segunda-feira, 19 de junho de 2023

SOMOS TODOS FILHOS DE DEUS?

É bem comum ouvirmos as pessoas declararem que todo mundo é filho de Deus. Ou alguém declarar, como uma expressão requerendo algum direito, dizendo: “Eu também sou filho de Deus!" Porém, é uma expressão que precisa ser bem compreendida com base na Bíblia e no Espírito de Profecia, pois é usada de forma errada em muitos casos. Afinal, todos nós somos filhos de Deus?

Cerca de cinquenta anos após a ascensão de Jesus, João, um dos que mais desfrutaram de Sua companhia, permanecia como o único remanescente daquele grupo de doze apóstolos. Foi então que escreveu cinco obras que fazem parte da Bíblia Sagrada: três cartas, um evangelho e o Apocalipse. Aquela que é chamada de primeira carta de João, embora ocupe apenas duas folhas na Bíblia, está repleta de ensinamentos úteis para os nossos dias. Lendo essa carta, nossa atenção é atraída para duas expressões sinônimas que se repetem ao longo do texto: “nascido de Deus” e “nascido dEle”. Através destas palavras, o apóstolo nos mostra como podemos reconhecer um filho de Deus. São cinco marcas.

1. Fé em Jesus – Nos tempos do Antigo Testamento, Deus prometera enviar alguém para ser o Salvador – alguém que pregasse o evangelho, que curasse os quebrantados e libertasse os cativos, que trouxesse consolo e alegria (Is 61:1-3) – alguém que fora escolhido e ungido por Ele para essa missão.

João escreveu que “todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1 João 5:1). Portanto, todo filho de Deus crê que Jesus de Nazaré, e não qualquer outro homem, é o Cristo, o Ungido que Deus prometera. Também reconhece que Jesus era muito mais do que um homem bom, um sábio, um mestre e um poderoso profeta. À semelhança do apóstolo Pedro, ele afirma: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16).

Ellen G. White afirma: "Ao considerar o amor de Cristo, João foi levado a exclamar: 'Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus' (1 João 3:1). Os homens consideram um privilégio ver um personagem de família real, e milhares vão a grandes distâncias para o conseguir. Quão maior privilégio é ser filhos e filhas do Altíssimo! Que maior privilégio nos poderia ser concedido do que ter entrada na família real? Mediante a perfeição do sacrifício oferecido pela raça culpada, os que creem em Cristo, chegando-se a Ele, podem ser salvos da ruína eterna. Ninguém seja tão iludido pelo inimigo que pense ser uma condescendência da parte de homem algum, por mais talentoso ou instruído ou honrado que seja ele, o aceitar a Cristo" (The Youth’s Instructor, 27 de Setembro de 1894).

2. Não viver pecando – “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1 João 3:9). O filho de Deus é simplesmente incapaz de viver uma vida pecaminosa. Isto não significa que ele nunca mais cometerá um ato de pecado, mas que ele não vive mais constantemente, habitualmente, uma vida de pecado. Quando creu em Cristo, houve uma “transformação interior, profunda, radical”; recebeu nova natureza, que “exerce uma forte pressão interna em direção à santidade”.1

Ellen G. White escreve: "Deus devia ser manifesto em Cristo, 'reconciliando consigo o mundo' (2 Coríntios 5:19). O homem se tornara tão degradado pelo pecado que lhe era impossível, por si mesmo, andar em harmonia com Aquele cuja natureza é pureza e bondade. Mas Cristo, depois de ter remido o homem da condenação da lei, poderia comunicar força divina para se unir com o esforço humano. Assim, pelo arrependimento para com Deus e fé em Cristo, os caídos filhos de Adão poderiam mais uma vez tornar-se 'filhos de Deus' (1 João 3:2)" (Patriarcas e Profetas, p. 64).

“Deus armou os Seus filhos para a guerra contra Satanás, implantando a Sua própria natureza neles... Podemos dizer, portanto, em terminologia moderna, que os gens de Deus permanecem em Seus filhos, e que pecar é contrário à natureza deles.”2 Ilustremos esta verdade comparando dois animais: o porco e o gato. O porco tem prazer em chafurdar na lama. Faz parte de sua natureza. Mas um gato jamais fará isso. É um dos animais mais limpos que conhecemos: está sempre se lambendo, se limpando. Um gato nunca terá prazer em se revolver na lama simplesmente porque não faz parte de sua natureza. Assim, um filho de Deus não terá satisfação em viver uma vida pecaminosa.

