terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

SINAGOGA DE SATANÁS

A palavra sinagoga, que significa “congregação”, ou etimologicamente “instrução conjunta”, identifica o lugar de adoração e de leitura e exposição da lei utilizado pelos judeus. O costume de se reunirem para esse fim ocorria, provavelmente, já no tempo do exílio babilônico, mas sua plena efetivação teve lugar depois do retorno do cativeiro. Os judeus entenderam que este viera em resultado do desprezo à Torah, o ensino de Deus, e então instituíram a sinagoga para restaurar o conhecimento da lei e impedir que se esquecessem de sua tradição histórica e religiosa.

Neemias 8 registra o que poderia ser chamado de o nascedouro da sinagoga. Alguns dias após a construção dos muros de Jerusalém, e próximo à festa da Expiação, os judeus se reuniram numa praça, e Esdras, ocupando um púlpito, leu o livro da lei para eles, enquanto um grupo de levitas auxiliava nas explicações (versos 2 a 8). Daí por diante seria uma prática comum esse tipo de reunião. Com o tempo, edifícios começaram a ser construídos onde o encontro passou a ser sistemático. Principalmente após a rebelião dos Macabeus no segundo século a.C., através da qual os judeus se tornaram independentes do poder sírio, a prática do estudo da lei se estendeu às comunidades da Diáspora, constituídas por judeus que não haviam retornado.

Sinagoga e culto cristão
A sinagoga foi certamente a precursora do local de reunião dos cristãos (mais tarde conhecido como igreja) e de seu modo original de culto e dia de reunião. Os judeus dedicavam-se na sinagoga a momentos de oração, louvor e estudo, com cânticos dos salmos e leitura de documentos inspirados, o Pentateuco e então os Profetas. A seguir, era proferida uma análise expositiva dos textos lidos, conhecida como derash, o que, nos termos da liturgia cristã, poderia ser chamado de sermão. Finalmente, a oração e bênção, proferidas pelo líder com um amém responsivo da congregação.

Podemos inferir que esta foi também a forma do culto cristão primitivo, pois, conforme o livro de Atos, as reuniões exclusivamente cristãs, e em locais próprios, só passavam a ocorrer quando os judeus expulsavam de suas sinagogas os pregadores do Evangelho e aqueles que lhes aceitavam a mensagem. Em outras palavras, as congregações cristãs nasceram com o uso das sinagogas. Naturalmente os que agora a compunham, reuniam-se num local que poderia ser eventualmente chamado também de sinagoga (ver Tiago 2:2), pois se reuniam no mesmo dia e cumpriam uma liturgia idêntica, com a diferença de que todo o serviço era cristocêntrico, inclusive a leitura e exposição do texto sagrado. Igrejas com a tendência de alterar o padrão, principalmente em razão do exercício distorcido de algum dom espiritual, receberam a repreensão e correção apostólicas (ver 1 Coríntios 14).

Ainda no primeiro século, determinados documentos elaborados pelos apóstolos, ou sob a orientação deles, passaram a ser considerados de origem divina tanto quanto as “demais escrituras” (2 Pedro 3:16), e eram, assim, incluídos como material de leitura e reflexão (Colossenses 4:16; Apocalipse 1:3). Muito provavelmente a epístola aos Hebreus foi chamada pelo próprio escritor de “palavra de exortação” (13:22), porque ele esperava que fosse lida e estudada pelos destinatários em suas reuniões (3:13).

A sinagoga se reunia em mais de um dia na semana, mas o sábado se destacava (Atos 13:27; 15:21). Paulo, em Corinto, pregava aos sábados na sinagoga, “persuadindo tanto judeus como gregos” (verso 4). Depois de algum tempo, e diante da oposição dos primeiros, passou a utilizar a casa de Tício Justo, “contígua à sinagoga” (verso 7), prosseguindo com as reuniões por “um ano e seis meses” (verso 11), naturalmente aos sábados, como fizera desde o princípio e em todos os lugares aonde chegava (13:14, 42, 44; 16:13; 17:2). A igreja primitiva, portanto, herdou dos judeus não somente a forma como também o dia de culto. No segundo e terceiro séculos, todavia, com o antisemitismo tornando-se cada vez mais generalizado entre os cristãos, foi-se fortalecendo a tendência do sábado ser permutado pelo domingo, o famoso dia do culto ao Sol em todo o Império, tendência que alcançou plena consolidação no quarto e quinto séculos, embora existissem cristãos que ainda respeitavam o sábado.

