de acordo com a vontade de Deus."17

3. Estar disposto a se deixar usar e guiar pelo Espírito. "Cristo prometeu o dom do Espírito Santo à Sua igreja, e essa promessa nos pertence da mesma maneira que aos primeiros discípulos. Mas, como todas as outras promessas, é dada sob condições. Muitos há que creem e professam reclamar a promessa do Senhor; falam acerca de Cristo e acerca do Espírito Santo e, todavia, não recebem benefício. Não entregam a mente para ser guiada e regida pelas forças divinas. Não podemos usar o Espírito Santo. Ele é que deve servir-Se de nós. [...] Mas muitos não se submeterão a isto. Querem dirigir a si mesmos. É por isso que não recebem o celeste dom. Unicamente aos que esperam humildemente em Deus, que estão atentos à Sua guia e graça, é concedido o Espírito."18

4. Eliminar as dissensões. O livro de Atos nos diz que "ao cumprir-se do dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar" (2:1) 'Antes do dia de Pentecostes [os discípulos] se reuniram e tiraram dentre eles todas as desinteligências. Estavam de um mesmo sentimento. [...] Tirem os cristãos do meio deles as dissensões, e entreguem-se a si mesmos a Deus para salvação dos perdidos. Peçam a bênção com fé, e ela há de vir."19 O que ocorreu no dia de Pentecostes deve ocorrer hoje: os discípulos passaram os dias que antecederam o Pentecostes em oração e confissão das faltas uns aos outros, preparando-se, assim, para o recebimento do Espírito Santo.

5. Esvaziar-se do próprio eu. "Quando uma pessoa está inteiramente vazia do próprio eu, quando todo falso deus é expulso da alma, o vazio é preenchido com a comunicação do Espírito de Cristo."20 "Não há limites à utilidade daquele que, pondo à parte o próprio eu, abre margem para a operação do Espírito Santo em seu coração, e vive uma vida inteiramente consagrada a Deus."21

Resultados da chuva serôdia - "A grande obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor manifestação do poder de Deus do que a que assinalou o seu início. As profecias que se cumpriram no derramamento da chuva têmpora no início do evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia, no final do mesmo. [...] Servos de Deus, com o rosto iluminado e a resplandecer de santa consagração, apressar-se-ão de um lugar para outro para proclamar a mensagem do Céu. Por milhares de vozes em toda a extensão da Terra, será dada a advertência. Operar-se-ão prodígios, os doentes serão curados, e sinais e maravilhas seguirão aos crentes."22 "Estas cenas [a conversão de milhares no dia de Pentecostes] devem repetir-se, e com maior poder O derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi a chuva têmpora; porém, a chuva serôdia será mais copiosa."23

Quando a igreja (e ela começa por você e por mim) for cheia do Espírito Santo, acontecerá a tão aguardada conclusão da pregação do evangelho, e "então, virá o fim" (Mt 24:14). Cristo retornará para levar Seus fiéis para o lar eterno. Não deveria ser este o desejo de cada cristão? Atendamos ao conselho divino através do profeta Zacarias: "Pedi ao Senhor chuva no tempo das chuvas serôdias, ao Senhor, que faz as nuvens de chuva..." (10:1), e tenhamos a certeza de que "Sua vinda é certa; e Ele descerá sobre nós como a chuva, como chuva serôdia que rega a terra" (Os 6:3).

Vem, Santo Espírito, agora, vem, Te pedimos a orar; Vem com poder inspirar-nos, sim, vem nos reavivar.

Vem como água ao sedento, traz ao faminto o pão; Vem e sacia a minh'alma faz puro meu coração.

Vem como a brisa suave, vem com o Teu resplendor; Dá-nos vigor e alegria, enche-nos com Teu amor.

Ó vem, Espírito Santo, bom, meigo Consolador; Vem inundar nossa vida com Teu sagrado fervor.

(Hinário Adventista, 161)

Ozeas Caldas Moura (via Revista Adventista)

Referências
1. Russell N. Champlin, O Novo Testamento Interpretado, v. 3 (São Paulo: Candeia, 1995), p. 25.
2. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, p. 285.
3. Fernando Chaij, Preparação Para a Crise Final, 7ª ed. (Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 54.
4. Robert L. Harris, et al.. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento (São Paulo: Vida Nova, 1998), pp. 660, 796.
5. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, pp. 54, 55.
6. Robert L. Harris, op. cit, p. 796.
7. Ellen G. White, O Grande Conflito, p. 611.
8. _____, Testemunhos Para Ministros, pp. 507, 508.
9. _____, Atos dos Apóstolos, p. 50.
10. _____, Evangelismo, p. 701.
11. _____, O Desejado de Todas as Nações, p. 672.
12. Conforme citadas em Fernando Chaij, Preparação Para a Crise Final, pp. 58-62.
13. Ellen G. White, Atos dos Apóstolos, p. 50.
14. _____, Testemunhos Para Ministros, p. 512.
15. _____, Serviço Cristão, p. 252.
16. _____, Testemunhos Para Ministros, p. 507.
17. _____, lbid., p.399.
18. _____, O Desejado de Todas as Nações, p. 672.
19. _____, Ibid., p. 827.
20. _____, Obreiros Evangélicos, p. 287.
21. _____, Serviço Cristão, p. 254.
22. _____, O Grande Conflito, pp. 611 e 612.
23. _____, Parábolas de Jesus, p. 121.

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