Alguma vez você já perdeu uma grande oportunidade? Teve a impressão de que várias coisas boas estavam acontecendo com as pessoas ao seu redor, menos com você? Já sentiu que Deus abençoou a todos, mas Se esqueceu de você? Há uma história na Bíblia que pode nos ajudar a lidar com esses sentimentos. Sabemos que o homem paralítico de Atos 3 nasceu nessa condição e tinha mais de 40 anos de idade quando foi curado por Pedro e João, discípulos de Jesus (At 4:22). Sabemos também que todos os dias ele mendigava à porta Formosa do templo de Jerusalém. Ele pode ter sido uma das poucas pessoas na cidade que não foram alcançadas pelo toque curador de Jesus.
UMA POSSÍVEL CONEXÃO
Antes de revisarmos essa história, gostaria de relacioná-la com outros relatos sobre o ministério de Cristo registrados nos evangelhos. O homem curado por Jesus no tanque de Betesda, por exemplo, estava doente havia 38 anos quando se encontrou com o Mestre (Jo 5:2-9). Jesus Se aproximou dele e o curou após um breve diálogo. A cura veio com uma simples ordem do Mestre: “Levanta-te, toma o teu leito e anda” (v. 8).
Um detalhe importante dessa história é que foi Jesus quem abordou o enfermo. Normalmente, os que estavam doentes eram levados até Cristo ou alguém intercedia por eles junto ao Mestre. No entanto, nessa ocasião, de tantas pessoas doentes esperando encontrar a cura no tanque de Betesda (v. 3), Jesus o escolheu.
Fico impressionado com os possíveis elos que existem entre o relato de João 5 e Atos 3. Primeiramente, o tanque de Betesda estava em Jerusalém, e o paralítico que ali foi curado estava doente havia 38 anos. Talvez ele tivesse a mesma idade do paralítico de Atos 3, pois é dito que a idade dele era de 40 anos pouco tempo depois da morte de Jesus (At 4:22). Talvez também o paralítico curado por Pedro e João houvesse estado em Betesda, entre a multidão de “enfermos, cegos, coxos e paralíticos” (Jo 5:3).
Quando Jesus andou por Betesda, antes de chegar ao paralítico que Ele curou, passou por outros doentes, certamente por outros paralíticos também. Ele andou ao lado das camas dessas pessoas, ouviu o clamor delas, mas não as curou. Por quê? Ellen White, pioneira e profetisa adventista, comenta que naquele dia Jesus queria curar mais pessoas. Na verdade, Ele queria ter curado todos, mas, pelo fato de ser sábado, Cristo entendeu que tamanha demonstração de poder iria gerar preconceito e oposição dos judeus, a ponto de interromperem Seu ministério (O Desejado de Todas as Nações, p. 201 e 202).
Sabemos que as ações de Cristo não eram impensadas e que Ele não colocaria em risco o andamento de Seu ministério. Porém, por que Ele escolheu curar aquele paralítico e não outro? Novamente o quadro mais amplo apresentado por Ellen White pode nos ajudar. Ela comenta que o caso daquele pobre homem era desesperador, porque as contínuas frustrações dele em relação à cura “estavam-lhe consumindo rapidamente as restantes energias” (p. 202). Jesus conhecia todos os casos que escolhia.
Fico imaginando se os dois paralíticos em questão não se conheciam. Se eles tivessem se encontrado, posso imaginar a conversa. O paralítico de Atos 3 teria se surpreendido com a cura do homem de João 5 e desejado também a mesma bênção. Talvez tenha começado a perguntar por Jesus e procurado por Ele. Ao que parece, ele nunca se deparou com o Mestre.
Os evangelhos registram pelo menos duas circunstâncias em que Cristo curou várias pessoas de uma vez em Jerusalém. Ambas as curas ocorreram no templo: uma no início e outra no fim do Seu ministério (Jo 2 e Mt 21). Ellen White escreveu sobre a primeira ocasião. Depois de purificar o templo, Jesus atendeu todos que foram a Ele, e cada pessoa que O procurou foi curada, não importava sua doença (p. 163). A escritora acrescenta que aqueles que voltaram ao pátio do templo naquele dia “ficaram paralisados diante da maravilhosa cena. Viram os enfermos curados, os cegos restaurados à vista, os surdos ouvindo e os coxos saltando de prazer” (p. 592). Dessa vez, também, parece que o paralítico de Atos 3 não estava presente novamente. Talvez ele tivesse razões para pensar que nunca estava no lugar certo e na hora certa.