Sinagoga de Satanás
O Apocalipse faz duas referências à “sinagoga de Satanás”, a primeira no contexto da perseguição sofrida pela igreja de Esmirna, e a segunda na carta à igreja de Filadélfia, com sabor escatológico e também ligada à perseguição (2:9; 3:9). Segundo Tertuliano, os judeus, opondo-se ao Evangelho, tornaram as sinagogas um centro promotor de perseguição, planejando ali as acusações que fariam contra os cristãos às autoridades. Atos indica que isto foi verdade desde o princípio (13:45-50; 14:2; 17:5, 13; etc.). Que mudança lastimável! De local de estudo e oração, num centro de intrigas e maquinações, onde eram tramados planos para combater a Jesus e Seus seguidores.

Como já referido, sinagoga significa congregação, e o próprio Apocalipse chama a Satanás de acusador (12:10). Portanto, sinagoga de Satanás é congregação dos que acusam. A fórmula se amolda ao que vinha ocorrendo. Na verdade, o grande acusador da Igreja é o diabo, e seus seguidores não lhe ficam atrás. Finalmente, ele congregará o mundo para a última batalha contra Deus e Seu povo (16:14, 16). Naquele dia, Armagedon (que significa o monte de Megido) se transformará numa gigantesca “sinagoga de Satanás”, que envolverá a humanidade. Em outras palavras, a perseguição do passado é um tipo da perseguição futura e final, e nesse tempo a mensagem à igreja de Esmirna será de grande alento para o povo de Deus.

Nos últimos dias
Segundo a profecia, a “sinagoga de Satanás”, isto é, o grupo de acusadores, estaria de volta nos dias finais. Ellen G. White diz: "Satanás tem a sua grande confederação, a sua igreja. Cristo chama-a sinagoga de Satanás, porque seus membros são filhos do pecado. Os membros da igreja de Satanás têm estado a trabalhar constantemente para lançar fora a lei divina, e tornar confusa a distinção entre o bem e o mal. Satanás está operando com grande poder nos filhos da desobediência e por meio deles, para exaltar a traição e a apostasia como verdade e lealdade. E neste tempo o poder de sua satânica inspiração está movendo os instrumentos vivos a fim de promoverem contra Deus a grande rebelião que começou no Céu" (A Igreja Remanescente, p. 12).

Ellen G. White também fala que apóstatas manifestarão “a mais amarga inimizade, fazendo tudo o que está ao seu alcance para oprimir e difamar seus antigos irmãos, e incitar a indignação contra eles” (Testimonies, vol. 5, p. 463). Serão os piores inimigos da Igreja, pois “quando os observadores do sábado forem levados perante os tribunais para responder por sua fé, esses apóstatas serão os mais ativos agentes de Satanás para representá-los falsamente e os acusar e, por meio de falsos boatos e insinuações, incitar os governantes contra eles” (O Grande Conflito, p. 607). A julgar pela forma como hoje, em dias de relativa paz, acusam, não é difícil supor como acusarão quando a prova final chegar!

Nessa ocasião, as palavras de Apocalipse 3:9, o segundo texto que fala da sinagoga de Satanás, também se cumprirão. Ellen G. White aplica as palavras do texto à experiência desses apóstatas momentos antes de Jesus aparecer nas nuvens. “Logo ouvimos a voz de Deus semelhante a muitas águas a qual nos anunciou o dia e a hora da vinda de Jesus... Ao declarar Deus o tempo, verteu sobre nós o Espírito Santo, e nosso rosto brilhou... Foi então que a sinagoga de Satanás conheceu que Deus nos havia amado a nós..., e adoraram a nossos pés” (Vida e Ensinos, p. 58). 

O ato de adorar não significa que se arrependeram e foram salvos. “Esta classe é de adventistas nominais que caíram, já crucificaram de novo o Filho de Deus, e O expuseram ao vitupério público. E na hora da tentação que está para vir, para revelar o verdadeiro caráter de cada um, eles conhecerão que estão perdidos para todo o sempre; e oprimidos, angustiados de espírito, cairão aos pés dos santos” (A Word to the ‘Little Flock’, p. 12).

