quarta-feira, 5 de julho de 2023

BATENDO PALMAS E LEVANTANDO AS MÃOS

Reprovadas durante muito tempo e mais comuns hoje em algumas congregações, as práticas de bater palmas e levantar as mãos em nossas igrejas têm apoio bíblico?

BATER PALMAS
Bater palmas durante o culto está se tornando mais popular em muitas igrejas adventistas ao redor do mundo. Porém, bater palmas vai ter significados distintos em variadas culturas. Na Bíblia, essa manifestação aparece associada a práticas sociais e religiosas e quatro verbos hebraicos são usados para expressar esse gesto (macha’, nakah, saphak, taqa’), todos eles usados em associação com o substantivo “mão” (do hebraico kaf). As referências bíblicas que encontrei sobre bater palmas estão associadas com os aspectos a seguir.

1. Alegria pela entronização de um rei. Essa é uma função social do gesto. Por exemplo, os que presenciaram a introdução de Joás como herdeiro legítimo ao trono de Judá bateram suas mãos e gritaram: “Viva o rei!” (2Rs 11:12). Nos Salmos, por sua vez, temos convites para que as pessoas batam palmas ao Rei da Terra (Sl 47:1) e para que os rios fizessem o mesmo para Aquele que reina e julga sobre nosso planeta (Sl 98:8). Nesse último caso, a natureza é chamada também a se regozijar diante do Senhor.

2. Gratidão por conta das ações salvíficas de Deus. O retorno do povo de Deus do cativeiro babilônico é descrito por Isaías como um ato de redenção. Aquilo que o Senhor faria por Seu povo exilado seria tão maravilhoso que até mesmo as árvores do campo bateriam palmas em alegria (Is 55:12).

3. Aversão e ira. O rei moabita Balaque bateu com uma mão na outra para expressar sua ira contra Balaão, o profeta que havia abençoado em vez de ter amaldiçoado o povo de Israel (Nm 24:10). Ezequiel também bateu suas mãos em sinal de aversão ao mal praticado em Israel (Ez 6:11). O mesmo gesto fez Deus como manifestação de Sua ira e juízo contra os impenitentes de Jerusalém (Ez 21:14, 17; 22:13).

4. Sarcasmo e escárnio. Esse significado é encontrado exclusivamente no contexto da derrota de inimigos. Na profecia contra Nínive, por exemplo, Deus anuncia que todas as vítimas da crueldade dessa cidade bateriam palmas quando soubessem do infortúnio dela (Na 3:19). Por sua vez, os amonitas também celebraram a destruição de Judá por Babilônia batendo palmas (Ez 25:6). O mesmo desprezo foi expresso por aqueles que passaram pelas ruínas de Jerusalém (Lm 2:15).

Por fim, não existe evidência bíblica clara de que o gesto de bater palmas fizesse parte do culto a Deus. Para dizer a verdade, não encontrei nenhuma referência a essa prática no Novo Testamento. Portanto, parece não existir qualquer paralelo bíblico para o que está acontecendo em nossas igrejas hoje. Deduzo que estamos incorporando esse hábito por influência da indústria do entretenimento e dos programas religiosos televisivos.

Mas, deixando de lado a questão da influência cultural, suponho que o que realmente importa sobre essa ­discussão é que cada um esteja consciente das razões por que bate palmas na igreja. Sua motivação é para expressar gratidão pelo poder salvífico de Deus? É para substituir um audível “amém”? Ou em reconhecimento ao bom sermão ou apresentação musical? Como você pode ver, tenho mais perguntas do que respostas.

LEVANTAR AS MÃOS
Há base bíblica para a prática, cada vez mais comum, de levantar as mãos durante o canto congregacional?

Essa pergunta pode parecer sem importância, porém revela que estamos muito interessados em um tipo de culto que esteja biblicamente fundamentado e que não viole as instruções bíblicas. Mostra, também, que o movimento das mãos enquanto cantamos está criando certa tensão. Vou falar do uso das mãos durante os atos de adoração. Ficará claro que, na Bíblia, o ritual do uso das mãos acontecia, principalmente, durante a oração.

1. Atos não-verbais. As expressões corporais desempenham papel importante na expressão de ideias e emoções. Estudos sobre o papel dos atos não-verbais na adoração nos ajudam a entender um pouco melhor seu significado. Na Bíblia, temos apenas a linguagem da postura, gestos, movimentos e expressões faciais. As artes do antigo Oriente Médio ilustram muitos desses gestos. Os gestos das mãos, mencionados na Bíblia, eram também comuns no ambiente de adoração e culto no antigo Oriente Médio.

