Um homem correu na direção de Jesus, se pôs de joelhos diante dEle, e Lhe perguntou: "Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10:17). Esse jovem, um príncipe, tinha muitos bens e uma posição de responsabilidade. Ele viu o amor de Jesus pelas crianças e, de tão comovido, correu na direção do Mestre. Com sinceridade e fervor, ele se ajoelhou diante de Jesus e fez a pergunta mais importante para a vida dele e a de cada ser humano.
“Por que você Me chama bom?”, Jesus respondeu. “Ninguém é bom, a não ser um, que é Deus” (v. 18). Jesus queria provar a sinceridade do jovem e verificar em que sentido ele O considerava bom. Teria ele percebido que Aquele com quem estava falando era o Filho de Deus? Qual seria o verdadeiro sentimento do seu coração?
Esse príncipe tinha em alta consideração sua própria justiça, mas sentia falta de algo que não possuía. Poderia Jesus abençoá-lo e satisfazer o desejo do seu coração?
Em resposta, Jesus disse a ele que a obediência aos mandamentos de Deus era necessária se quisesse obter a vida eterna. “A tudo isso tenho obedecido desde a minha adolescência. O que me falta ainda?”
Cristo olhou nos olhos daquele rapaz como se estivesse lendo sua vida e examinando seu caráter. Sentiu amor por ele e desejou lhe dar paz e alegria. “Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos Céus. Depois venha e siga-Me” (Lc 18:22).
Cristo foi atraído a esse jovem. O Redentor desejava criar nele a capacidade de reconhecer a necessidade de ter um coração devoto. Desejava ver nele um coração humilde e arrependido, capaz de esconder suas falhas na perfeição de Cristo.
Jesus viu nesse príncipe exatamente o auxílio de que precisava em Sua obra da salvação. Se ele se colocasse sob a orientação de Cristo, seria uma força para o bem. Ao ler seu caráter, Cristo o amou. O amor por Cristo foi despertado no coração do jovem, pois amor produz amor. Jesus queria que ele se tornasse um dos Seus colaboradores. Desejava desenvolver a excelência do seu caráter e santificá-lo para o uso do Mestre. Se aquele jovem tivesse se entregado a Cristo, quão diferente teria sido o seu futuro!
“Falta-lhe ainda uma coisa. Venda tudo o que você possui e dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro nos Céus. Depois venha e siga-Me”. Cristo leu o coração do jovem. Só uma coisa lhe faltava, mas essa era um princípio vital. Ele precisava do amor de Deus no centro de sua vida. Se essa carência não fosse preenchida, isso seria fatal. Sua natureza inteira se corromperia. A fim de receber o amor de Deus, ele devia renunciar ao amor supremo que nutria pelo próprio eu.
Cristo apelou para que ele escolhesse entre o tesouro celestial e a grandeza secular. O jovem líder devia renunciar ao próprio eu e entregar sua vontade ao controle de Cristo. Foi oferecido a ele o privilégio de se tornar coerdeiro com Cristo do tesouro celestial, mas, antes, devia tomar a cruz e seguir o Salvador no caminho da abnegação.
A escolha era dele. Jesus havia lhe mostrado o ponto crucial do seu caráter. Se ele decidisse seguir a Cristo, deveria obedecer às Suas palavras em tudo e se apartar de seus ambiciosos projetos. Com desejo sincero e ansioso, o Salvador olhou para o jovem, esperando que ele aceitasse o convite do Espírito Santo.
As palavras de Cristo eram palavras de sabedoria, ainda que parecessem severas. A única esperança de salvação do jovem príncipe era aceitá-las e obedecer-lhes. Sua posição social e seus bens estavam exercendo uma influência sutil sobre o seu caráter. Se acariciados, tomariam o lugar de Deus em suas afeições.
Jesus Exigiu Demais?
Compreendendo rapidamente tudo o que estava envolvido nas palavras de Cristo, o jovem ficou triste. Ele era membro do honrado conselho dos judeus, e Satanás o estava tentando com agradáveis perspectivas para o futuro. Queria o tesouro celestial, mas também queria as vantagens que suas riquezas trariam. Sim, ele desejava a vida eterna, no entanto, o sacrifício parecia grande demais, e se afastou dali triste, “porque tinha muitas riquezas”.
Sua afirmação de que havia observado a lei de Deus era uma farsa. Ele demonstrou que suas riquezas eram o seu ídolo e que amava mais as dádivas de Deus do que o próprio Doador. Cristo ofereceu ao jovem a convivência com Ele. “Siga-Me”, Ele disse. Mas o Salvador não significava tanto para ele como os seus bens ou o prestígio que tinha na sociedade. Renunciar ao que se podia ver pelo invisível era, para ele, um risco muito grande. Rejeitou a oferta de vida eterna e foi embora. A partir dali, o mundo seria o objeto de sua adoração. Milhares de pessoas passam por essa prova, tendo de pesar Cristo e o mundo, e muitas delas escolhem o mundo.
A maneira como Cristo lidou com o jovem contém lições para todos nós. Deus deixou a regra de conduta que os Seus servos devem seguir, a saber, a obediência à Sua lei – não meramente uma obediência legalista, mas a que permeia a vida e é demonstrada no caráter. Somente os que dirão “Tudo o que tenho e tudo o que sou pertencem a Ti” serão reconhecidos por Deus como Seus filhos e filhas. Pense no que significa dizer não a Cristo. O Salvador Se oferece para participar no trabalho que Deus nos deu para fazer. Somente dessa maneira é que Ele pode nos salvar.
Deus nos confia dinheiro, talentos e oportunidade a fim de que sejamos Seus instrumentos para ajudar os pobres e sofredores. Os que empregam como Deus quer os dons que Ele lhes confiou se tornam colaboradores do Salvador.
Para os que, a exemplo do jovem líder, ocupam posições de destaque e têm muitos bens pode parecer um sacrifício grande demais renunciar a tudo a fim de seguir a Cristo. Mas Deus não pode aceitar nada menos que a obediência. A entrega do próprio eu é a essência dos ensinamentos de Cristo. Não há outra maneira de nos salvar a não ser lançar fora aquelas coisas que vão desmoralizar todo o ser se nos apegarmos a elas.
Quando os seguidores de Cristo devolvem ao Senhor o que é dEle, estão acumulando um tesouro que receberão quando ouvirem as palavras: “Muito bem, servo bom e fiel! [...] Venha e participe da alegria do seu Senhor!” A alegria de ver pessoas eternamente salvas é a recompensa de todos os que seguem as pegadas dAquele que disse: “Siga-Me”.
[Ellen G. White - O Libertador, pp. 352-355]
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