Tenho um amigo que vai com a minha cara até o momento que a gente fala de filmes e seriados. Porque eu tento – sério! – mas sempre acabo sucumbindo perante a vontade de contar o que sei. E ele? Detesta qualquer dica que estrague a surpresa de assistir algo inédito. Portanto, nossa amizade só dura até o próximo spoiler!
Spoiler?! Ação antipática de contar antes da hora o que deveria se descobrir somente “na hora”. Exemplos: “sabe o mocinho do filme? Pois é, morre eletrocutado no final!” (raiva); “o casal lindo? Hum, ficam juntos não – ela pega câncer e ele Alzheimer…” (mais raiva); “final da temporada? Ele vira Presidente da República” (muita raiva); “quem matou o mordomo? A sogra do jardineiro albino!” (raiva infinita); “o playback do jogo? Ah, o timão perdeu de 3 a 1…” (chega, saia daqui!). Conhece gente assim? E quando os spoilers passam a exagerar, distorcer ou mesmo inventar?
Existem verdadeiros especialistas na arte de antecipar o caos ou profetizar o avesso. São os viralizadores do pânico com seus spoilers apocalípticos.
Donald Trump acelerará o decreto dominical.
A Coreia do Norte é o gatilho para a Terceira Guerra Mundial.
Algoritmos são marcas da besta.
O Papa Francisco é o Papa do Fim do Mundo.
Percebe? Se você quiser fama meteórica anuncie algum spoiler sensacionalista que o sucesso tolo será garantido – e passageiro. Por isso tem tanta gente por aí se exibindo com criatividade demais e juízo de menos. Ou você nunca recebeu nos grupos do WhatsApp alguma teoria conspiratória cativando sua atenção por alguns fúteis momentos? A verdade é que o futuro sempre vira um mistério que gostamos de desvendar. E, das datas escatológicas às conjecturas globais, as promessas beirando bizarrices desfilam nas passarelas das expectativas humanas.
Cuidado! Não faça planos que Deus não tenha feito. Nem ouse revelar o que o Roteirista do Universo não revelou. Como humanos, gostamos de cortar a orelha de Malco (João 18:10), segurar a Arca para ela não cair (2 Samuel 6:6), ou prever que vamos morrer perante o Mar Vermelho (Êxodo 14:11). Isso tudo nos desmascara do quanto somos traiçoeiramente atraídos pela vontade de saber mais do que Deus.
Quer saber do maior de todos os spoilers mentirosos e arrogantes? Uma árvore misteriosa, uma fruta deliciosa, uma serpente hipnotizante e uma mulher curiosa – pronto! – eis a receita da desgraça. Foi só lançar a isca, “é certo que você não morrerá” (Gênesis 3:4), e acrescentar a miragem, “ainda saberá mais que o Altíssimo” (Gênesis 3:5), pro maior atentado terrorista da História acontecer. Dois mil anos depois, mais um spoiler: “façamos uma torre para que outro Dilúvio não nos destrua” (Gênesis 11:4) – e a humanidade rachou num quebra-cabeças de idiomas para nunca mais se juntar. Outros dois milênios depois? Surge o maior traidor, com o nome menos copiado da Bíblia, tentando escrever o final do “seu” filme com 30 moedas de prata. O que Judas fez foi uma tentativa esdrúxula e egoísta de acelerar o “foram felizes para sempre”. Foi tudo diferente: Jesus acabou na cruz, ele se enforcou, e os planos redentores de Deus seguiram seu curso.
Moral da história?
Deus sabe o que é melhor do que o seu melhor. Se o Colecionador de Galáxias conhece quantos cílios emolduram seus olhos, não saberá o fim desde o começo? Portanto acredite, confie e fale menos, se preciso for. Esteja certo de que “não há encoberto que não seja revelado, nem oculto que não seja conhecido” (Mateus 10:26), e isso é tudo o que precisamos saber. Ponto final.
Na próxima vez que alguém “viralizar o caos” para você, ore mais e compartilhe menos. Espero ansiosamente que sejamos a “última das novas gerações”, mas longe dos futurólogos falsificados com suas próprias imaginações – e se é Jesus Quem nos promete vir “sem demora” (Apocalipse 22:12) acreditemos que tudo ficará bem.
Odailson Fonseca (via Notícias Adventistas)
Confira mais alguns textos de Ellen G. White nos advertindo sobre o cuidado que devemos ter com os viralizadores do pânico com seus spoilers apocalípticos:
"O Senhor vos chama a fazer decidida melhora em vossa maneira de apresentar a verdade. Não precisai ser sensacionalistas" (Evangelismo, p. 184).
"Enquanto trabalham com fervor a fim de interessar seus ouvintes e manter o interesse, ao mesmo tempo devem ser cuidados contra tudo que se aproxime do sensacionalismo. Nessa época de extravagância e exibicionismo, quando se pensa que é necessário fazer cena para ganhar sucesso, os mensageiros escolhidos de Deus devem desmascarar a falácia de gastar meios pelo mero fim de causar impacto" (The Review and Herald, 21/02/1907).
"O que queremos criar não é a excitação, mas uma reflexão profunda e fervorosa, a fim de que as pessoas que escutam, façam uma obra sólida, verdadeira, correta, genuína, que seja tão duradoura quanto a eternidade. Não temos ânsia de excitação, de sensacionalismo; quanto menos disso tivermos, tanto melhor. O raciocínio tranquilo e fervoroso com base nas Escrituras, é precioso e frutífero" (Evangelismo, p. 170).
"Deus convida Seu povo, que tem a luz diante de si na Palavra e nos Testemunhos, a ler e considerar, e dar ouvidos. Instruções claras e definidas têm sido dadas a fim de todos entenderem. Mas a comichão do desejo de dar origem a algo de novo dá em resultado doutrinas estranhas, e destrói largamente a influência dos que seriam uma força para o bem, caso mantivessem firme o princípio de sua confiança na verdade que o Senhor lhes dera" (Mensagens Escolhidas, vol. 2, p. 38).
"É necessário que os terrores do dia de Deus sejam mantidos diante de nós, a fim de sermos compelidos à ação correta pelo medo? Não devia ser assim. Jesus é atraente. […] Deseja ser nosso Amigo, andar conosco por todos os acidentados caminhos da vida. […] Jesus, a Majestade do Céu, deseja elevar ao companheirismo com Sua pessoa os que se dirigem a Ele com seus fardos, fraquezas e preocupações" (The Review and Herald, 02/08/1881).
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