Notem que os que compõem a sinagoga de Satanás “expuseram Cristo ao vitupério público”. De que maneira? Uma delas pelo método satânico de acusações à Igreja e a seus membros, acusações que se tornam conhecidas aos de fora. Segundo a lei do Evangelho, faz-se ao próprio Cristo o que se faz ao seguidor de Cristo (Mateus 25:40).

A sinagoga de Satanás não começou a operar apenas a partir de 1914 com o surgimento dos chamados reformistas, distribuindo aos quatro cantos sua literatura deletéria, mas desde o início do movimento adventista. No século passado, por exemplo, surgiram os que afirmavam que a Igreja e seus dirigentes eram Babilônia, e usavam os escritos do Espírito de Profecia para substanciar seus pontos de vista. Ellen G. White os repreendeu, afirmando que Deus não os havia enviado, e que eram impulsionados por outro espírito (ver Mensagens Escolhidas 2, pp. 63-71). Entre outras coisas, ela observou que a obra daquelas pessoas era “acusar e despedaçar” (p. 69). Ela também disse: “Quando homens se levantam, pretendendo ter uma mensagem de Deus, mas em vez de combaterem contra os principados e potestades, e os príncipes das trevas deste mundo, eles formam um quadrado, virando as armas de guerra contra a igreja militante, tende medo deles. Não possuem as credenciais divinas” (Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 22).

E observem uma vez mais que o vitupério de Cristo é de natureza “pública”. Hoje, a sinagoga de Satanás se encontra em franca atividade, utilizando os meios de comunicação para alardear acusações. Com isto, inevitavelmente, a imagem do povo de Deus é injuriada diante do mundo, e o propósito satânico é cumprido, não importa se as acusações tenham fundamento ou não.

Não sou tolo imaginando não haver problemas na Igreja. Problemas há, e muitos; a Igreja, composta de pecadores, é ainda militante e continuará a sê-lo até Jesus voltar. Ellen G. White diz que “embora existam males na Igreja, e tenham de existir até ao fim do mundo, a Igreja destes últimos dias há de ser a luz do mundo poluído e desmoralizado pelo pecado. A Igreja, débil e defeituosa, precisando ser repreendida, advertida e aconselhada, é o único objeto na Terra ao qual Cristo confere Sua suprema consideração” (Testemunhos Para Ministros, p. 49, grifos acrescentados). “Ele vela constantemente com solicitude por ela, e fortalece-a por Seu Espírito Santo” (Mensagens Escolhidas 2, p. 96).

Vejam esta importante advertência de Ellen G. White: "É de suma importância que os ministros e obreiros dêem exemplo correto. Se eles sustentam e praticam princípios falhos, frouxos, seu exemplo é citado por aqueles que gostam mais de falar do que de fazer, como plena justificativa de sua maneira de agir. Cada erro cometido magoa o coração de Jesus e prejudica a influência da verdade, que é o poder de Deus para a salvação das almas. Toda a sinagoga de Satanás busca descobrir faltas na vida dos que estão procurando representar a Cristo, e tira o máximo proveito de cada falha" (Conselhos sobre Saúde, p. 559).

Conclusão
Lembremos que a Igreja é propriedade do Senhor, e não nossa. Ele a tem nas mãos, e a está conduzindo. Não tentemos fazer o que é atribuição dEle, porque certamente o faremos equivocadamente. O que tem de ser consertado sê-lo-á no tempo certo, do modo certo, e pela Pessoa certa. “Vestida com a completa armadura de luz e justiça, entra a Igreja em seu conflito final” (Testemunhos para Ministros, p. 17). Acredito plenamente nesta afirmação profética. Deus aparelhará a Igreja para esse momento decisivo, e finalmente a exibirá vitoriosa no glorioso dia; e com ela todos os que forem achados fiéis.

[Com informações de Revista Adventista]

Um comentário:

  1. Que maravilha de meditação! Eu creio na infalível guia do SENHOR JESUS...Que o ESPÍRITO SANTO continue te iluminando querido Ir.Angelo.

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