A vida é feita de relacionamentos. Relacionamo-nos com a família, os vizinhos, colegas de trabalho e os amigos. Trazemos essa necessidade de relacionamento desde que nascemos. De fato, está em nosso DNA: não podemos viver isolados. Francis Bacon disse: “Não há solidão mais triste do que a do homem sem amizades. A falta de amigos faz com que o mundo pareça um deserto.” Cícero, o grande orador romano, chegou a refletir: “Existirá algo mais agradável do que ter alguém com quem falar de tudo como se estivéssemos falando conosco mesmos?”
Além de realçar a qualidade do amor de um verdadeiro amigo, Salomão afirmou: “Algumas amizades não duram nada, mas um verdadeiro amigo é mais chegado que um irmão” (Provérbios 18:24). A amizade verdadeira, que tem Deus como elo, dura para sempre e supera qualquer dificuldade. Jônatas e Davi exemplificam o conceito bíblico de amigos mais chegados que irmãos.
A amizade entre Jônatas e Davi é uma das mais conhecidas da Bíblia. A lealdade demonstrada por Jônatas a Davi é exemplar; algo muito raro nos dias em que estamos vivendo, cujos valores dos relacionamentos humanos estão cada vez mais banalizados.
Jônatas era um príncipe em Israel, filho primogênito de Saul. Saul foi uma pessoa que se mostrou completamente insensível e desatento espiritualmente. Suas falhas expressavam sua desobediência ao Senhor. Mas Jônatas era muito diferente dele. Ele não era intempestivo, nem mesmo demonstrava a ira invejosa característica de seu pai.
Quando o povo de Israel estava sendo afrontado pelos filisteus, especialmente na figura do gigante Golias, o jovem Davi, segundo a providência de Deus, enfrentou o gigante e o derrotou. Isso afugentou o exército filisteu (1 Samuel 17). Foi após esse episódio que o texto bíblico narra o início da amizade entre Jônatas e Davi. Isso ocorre no capítulo 18 do livro de 2 Samuel; o mesmo capítulo que também registra o modo com que Davi passou de privilegiado por Saul a seu inimigo.
Após o triunfo sobre os filisteus, Saul conservou Davi como membro de sua corte. A Bíblia relata que desde o início nasceu uma amizade profunda e fraternal entre Davi e Jônatas. O texto bíblico descreve essa amizade dizendo que “a alma de Jônatas se ligou com a de Davi” (1 Samuel 18:1).
O termo hebraico utilizado para expressar a ligação entre Jônatas e Davi é perfeitamente apropriado para se referir ao tipo de amizade íntegra que havia entre ambos; pois é o mesmo termo utilizado em Gênesis 44:30 para se referir ao amor paterno de Jacó para com Benjamim.
Na sequência do texto, lemos que Jônatas despojou-se de sua capa, armadura, espada, arco e cinto (1 Samuel 18:4). Essa informação é muito significativa, pois nos ajuda a entender o tipo de caráter que Jônatas tinha. Em 1 Samuel 13:22, lemos que Jônatas, juntamente com seu pai, se destacava entre o povo pelas armas que possuía. Já no capítulo 18, encontramos Jônatas justamente transferindo sua capa e suas armas a Davi.
Esse foi um gesto público de grande afeição e respeito por parte de Jônatas. Isso simbolizou não apenas sua lealdade, mas também seu provável reconhecimento inicial de que Davi era o escolhido de Deus para reinar sobre Israel. Jônatas era o sucessor natural ao trono, portanto, humanamente falando, uma amizade com Davi era completamente improvável. No entanto, o príncipe realmente mostrou seu caráter diferenciado, e sua percepção apurada com relação ao destino espiritual de Israel, ao contrário de seu pai.
Jônatas de fato era uma pessoa leal e íntegra. Sua lealdade fez com ele se arriscasse em prol de seu amigo, quando entendeu que se pai realmente planejava matar Davi. Além disso, vemos que Jônatas também não era uma pessoa egoísta e soberba; mas possuía um caráter humilde que colocava seus próprios interesses em segundo plano.
Amizade entre Jônatas e Davi foi verdadeira não apenas porque através dela eles se apoiaram mutuamente; mas porque essa amizade os envolveu em um compromisso com Deus. Jônatas e Davi não permitiram, de forma alguma, que qualquer coisa ameaçasse a harmonia de sua amizade.
Na verdade, a amizade entre ambos se mostrou ainda mais forte quando foi provada (1 Samuel 20:30-34, 41). A amizade deles perdurou até mesmo após a morte de Jônatas, quando o rei Davi lembrou-se da aliança que eles tinham feito, e usou de benevolência para com Mefibosete, filho de Jônatas (2 Samuel 9:7-13).
Como bem escreveu o sábio rei Salomão, “as amizades multiplicam os amigos; mas, ao pobre, o seu próprio amigo o deixa” (Provérbios 19:4). Infelizmente é esse tipo de padrão de amizade que é tão comum em nossos dias, onde as pessoas se aproximam umas das outras apenas objetivando algum benefício próprio.
No entanto, o mesmo Salomão também escreveu que “em todo tempo ama ao amigo, na angústia se faz o irmão” (Provérbios 17:17). Certamente esse provérbio resume muito bem o tipo de amizade forte, sincera e exemplar que havia entre Jônatas e Davi, e que obviamente deve servir de exemplo para todos nós.
Confira algumas qualidades a serem consideradas na escolha de verdadeiros amigos:
1. Semelhança de gostos e interesses: Para andar juntas, duas pessoas precisam estar de acordo – assim como Davi e Jônatas.
2. Alguém que é sensível e bondoso: Embora em algumas pessoas se encontrem tais qualidades como força, coragem e persistência, em todo amigo verdadeiro deve haver uma fusão dessas qualidades com outras mais brandas, como delicadeza e simpatia – como na amizade de Davi e Jônatas.
3. Deve haver afeição: Jônatas estava disposto a renunciar à sucessão do trono de seu pai; seu desejo era ser leal ao amigo.
4. Deve haver aproximação de valores espirituais: Jônatas conhecia os caminhos de Deus do mesmo modo que Davi. Quando os dois amigos estavam prestes a separar-se, Jônatas foi confortado com o pensamento de que o Senhor dirigiria os acontecimentos de acordo com Sua vontade, e preservaria a amizade deles. Sobre esse episódio na vida de Davi, quando corria risco de morte, Ellen G. White observou: “A amizade de Jônatas por Davi era também da providência de Deus, a fim de preservar a vida do futuro governante de Israel” (Minha Consagração Hoje, p. 196).
Amigos são importantes para avançarmos neste mundo de tristezas. Um provérbio sueco reza: “A amizade dobra nossa alegria e divide a tristeza ao meio”. William Shakespeare declarou: “Depois de algum tempo você aprende que as verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias, e o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida”. E Ellen White conclui: "Unidos com Cristo, estamos unidos aos nossos semelhantes pelos áureos elos da cadeia do amor" (Parábolas de Jesus, p. 384).
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