Creio que as emoções são invenção de Deus. Cada vez que sentimos, estamos mais próximos Dele. Cada vez que digerimos as sensações, experimentamos as circunstâncias e as transformamos em reações, damos um passo a mais em direção a Ele. Deus sente, logo nós sentimos.
Os autores bíblicos já sabiam disso. Assim, não são casuais as imagens reveladas de Deus, suas ações, reações e emoções, bem distintas das criadas pela mentalidade deísta, que aprisiona a divindade num trono distante e indiferente lá no Céu. O braço forte que liberta e luta em nosso favor (Isaías 52:10), a mão que abriga e afaga (Isaías 41:13), o colo materno (Isaías 49:15), o abraço paterno (Lucas 15:20), os ombros rijos que carregam o desvalido (Isaías 46:4) Não são metáforas vazias. São ilustrações do coração divino.
Mas há um detalhe importante: as emoções de Deus se revelam no contexto do grande conflito. Não são forças etéreas e desconexas, mas impulsos que norteiam suas ações de salvação em relação aos homens. Você lembra da história do dilúvio?
Muita gente tem problemas ao encarar as ações divinas nesse relato. Alguns não conseguem ver nada além de uma atitude arbitrária de um Deus que mais se parece um monarca caprichoso, um genocida. Mas falham em não interpretar as ações de Deus à luz das emoções reveladas nas mesmas linhas. O dilúvio não é a história de um deus buscando acabar com a raça humana, como contam relatos mitológicos preservados por várias culturas politeístas, mas a história de um pai, um cirurgião divino, que faz todos os esforços para salvar sua criação de uma doença mortal - o pecado. O que aconteceu quando Deus percebeu a maldade do coração do homem e o destino que desenhava para si? O escritor responde com duas imagens, em Gênesis 6:6.
1. "O Senhor se arrependeu". A palavra hebraica utilizada aqui é naham. Sua raiz original na língua arábica se refere ao ato de "correr até ficar exausto, ofegante". O autor escolheu a imagem de um Deus que corre em busca do homem, esforça-se, faz de tudo para evitar que o homem se perca. Mas diante da rebeldia humana, Ele se vê ofegante e impotente. Não se assuste com essa última palavra, pois a onipotência divina encontra limite na rebeldia humana.
2. "E isso cortou-lhe o coração". A idéia é dor aguda. O verbo utilizado aqui é 'atzav. É o mesmo verbo utilizado em hebraico para as mulheres em trabalho de parto. Na mentalidade hebraica, a dor do parto era a maior dor que o ser humano podia sentir. O autor queria que os leitores percebessem a dor que afetava o coração de Deus, ao ver a situação do homem - a angústia do pai que vê o filho pequeno enfiar o dedinho numa tomada, ou o filho crescido escolhendo caminhos errados. O coração de Deus sangrava. Deus chorou. As primeiras gotas que caíram do céu foram lágrimas suas.
Toda destruição que tomou lugar nesta triste história não foi senão uma antecipação do que aconteceria, caso Deus não entrasse em cena. Ele não destruiu nada que o homem não destruiria se deixado em sua rota sinistra. A ação de Deus mais se parece uma cirurgia delicada num paciente terminal. O câncer do pecado se alastrara, mas as mãos que nunca falharam conseguiram salvar uma boa parte, que não se contaminara. Noé e sua família foram salvos e permaneceram vivos para ver no céu o sorriso de Deus - o arco-íris. Ao ver o altar erguido e a família reunida ao seu redor, lá do Céu, Deus sorriu. Uma nova história seria escrita. A Terra teria outra chance.
Ellen G. White nos diz: "Que condescendência da parte de Deus! Que compaixão pelo homem falível, colocar o belíssimo arco-íris nas nuvens, sinal do concerto do grande Deus com o homem! Este símbolo nas nuvens deve confirmar a crença de todos e estabelecer sua confiança em Deus, pois é um sinal da divina misericórdia e bondade para com o homem; que, embora Deus tenha sido provocado a destruir a Terra pelo dilúvio, ainda Sua misericórdia circunda a Terra. Deus disse que quando olhasse para o arco nas nuvens Se lembraria. Não precisa fazer-nos compreender que Ele jamais Se esquece, mas fala ao homem em sua própria linguagem, para que o homem O possa compreender melhor" (História da Redenção, pp. 70-71).
A alma não teria arco-íris se os olhos não tivessem lágrimas. Quantas vezes deixamos de pensar nas promessas de Deus, até que nos encontramos em algum dos ensombrados dias da vida! Quando o céu se escurece, iguais a um arco-íris resplandecem as preciosas promessas de Deus acima das nossas aflições.
Quando Deus olha para sua vida, qual será a emoção despertada em seu peito? Quando Deus lê as últimas páginas que você tem escrito, o que Ele sente? Eu não sei. Só sei que isso é muito importante.
Cada vez que o céu lhe mostrar um arco-íris, imagine Deus sorrindo para você, renovando sobre a sua vida a aliança da salvação. E sorria também.
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