OUTRA CHANCE
Em algumas ocasiões, Jesus tomou a iniciativa de ir ao encontro de quem necessitava Dele, como a mulher samaritana (Jo 4:4), a cananeia (Mt 15:21) e o endemoninhado de Gadara (Mc 5:1). Contudo, o paralítico de Atos 3 não se encaixa em nenhum dos grupos que foram curados por Jesus: (1) as pessoas que Ele procurou, (2) as que foram até Ele, e (3) as que precisaram da intercessão e ajuda de alguém para chegar próximo ao Mestre (Mc 2).
Com o auxílio de Ellen White, temos informações adicionais sobre esse personagem bíblico. “Esse infeliz havia durante muito tempo desejado ver Jesus para ser curado, mas encontrava-se quase ao desamparo, e estava muito afastado do cenário dos labores do grande Médico” (Atos dos Apóstolos, p. 57). O caso dele era desesperador. Jesus não o havia procurado, ele não havia encontrado Jesus e ninguém o tinha levado até o Mestre.
De acordo com Ellen White, o último esforço dele para encontrar o Mestre foi implorar aos seus amigos que o levassem à porta do templo. Porém, quando ali chegou, soube que Jesus havia sido morto cruelmente (p. 57 e 58). Imagine como ele se sentiu. Posso imaginá-lo gritando: “Por que, Senhor? Todos foram curados, menos eu!” Quarenta anos sem poder andar. Quarenta anos de sonhos quebrados.
Quarenta anos tentando ser curado. Ele sempre esteve no lugar errado. E, quando finalmente achou que poderia chegar perto de Jesus, descobriu que sua chance de voltar a andar havia sido crucificada junto com o Nazareno. Depois de lamentar por um bom tempo, talvez tenha aceitado com resignação que nunca seria curado. Enxugando as lágrimas, talvez tenha decidido não ser um fardo para ninguém. Viveria se mantendo de esmolas para o resto da vida.
“Por favor, levem-me ao templo”, provavelmente tenha pedido aos amigos. Quando lemos a história dessa maneira, tudo faz sentido. O homem era levado todos os dias à porta do templo e, por isso, quando ele viu Pedro e João, pediu-lhes esmolas (At 3:3). Veja, ele não pediu um milagre, apenas esmolas. Ele queria sobreviver.
ALGO MELHOR
No entanto, quando os discípulos se aproximaram, Pedro disse ao homem: “Olhe para nós”. E ele prestou atenção, esperando receber alguma coisa deles. Então Pedro disse que não tinha prata nem ouro (v. 5 e 6). Aquilo deve ter sido a “gota d’água”, uma piada de mau gosto para o paralítico. Porém, gosto de imaginar que Pedro também tenha dito: “Não tenho nada do que você está esperando, porque sou um viajante do tempo. Estou aqui para lembrá-lo do seu sonho. Vim para lhe dar o que sempre procurou. Trouxe algo de Jesus de Nazaré para você.”
Ellen White acrescentou que o semblante do coxo descaiu ao ouvir a primeira parte da resposta de Pedro, mas logo seu rosto tornou-se radiante quando Pedro ordenou que, em nome de Jesus, ele se levantasse e andasse (Atos dos Apóstolos, p. 58). O quê? Em nome de Jesus? Cristo estava vivo? “E de um salto pôs-se em pé e começou a andar. Depois entrou com eles no pátio do templo, andando, saltando e louvando a Deus” (At 3:7-9). Que história maravilhosa!
CURA PARA TODOS
Não sei como nem quanto você se identifica com essa história. Talvez tenha sido curado imediatamente há muito tempo em Betesda. Ou quem sabe alguém o levou até Jesus ou ainda seus verdadeiros amigos pediram a Ele que o curasse. Talvez você esteja como o paralítico de Atos 3, sentado à porta do templo, com seus sonhos desmoronados e o sentimento inegável de que Deus passou você por alto.
Se você se sente como o último paralítico de Jerusalém, sua história ainda não terminou. Os caminhos de Deus são inescrutáveis, inatingíveis e incompreensíveis. Pois, quando menos esperarmos, um mensageiro de Deus pode cruzar nosso caminho e falar conosco em nome de Jesus de Nazaré.
Por outro lado, nós também passamos diariamente por pessoas que se sentem como aquele paralítico. Pessoas que já não pedem mais um milagre, porque se sentem esquecidas por Deus. Nossa missão, como a de Pedro e João, é lembrá-los, em nome de Jesus, da promessa de que um dia todos poderão caminhar, pular e louvar a Deus.
Daniel Bosqued (via Revista Adventista)
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