2. Levantar das Mãos. As expressões "levantar as mãos [yãdím]" ou "levantar as palmas (mãos) [kappayim]" são praticamente sinônimas. São usadas em diferentes contextos e, em alguns casos, expressam significados distintos. "O ato de levantar as mãos" é um gesto que expressa adoração no contexto do culto. Os que ministravam no templo eram exortados assim: "Levantem as mãos na direção do santuário e bendigam o SENHOR!" (Sl 134:2, NVI).

O gesto indicava que o objeto de louvor era o Senhor e que todo o indivíduo estava envolvido nesse ato. Era também usado para apresentar ao Senhor as orações e súplicas (Sl 28:2), como se a oração fosse colocada na palma da mão e levantada ao Senhor pedindo-Lhe que aceitasse (Sl 141:2).

Em outros casos, o gesto aparece para expressar a vontade do adorador de receber do Senhor o que pediu (Sl 63:4, 5; Lm 2:19). Mas o levantar das mãos parece expressar algo profundo, algo relacionado com o coração humano: "Derrame o seu coração como água na presença do Senhor. Levante para Ele as mãos" (Lm 3:41, NVI). O levantar das mãos correspondia ao levantar do íntimo do ser adorador ao Deus adorado, em comunhão com Ele.

3. Movimentar as Mãos. Neste caso, o verbo é pãrash ("acenar"), expressando a ideia de que as mãos acenam em frente da pessoa, não necessariamente levantadas. Às vezes, parece que o adorador acena as mãos em direção ao templo, ao Céu (1Rs 8:38, 39, 54; Sl 44:20) ou ao Senhor (Êx 9:33). O movimentar das mãos era usado, particularmente, durante as orações de súplica (1Rs 8:54; Is 1:15; Êx 9:29; Lm 1:17) ou quando havia uma profunda necessidade da presença de Deus (Sl 143:6). No salmo 88:9, lemos: "A minha vista desmaia por causa da aflição. SENHOR, tenho clamado a Ti todo o dia, tenho estendido para Ti as minhas mãos".

A necessidade do salmista é tão intensa que ele implora pela ajuda do Senhor. Embora em necessidade profunda, o adorador vai ao Senhor e estende as mãos a Ele, pedindo ajuda. Esse gesto mais intenso era uma expressão pessoal de dependência de Deus (Sl 44:20) e a devoção do coração ao Senhor (Jo 11:13).

4. E Então? Tanto quanto posso apurar, não há aceno com as mãos durante o culto na Bíblia. O levantar das mãos é comum (cf. 1Tm 2:8). A Bíblia não prescreve gestos das mãos na adoração, mas os descreve como prática comum aceitável. A arte dos cristãos primitivos indica que eles costumavam orar com os braços e as mãos estendidas para os lados, formando um crucifixo com o corpo. Hoje, unimos nossas mãos, tanto atrás como na frente do corpo, ou simplesmente as deixamos soltas. Ocasionalmente, podemos juntar as palmas das mãos e entrelaçar os dedos, uma prática comum entre os antigos romanos e sumerianos. Em outros tempos, as palmas eram colocadas juntas com os dedos estendidos, ato comum no budismo e hinduísmo.

A introdução de novidades em nossas igrejas, influenciadas pelo sistema carismático de adoração, pode perturbar um culto que deveria estar centrado em nosso Criador e Redentor e na Sua Palavra. Seria melhor seguir as práticas comuns da congregação onde coletivamente adoramos o Senhor.

Ángel Manuel Rodríguez (via Música e Adoração | Revista Adventista)

Nota do blog: É certo que há igrejas mais animadas do que outras. Mas de um modo geral, parece-me que não demonstramos a alegria da salvação, nem dentro nem fora da igreja. Esse “povo mui feliz” que afirmamos ser, parece ter medo de exteriorizar os seus sentimentos, sua alegria, como se tal atitude fosse exclusiva de reuniões seculares ou pentecostais.

Não estou sugerindo que a igreja deva ser transformada num teatro ou sala de espetáculos. Nem que nossos cultos se tornem reuniões carismáticas. Apenas estou convencido de que nossas congregações devem ser mais participativas e abandonar a ideia de que toda e qualquer manifestação corporal de louvor seja falta de reverência. É claro que deve haver momentos de reflexão, em que o silêncio é eloquência. Mas na hora de louvar a Deus, vamos louvá-Lo com entusiasmo, com vibração. Afinal, somos uma igreja viva ou morta? Alguns salmos mostram claramente que o louvor a Deus, em Israel, nada tinha de apático (Salmo 47:1 – 98 – 150).

Se fazemos parte de um povo de Deus na Terra, se acreditamos na maravilhosa salvação oferecida gratuitamente por Jesus, deveríamos viver de bem com a vida, não só cantando, mas especialmente vivendo com alegria. E incentivar as boas apresentações na igreja, expressando de modo audível e visível nossa aprovação.

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