Ellen G. White diz: "A filiação divina não é qualquer coisa que obtenhamos por nós mesmos. Unicamente aos que recebem Cristo como seu Salvador, é dado o poder de tornarem-se filhos e filhas de Deus. O pecador não pode, por nenhum poder a ele inerente, livrar-se do pecado. Para conseguir isso, ele precisa olhar a um Poder mais alto. João exclamou: 'Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado' (João 1:29). Unicamente Cristo possui poder de purificar o coração. Aquele que busca o perdão e aceitação, só pode dizer: 'O preço do resgate eu não o tenho; à Tua cruz, somente, eu me sustenho.' Mas a promessa de filiação é feita a todos quantos 'creem no Seu nome' (João 1:12)." (The Review and Herald, 3 de Setembro de 1903).

3. Prática da justiça – “Se sabeis que Ele é justo, reconhecei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dEle” (1 João 2:29). O texto afirma que Deus é justo. A justiça é algo inerente a Seu caráter; por isso, tudo que Ele faz é justo. Uma vez que o filho deve exibir o caráter do pai, porque participa da natureza do pai,3 aquele que nasce de Deus também pratica a justiça. Aquele que foi regenerado pelo poder de Deus não só abandona o mal, também se esmera em efetuar o que é reto.

Ellen G. White revela: "Os que consentem em ser guiados pelo Espírito de Deus serão iluminados e santificados. Discernirão a malignidade do pecado e a beleza da santidade. Considerarão grande honra o serem chamados filhos de Deus, sabendo que são de todo indignos de se associarem com Cristo, o unigênito do Pai. Cristo tomou sobre Si nossa natureza, para nos poder ligar a Si. Sofreu na carne para que pudesse levar muitos filhos e filhas a Deus" (The Youth’s Instructor, 8 de Dezembro de 1892).

4. Amor para com os irmãos – “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1 João 4:7 e 8). O amor nos leva a ser pacientes, corteses e esperançosos no trato com nossos irmãos; bane de nossa vida o egoísmo, o ciúme, a inveja e o orgulho, e nos capacita a suportar e perdoar as ofensas e injustiças.

Ellen G. White alerta: "Somos nós os filhos de Deus? Não é o serviço impulsivo que Deus aceita; não é o emocional espasmo de piedade que nos faz filhos de Deus. Ele nos convida a trabalhar por princípios verdadeiros, firmes, permanentes. Se Cristo é formado em nós, a Esperança da glória, Ele será revelado no caráter e este terá a semelhança de Cristo. Devemos representar Cristo para o mundo, como Cristo representou o Pai" (Beneficência Social, p. 38).

5. Vitória sobre o mundo – “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo” (1 João 2:15). O mundo deve ser encarado por nós, não como amigo, mas como um inimigo que precisa ser combatido e vencido. Contudo, isso só é possível àquele que nasce de Deus. “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os Seus mandamentos; ora, os Seus mandamentos não são penosos, porque todo que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé (1 João 5:4).

Ellen G. White aconselha: "Entregando-nos a Deus, temos necessariamente de renunciar a tudo que dEle nos separe. Por isso diz o Salvador: 'Qualquer de vós que não renuncia a tudo quanto tem não pode ser Meu discípulo' (Lucas 14:33). Tudo que afaste de Deus o coração, tem de ser renunciado. Não podemos pertencer metade ao Senhor e metade ao mundo. Não somos filhos de Deus a menos que o sejamos totalmente" (Caminho a Cristo, p. 44).

Como vimos, um genuíno cristão crê em Jesus como o seu Salvador e, por isso, teve sua vida completamente mudada, de modo que o pecado não é mais um hábito ao qual está escravizado e o mundo não é mais seu amigo, nem mais o fascina; ele, agora, ama de verdade e se empenha em praticar o bem. Estas são marcas que o diferenciam dos demais e atestam ser ele, de fato, um filho de Deus. Convém, agora, descobrir se essas marcas são nossas marcas.

Finalizo com este pensamento de Ellen G. White: "Gostaria de chamar a atenção de vocês para as preciosas promessas da Palavra de Deus. Nem todos os filhos de Deus possuem a mesma capacidade, o mesmo temperamento, a mesma confiança e ousadia. Sinto-me contente, entretanto, de que nossos sentimentos não sejam evidência de que não somos filhos de Deus. O inimigo tentará você a pensar que praticou coisas que a separaram de Deus e de que Ele não mais a ama, mas nosso Senhor ainda nos ama, sim, e podemos ter certeza disso pelas palavras que Ele registrou exatamente para casos como o seu: 'Se... alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o justo' (1 João 2:1). 'Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça' (1 João 1:9)" (Carta 89, 1896).

Referências 
1. John R. W. Stott, As Epístolas de João – Introdução e Comentário, p. 110. 
2. Clifton J. Allen, Comentário Bíblico Broadman  vol. 12, p. 247. 
3. Stott, p. 101.

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